Análise: The Cabin Factory desperta a curiosidade do jogador, mas assusta pouco

Esta experiência sucinta de horror ambiental até se esforça, mas tem dificuldade de captar o jogador em um nível emocional.

em 14/12/2024

The Cabin Factory é uma experiência simples e direta. Nela, o jogador precisa controlar, em primeira pessoa, uma funcionária recém-contratada de uma empresa de manufatura de chalés. O cargo de fiscal de assombração foi criado após diversas acusações de que as moradas construídas pela companhia estavam assombradas.

A função, então, acaba sendo exercida pelo jogador, que controla em primeira pessoa uma idosa, cuja aparência nos é revelada no espelho do elevador. Uma vez em nossa devida estação, as cabanas surgem em uma espécie de esteira, quando o trabalho realmente começa.




Efetivamente, o serviço consiste em entrar em cada um desses chalés e identificar qualquer anomalia sobrenatural que possa significar que eles estão assombrados e apertar o botão correspondente no painel do lado de fora. Se for identificado algum problema, basta apertar o botão vermelho; caso contrário, o botão verde. Assim, o trabalho em relação àquela choupana é dado como “entregue” e outra aparece na estação.

Dito isso, o que é uma anomalia? Uma anomalia em The Cabin Factory é descrita como a percepção de qualquer movimento, uma vez que todos os elementos lá dentro deveriam ser considerados estáticos. Considerando o título como um representante do gênero de terror, a sacada nessa mecânica está justamente na forma como ela prega peças no jogador.




Trata-se de algo que pode acontecer de várias formas, já que é necessário inspecionar cada centímetro da habitação e identificar qualquer coisa que possa ter mudado de lugar entre duas verificações de um mesmo ambiente. Considerando que o jogo tenta fomentar uma atmosfera claustrofóbica, é possível que a própria mente do jogador acabe pregando peças a respeito desses elementos.

Não é incomum você se vir pensando coisas simples do tipo “esse pedaço de pão sempre esteve aí?” ou “esse boneco está se mexendo ou é só impressão?”. Aliás, o discernimento de movimento é justamente o aspecto mais importante do serviço de fiscal de cabana, já que tem a ver com a principal orientação que nos é dada para entender se o local é ou não assombrado.




Isso porque, efetivamente, o jogo só indicará a utilização correta do botão de perigo se alguma coisa realmente estiver se mexendo durante esse processo de fiscalização. A questão é que, enquanto as primeiras cabanas se mostram iguais no que diz respeito aos ambientes internos, eles logo começam a apresentar combinações completamente distintas, com bonecos e mobília fora de lugar, ainda que estáticos (e, portanto, não assombrados). Essa inconstância entre os locais de teste acaba acentuando a tensão do jogador, o que induz ao erro e, potencialmente, uma quebra de combo, indicado pelas luzes no painel externo.

De tal forma, The Cabin Factory é baseado na repetição. É nela que, aos poucos, o jogador vai assimilando que aquele modelo de chalé, montado em uma escala de produção industrial, foi baseado no palco de um incidente familiar no qual uma família ficou presa em um incêndio. 




Tal exposição acaba sendo bastante fragmentada, já que ela alterna entre os produtos sem qualquer sinal de assombramento e outras situações em que as choupanas claramente amaldiçoadas acabam apresentando até mesmo novos cômodos surgidos aparentemente do nada, bem como ilusões notórias que a funcionária sem nome precisa encarar para dar seu serviço como feito.

Nota-se que o título é uma experiência bastante curta. Levando entre uma e duas horas para ser finalizada, ele faz parte de uma linha de produção claramente inspirada por P.T., a mitológica demo do cancelado Silent Hills, que se destacou por sua estrutura cíclica, narrativa ambiental de horror e curta duração, algo replicado por Visage e The Exit 8, por exemplo. 


Esse último critério envolvendo a duração, inclusive, é bem acertado, já que, fosse The Cabin Factory um pouco mais longo, ele logo se tornaria uma experiência monótona por conta da falta de diversidade dos ambientes.

Assim, é merecido o reconhecimento aos desenvolvedores, que conseguiram criar um número considerável de variações distintas para um mesmo layout que nos faz questionar quantas vezes mais um mesmo ambiente pode ser modificado a fim de nos causar um sentimento de estranhamento. A questão é que, apesar desse mérito, ainda é sempre a mesma cabana, com os mesmos corredores e móveis, mesmo que com um tempero a mais ou a menos.




Outro aspecto pontual de frustração se dá quando a movimentação que indica que uma cabana é assombrada é praticamente imperceptível, mesmo após sucessivas checagens em cada canto do local.

Muitas vezes são coisinhas bestas se movendo em uma velocidade irrisória que podem passar despercebidas e que muitas vezes quebram o fluxo que a atmosfera tenta trazer, uma vez que a imersão acaba ficando em segundo em detrimento de uma atividade morosa de caça ao pixel.




Percebe-se também que o desempenho não é exatamente dos melhores, especialmente no ambiente de galpão, do lado de fora do chalé, quando ele é mais aberto. Com menos espaço a ser processado pela máquina, essa performance acaba melhorando consideravelmente nos ambientes internos e que realmente importam, então é um revés que pode ser minimizado.

De modo geral, considerando este como um representante do horror, ele consegue mais atrair a atenção e a curiosidade do que realmente incitar um sentimento de aflição — embora esteja claramente tentando. Pelo menos, ele não tenta se sustentar em jumpscares apelativos e simplórios, se esforçando para mostrar seu valor através da construção atmosférica que alterna entre espaços limiares estéreis e ambientes internos claustrofóbicos.




Por conseguinte, The Cabin Factory acaba se mostrando um jogo até que burocrático. Quase tudo nele conta com uma execução decente, de quem sabe o que está fazendo, o que é suficiente para despertar a atenção de seu potencial jogador. Entretanto, ele não consegue capturar pela emoção e imergir seu público, que se verá em uma posição maior de racionalização diante das possibilidades do que realmente se entregando ao sentimento de aflição.

Prós

  • Conceito atrativo que consegue trabalhar bem a própria fórmula de experiência contida de terror de repetição;
  • Constrói bem sua atmosfera em cima de um horror atmosférico e ambiental;
  • Curto, mas na medida certa. Fosse mais longo, não sustentaria a atenção do jogador;
  • Quantidade louvável de variações de assombração que uma mesma cabana pode oferecer.

Contras

  • Algumas das assombrações são tão irrisórias que quebram a imersão quando o jogador se depara com um feedback de erro do painel;
  • O desempenho no ambiente de galpão fica a desejar;
  • Embora se esforce, não é exatamente aterrorizante ou angustiante.
The Cabin Factory — PC — Nota: 6.5
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Future Friends Games.
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É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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