The Cabin Factory é uma experiência simples e direta. Nela, o jogador
precisa controlar, em primeira pessoa, uma funcionária recém-contratada de uma
empresa de manufatura de chalés. O cargo de fiscal de assombração foi criado
após diversas acusações de que as moradas construídas pela companhia estavam
assombradas.
A função, então, acaba sendo exercida pelo jogador, que controla em primeira
pessoa uma idosa, cuja aparência nos é revelada no espelho do elevador. Uma
vez em nossa devida estação, as cabanas surgem em uma espécie de esteira,
quando o trabalho realmente começa.
Efetivamente, o serviço consiste em entrar em cada um desses chalés e
identificar qualquer anomalia sobrenatural que possa significar que eles estão
assombrados e apertar o botão correspondente no painel do lado de fora. Se for
identificado algum problema, basta apertar o botão vermelho; caso contrário, o
botão verde. Assim, o trabalho em relação àquela choupana é dado como
“entregue” e outra aparece na estação.
Dito isso, o que é uma anomalia? Uma anomalia em The Cabin Factory é descrita
como a percepção de qualquer movimento, uma vez que todos os elementos lá
dentro deveriam ser considerados estáticos. Considerando o título como um
representante do gênero de terror, a sacada nessa mecânica está justamente na
forma como ela prega peças no jogador.
Trata-se de algo que pode acontecer de várias formas, já que é necessário
inspecionar cada centímetro da habitação e identificar qualquer coisa que
possa ter mudado de lugar entre duas verificações de um mesmo ambiente.
Considerando que o jogo tenta fomentar uma atmosfera claustrofóbica, é
possível que a própria mente do jogador acabe pregando peças a respeito desses
elementos.
Não é incomum você se vir pensando coisas simples do tipo “esse pedaço de pão
sempre esteve aí?” ou “esse boneco está se mexendo ou é só impressão?”. Aliás,
o discernimento de movimento é justamente o aspecto mais importante do serviço
de fiscal de cabana, já que tem a ver com a principal orientação que nos é
dada para entender se o local é ou não assombrado.
Isso porque, efetivamente, o jogo só indicará a utilização correta do botão de
perigo se alguma coisa realmente estiver se mexendo durante esse processo de
fiscalização. A questão é que, enquanto as primeiras cabanas se mostram iguais
no que diz respeito aos ambientes internos, eles logo começam a apresentar combinações completamente distintas, com
bonecos e mobília fora de lugar, ainda que estáticos (e, portanto, não assombrados). Essa inconstância entre
os locais de teste acaba acentuando a tensão do jogador, o que induz ao erro
e, potencialmente, uma quebra de combo, indicado pelas luzes no painel
externo.
De tal forma, The Cabin Factory é baseado na repetição. É nela que, aos
poucos, o jogador vai assimilando que aquele modelo de chalé, montado em uma
escala de produção industrial, foi baseado no palco de um incidente familiar
no qual uma família ficou presa em um incêndio.
Tal exposição acaba sendo bastante fragmentada, já que ela alterna entre os
produtos sem qualquer sinal de assombramento e outras situações em que as
choupanas claramente amaldiçoadas acabam apresentando até mesmo novos cômodos
surgidos aparentemente do nada, bem como ilusões notórias que a funcionária
sem nome precisa encarar para dar seu serviço como feito.
Nota-se que o título é uma experiência bastante curta. Levando entre uma e
duas horas para ser finalizada, ele faz parte de uma linha de produção
claramente inspirada por P.T., a mitológica demo do cancelado Silent Hills,
que se destacou por sua estrutura cíclica, narrativa ambiental de horror e
curta duração, algo replicado por Visage e The Exit 8, por exemplo.
Esse último critério envolvendo a duração, inclusive, é bem acertado, já que,
fosse The Cabin Factory um pouco mais longo, ele logo se tornaria uma
experiência monótona por conta da falta de diversidade dos ambientes.
Assim, é merecido o reconhecimento aos desenvolvedores, que conseguiram criar
um número considerável de variações distintas para um mesmo layout que nos faz
questionar quantas vezes mais um mesmo ambiente pode ser modificado a fim de
nos causar um sentimento de estranhamento. A questão é que, apesar desse
mérito, ainda é sempre a mesma cabana, com os mesmos corredores e móveis,
mesmo que com um tempero a mais ou a menos.
Outro aspecto pontual de frustração se dá quando a movimentação que indica que
uma cabana é assombrada é praticamente imperceptível, mesmo após sucessivas
checagens em cada canto do local.
Muitas vezes são coisinhas bestas se movendo em uma velocidade irrisória que
podem passar despercebidas e que muitas vezes quebram o fluxo que a atmosfera
tenta trazer, uma vez que a imersão acaba ficando em segundo em detrimento de
uma atividade morosa de caça ao pixel.
Percebe-se também que o desempenho não é exatamente dos melhores,
especialmente no ambiente de galpão, do lado de fora do chalé, quando ele é
mais aberto. Com menos espaço a ser processado pela máquina, essa performance
acaba melhorando consideravelmente nos ambientes internos e que realmente
importam, então é um revés que pode ser minimizado.
De modo geral, considerando este como um representante do horror, ele consegue
mais atrair a atenção e a curiosidade do que realmente incitar um sentimento
de aflição — embora esteja claramente tentando. Pelo menos, ele não tenta se
sustentar em jumpscares apelativos e simplórios, se esforçando para
mostrar seu valor através da construção atmosférica que alterna entre espaços
limiares estéreis e ambientes internos claustrofóbicos.
Por conseguinte, The Cabin Factory acaba se mostrando um jogo até que
burocrático. Quase tudo nele conta com uma execução decente, de quem sabe o
que está fazendo, o que é suficiente para despertar a atenção de seu potencial
jogador. Entretanto, ele não consegue capturar pela emoção e imergir seu
público, que se verá em uma posição maior de racionalização diante das
possibilidades do que realmente se entregando ao sentimento de aflição.
Prós
- Conceito atrativo que consegue trabalhar bem a própria fórmula de experiência contida de terror de repetição;
- Constrói bem sua atmosfera em cima de um horror atmosférico e ambiental;
- Curto, mas na medida certa. Fosse mais longo, não sustentaria a atenção do jogador;
- Quantidade louvável de variações de assombração que uma mesma cabana pode oferecer.
Contras
- Algumas das assombrações são tão irrisórias que quebram a imersão quando o jogador se depara com um feedback de erro do painel;
- O desempenho no ambiente de galpão fica a desejar;
- Embora se esforce, não é exatamente aterrorizante ou angustiante.
The Cabin Factory — PC — Nota: 6.5
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Future Friends Games.
Análise produzida com cópia digital cedida pela Future Friends Games.