Desenvolvido pela Sunny Peak, Symphonia é um jogo de plataforma focado na exploração e sem momentos de combate, onde a música desempenha um papel central na experiência. Com um estilo artístico encantador e uma trilha sonora executada por uma orquestra oficial, será que o título consegue ir além de sua impressionante apresentação visual e sonora?
O coração da música
Acompanhamos a jornada de Philemon, um talentoso violinista que nasce misteriosamente de uma máscara, numa missão inesperada no reino de Symphonia, onde a música é a essência vital. A região está gradualmente mergulhando em silêncio devido ao desaparecimento misterioso dos fundadores e sua orquestra. Determinado a restaurar o som do reino, Philemon embarca em uma aventura para encontrar os quatro músicos desaparecidos e trazer a melodia de volta.
Controlamos uma criatura metade pássaro por quatro regiões distintas. O jogo é um exemplo clássico de plataforma pura, remetendo a títulos como Celeste e Super Meat Boy, com uma progressão que exige superação de obstáculos desafiadores, repletos de espinhos e abismos, que punem severamente qualquer deslize. Embora a dificuldade não alcance o mesmo patamar da jornada de Madeline em Celeste, a estrutura das fases segue a filosofia de tentativa e erro, exigindo atenção e paciência dos jogadores a cada morte.
Philemon, no entanto, está bem equipado para enfrentar esses desafios. Sua principal ferramenta é o arco de seu violino, que serve para realizar saltos mais altos ao ser usado no chão. A mecânica exige domínio da inércia, já que manter o fluxo das “quicadas” com o arco é essencial para atravessar obstáculos mais distantes.
Além disso, o arco pode ser utilizado para prender-se a almofadas estrategicamente posicionadas pelo cenário. Essas almofadas permitem tanto escalar laterais e se pendurar sob plataformas quanto se catapultar em diferentes direções. A jogabilidade é fundamentada no equilíbrio entre o uso dessas catapultas e os saltos no momento exato. Senti inconsistência na física da inércia em alguns momentos; entretanto, quando funciona bem, é satisfatório.
Para dar um incentivo na exploração das fases, alguns colecionáveis podem ser obtidos como moedas musicais e fragmentos de memória. Para ganharmos algumas habilidades — ou opções de acessibilidade — mais básicas como pulo duplo e poder desacelerar a velocidade geral do jogo, precisamos de uma quantidade determinada de fragmentos. Já outras mais essenciais, como a corda com um gancho que nos puxam para almofadas, ganhamos apenas progredindo na jornada.
Apesar do tema musical ser o coração de Symphonia, sua influência na jogabilidade é limitada. Não há desafios rítmicos, minigames musicais ou mecânicas que realmente integrem a música com a base de plataforma. Na prática, o violino de Philemon funciona mais como uma ferramenta para ativar eventos pré-determinados ou de realizar fast travels do que como uma extensão da interação musical.
A imagem do som
Embora Symphonia apresente certa falta de inspiração em sua jogabilidade, é inegável que a parte artística recebeu um cuidado impressionante. O mundo do jogo é deslumbrante desde o início, com cenários pintados à mão combinados com elementos 3D estilizados, criando uma sensação de grandiosidade enquanto desbravamos o reino. Apesar de contarmos com apenas quatro áreas principais, cada uma delas narra sua própria história sutilmente. Um destaque especial é a terceira área, onde o musicista local utiliza sua flauta para alterar o horário do dia, trazendo dinamismo ao cenário.
É na forma como essas áreas são concebidas que a veia musical do título realmente brilha. O design do mundo reflete diretamente a música: há momentos em que horizontes são moldados por instrumentos de corda, enquanto percussões influenciam o ambiente e até auxiliam na progressão, funcionando como molas. Infelizmente, o jogo não explora totalmente essa ideia, deixando de introduzir puzzles ou mecânicas mais robustas que poderiam engrandecer a conexão entre música e jogabilidade.
Além da exploração, cada fase culmina em um número musical — um dueto entre Philemon e o musicista recrutado. Esses momentos são verdadeiramente marcantes, com as áreas ao redor se transformando, ganhando vida e cores ao ritmo da melodia. É como se a música trouxesse esperança de volta ao mundo, proporcionando cenas visual e emocionalmente impactantes.
Quanto à trilha sonora, tocada pela prestigiada Orquestra Filarmônica de Paris, há algumas observações a fazer. Durante todo o jogo, ouvimos composições clássicas que acompanham as áreas exploradas, semelhantemente a trilhas de animações antigas, embora sem sincronizar diretamente com nossas ações. Tecnicamente, as músicas são impecáveis e complementam bem a atmosfera da aventura.
No entanto, achei que as composições carecem de memorabilidade, funcionando mais como um pano de fundo ambiental do que como melodias marcantes. Isso, é claro, pode variar de acordo com o gosto pessoal de cada jogador. Mesmo assim, elas cumprem bem o papel de reforçar a experiência imersiva de Symphonia.
Algumas cenas animadas acontecem em certos momentos, e são incrivelmente belas. |
Agradável, mas de ritmo não tão marcante
Apesar de carecer de maior inspiração como jogo de plataforma, Symphonia é um deleite visual que impressiona pela sua direção de arte e pelo uso criativo da temática musical na construção de seu mundo e narrativa. É como assistir a uma orquestra performando em uma peça teatral, em que cada elemento visual e sonoro colabora para enriquecer a experiência. No fim, ele se destaca como um título interessante, merecendo ao menos uma chance caso curta o tipo de jogo.
Prós:
- Direção de arte fantástica, com uso de cenários poligonais e elementos desenhados à mão;
- Mundo de Symphonia é interessante e aplica a temática musical com êxito;
- Belíssimas animações em momentos chave;
- Jogabilidade de plataforma fluída com desafios justos.
Contras:
- A criatividade musical não se aplica tanto à jogabilidade quanto poderia;
- A física da inércia pode ser um tanto inconsistente.
Symphonia — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 7.0Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Beatriz Castro
Texto produzido com cópia digital cedida pela Headup Games