Momento confissão: eu só vou atrás de um eroge (isto é, jogo com conteúdo sexual) quando algo me diz que ele vale a pena. Sisters: Last Day of Summer é um ótimo exemplo do meu ponto de vista — curiosamente, não pelo seu conteúdo em si, mas devido à sua execução.
Classificado como uma animação interativa, o jogo não é o primeiro do gênero e nem será o último, embora tenha sido o que me motivou a ir atrás deste tipo de produção. E, apesar de ser linear, a história consegue ser interessante o suficiente para fazer com que esta visual novel não seja uma típica história clichê para maiores de 18 anos.
Como o nome indica, envolve verão e irmãs
Agosto de 1990. Tudo começa com um acidente, mas a cena logo muda de figura quando um rapaz, o protagonista da história, acorda na residência dos Kamimura, no interior do Japão. A casa é cercada por natureza, praticamente isolada, e não há muito o que se fazer pela região — até mesmo a loja de conveniência mais próxima fecha cedo.
A primeira pessoa que Keisuke (nome padrão do rapaz, mas que pode ser mudado para outro da nossa escolha) conhece é a viúva Akiko. Pouco sabemos sobre ela além do fato de ela pedir para o rapaz fazer algumas tarefas domésticas, como limpar o banheiro, cuidar do jardim e montar uma cerca para a casa.
Na verdade, o início é um pouco arrastado, com poucas informações nos sendo passadas — apenas sabemos que a mulher foi casada com um músico e teve duas filhas com ele, Haruka e Chika. A partir do momento em que as duas garotas entram em cena, a trama passa a avançar e tudo parece caminhar para um típico romance de verão que gira em torno da relação de Keisuke com as irmãs.
Contudo, a interação entre os três personagens está longe de ser natural: Haruka e Chika parecem já conhecer o rapaz de algum lugar, uma sensação que nos é entregue desde o começo pelo modo como elas o tratam. Aos poucos, e muito graças aos flashbacks que presenciamos, vamos entendendo as peças que compõem este curioso mosaico.
Mesmo com um um ritmo mais lento, ainda mais se levarmos em consideração que a leitura total dura aproximadamente cinco horas, a história consegue ser satisfatória o bastante para não causar tédio e atiçar nossa curiosidade de ir até o final. Claro, temos alguns momentos que são bastante óbvios, mas confesso que, em outros, pensamentos como “não pode ser” e “nossa, será que é isso mesmo?” passaram pela minha cabeça — e isso é um bom sinal, especialmente para indicar que nem tudo é tão preto no branco quanto parece ser.
Como não quero dar mais spoilers sobre a trama em si (acho que isso ficou claro, né?), vou falar de outro aspecto que me surpreendeu positivamente: a ambientação. Para reforçar que a trama se passa em agosto de 1990, temos vários elementos e situações que foram cuidadosamente enfatizados, como um telefone de disco, a Guerra do Golfo sendo noticiada em uma TV de tubo, uma vitrola e ausência de telefones celulares e internet.
São pequenos detalhes que podem passar despercebidos para algumas pessoas, mas que realmente mostram um cuidado da produtora, Jellyfish, em trazer uma história crível. No entanto, deixo duas críticas em relação ao enredo: senti que Haruka e Keisuke tiveram pouco tempo de tela, com a história sendo praticamente conduzida pelos sentimentos de Chika, e o desfecho pode ser considerado vago demais por algumas pessoas.
Mas afinal, o que é essa tal de “animação interativa”?
A parte mais interessante de Sisters é que, diferentemente de outras visual novels, a história é apresentada como se fosse uma animação. Tudo é animado com o máximo de cuidado, das paisagens aos personagens, e, com exceção do protagonista, todos são dublados.
Devido a isso, a apresentação audiovisual do jogo é excepcional, até mesmo nas cenas de sexo. Contudo, são duas as ressalvas aqui: algumas delas, além de mais longas que o necessário, trazem perspectivas que causam estranhezas (no âmbito da anatomia dos personagens); por outro lado, essas passagens 18+ não são gratuitas e casam muito bem com a trama, pois ajudam a reforçar, na minha opinião, os sentimentos dos três personagens principais.
Por padrão, optar por comprar o jogo na loja da JAST significa uma versão sem censuras, mas, caso você não se sinta confortável com o conteúdo sexual, a disponível no Steam é censurada e foca apenas na trama. Independentemente da escolha, o que acaba pesando mais na experiência é o modo como toda a história se desenvolve.
Vítima de problemas técnicos
A visual novel foi originalmente lançada em 2011 e ficou restrita por anos ao território japonês. Devido à sua idade, a única resolução disponível é 4:3, pensada para os monitores “quadradões” da época — mas não é algo que fira a qualidade visual do jogo.
Por se tratar de uma localização recente para o inglês, há alguns tropeços em algumas passagens textuais, como nomes trocados aqui e ali e até mesmo errinhos bobos de tradução e digitação, que não chegam a ser incômodos ou a atrapalhar a jogatina. O que realmente mina toda a experiência são os problemas técnicos relacionados à performance.
Em mais de uma ocasião, o jogo fechou abruptamente, mesmo sendo rodado do SSD (uma recomendação do Steam). O único modo que achei para contornar a situação foi executar o aplicativo com privilégios de administrador, porém foi apenas uma medida paliativa.
Outra crítica que quero fazer à performance é a lentidão em diversas transições de cenas, que também chegam a afetar a velocidade textual. Combinada a isso, temos uma interface de usuário péssima e confusa, com o texto automático sendo cancelado caso algum botão associado à passagem dos diálogos (como Enter ou o direito do mouse) seja pressionado; para ajustar isso, é necessário toda hora abrir o menu de configurações para ativar a leitura automática.
Outro exemplo é o botão para pular os diálogos (skip), que precisei caçar na internet para descobrir que está atrelado à tecla Ctrl. Em nenhum momento isso é descrito no jogo e, no fim das contas, um manual de controles acabou fazendo falta.
O último dia de verão
Sisters: Last Day of Summer, apesar de seus graves defeitos técnicos, é uma história que supera em muito as exploradas em outros eroges. Seu status de animação interativa é um respiro não apenas ao gênero, mas também às visual novels em si, e traz um modo diferente de aproveitar a trama.
Graças à excelente apresentação audiovisual, a impressão que fica é a de que estamos assistindo a uma bonita animação feita com bastante esmero. É verdade que Keisuke e Haruka poderiam ter tido um pouco mais de tempo de tela, não deixando a história para ser carregada apenas por Chika, mas o saldo final é positivo. No meu caso, a curiosidade para conhecer mais sobre o estilo de jogo valeu a pena.
Prós
- História com um bom desenvolvimento e ótima condução, conseguindo captar com sucesso não apenas os sentimentos dos personagens envolvidos, mas também as características principais da época em que se passa;
- O conceito de animação interativa traz um respiro às visual novels lineares, especialmente as classificadas como eroge;
- Ótima direção audiovisual, com destaque para a trilha sonora e dublagem, principalmente nas cenas de sexo;
- Diferentemente de muitos outros eroges no mercado, os atos sexuais não são incluídos apenas para satisfazer a quota de fanservice.
Contras
- Interface de usuário confusa e pouco otimizada, bem como a opção de leitura automática;
- Transição demasiadamente longa entre cenas, mesmo rodando o jogo do SSD;
- Algumas cenas de sexo, além de longas, trazem perspectivas que causam estranheza anatomicamente falando;
- Problemas de performance no geral, com o jogo fechando abruptamente sem motivo aparente em diversos pontos e que só foram corrigidos (em partes) ao executá-lo como administrador;
- Haruka e Keisuke poderiam ter tido mais participação na história;
- Ausência de voz para o protagonista deixa a animação com sensação de estar incompleta;
- Certos temas apresentados durante a trama podem não agradar a todas as pessoas, bem como o desfecho da história.
Sisters: Last Day of Summer — PC — Nota: 7.5
Revisão: Beatriz Castro
Capa: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital adquirida pela própria redatora