Análise: Mighty Morphin Power Rangers: Rita’s Rewind é um beat ‘em up competente, mas com falta de polimento

Mesmo com visuais incríveis e bastante respeito com o material base, a jogabilidade acaba prejudicando o resultado da experiência.

em 20/12/2024

Dentre os gêneros antigos que estão voltando à moda, o beat ‘em up é um dos que mais se destaca. Entre títulos completamente novos, inspirados em clássicos e retornos de franquias consagradas, como Streets of Rage, Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge trouxe uma nova aventura para uma propriedade intelectual que já viveu a pancadaria digital.

Quando anunciado há alguns meses, Mighty Morphin Power Rangers: Rita’s Rewind veio com um destaque bem especial. Os super-heróis coloridos já haviam aparecido em diversos jogos do gênero desde os 16 bits (que, inclusive, abordei na primeira parte do especial sobre jogos da franquia), mas só agora, em 2024, pudemos ver como seria um beat ‘em up estilo arcade baseado em Power Rangers, algo que estranhamente não aconteceu nos anos 1990.

Desenvolvido pela Digital Eclipse, o jogo traz de volta uma dose de nostalgia já bastante explorada de Mighty Morphin (as três primeiras temporadas do seriado), com uma pancadaria multiplayer 2D extremamente chamativa, claramente influenciada pela última entrada das Tartarugas Ninja no gênero. Contudo, apesar das boas intenções, algo não deu muito certo no processo de polimento e temos mais um jogo da franquia que poderia ter sido “morfenomenal”.

Agora e Sempre

Rita’s Rewind começa de maneira um tanto inesperada, pois se encaixa no cânone da série, iniciando em uma batalha entre os Rangers e Robo Rita, após os eventos do filme da Netflix Power Rangers: Agora e Sempre. No meio da bagunça, a vilã consegue criar um portal temporal que a transporta para o passado, especificamente durante os eventos do primeiro episódio de Mighty Morphin, em busca de seu "eu" do passado.

Relatando o plano a Rita Repulsa, a fim de derrotar os Power Rangers, o grupo de vilões começa a usar cristais capazes de manipular o fluxo temporal para derrotar os heróis definitivamente. Sendo assim, Jason, Billy, Kimberly, Trini e Zack precisam lidar com as ameaças em cada episódio, seguindo a narrativa da primeira temporada, mas misturando elementos do futuro influenciados pelos atos da Robo Rita.

Para quem acompanha a franquia e nutre um carinho especial pelo início dela, Rita’s Rewind faz um excelente trabalho narrativo. O fanservice é bem feito, os vilões selecionados estão entre os favoritos dos fãs — com figuras que apareceram nos jogos de SNES e Mega Drive — e é interessante ver como os episódios foram adaptados para um jogo.



Só preciso adiantar um problema bem chato que prejudica o aproveitamento de alguns desses detalhes: a falta de localização em português. Não dá para saber exatamente o porquê de a Digital Eclipse continuar ignorando o público brasileiro em suas produções, mas considerando uma franquia tão popular por aqui, é inadmissível que o jogo não venha acompanhado de textos em nossa língua. Realmente é uma bola fora que atrapalha a experiência e a acessibilidade do game.

Diversas formas de lidar com a vilania

Indo para a jogabilidade, Rita’s Rewind é um legítimo beat ‘em up clássico. Andamos por diversas fases socando inimigos rasos, evitando levar dano, superando alguns obstáculos e cooperando com nossos amigos em modo multiplayer. Além das mecânicas básicas, como pulos e combos corpo a corpo, podemos realizar um ataque ascendente para jogar inimigos ao ar ou pegar alguma ameaça voadora, esquivar com alguns quadros de invencibilidade, realizar um ataque no ar para atingir os inimigos no chão, além de um especial ao encher uma barra.



Apesar de ser simples de pegar e jogar, o título sofre com um ritmo estranho de ataques. Movimentos levam um tempo excessivo de recuperação, os combos não possuem uma velocidade satisfatória, as caixas de colisão podem ser confusas de compreender e a fluidez claramente está longe do ideal. Como a influência mais óbvia está em Shredder’s Revenge, em poucos segundos dá para perceber que o jogo das Tartarugas Ninja acaba se sobressaindo na sensação de gameplay.

Outra bola fora fica para a diversidade na jogabilidade dos Rangers. Apesar de cada um possuir animações específicas nos combos, refletindo o tipo de arma que utilizam, todos compartilham atributos idênticos de força, velocidade e alcance. Chega a ser bizarro que os jogos de Super Nintendo apresentavam pelo menos um ataque diferente para cada um, e aqui a Ranger Rosa, por exemplo, nunca utiliza seu Arco do Poder para atirar a longas distâncias. Nem mesmo o Ranger Verde possui movimentos diferenciados, mesmo sendo um personagem desbloqueável.



Fora das brigas laterais, Rita’s Rewind é variado em estilos de jogabilidade. Ao derrotarmos o monstro da semana pela primeira vez, Rita lança o seu cajado para fazê-lo crescer, e precisamos convocar nossos Zords para lidar com a situação. Cada Ranger controla seu robô por uma fase de progressão automática no melhor estilo Space Harrier, atirando em tudo pela frente, coletando melhorias e desviando de projéteis e obstáculos pelo caminho.

Ao concluir a corrida, os Zords se unem e formam um Megazord, entrando em um modo de batalha em primeira pessoa. Nessa jogabilidade, o objetivo é esquivar dos ataques do chefe enquanto nos aproximamos para socá-lo diversas vezes. Conforme acumulamos golpes, uma barra é preenchida, permitindo ativar a espada definitiva para finalizar a ameaça de vez, com todas aquelas explosões icônicas no seriado.



Outras fases também variam em estilo de gameplay. Em uma delas, pilotamos motos enquanto destruímos veículos que carregam o cristal de distorção do tempo. Em outra, embarcamos em uma montanha-russa e atiramos em Bonecos de Massa que vão aparecendo aos montes.

Para incentivar novas jogatinas, o jogo oferece alguns colecionáveis, como itens da série e personagens coadjuvantes espalhados pelos cenários. Os personagens encontrados ficam na lanchonete do Ernie, onde é possível interagir com eles através de diálogos. É nesse local também que podemos nos divertir com alguns minigames em fliperamas e encontrar Bulk e Skull, incluindo um remix da icônica música tema da dupla de “valentões”.

Um show de apresentação

Apesar das minhas críticas à jogabilidade, a Digital Eclipse entregou visuais fantásticos dentro da proposta de pixel art noventista. O jogo é vibrante em suas cores, muito bem animado, com bastante personalidade para os Bonecos de Massa que enfrentamos, além de detalhes nos estágios que homenageiam a era Mighty Morphin e referências da época.

Nas fases de veículo e Zords, fiquei impressionado com a fidelidade às técnicas de escalonamento de sprites, parecendo algo perdido dos anos 1990 e emulado no meu PC. Não bastasse isso, os robôs usam um estilo pré-renderizado com polígonos chapados, como se fossem brinquedos gigantes brigando com efeitos especiais ao redor. É algo que brilha aos olhos de qualquer fã de jogos retrô.

Por outro lado, todo esse espetáculo visual pode ser problemático no modo cooperativo. Com tantas explosões, partículas e efeitos piscantes aparecendo aos montes, jogar com dois a seis jogadores pode se tornar caótico para quem se perde facilmente. Particularmente, ainda gosto desse caos, mas seria interessante incluir uma opção para reduzir os efeitos, favorecendo a acessibilidade.

Falando em acessibilidade, Rita’s Rewind é bastante limitado nesse quesito. Não há como alterar resolução, reconfigurar os controles ou ajustar o volume de música e efeitos sonoros. O modo online também deixa a desejar, sem permitir que jogadores entrem a qualquer momento em uma partida ou criem saguões privados para receber amigos livremente.



Como todo bom beat ‘em up, as lutas são acompanhadas por uma trilha sonora excelente e agitada. Com um estilo que remete ao rock sintetizado de fliperamas dos anos 1980 e 1990, as músicas são marcantes e, em alguns momentos, incorporam o tema clássico de Power Rangers, combinando perfeitamente com o espírito arcade da aventura. Os efeitos sonoros e a dublagem também são satisfatórios, trazendo aquele toque brega que é marca registrada da franquia.

Uma capa morfenomenal com um conteúdo complicado

Saí de Mighty Morphin Power Rangers: Rita’s Rewind com um sentimento conflitante. Joguei tanto sozinho quanto em multiplayer e, apesar de eu ter me divertido com meus amigos de forma descompromissada, basta analisar de forma mais crítica ao jogar sozinho que os defeitos começam a ficar evidentes. Mesmo belíssimo e tentando empolgar a cada minuto com a apresentação explosiva, ainda não temos o beat 'em up definitivo de Power Rangers.

Prós:

  • Gráficos que replicam com fidelidade o estilo 2D de fliperamas dos anos 1990;
  • História que leva o cânone de Mighty Morphin em consideração, com boas referências ao seriado de televisão;
  • Fases de estilos diversos com momentos catárticos e bons desafios;
  • Trilha sonora empolgante no melhor estilo sintetizado retrô.

Contras:

  • Ritmo de combos e movimentação é estranhamente lento comparado a outros beat 'em ups;
  • Precisão inconsistente de colisão dos inimigos e objetos, o que compromete a eficácia dos ataques dos Rangers;
  • Falta de personalização e opções como recursos de acessibilidade, resolução e mapeamento de controles;
  • Todos os Rangers são essencialmente iguais, dando pouca justificativa para jogar com cada um, além de preferência pessoal por um personagem.

Mighty Morphin Power Rangers: Rita’s Rewind — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Analise produzida com cópia digital cedida pela Digital Eclipse

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Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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