Sabe aquele game que termina com uma ponta solta, deixando o jogador ansioso pela continuação? Volta e meia temos um lançamento assim, que sabemos ter uma sequência pela frente. Fairy Tail 2 se enquadra nesse caso não somente pelo seu título, mas por efetivamente continuar a epopeia de Natsu e companhia, cujo último jogo saiu há quatro anos.
Nesta análise, vamos conferir como o título apresenta sua adaptação da obra, incluindo como ela lida com sua “primeira parte”. Vista seu cachecol dracônico favorito, equipe o molho de chaves estelares e não esqueça do seu lanchinho feito com peixes, pois vamos começar!
A aventura que faltava
Esse subtítulo é mais do que adequado para o jogo em questão. Afinal, o game Fairy Tail foi lançado em agosto de 2020, reunindo os arcos de história Tenrou Island, Grand Magic Games, Tartaros e Avatar. Fãs da franquia certamente notaram a ausência de um arco; neste caso, a parte final da aventura de Natsu e companhia.
Fairy Tail 2 adapta o enredo do Alvarez Empire, trazendo as lutas derradeiras da guilda de magos mais famosa de Fiore. Ou seja, as batalhas contra o Imperador Zeref e seu esquadrão de elite, Spriggan 12, além do perigoso Dragão Negro Acnologia. A aventura também traz missões secundárias e uma história original, chamada Key to the Unknown.
Dividido em quatro capítulos, esse enredo inédito pode ser acessado após o final da campanha principal. Não espere algo muito grandioso ou elaborado, mas é interessante poder passar mais tempo com esse elenco tão carismático. Inclusive, temos algumas situações e interações bastante originais, proporcionando novas facetas para os personagens.
Considero a aventura interessante, ainda que traga menos do material original em relação ao título anterior. Infelizmente, um problema grave persiste: mesmo trazendo glossários explicativos e cenas que remetem a acontecimentos anteriores, Fairy Tail 2 só funciona de verdade para quem tem bom conhecimento da história do mangá e/ou anime. Os demais até podem se divertir, mas vão perder boa parte do que fez a obra grandiosa.
O poder da amizade
Passamos agora para a jogabilidade, que traz um RPG com ações dinâmicas, ao contrário dos mais tradicionais. Embora ainda estáticos no cenário, os personagens só agem quando acionamos algum dos comandos disponíveis, que, por sua vez, funcionam num sistema de cooldown e barras de energia. Golpes básicos podem ser disparados em sequência dentro de certos intervalos de tempo.
Já os ataques especiais usam uma barra de energia (existem mais de uma para cada categoria, que veremos mais à frente), carregada conforme realizamos esses golpes básicos. Cada ataque tem suas particularidades, como tipo de elemento, dano individual ou em área, etc. Nada muito complexo, pois essas mecânicas dinamizam os combates por turno, tradicionais do gênero, em um sistema mais interativo.
O time de fadas é composto por até três personagens, que podem ser selecionados pelo jogador em tempo real. Também é possível trocar membros do time por quem estiver em espera na equipe. Tais opções são importantes para fazer uso do sistema de resistências e fraquezas, que afetam cada herói e vilão do jogo de acordo com os seus elementos e características próprias.
Particularmente, gostei das novas mecânicas de combate. Ao contrário de seu predecessor – que trazia combates por turnos com um sistema de grade para os inimigos –, aqui temos um foco que mistura estratégia e timing. Ou seja, carregar golpes especiais enquanto nós defendemos na hora certa, para então quebrar a defesa dos vilões e explorar vantagens e desvantagens.
Faltou etherano para as magias
Falando da produção em si, Fairy Tail 2 consegue entregar uma boa experiência, porém com algumas ressalvas. De maneira geral, o trabalho audiovisual é competente, com personagens e cenários coloridos e divertidos. É fácil reconhecer elementos clássicos em várias partes do game; novatos, mesmo sem conhecer tais partes, vão apreciar a apresentação no melhor estilo anime.
O maior problema fica por conta dos modelos e das animações do jogo. Primeiramente, vários deles parecem reaproveitados do primeiro título, lançado há mais de quatro anos. Embora na época não fossem perfeitos, eram satisfatórios; hoje, fica mais difícil encarar determinados tipos de visuais, que ficam ainda mais modestos em elementos secundários.
Se os modelos incomodam um pouco, o que pega mesmo são as animações. Com exceção dos combates, cujos golpes e habilidades foram melhor apresentados, cenas mais casuais são um pouco estranhas. Mãos, bocas e cabeleiras são desengonçadas e pouco naturais, sobretudo em cenas com close. O que salva é a dublagem, com vozes em japonês que dão vida aos personagens e eventos.
Em outras palavras, é agradável ver Erza brigando com Natsu e Gray, ou rir da Lucy reclamando dos exageros da guilda. Infelizmente, basta prestar um pouco mais de atenção e notar a limitação nessas animações. Ao menos cutscenes e lutas oferecem uma produção mais caprichada, algo que poderia (e deveria) ter sido estendido a mais partes do game.
Equipe número um de Fiore?
Em termos técnicos, Fairy Tail 2 entrega uma experiência suave, sem muitos carregamentos ou travamentos. O enorme mapa do jogo permite exploração sem loadings e com viagens rápidas entre acampamentos, facilitando a busca de tesouros ou cumprir todas as missões. Temos uma boa quantidade de ambientes diferentes para explorar e coisas para fazer além da campanha e da história extra. Destaques ficam para encontrar o espírito celestial Plue e liberar as cenas nos acampamentos.
Voltando aos combates, inimigos básicos são um pouco repetitivos (alguns copiados do título anterior), mas oferecem desafios legais. É possível quebrar a defesa deles para disparar Link Attacks, executar Unison Raids – golpes poderosos, combinados entre dois membros do time – e, após carregar o Fairy Rank, acionar a Extreme Magic, especial que traz algum(s) personagem(s) extra(s) para ajudar na batalha.
Como de praxe, a equipe ganha pontos de experiência conforme avança, o que permite melhorar atributos e desbloquear mais golpes especiais. Falando em desbloqueio, Fairy Tail 2 desde seu lançamento destaca a chegada de DLCs com novos personagens, roupas e atrações. Considerando o reaproveitando do jogo anterior, seria melhor que o lançamento trouxesse um pouco a mais para os fãs sem exigir mais compras.
Talvez até um mimo para quem já tenha o primeiro game, visto que a história ficou “em aberto” desde então. Seja como for, conteúdo picotado é uma prática comum do mercado de videogames atual, então paciência. Ao menos o autor Hiro Mashima supervisionou a produção, que, mesmo sem usar materiais direto do anime e mangá, consegue entregar uma experiência mais do que satisfatória.
Concluindo o conto de fadas
Adaptando o arco final da série, Fairy Tail 2 traz várias qualidades interessantes, incluindo melhorias em relação ao seu antecessor. Os combates estão mais dinâmicos, enquanto os mapas são mais vastos e interligados. A história é muito boa, mas continua dependente do conhecimento prévio do jogador. Quanto à produção, fica a ressalva de alguns elementos datados, mesmo que a percepção geral seja agradável.
Para fãs da franquia, certamente era o título que faltava para completar a aventura da guilda de magos mais famosa dos animes e mangás. Para os demais, fica a sugestão de um RPG leve e divertido, com um nível de estratégia adequado e boa quantidade de conteúdo.
Prós
- RPG faz ótimo uso do universo de Fairy Tail, incluindo história, ambientações e interações entre personagens;
- Visuais e trilha sonora bonitas e dignas da série como um todo;
- Sistema de combate consegue conciliar estratégia com ação de forma interessante;
- Muitas opções para montar e customizar a sua equipe, incluindo funcional e visualmente;
- Boa quantidade de missões e atividades para aproveitar durante a campanha.
Contras
- Jogador precisa conhecer uma fatia considerável da série para realmente aproveitar a história do game;
- Muitos elementos foram reutilizados do título anterior, incluindo alguns visuais e animações datadas.
Fairy Tail 2 — PC/PS4/PS5 — Nota: 7.5Plataforma utilizada para avaliação: PS5
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Koei Tecmo