Uma das minhas empresas queridinhas no cenário indie é a Inti Creates. O estúdio, que já fez parte da Capcom, quase sempre acerta em jogos de ação e plataforma 2D que chamam minha atenção, como Mega Man Zero, Blaster Master Zero e Bloodstained: Curse of the Moon — este último, na minha opinião, bem melhor que o metroidvania principal.
Divine Dynamo Flamefrit segue essa linha de trazer o retrô ao presente, utilizando uma estratégia semelhante à de Curse of the Moon. Anunciado inicialmente como uma brincadeira de 1º de abril, o título é uma espécie de tie-in de outra produção da Inti Creates, Card-en-Ciel, no qual a franquia Divine Dynamo é retratada como um grande sucesso. Mas será que ele consegue se destacar como sua própria obra, assim como a aventura de Zangetsu?
Dugeons de Blaster Master com espada
Divine Dynamo Flamefrit aposta em uma estética que exala animes dos anos 90, com olhos grandes, rostos angulosos e uma paleta de cores que remete à época. A história segue Yuki, um jovem que recebe poderes de um Dynamo Divino, um robô que o transforma em um mecha. Juntos, eles enfrentam um mal maior, resgatando outros portadores de Dynamos Divinos pelo caminho.
Diferentemente dos tradicionais jogos de ação lateral da Inti Creates, o título adota uma perspectiva aérea, lembrando The Legend of Zelda. No entanto, ao contrário da franquia da Nintendo, Flamefrit é direto ao ponto, com dungeons lineares e sem grandes explorações ou interações com NPCs — basta completar um calabouço para seguir ao próximo.
O combate é o núcleo da aventura. Yuki utiliza uma espada flamejante para realizar combos simples, ataques giratórios e esquivas. Contudo, a esquiva exige precisão, já que não há cancelamento de animação nos ataques, e os inimigos mantêm suas ofensivas mesmo ao serem atingidos. Isso torna o combate desafiador, especialmente em cenários mais agitados.
No decorrer da aventura, recrutamos aliados que possuem Dynamos Divinos de outros elementos. Eles não são diretamente controláveis, mas oferecem habilidades especiais, como um tornado devastador de vento ou uma investida poderosa de terra. Essas habilidades consomem mana, facilmente encontrada ao quebrar objetos no cenário.
O ponto alto são as batalhas contra chefes, que evocam o estilo tokusatsu. Nessas lutas, Yuki assume o controle do Dynamo Divino como um robô gigante, enfrentando os inimigos em combates em primeira pessoa.
Essas lutas exigem leitura cuidadosa dos padrões dos chefes, com ações como bloquear, contra-atacar e disparar projéteis. Esses momentos são desafiadores, com destaque para a batalha final, sendo particularmente intensa e, às vezes, frustrante.
Mecanicamente, Divine Dynamo Flamefrit não foge do básico. As dungeons seguem uma estrutura similar às salas de Blaster Master Zero, sem puzzles ou variações significativas. Felizmente, o jogo evita a repetitividade ao manter uma duração enxuta — é possível concluí-lo em menos de duas horas.
O charme dos píxels
A Inti Creates mantém sua reputação impecável na criação de pixel art, e Divine Dynamo Flamefrit é mais um exemplo brilhante. Apesar de se inspirar nos gráficos 16-bits, a riqueza de detalhes evoca mais a era dos 32-bits, lembrando clássicos como Magic Knight Rayearth do Saturn. Mesmo sem reinventar a ambientação, é refrescante ver algo que foge do estilo “inspirado nos 8-bits”, entregando visuais que combinam nostalgia com sofisticação.
Algumas habilidades elementais interagem com o cenário. |
As batalhas contra chefes são um verdadeiro espetáculo. Os sprites grandes e bem animados são complementados por um cockpit estilizado que simula a limitação de campo de visão clássica de alguns jogos de SNES com Mode 7. Essa estética de escalonamento de sprites adiciona um charme retrô que funciona muito bem.
A trilha sonora também remete à era dos 32-bits, com uma forte presença de sintetizadores e qualidade sonora digital de CDs da época. Embora nenhuma faixa seja especialmente memorável, a trilha cumpre bem o papel de embalar os combates frenéticos, acompanhada de dublagens típicas de anime, disponíveis em inglês e japonês. Por fim, a tradução para o português está bem-feita, apesar do foco narrativo ser leve.
Poderia ter sido mais; contudo, é divertidinho
No fim das contas, Divine Dynamo Flamefrit é uma experiência complementar que não busca grandes holofotes no cenário indie, mas acerta no que se propõe. Com um visual bonito e cheio de charme noventista, ele é um prato cheio para quem gosta de animes e tokusatsu clássicos. As batalhas contra chefes são um dos pontos altos (com exceção da última), e o combate, apesar de simples, cumpre bem sua função.
Considerando seu preço acessível, que justifica a curta duração, é uma aventura válida. No entanto, comparado ao outro “jogo extra” da Inti Creates, Bloodstained: Curse of the Moon, ele perde um pouco da qualidade.
Prós:
- Arte em pixel art colorida e charmosa, tanto pela inspiração de animes dos anos 1990 quanto pela técnica de emular 16/32 bits;
- Combate rápido e com variedade interessante de habilidades;
- Batalhas contra chefes com uma dança de padrões divertida de engajar;
- Textos em português bem localizados.
Contras:
- A falta de puzzles ou diversidade nas dungeons as deixa bem pouco inspiradas;
- Mecânica de rolagem pode ser difícil de se acostumar;
- A batalha final é desnecessariamente frustrante em seu desafio.
Divine Dynamo Flamefrit — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 7.0Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Texto produzido com cópia digital cedida pela Inti Creates