Análise: Tetris Forever — Os tijolos virtuais que construíram um futuro de verdade

Um dos maiores clássicos dos games ganha uma exibição virtual à altura de seu legado, com documentos históricos, depoimentos e um título novo.

em 19/11/2024
Em um mundo no qual temos jogos e gêneros para diversos tipos de públicos, é muito difícil encontrar algum que seja unanimidade entre todos os jogadores. Tetris se encaixa neste seleto grupo.

Para homenagear as quatro décadas de vida dessa lenda, a Digital Eclipse trouxe Tetris Forever, um compilado documental que reúne não somente algumas das versões e variantes do jogo, mas também toda a história do desenvolvimento desse marco na indústria.

Sete peças, mil possibilidades

Tetris nasceu da mente criativa de Alexey Pajitnov, um engenheiro de software russo que desenvolveu o jogo em seu tempo livre enquanto trabalhava na Academia de Ciências da União Soviética, em 1984. Ele se inspirou no quebra-cabeça Pentaminó, que continha doze peças que deviam ser organizadas livremente dentro de um quadro.

Alexey reduziu o número de peças para sete, e criou o conceito de agrupar os tetraminos a fim de construir linhas, que sumiriam para dar espaço a novas combinações, com a dificuldade sendo pautada pela velocidade com que as peças apareciam na tela.

O que ele não esperava é que seu protótipo, feito primeiramente para o computador Electronika 60, ganharia o mundo e teria mais de algumas dezenas de versões e reimaginações. Tetris se tornou um modelo de puzzle muito utilizado por diversas gerações que viriam, e aqui temos alguns títulos que beberam dessa fonte e trouxeram inovações diversas para a fórmula mágica de Pajitnov. São os seguintes:
  • Tetris (Electronika 60) - 1984
  • Tetris AcademySoft (MS-DOS) - 1986
  • Igo: Kyū Roban Taikyoku (Famicom) - 1987
  • Tetris Spectrum HoloByte (MS-DOS) - 1988
  • Tetris (Apple II) - 1988
  • Tetris (Famicon) - 1988
  • Hatris (Famicom) - 1990
  • Hatris (Game Boy) - 1991
  • Tetris 2 + Bombliss (Famicon) - 1991
  • Hatris (NES) - 1992
  • Super Tetris 2 + Bombliss (Super Famicom) - 1992
  • Tetris Battle Gaiden (Super Famicom) - 1993
  • Super Tetris 2 + Bombliss Genteiban (Super Famicom) - 1994
  • Super Tetris 3 (Super Famicom) - 1994
  • Super Bombliss (Game Boy) - 1995
  • Super Bombliss (Super Famicom) - 1995
  • Super Bombliss DX (Game Boy Color) - 1999
  • Tetris Time Warp (Original) - 2024
Com exceção da versão para Electronika 60, todos os títulos da lista contam com save/load state, além de filtros de tela que podem variar com o visual dos televisores antigos até trazer uma decoração inspirada no console para o qual o jogo escolhido foi inicialmente lançado.

O pessoal da Digital Eclipse, que produziu Tetris Forever, também fez questão de adicionar sua própria releitura. Tetris Time Warp começa com um visual moderno, mas algumas peças especiais podem te teletransportar para as versões de 1984, 1989 e 1993, nas quais é necessário cumprir missões em uma curta janela de tempo antes de voltar para 2024. Essa é só mais uma amostra, muito bem-feita, por sinal, de como Tetris pode ser aproveitado de várias maneiras criativas e dinâmicas, sem perder a sua essência.

A única ausência sentida na lista de jogos é a versão que foi a mais vendida de todas: a do Game Boy, lançada em 1989 e que atingiu a marca de 40 milhões de cópias vendidas. Ela, por acaso, teve seu molde usado em Time Warp, mas infelizmente a ROM original daquela época não está disponível na coletânea. É uma pena, visto que outros títulos do portátil da Nintendo foram incluídos, como Hatris e Super Bombliss.

Os tijolos do passado que construíram um caminho para o futuro

Assim como Atari 50: The Anniversary Celebration e The Making of Karateka, ambos feitos pela Digital Eclipse, temos em Tetris Forever uma linha do tempo muito rica. Estão disponíveis folhetos, propagandas, rascunhos, modelos, fotos históricas e os depoimentos de muitos nomes importantes da indústria, incluindo o próprio Alexey Pajitnov e Henk Rodgers, o responsável por promover Tetris no mundo e fechar o acordo de licenciamento do jogo junto à Nintendo, para que cada unidade do console portátil viesse com um cartucho incluso.

Cada pequeno trecho forma um grande documentário que explica não só o conceito de criação do puzzle, mas tudo que estava envolvido no contexto histórico da época, como a dificuldade de tornar global algo criado dentro da União Soviética, e toda a influência cultural que Tetris causou, como peça de exposição de arte moderna em museus do mundo e até mesmo se tornando tema central de um filme.

Infelizmente, não há legendas em português, apenas em inglês, mas mesmo assim vale a pena conferir esse generoso registro histórico.

“Tetris é aquele jogo que ainda estará por perto quando todos os outros forem embora”

A frase acima, dita por Henk Rogers em uma das entrevistas, resume bem o espírito de Tetris Forever. Essa coletânea traz, com muito carinho, alguns exemplos de como Tetris evoluiu e acompanhou os primórdios dos videogames sem perder relevância, mesmo 40 anos depois. Se você, assim como eu, é um fã de registros históricos de jogos clássicos, certifique-se de ter esta coletânea em seu acervo.

Prós

  • Seleção de 18 jogos que mostram muito bem desde o primeiro protótipo de Tetris até algumas versões mais criativas, como Hatris e Bombliss;
  • Linhas do tempo com diversas entrevistas e contextos históricos que mostram a importância de Tetris não só como jogo, mas como um produto vindo de um país totalmente fechado para o restante do mundo à época;
  • Filtros de tela que trazem o visual de consoles e televisores de cada época e recursos modernos, como save/load state.
  • Tetris Time Warp cria uma dinâmica legal, misturando gerações diferentes em um mesmo desafio.

Contras

  • Ausência da ROM de Game Boy (1989), que é a mais famosa de todas;
  • Sem legendas em português.
Tetris Forever — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela Digital Eclipse

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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