Análise: Metal Slug Tactics acerta na apresentação e estratégia, tão divertidas e desafiadoras quanto nos jogos originais

Quanto mais famosa é uma franquia de videogame, maiores são as chances de ela aparecer em gêneros diferentes da sua origem. Com uma franquia que começou no gênero run and gun, Metal Slug Tactic traz todo o charme de Marco e companhia para partidas repletas de estratégia. Pegue sua Heavy Machine Gun e não esqueça das granadas, pois a análise vai começar!

Um novo tipo de missão

Desde o seu primeiro lançamento em 1996, a franquia Metal Slug volta e meia recebe um novo jogo para engrossar as suas fileiras. Depois de muitos anos voltada para o gênero run and gun, a marca começou a receber títulos com propostas diferentes, como por exemplo Metal Slug Attack Reloaded. Lançado em 5 de novembro, Metal Slug Tactics é a primeira incursão da série no mundo da estratégia.

Mais especificamente, temos um jogo de estratégia tático com alguns elementos de RPG (tirando o enredo, que é quase inexistente). Caso o leitor queira um comparativo recente e famoso, lembro de Persona 5 Tactica: três personagens devem ser colocados em um mapa repleto de inimigos para cumprir uma determinada missão. Ela pode ser proteger um alvo, eliminar adversários, sobreviver a um certo número de rodadas, entre outras.

Parece um jogo de tabuleiro, no qual movemos nossos peões para posições favoráveis, seja para atacar inimigos desprotegidos, seja para se defender de investidas. Cada personagem tem suas próprias características, de forma que é necessário usá-las de acordo com as situações que se apresentam. O protagonista Marco, por exemplo, tem ataques de longo alcance e habilidades de suporte.

Já Eri tem mais facilidade de subir plataformas e pode usar um arsenal de explosivos. Os personagens atuam em turnos, assim como os inimigos. Antes de agir, é possível se mover pelo mapa, de modo a encontrar a melhor posição; mais do que isso, quanto mais longo é o movimento, mais esquiva é concedida ao herói. Assim, o dano recebido dos oponentes é reduzido, algo fundamental em partidas que sempre estamos em menor número.

Uma guerra complicada

Metal Slug Tactics tem mecânicas básicas relativamente simples e fáceis de entender e usar, mas as coisas não acabam por aí: o game conta com muitas mecânicas secundárias, que ao mesmo tempo oferecem boas opções, mas podem ser um pouco complicadas de usar corretamente. Por exemplo, é possível criar jogadas sincronizadas entre os personagens, que podem realizar ações fora de seus turnos.

Esse recurso exige um cuidadoso planejamento da posição de ataque de cada herói, visto que cada um conta com ataques de alcance diferente. Inclusive, o fogo amigo é uma realidade, então é preciso prestar atenção para não prejudicar a equipe. Existem muitas outras mecânicas, como cobertura, habilidades passivas e ativas, uso da adrenalina, etc., que também estão presentes nos inimigos, tornando cada partida um grande quebra-cabeças repleto de estratégia.
 
É daí que vem o fator mais preponderante para o nível de complexidade de Tactics. Cada missão normalmente exige muitas rodadas, cada uma com várias possibilidades de desdobramentos. Os chefes, em particular, exigem o máximo de atenção e cuidado, lembrando que, como um bom Metal Slug, o Game Over exige começar tudo de novo.

O próprio jogo reconhece a sua dificuldade, fornecendo um tutorial completo e bem reforçado. Inclusive, é possível usar uma espécie de lupa para destacar detalhes da tela, trazendo mais informações sobre determinadas palavras-chave. Todo o jogo está localizado em português brasileiro, então pelo menos esse estudo está mais fácil para o público em geral.

Belo como os originais

Antes de avançar, quero deixar claro que Metal Slug Tactics é exigente, mas justo. No início, perdi partidas de forma frustrante; com o tempo, me acostumei às mecânicas e comecei a obter vitórias épicas. Em particular, as já comentadas partidas contra chefes foram verdadeiras epopeias, cujos sucessos foram muito satisfatórios. Creio que a palavra-chave aqui seja “paciência” para aprender como tudo funciona.
 
Passando agora para a produção técnica, Metal Slug Tactics sofre de uma dicotomia bastante forte. Vamos começar pelo lado positivo, em que temos visuais incríveis, repletos de carisma e detalhes legais. A inspiração nos títulos principais é nítida e fiel, inclusive nas animações e efeitos sonoros, todos muitos divertidos e envolventes.

Os menus podem ser um pouco confusos no início – “vítimas” das muitas e complicadas mecânicas de jogo que comentei anteriormente –, tornando o uso daquela “lupa” quase que fundamental, mas mantêm o estilo bonito do game. O capricho do título é praticamente perfeito, demonstrando o respeito e carinho dos produtores em relação à marca original.

Preciso apenas tirar uma pequena frustração do meu peito: senti falta de ilustrações mais parecidas com as originais da SNK, cujo estilo está bem gravado na minha memória. As novas artes dos personagens são bem legais, então não chega a ser um defeito em si; apenas sou um fã de carteirinha dos visuais clássicos. Ainda nesse tópico, infelizmente não temos cosméticos para personalizar heróis, armas e outros elementos.

Os percalços da guerra

Pelo lado negativo, a produção de Metal Slug Tactics traz uma quantidade considerável de telas de carregamento e, o que é pior, congelamentos constantes durante as partidas. Por diversas vezes, fiquei com o coração na mão, achando que o jogo estava travado e que teria de reiniciar a missão. Considerando que os visuais são “simples” e que eu estava jogando num PS5, esse desempenho é quase inaceitável.

Cada personagem tem um conjunto básico de armas e habilidades, que por sua vez podem ser ampliados e melhorados. Ao final das missões, pontos de experiência são recebidos, subindo os heróis de nível. Melhorias passivas e ativas são obtidas ao longo da campanha, numa pegada RPG com direito a uma loja para adquirir recursos extras, como mais munição e itens para usar nas partidas.

Metal Slug Tactics permite ao jogador escolher se vai minimizar o número de missões e partir direto para o chefe final ou maximizar o desafio enfrentando tudo pelo caminho. Como um roguelite, as fases geradas nunca são iguais e os recursos são restritos, então é preciso saber dosar as jogadas para estar preparado quando realmente for preciso.

É uma pena que as recompensas das vitórias são um tanto modestas. Sendo um roguelite, poucas coisas são mantidas de um jogo para outro, salvo exceções como personagens liberados. Faltou algum modo de jogo extra para usar habilidades de forma mais livre; aliás, faltou no geral, pois seria legal ter outras opções além da campanha para curtir os desafios do game.

Uma vitória sofrida, mas merecida

Não deixe a roupagem descontraída te enganar: Metal Slug Tactics é um jogo de estratégia exigente e complexo. Na realidade, por vezes ele é complexo até demais: mesmo com todo o suporte oferecido, somente com várias derrotas é possível entender como as coisas funcionam. Ele não chega a ser injusto, mas eventualmente é difícil enxergar quais as decisões certas a se tomar. Além disso, as recompensas das vitórias poderiam ser um pouco mais vistosas.

Apesar da dificuldade estar alinhada com os jogos originais da franquia, ela contrasta com os visuais cartunescos muito bonitos e uma premissa relativamente acessível, já conhecida de outros títulos do mercado. No final, acredito sim que o game é uma ótima opção para o gênero estratégia, sobretudo pelo seu carisma e originalidade; além disso, ele tem potencial para expansões e, principalmente, atualizações que o tornarão mais equilibrado e variado.

Prós

• Título de estratégia faz um bom uso da marca Metal Slug, incluindo personagens e mecânicas de jogo;
• Produção audiovisual de primeira, com destaque para animações e efeitos sonoros;
• Boa quantidade e variedade inicial nas missões e desafios;
• A jogabilidade básica é relativamente simples de entender para começar a jogar;
• Muitas customizações de habilidades para montar sua equipe e suas táticas.

Contras

• O nível de complexidade do game é considerável e exige tentativa e erro para ser plenamente compreendido;
• A falta de recompensas legais e modos de jogo extras torna o progresso menos interessante;
• Desempenho capenga, sobretudo em travamentos que aparecem constantemente durante as partidas.

Metal Slug Tactics — PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 8.0
Console utilizado para avaliação: PS5

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dotemu