Análise: Dragon Quest III HD-2D Remake: um grande clássico da Enix renasce

Quase 40 anos depois, a Square Enix revisita um dos maiores clássicos de sua série tradicional de RPGs.

em 13/11/2024
Revelado em 2021, Dragon Quest III HD-2D Remake é uma nova edição do clássico que conclui a trilogia Erdrick. O jogo original foi um dos maiores sucessos da franquia e esse novo lançamento é a promessa de uma forma de revisitar a obra sob um novo olhar e com mais qualidade de vida.

Nasce um herói

Dragon Quest III conta a história de um jovem herói (ou heroína) que parte em uma missão para salvar o mundo. Após atingir uma certa idade, nosso personagem começa sua jornada, que já era esperada dele, tendo em vista que o seu pai, Ortega, tinha assumido essa tarefa anteriormente e, infelizmente, fracassado.

Com o aval do rei, saímos de Aliahan para tentar finalmente livrar o mundo da ameaça do arquidemônio Baramos; porém, é claro que a jornada não será tão simples e direta. No caminho, teremos que realizar várias tarefas, ajudando a resolver problemas nas várias regiões do jogo.

Em comparação com outros jogos do gênero, é fácil pensar que a jornada em DQIII HD-2D Remake é, de forma geral, bem simples em narrativa. Porém, há uma grande consistência e uma boa quantidade de desafios que fazem com que a jornada seja realmente grandiosa e que fique claro como o grupo do herói mereceria ter seus feitos reconhecidos.

Uma jornada não-linear

Algo que me chamou muito a atenção durante minha experiência com Dragon Quest III HD-2D Remake foi a estrutura bem aberta da jornada. Mesmo no primeiro continente, antes de pegar o navio, já é possível mudar a ordem dos eventos e ir para uma região totalmente diferente da prevista se o jogador se preparar bem.

Por conta dessa natureza não linear, às vezes a forma de avançar pode ser um tanto confusa, já que há muitas coisas que podemos fazer. Para ajudar nisso e dar mais qualidade de vida a jogadores que preferem uma exploração mais casual, o remake conta com alguns sistemas especiais.


Caso o jogador habilite a opção de indicações, o jogo contará com pontos marcados no mapa para indicar as próximas localidades aonde devemos ir. Isso facilita consideravelmente a experiência, então a possibilidade de desabilitá-la é importante para quem preferir ter uma jornada mais próxima da original e recheada com um senso de descoberta.

Outra adição fica por conta do sistema Recall, que permite gravar as conversas com personagens para rever posteriormente. Como era comum nos jogos da época, muitas dicas do que fazer eram dadas por NPCs, então esse sistema permite gravar pistas e informações úteis que podem ajudar na resolução de enigmas. A ideia é similar a magias de memória que existiam nas versões de Super Nintendo e GBC do jogo, mas tinham sido cortadas de ports posteriores.

Combate em turnos

Como tradicional da série Dragon Quest, o terceiro jogo da franquia é um RPG baseado em turnos. No combate, temos acesso a até quatro personagens por vez, sendo possível criar novos aliados em um prédio de Aliahan para testar outras possibilidades de equipe, se quisermos.

Um detalhe interessante da nova versão é que podemos também enviar aventureiros para outros saves. Assim, por exemplo, um jogador mais experiente pode conceder um auxiliar poderoso para um familiar que também queira aproveitar a jornada. Não será possível fortalecer esse personagem, nem alterar seus equipamentos, mas é uma forma de reduzir a dificuldade para um novato. Infelizmente, essa ajuda é limitada a saves de uma mesma cópia do jogo, pois seria uma opção de auxílio online interessante também.
Uma vez com a equipe selecionada, partimos para a jornada e em pouco tempo encontramos inimigos, já que a obra segue o formato de encontros aleatórios. Basta andar um pouco pelo mapa ou pelas dungeons para encontrar grupos de inimigos para enfrentar.

Em comparação com outros jogos populares do gênero, é notável que Dragon Quest III pode ter hordas bem largas de inimigos. Lidar com essa grande quantidade de criaturas raramente é algo trivial, a menos que o jogador já esteja em um nível bem mais alto do que se espera para aquela área.

Um ponto que pode incomodar algumas pessoas é o fato de que as criaturas são separadas em grupos, em vez de ser possível definir uma específica para atacar. A ideia é que definimos apenas qual dessas partes será o alvo, o que pode ser especialmente ruim se o jogador tiver aliados com forças bem discrepantes e quiser aproveitar o dano ao máximo para eliminá-las.

Já ataques em área, como magias de fogo e gelo de alto grau, podem ser capazes de varrer uma equipe inteira de inimigos. Porém, basta uma criatura para quebrar um grupo em partes e reduzir a eficácia de alguns golpes. Por conta disso, há também golpes, como Bang e Boom, que atingem todos os inimigos, passando por cima dessas divisões para a distribuição do dano.

De forma geral, prefiro ter um controle mais detalhado de quem está sendo atacado em vez de poder desperdiçar um golpe poderoso em um inimigo que já estava prestes a morrer. Nesse sentido, ter que definir os golpes de antemão para todos os personagens em vez de resolver turnos individuais também contribui para as perdas de eficiência.

Apesar desses pontos, vale ressaltar que se trata de uma questão de escolha de design e não de fato um erro. Ter essas restrições é uma característica que impacta a nuance das escolhas em todos os turnos. Junto com a tendência a uma dificuldade mais alta, nossas escolhas durante o combate podem fazer toda a diferença.

Uma dificuldade polêmica

Quanto à dificuldade, vale destacar que Dragon Quest III HD-2D Remake inclui a opção de escolhermos o nível do desafio. As opções variam desde “Dracky Quest”, que é a mais fácil, a “Draconic Quest”, a mais difícil, que reduz o ganho de experiência e dinheiro, forçando o jogador a se esforçar mais para avançar.

É possível mudar entre elas a qualquer momento, e a dificuldade mais baixa tem uma característica bem peculiar: é impossível morrer. Qualquer dano que levaria a equipe a estar abaixo de 1HP é negado e os personagens todos se mantêm com o valor mínimo.

Essa é uma escolha um tanto polêmica. Por um lado, o jogo mantém o dano dos inimigos e aliados em um nível padrão, mas, por outro, faz com que seja realmente difícil perder. A única forma de ficar impedido de avançar passa a ser não ter nenhuma forma de causar dano suficiente ao inimigo – e isso realmente pode acontecer, especialmente ao enfrentarmos algumas criaturas que podem chamar aliados infinitos, mantendo o jogador em um loop infernal.

Pessoalmente, preferia que o jogo apenas alterasse o balanceamento do dano de aliados e inimigos. Porém, esta opção ajudará de verdade quem quer apenas conhecer a jornada sem se preocupar tanto com grinding e elaboração da equipe.

Ainda no sentido da simplificação, vale destacar que o sistema de Tactics, que permite definir como os aliados irão agir. Assim, em vez de sempre selecionar manualmente os ataques, magias e itens, é possível deixar que eles ajam de acordo com o foco selecionado, seja ele a economia de MP, o equilíbrio de ataque e cura, ou a busca pela maior quantidade de dano possível, custe o que custar.

Uma nova roupagem

Dito tudo isso, o principal atrativo que DQIII Remake tenta vender é a sua estética HD-2D, seguindo as tendências exploradas pelo Team Asano em Octopath Traveler e Triangle Strategy. A ideia é o uso de personagens com aparência de sprites 2D e fundos tridimensionais combinados com elementos de iluminação e efeitos visuais bem mais modernos do que os que existiam no fim da década de 1980, período em que Dragon Quest III saiu.

Os ambientes ficaram estonteantes, riquíssimos em detalhes e cheios de elementos que ajudam a dar vida à diversidade de cada região. Nesse sentido, o remake acerta profundamente, já que uma parte muito importante do jogo é a riqueza cultural dos reinos que visitamos. Inclusive, muitos deles possuem inspirações em áreas do mundo real, como Egito, Portugal, Itália e Japão.

Não foram apenas as cidades que se tornaram mais ricas, mas também as dungeons, que agora mostram camadas visíveis que nos ajudam a melhor interpretar a disposição arquitetônica de cada localidade. Com o auxílio do minimapa e do mapa completo, explorar as áreas e encontrar os segredos escondidos, como as medalhas que podemos trocar por itens, é algo verdadeiramente prazeroso.

Além do aspecto visual, DQIII HD-2D Remake é bastante convidativo à exploração. No mapa-múndi, temos pequenas áreas de refúgio com árvores gigantescas ou grandes composições rochosas. Nelas, podemos encontrar itens e equipamentos, além de monstros que podem se tornar aliados com a ajuda da classe Monster Wrangler. Essa opção não estava presente nas versões anteriores do jogo, e encontrar mais criaturas é a forma de desbloquear mais habilidades para esse aliado, tornando-o mais útil quanto mais exploramos.

Também vale destacar a dublagem em inglês e japonês para os diálogos. Infelizmente, essa adição é apenas parcial e há uma inconsistência nas escolhas de quais textos recebem voz e quais não são importantes o suficiente. O resultado é que isso acaba gerando estranheza, embora a escolha valorize o peso emocional de algumas cenas.

Por fim, no PC em particular, temos uma boa variedade de opções gráficas para explorar. Além de escolher a resolução, a taxa de frames e o uso de V-Sync, podemos ajustar a qualidade de forma genérica (Low, Medium, High) e adaptar elementos específicos, como qualidade das sombras, oclusão de ambientes e o uso de Depth of Field, que deixa os fundos borrados.

Podemos também escolher se o áudio será tocado enquanto a tela está inativa e até mesmo manter os controles funcionando durante esses momentos. Em termos de línguas, o português infelizmente não está disponível nem mesmo para o texto, que conta com opções de inglês, espanhol, italiano, francês, alemão, coreano, chinês e japonês.

Um clássico de cara nova

Dragon Quest III HD-2D Remake é uma ótima nova forma de experimentar um RPG clássico. A nova edição traz vários elementos que tornam a experiência mais acessível, mas, em meio a tantos jogos de altíssima qualidade no gênero, é importante ter em mente a natureza mais básica da jornada antes de mergulhar de cabeça. No geral, trata-se de uma viagem confortável por uma grande referência do gênero, que é especialmente recomendada a quem já é apaixonado pela clássica jornada do herói.

Prós

  • Uma jornada de RPG bem completa, com muitas atividades para fazer em uma estrutura que dá abertura à exploração;
  • Combate de turno desafiador em que é importante o jogador ter uma boa construção de equipe e entendimento do combate para vencer;
  • Elementos de qualidade de vida, como as indicações no mapa, as múltiplas dificuldades e o sistema de Recall;
  • A versão de PC conta com uma boa variedade de elementos gráficos que podemos ajustar.

Contras

  • Para quem busca um RPG com narrativas mais elaboradas, a jornada pode parecer um tanto básica;
  • A dublagem apenas parcial acaba causando estranheza em suas escolhas de diálogo;
  • Algumas marcações de onde ir no mapa acabam sendo confusas em ocasiões que demandam condições específicas.

Dragon Quest III HD-2D Remake — PC/PS5/XSX/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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