Análise: Devil Reversi traz uma releitura criativa do jogo em que se baseia, mas não empolga muito

Com um modo história que é apenas um tutorial, só restam as partidas online ou contra a CPU.

em 30/11/2024

Para quem não conhece, Reversi (também conhecido por Othello) é um jogo estratégico no qual duas pessoas se revezam para tentar cercar as peças inimigas, a fim de encher o tabuleiro com sua cor (branca ou preta) ou impedir que o outro lado tenha movimentos válidos, vencendo a partida. Em Devil Reversi, contudo, o desenvolvedor Roman Kitayama decidiu adicionar novos movimentos às regras originais, criando, dessa maneira, uma releitura criativa e altamente estratégica do jogo em que se baseia, mas que, infelizmente, perde o encanto muito rápido.

E é só isso de história?

Dois demônios, Vritra e Astra, querem destruir a humanidade e, para decidir quem é o demônio supremo, apostaram suas peças (com o perdão do trocadilho) em partidas de Reversi. No entanto, depois de 9.999 vezes, eles ficaram cansados da falta de um resultado aparente, o que os levou a adicionar novas regras ao tradicional jogo de tabuleiro.

E isso é tudo da história de Devil Reversi. Depois dessa introdução, passamos a ter a companhia de Devi, lacaio de Vritra e Astra, no modo “história” do jogo. Coloco a palavra entre aspas, pois, no decorrer dos 28 capítulos, tudo o que aprendemos com Devi são mecânicas e truques para se dar bem em Devil Reversi.



Não há nenhuma cutscene que dê sequência às tentativas de Vritra e Astra de criar um novo jogo ou que contextualiza o plano mirabolante dos demônios. Como eles se sentem com Devil Reversi? Por que eles ficam criando novas regras a cada capítulo? São coisas que, do ponto de vista da pessoa que joga, acabam fazendo certa falta na hora de criar imersão — ainda mais depois de o próprio jogo nos presentear com um prólogo com bonitas ilustrações e até mesmo dublagem em japonês.

É realmente uma pena, pois Reversi é um jogo que não precisa desse tipo de contextualização para ser jogado. Então, a partir do momento em que se é proposto desenvolver uma narrativa para sustentar as novas regras criadas especialmente para Devil Reversi, espera-se, no mínimo, dar um seguimento à história, por mais bobinha ou clichê que seja.

Claro, não posso reclamar dos tutoriais, já que Devi sempre traz comentários engraçadinhos a cada capítulo, mas, infelizmente, eles não são o suficiente para compor a narrativa do título em questão. Em suma, eu esperava mais do modo “história”.



A premissa de Devil Reversi

Diferentemente do Reversi original, em que devemos encurralar a outra pessoa ou encher o tabuleiro com nossas peças, a criação de Roman Kitayama traz mecânicas originais: sistema de pontos, empilhamento de peças (torres), reações em cadeia e totens que impedem que as peças sejam viradas. Desse modo, Devil Reversi traz novas possibilidades estratégicas durante as partidas, e vence quem tiver mais pontos ao final.

Particularmente falando, as novas regras deixam cada jogada imprevisível, especialmente quando podemos colocar peças nossas sobre as do oponente. Com isso, Devil Reversi acaba se tornando um jogo no qual o que nos garante mais pontos é a quantidade de peças que viramos no tabuleiro a cada turno, independentemente do lado que está virado para cima.

Porém, essa aparente vantagem também pode ser benéfica para a pessoa contra quem jogamos. Assim, o título de Roman Kitayama, mesmo com tutoriais explicativos, é difícil de aprender (assim como o Reversi original) — felizmente, temos a opção de deixar dicas de pontuação ativadas, o que nos ajuda a pensar melhor no movimento que faremos no turno atual.

Não tem ninguém online?

Em sua descrição no Steam, é dito que o grande atrativo deste jogo é a jogabilidade PvP, seja local ou online. Porém, até o fechamento desta análise, não consegui achar nenhuma partida online — e o modo para duas pessoas local é muito confuso, já que os jogadores não conseguem compartilhar do mesmo controle.

Sendo assim, me restou jogar partidas contra a CPU, que, felizmente, pode ser ajustada conforme o nível de desafio que esperamos ter. Outra vantagem do modo PVP, mesmo contra o computador, é poder ajustar o tempo para cada jogada, algo que não acontece no modo história.


Com isso, já é vista a principal discrepância entre os dois modos de Devil Reversi: algumas partidas do modo história, por não trazerem esse senso de urgência (afinal, são tutoriais), são extremamente longas e arrastadas — algumas, inclusive, me tomaram quase uma hora no revezamento das peças (e nem preciso comentar a frustração de precisar refazer certos capítulos em caso de não atingir o objetivo). Contudo, sem conseguir encontrar pessoas online, até mesmo as partidas offline cansam em pouco tempo.

Devil Reversi também traz alguns problemas menores que me incomodaram durante o modo história: alguns textos não foram traduzidos para o inglês, embora isso não afete a jogabilidade em nada; três capítulos em sequência (18 a 20) foram encerrados após a leitura dos tutoriais; e em alguns deles, ao colocar um totem no tabuleiro, em determinado momento da partida, a CPU simplesmente parou de pensar, mesmo com jogadas válidas disponíveis, o que me obrigou a fechar e abrir o jogo manualmente por mais de uma vez porque todos os comandos pararam de funcionar.

Interessante e criativo, sim, mas não empolgante o suficiente para uma pessoa

Levando em consideração sua premissa, fica claro que Devil Reversi foi pensado para ser jogado no modo PvP, com todas as imprevisibilidades de suas mecânicas e a urgência de fazer jogadas dentro de um tempo limite. Não é um título ruim ou pouco inovador, mas, ao jogar solo, logo se torna cansativo e maçante.

Ao menos se o modo história realmente tivesse uma história a ser contada, minha impressão teria sido diferente. Do jeito que está, só resta torcer para que mais pessoas se interessem por Devil Reversi e se empolguem para jogar o PvP online.

Prós

  • Interessante releitura de Reversi, tornando-o mais estratégico e desafiador;
  • As partidas PvP são totalmente customizáveis em relação ao tempo para realizar as jogadas;
  • Ao jogar contra a CPU, é possível escolher a dificuldade da IA;
  • Possibilidade de ativar dicas que indicam qual a pontuação de cada jogada;
  • Sprites coloridos e bem-feitos;
  • Os tutoriais ajudam a entender melhor as regras originais do jogo.

Contras

  • O modo história não traz nenhum tipo de conteúdo relacionado aos protagonistas, apenas um tutorial dividido em 28 capítulos;
  • Algumas partidas podem se tornar extremamente arrastadas, especialmente nos tutoriais, que não possuem um limite de tempo para executar as jogadas;
  • O jogo é extremamente dependente do PvP online, mas, até o fechamento desta análise, não foram encontradas partidas;
  • Mesmo com os tutoriais, as regras exclusivas ainda são difíceis de entender com a prática;
  • Três capítulos do modo história foram concluídos simplesmente após a leitura do tutorial;
  • Em alguns dos capítulos do modo história, usar a mecânica de totem fez com que a CPU parasse de agir, mesmo com movimentos válidos disponíveis, obrigando a fechar e abrir o jogo manualmente;
  • As partidas contra a CPU perdem o encanto rapidamente;
  • Alguns textos não foram traduzidos para o inglês.

Devil Reversi — PC — Nota: 6.0
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida por Roman Kitayama

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por Heru
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