Análise: Clock Tower: Rewind — O terror dos anos 90 reimaginado

Quase três décadas depois do seu lançamento original, retornamos para a pele de Jennifer em uma viagem para a mansão Barrows.

em 19/11/2024

Quando um clássico dos anos 90 é reimaginado para o público moderno, o resultado costuma oscilar entre homenagens nostálgicas e tentativas de adaptação às expectativas contemporâneas, e Clock Tower: Rewind é um exemplo notável desse equilíbrio.

A franquia que se tornou um marco nos jogos de terror de sobrevivência, foi lançada originalmente em 1995 no Super Famicom e rapidamente se destacou com sua abordagem narrativa única e seu vilão memorável. Agora, quase três décadas depois, Rewind busca modernizar a experiência ao mesmo tempo em que mantém intactos os elementos que tornaram o jogo original uma lenda.

Um retorno à mansão Barrows

Apesar de em sua essência Rewind ser o mesmo jogo de 1995, seu relançamento para plataformas modernas trouxe muitas qualidades de vida para tentar deixar o jogo mais palatável a um público mais jovem.

Na narrativa somos apresentados a personagem principal Jennifer Simpson, uma jovem órfã, presa em uma mansão gótica repleta de segredos e perigos mortais. Um desses segredos é um dos vilões mais emblemáticos dos videogames, o icônico Scissorman, que irá caçar Jennifer incessantemente por toda a mansão Barrows.


A personagem, indefesa e fraca, terá que desvendar os mistérios que permeiam a mansão, enquanto tenta descobrir qual a sua ligação com aquele lugar.

Tradição e modernidade

Em sua estrutura, Clock Tower funciona como um jogo point-and-click. Apesar de ter sido lançado um ano antes do primeiro Resident Evil, suas estruturas e ritmo de gameplay são bem parecidos, onde temos uma mansão repleta de enigmas que aos poucos serão desvendados.

O “leva e trás” de itens é um aspecto bem forte em Clock Tower. Por vezes você se sentirá perdido e com a sensação de que já explorou toda a mansão e não há mais nada para fazer ali, mas basta olhar um pouco fora da caixinha para conseguir enxergar a solução.

Os quebra-cabeças são bem criativos (às vezes criativos até demais) e vão desde encontrar uma chave para abrir um determinado cômodo, até usar uma corda com um gancho para acessar uma área que até então parecia impossível de entrar.

Porém, o “problema” é que apesar da nova roupagem dada para essa nova versão, ele ainda continua sendo o mesmo jogo de 1995, o que pode ser uma barreira intransponível para a nova geração. Alguns quebra-cabeças são extremamente obtusos e o ritmo lento pode incomodar os menos pacientes
Esse aspecto não chega a ser um problema de fato, já que ele é fruto de uma outra época da indústria, onde os jogos eram feitos de uma forma diferente. Para a nova geração, talvez ele funcione melhor como um material de estudos do que como um jogo para se divertir de fato.


Em minha experiência pessoal, me senti empacado diversas vezes e cada quebra-cabeça resolvido me deixava cansado como se tivesse corrido uma maratona, mesmo já tendo uma certa familiaridade em jogos de survival horror como Resident Evil e Silent Hill. Porém, a sensação de satisfação e superação a cada área avançada fazia tudo valer a pena no final.

Uma das melhores coisas dessa nova versão — e que inclusive está no título — é a mecânica de rewind, no qual você pode rebobinar alguns segundos das ações de Jennifer. Sem dúvidas é uma ótima adição para a obra, mas se você acha que isso irá salvar sua pele todas as vezes, melhor ir tirando o cavalinho da chuva.

A mecânica de rewind é propositalmente limitada para fazer o jogador não depender dela em todas as situações. Além do fato do jogo ser muito lendo, não é possível voltar muitos segundos no tempo, fazendo com que muitas vezes seja impossível se livrar de uma situação de morte.

E falando em morte: assim como no original de 1995 — e como na maioria dos jogos dessa época —, aqui a morte é muito punitiva. Não espere que uma tela de continue aparecerá e você voltará apenas alguns segundos antes da sua morte, aqui você voltará para o menu inicial do jogo, tendo apenas a opção de voltar do último jogo salvo.



Se você é uma pessoa esperta e salva regularmente seu progresso, isso não chega a ser um grande problema, mas para os que estão acostumados com auto-save, preparem-se para perder horas de progresso por um simples vacilo. Então a dica é: não vacile.

Uma atmosfera sem igual

A atmosfera sempre foi o coração de Clock Tower, nessa nova versão, a mansão Barrows é recriada com uma atenção impressionante aos detalhes. Essa remasterização conseguiu melhorar ainda mais o visual do jogo sem prejudicar a arte original tentando “modernizá-la”. Uma coisa que demonstra isso muito bem é que o jogo ainda roda no aspecto 4:3 e não em 16:9 que é o padrão moderno.

Nada foi excluído ou mudado, apenas melhorado, o que é algo ótimo levando em vista a preservação histórica dessa obra, já que ela é um dos pilares que moldaram o que conhecemos hoje como survival horror.

Um final para cada letra do alfabeto, ou quase

Uma característica marcante de Clock Tower Rewind é seu sistema de múltiplos finais, que dependem das escolhas feitas ao longo do jogo. Decisões aparentemente pequenas, como quais itens você coleta ou como você interage com outros personagens, podem levar a conclusões radicalmente diferentes
Isso pode expandir significativamente a vida útil do jogo para os que querem ver todo o conteúdo ou caçar os troféus, mas nesse caso é recomendado o uso de um guia para lutar contra as coisas obtusas da mansão.

É relativamente complicado conseguir todos os finais do jogo sem nenhum tipo de ajuda externa, em minha experiência pessoal, consegui desbloquear apenas dois finais diferentes mudando um pouco a ordem das coisas que fazia, mas todos eles dão uma carga de profundidade para a conclusão da história e são interessantes por si só. Ver os diferentes finais que a Jennifer pode ter, te fará dormir tranquilo ou ter pesadelos a noite.


Um clássico renascido

Clock Tower Rewind é um exemplo brilhante de como revitalizar um clássico sem perder sua alma. Ele combina a atmosfera tensa e narrativa intrigante do original com melhorias modernas na jogabilidade e apresentação. O jogo é uma carta de amor aos fãs da franquia e um ponto de entrada acessível para novos jogadores que tenham paciência para se adaptar a conceitos de design de 30 anos atrás.

Para aqueles que procuram um jogo de terror que prioriza atmosfera e narrativa sobre ação desenfreada, é uma recomendação fácil. É um lembrete de por que a série original é tão querida, ao mesmo tempo em que aponta um caminho promissor para o futuro da franquia, e quem sabe daqui a algum tempo, possamos nos deleitar com um novo jogo da série.

Prós

  • Adição de várias qualidades de vida sem alterar o material original;
  • Melhoria nos visuais.

Contras

  • Ausência de legendas em português.
Clock Tower: Rewind — PC/PS4/PS5/Switch/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise feita com cópia digital cedida pela WayForward 



Um “arqueólogo de games” que adora falar das gemas ocultas do mundo dos jogos, tem o PS3 como console favorito e ama um bom hack and slash. Mesmo apreciando os jogos modernos, não dispensa uma boa velharia obscura do tempo que videogame era movido à lenha. Segue o pai.
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