Análise: A Quiet Place: The Road Ahead te deixa na ponta da cadeira, mas perde o fôlego ao longo da jornada

A famosa franquia de filmes de terror estreia seu primeiro jogo eletrônico, mas o título não alcança o potencial que tinha.

em 01/11/2024

Lançado em 17 de outubro, A Quiet Place: The Road Ahead chega como a primeira empreitada da famosa franquia “Um Lugar Silencioso” no mundo dos videogames. Atualmente, a saga conta com dois filmes principais, lançados em 2018 e 2021, e um spin-off, intitulado “Um Lugar Silencioso: Dia Um”, lançado em junho deste ano.


Desenvolvido pela Stormind Games e publicado pela Saber Interactive, o jogo chegou uma semana antes do Halloween, trazendo um clima de tensão e terror para os jogadores. Contudo, A Quiet Place: The Road Ahead acaba tropeçando em algumas “latas no caminho” (sim, isso é uma referência ao jogo) e perde força em manter a apreensão dos jogadores.

Um mundo em silêncio

A Quiet Place: The Road Ahead acompanha Alex, que vive o caos silencioso no qual o mundo se transformou após a invasão de uma raça alienígena, apelidada de “anjos da morte”, que começou a caçar cada ser vivo que produz qualquer tipo de som. Depois de descobrir que está grávida e perder o namorado no mesmo dia, a jovem decide deixar o hospital onde vive, com o objetivo de encontrar um lugar seguro para ter seu bebê e fugir da fúria de sua sogra, Laura, que a culpa pela morte do filho e do marido.


Após escapar do hospital, Alex enfrenta o maior desafio de sua vida, precisando atravessar diversos lugares e escapar das criaturas assassinas. O silêncio é a regra fundamental do jogo e deve ser seguido à risca, mas, claro, a aventura não seria tão simples. A personagem tem asma, e encontros com os monstros, locais empoeirados ou esforços físicos acabam desencadeando crises respiratórias, obrigando-a a usar medicamentos ou bombinhas para aliviar o problema. Além disso, há obstáculos que dificultam a jornada, como latas, poças d’água, cacos de vidro e pedras, que fazem seus passos soarem como gritos para as criaturas.


Mesmo com os diversos obstáculos, Alex conta com ferramentas que a ajudam em sua jornada. Uma delas é um fonômetro, que ela mesma constrói e que indica o nível de som do ambiente e o barulho gerado por ela, ajudando a evitar as criaturas. A personagem também usa uma lanterna, essencial para iluminar obstáculos em locais escuros. Em situações em que precisa passar perto dos anjos da morte, o jogo oferece tijolos e garrafas para que ela arremesse e distraia as criaturas, permitindo que passe sem ser detectada.

Furtividade é sinônimo de sobrevivência

Em A Quiet Place: The Road Ahead, silêncio e furtividade são seus melhores aliados. O jogo não é tão extremo ao ponto de punir qualquer mínimo som, oferecendo certa tolerância. Dois sinais de intensidades diferentes indicam quando você está fazendo muito barulho, o que ajuda a dosar o controle de ruídos. É possível ativar um aviso visual do fonômetro nas configurações do jogo, facilitando o controle sonoro.


Manuel Moavero, chefe de design do jogo, revelou que a inspiração veio do famoso título Alien: Isolation, lançado pela Sega em 2014. Isso é perceptível ao ativar a opção de captura de som pelo microfone ou ao precisar se esconder da criatura para evitar ser descoberto e morto. Como os inimigos são cegos, não há problema em passar diante deles; o maior perigo está no som.

Na primeira metade do jogo, senti-me várias vezes extremamente nervoso com tudo o que estava acontecendo; o medo de ser capturado era real. Contudo, o jogo não consegue manter a tensão até o final. Conforme me aproximava do fim da aventura, já não sentia a mesma emoção e, em muitos momentos, ficava até impaciente, pois os encontros com os inimigos ocorriam sempre da mesma forma. Poucas vezes houve alguma variação no comportamento dos monstros, e nenhuma delas afetou a jogabilidade de forma relevante.



Sonoplastia impecável em uma história pouco emocionante

Sendo um jogo em que o som e o silêncio são as principais forças motrizes da história, é necessário elogiar a sonoplastia do título. Os sons dos objetos, do ambiente, dos passos e até dos grunhidos das criaturas são extremamente bem feitos e pensados, trazendo uma imersão significativa para a narrativa. Por outro lado, a trilha sonora é mediana, com muitas faixas repetitivas que não acrescentam muita tensão.

É difícil jogar um game ambientado em um mundo devastado sem lembrar de The Last of Us. A obra-prima da Sony impressionou ao trazer uma história profunda e melancólica, mesmo em um jogo de terror. Por terem temáticas semelhantes, é quase inevitável comparar as duas obras e sentir falta de uma história mais emocionante em A Quiet Place.

Durante a jornada, Alex se encontra apenas com duas pessoas: seu pai e Laura. Ela passa por lugares onde encontra corpos e cartas ou diários que relatam a história daquelas pessoas. Isso até gera certa melancolia no jogador, mas a ausência de interações humanas e o contato limitado com outros sobreviventes tornam a narrativa monótona e impede de vermos o quão triste é toda aquela tragédia, quantas vidas foram perdidas, quantos sonhos foram destruídos.



IA bugada e zero fator replay

A qualidade gráfica de A Quiet Place: The Road Ahead não condiz muito com a geração de videogames para a qual ele foi lançado, mas isso não significa que o jogo seja visualmente ruim. Os gráficos são aceitáveis, embora os cenários, principalmente as florestas, não sejam muito detalhados. A cópia usada para esta análise foi jogada em um PS5 e, felizmente, não apresentou bugs gráficos.


Entretanto, outras falhas ocorreram durante a jogatina. Em um momento, o inimigo travou em um canto do mapa e parou de reagir aos sons ao redor, o que interrompeu a imersão. Em outra situação, a inteligência artificial da criatura interpretou que a personagem havia feito barulho sem explicação e a matou, mesmo ela estando parada e com o microfone desligado.

Essas falhas e a ausência de um fator replay não me motivam a jogar o game novamente. O título até tenta, ao inserir colecionáveis que, ao serem encontrados, geram pontos para trocar por modelos tridimensionais dos personagens e artes conceituais, mas sem sucesso. A ausência de finais alternativos e o final insosso, na minha opinião, desestimulam reviver toda a aventura.



Mesmo com um preço justo, ainda é curto

Outro ponto negativo é a curta duração da campanha, que em uma primeira jogada dura entre sete e nove horas. Se houvesse inserção de novos personagens ao longo da história, isso aumentaria sua profundidade e estenderia a duração, permitindo mais tempo de imersão no terror silencioso.

Apesar disso, acredito que o preço do jogo seja condizente com seu tamanho e conteúdo: R$ 99,90 no PC, R$ 149,50 no PlayStation 5 e R$ 112,45 no Xbox Series X|S.

Poderia ser melhor, mas ainda vale a jogatina

Curiosamente, ainda considero A Quiet Place: The Road Ahead um título que merece ser jogado em algum momento. Embora não seja um jogo ruim, ele não consegue alcançar o mesmo nível de profundidade de outras obras do gênero, como Alien: Isolation e The Last of Us. O jogo te mantém na ponta da cadeira, mas perde o fôlego ao longo da jornada. Certamente poderia ser melhor, mas ainda vale a experiência.

Prós:

  • Evitar fazer barulho e ser furtivo é divertido;
  • Bons momentos de tensão;
  • Sonoplastia impecável;
  • Preço justo.

Contras:

  • Perde o fôlego durante a campanha;
  • Ausência de mais personagens;
  • Bugs na inteligência artificial dos monstros;
  • Sem fator replay;
  • Duração pequena.
A Quiet Place: The Road Ahead — PC/PS5/XSX — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Saber Interactive


Sou um estudante de jornalismo completamente apaixonado por cultura pop, principalmente games, música, cinema e TV. Provalmente sou o maior fã de Resident Evil que o GameBlast já teve.
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