Análise: Ys X: Nordics é um RPG de ação ágil, embora pouco ousado

Combates frenéticos e um mundo expansivo são seus destaques, mas o jogo deixa a desejar nos demais aspectos.

em 14/10/2024

Em Ys X: Nordics, o aventureiro Adol se vê literalmente amarrado a uma guerreira e juntos eles precisam explorar um grande oceano para enfrentar uma ameaça maligna. O novo episódio na série da Nihon Falcom é um RPG de ação com ritmo acelerado e conceitos tradicionais, ao mesmo tempo em que experimenta algumas ideias, como a de exploração naval. O combate vertiginoso e o mundo vasto tornam a jornada eletrizante, mas retrocessos em muitas áreas acabam minando o impacto do título.

Acompanhando uma dupla unida por circunstâncias misteriosas

Em uma viagem pelo oceano, o barco que levava o aventureiro Adol Christin é atacado por corsários intitulados Normans e ele se vê obrigado a se hospedar em uma ilha próxima. Lá, o rapaz adquire misteriosos poderes e, no processo, acaba tendo seu braço amarrado por um fio mágico ao de Karja, uma guerreira que é conhecida como a princesa dos Normans.


Não bastando essa estranha ligação forçada, a situação se complica: monstros praticamente imortais chamados Griegr aparecem espalhando o caos na região. Adol e Karja decidem deixar suas diferenças de lado e usar seus novos poderes para conter a ameaça. Com isso, a dupla explora o golfo de Obelia a fim de derrotar os invasores e também de descobrir como desfazer o feitiço que os une.

Apesar desse começo instigante, a trama pouco evolui no decorrer da jornada, apelando para vilões com motivos misteriosos, um mundo onírico que Adol visita com certa frequência que tem quase nada de respostas, personagens irrelevantes e muitos desenvolvimentos que aparecem do nada. A sorte é que a narrativa não se leva a sério e, no fim, não faz tanta diferença na aventura em si. O ponto alto é a relação entre Adol e Karja: eles se desentendem no começo, mas logo se tornam amigos e protagonizam bons diálogos.



Unindo forças em embates frenéticos

Assim como os anteriores, Ys X é um RPG de ação com combates de ritmo acelerado repletos de combos e ataques especiais. Algumas mecânicas clássicas foram retrabalhadas: a esquiva não desacelera o tempo e só funciona para ataques específicos, já a defesa perfeita agora ativa um contra-ataque poderoso. Ao contrário dos últimos títulos da série que tinham vários personagens, em Nordics acompanhamos somente uma dupla de heróis, com algumas mecânicas únicas para compensar.

No modo tradicional, controlamos Adol ou Karja, sendo possível alternar entre eles livremente. Ao segurar um botão, eles entram em modo dupla, atacando em conjunto de maneira poderosa e defendendo a maioria dos golpes dos inimigos. Agir de forma combinada só dura alguns segundos e a velocidade de locomoção cai drasticamente. Sendo assim, para avançar, é essencial alternar entre os modos de acordo com a situação.


Há muitas opções na hora de customizar os dois protagonistas. Cada um deles é capaz de equipar até quatro técnicas por vez, e o modo dupla também tem espaços para ataques especiais. Fora isso, há um sistema de melhoria de atributos no qual liberamos espaços em uma árvore e encaixamos pedras com características distintas, com direito a efeitos especiais ativados ao alcançar certos requisitos. Confesso que achei essa mecânica de pouco impacto, mas é uma opção para aqueles que gostam de maximizar atributos.

O combate é o maior destaque de Ys X, pois apresenta batalhas ágeis e variadas. Constantemente somos desafiados a agir rápido, alternando entre os heróis e o modo dupla ao mesmo tempo em que determinamos se é hora de esquivar ou defender. Os chefes, em especial, são ainda mais interessantes com ciclos de ataques complexos que muitas vezes exigem passos específicos. A dificuldade no modo normal é equilibrada, mas, particularmente, recomendo jogar no modo difícil para melhor explorar as mecânicas.



Desbravando mares extensos

A aventura se desenrola no golfo de Obelia, uma região repleta de ilhas e segredos. Para explorá-lo, o grupo usa um navio, que serve também como base móvel. A embarcação também é utilizada em combates navais com direito a diferentes tipos de tiros e técnicas especiais, sendo possível melhorá-la e customizá-la. É uma ideia notável, no entanto a fluidez é um pouco comprometida com o controle do barco: ele é lento e desajeitado. Melhorias mitigam esse ponto negativo, mas não deixa de ser enfadonho navegar pelo mar.


No solo, a dupla de heróis adquire habilidades transversais, como uma corda mágica para se pendurar e alcançar locais distantes, uma prancha para avançar em alta velocidade e um pulso de energia que revela segredos. Esses recursos tornam a exploração ágil, com direito a alguns puzzles simples, mas que, infelizmente, são subutilizados em mapas básicos e extremamente lineares. Não há nem mesmo incentivo para revisitar locais já completados após receber novos poderes — é uma oportunidade desperdiçada de tornar a aventura mais envolvente.


O jogo tenta compensar esse problema com inúmeras atividades espalhadas pelos mares expansivos: tarefas paralelas, ilhas opcionais, missões de libertação de regiões dominadas por forças inimigas, monstros poderosos, minigame de pescaria, caças a tesouros, e mais. Individualmente elas não são muito elaboradas, mas, em conjunto, trazem boa diversidade à jornada.

Por fim, é difícil não se incomodar com a ambientação pouco inspirada. A maioria das ilhas conta com cenários tematicamente idênticos, como planícies verdejantes e cavernas escuras. Para piorar, o visual é datado, apresentando texturas em baixa resolução, modelos básicos e movimentações robóticas. Esse problema é frequente nos trabalhos da desenvolvedora, mas em Nordics houve um retrocesso neste aspecto. Ao menos a trilha sonora continua ótima e repleta de composições que transbordam energia.



Uma aventura envolvente que poderia ter sido mais

Ys X: Nordics traz de volta o espírito clássico da franquia com combates ágeis e mecânicas renovadas. A dinâmica entre Adol e Karja, unidos por um feitiço, cria um bom ponto de partida para a trama e o sistema de combate em dupla oferece momentos empolgantes, especialmente contra chefes. As personalizações e habilidades dos protagonistas também dão uma boa margem para explorar diferentes combinações.

No entanto, o jogo tropeça em vários aspectos. A narrativa, embora comece de forma promissora, se perde em desenvolvimentos superficiais e personagens pouco memoráveis. A exploração, embora bem-intencionada com a adição de combates navais e habilidades transversais, sofre com mapas simplificados e falta de incentivo para revisitar áreas.

No geral, Ys X: Nordics é uma aventura divertida, mas que poderia ter sido mais marcante se tivesse aproveitado melhor suas ideias de exploração e polido mais a ambientação. Mesmo assim, o combate frenético e a trilha sonora vibrante garantem que os fãs da série ainda encontrem bons momentos nessa nova jornada.

Prós

  • Combate ágil e repleto de possibilidades;
  • Muitas habilidades transversais tornam a exploração envolvente;
  • Mundo expansivo, com muito conteúdo e atividades para desbravar.

Contras

  • Muitas das mecânicas são subutilizadas em mapas demasiadamente lineares;
  • Os momentos de navegação com o barco são lentos e desajeitados;
  • Ambientação pouco criativa e com visual datado.
Ys X: Nordics — PC/PS4/PS5/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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