Análise: Voidwrought é uma ágil jornada metroidvania por um universo sombrio

Explore ruínas de uma civilização e encare perigos variados neste título indie que executa bem ideias consagradas.

em 23/10/2024

Voidwrought nos conduz a um universo sombrio e intrigante, onde o horror cósmico encontra uma aventura metroidvania 2D. Com uma história enigmática e um mundo repleto de mistérios, o jogo nos desafia a explorar ruínas antigas, enfrentar criaturas monstruosas e restaurar a ordem em uma civilização caída. Uma boa variedade de mapas e cenários, aliada à exploração e combates ágeis, faz com que a experiência seja envolvente, embora pouco original e ousada.

Uma peregrinação por um mundo banhado pelo horror cósmico

Os remanescentes da Primeira Civilização, uma ordem antiga e poderosa, repousam no subterrâneo de uma remota região congelada. As lendas dizem que o local foi forjado pelos próprios deuses, mas a ganância fez tudo sucumbir. Milênios depois, surge a Estrela Escarlate, cujo brilho vermelho derrete as geleiras e revive parte da vida presente nas ruínas: criaturas monstruosas, que consumiram resquícios divinos para se fortalecer.

Nesse contexto, nasce o Simulacro, um ser criado ao misturar o Icor, o sangue dos deuses antigos, com a essência do Vazio cósmico. Sua tarefa é simples: explorar as ruínas da Primeira Civilização, derrotar os hereges e restaurar a ordem. No processo, o ser também precisa descobrir a verdade sobre a queda dessa civilização para tentar não repetir seus erros.




Voidwrought claramente usa o horror cósmico como inspiração, com a presença de seitas, criaturas grotescas e entidades de outros mundos. Apesar de bem intencionada, essa decisão tem pouca influência por causa dos diálogos demasiadamente enigmáticos e da narrativa críptica e quase inexistente — o universo é explicado basicamente por entradas de diário confusas e enigmáticas.

Mesmo assim, a atmosfera faz com que a experiência seja instigante. O visual 2D é belo, e as localidades são caprichadas e variadas: ruínas escuras infestadas de mortos-vivos, jardins abandonados tomados por vegetação estranha, a superfície queimada e desolada pela luz da Estrela Escarlate, entre outros. Com um pouco de observação, dá para inferir o que aconteceu em cada área, e uma trilha sonora soturna complementa a atmosfera desconcertante deste mundo.



Transformando-se para superar desafios variados

Na prática, Voidwrought é uma aventura metroidvania 2D bem tradicional. No controle do Simulacro, desbravamos regiões com mapas complexos, adquirindo habilidades que nos permitem alcançar locais anteriormente inacessíveis. Inclusive, os movimentos são criativos, aproveitando o corpo maleável do protagonista: ele se transforma em uma poça negra para atravessar trechos estreitos, lança-se no ar como se fosse um tecido e é capaz de escalar paredes na forma de nuvem de Vazio.


Particularmente, apreciei a liberdade proporcionada pela exploração. Depois de um momento inicial, o mundo se abre e não há ordem definida para desbravá-lo, com várias rotas em diferentes direções. Muitas vezes usei inimigos como ponto de apoio para alcançar locais altos; em outras situações, extrapolei o uso de algumas habilidades para chegar antecipadamente a certas salas — é fácil perceber que os desafios foram pensados com múltiplas soluções. Às vezes fiquei um pouco perdido e demorei a achar o próximo passo, mas poder incluir marcadores no mapa ajudou na tarefa.


As regiões contam com elementos que as tornam únicas: em um bazar antigo, precisamos nos esgueirar por túneis enquanto evitamos serras; em um observatório, usamos ganchos para lançar o protagonista por complicados corredores verticais; nos resquícios de um veículo militar, o desafio é evitar armadilhas enquanto enfrentamos inimigos. Há um ótimo equilíbrio entre trechos de plataforma, combate e puzzles de navegação, com regiões recheadas de segredos e caminhos alternativos que nos instigam constantemente.

O único ponto que pode incomodar aqui é a ausência de ideias e mecânicas únicas. Voidwrought aposta em conceitos consagrados e sua execução é acertada, mas faltou um pouco de ousadia, seja nas habilidades, seja no desenho dos níveis, o que traz um ar de familiaridade dentro do gênero. Apesar disso, o resultado é muito agradável e envolvente.



Enfrentando monstruosidades em embates de bom ritmo

No combate, o Simulacro golpeia os inúmeros monstros com suas garras. As habilidades ofensivas do protagonista são simples, com ataques básicos nas quatro direções, sem grandes novidades no decorrer da jornada. A complexidade vem dos inimigos, que agem de maneiras curiosas e exigem maneiras distintas para serem derrotados, o que demanda observação e agilidade, especialmente quando tipos diferentes aparecem em conjunto. Os chefes são o destaque ao apresentar movimentos complexos em combates com leves elementos de puzzle.


Várias opções para customizar o Simulacro trazem diversidade aos embates. Pelo caminho, encontramos inúmeras armas secundárias, como estacas que voam em linha reta, uma planta lançadora de veneno e um bumerangue no formato de disco. Há também as Almas, que habilitam vantagens passivas diversas, como aumentar a vida ou ganhar mais recursos dos monstros derrotados. A variedade de equipamentos é robusta e gostei de experimentar as possibilidades.

Apesar de ágil, um dos defeitos do jogo é a dificuldade desequilibrada. No início, quando as opções e resistência são limitadas, o desafio é moderado e precisamos avançar com cuidado. Porém, conforme coletamos melhorias, os combates se tornam mais fáceis, a ponto da sensação de perigo quase desaparecer — muitos dos chefes fui capaz de derrotar na força bruta. Faltou um pouco de ajuste nesse aspecto, mas isso atrapalha somente um pouco da experiência.



Mergulhando no Vazio em uma ótima aventura

Voidwrought é uma experiência metroidvania imersiva e bem-produzida. O mundo é visualmente impactante, com áreas detalhadas e uma atmosfera soturna intrigante,  apesar de sua narrativa ser obtusa. A exploração brilha com progressão não linear, boa diversidade de situações e interessantes habilidades de navegação. Já o combate, apesar de satisfatório e variado, peca no balanceamento, ficando mais fácil conforme se avança. Mesmo com sua falta de inovação em alguns aspectos, Voidwrought entrega uma aventura envolvente, que prende com seu universo misterioso.

Prós

  • Ótimo equilíbrio entre ação, plataforma e exploração;
  • Boa variedade de situações entre as áreas;
  • Mundo vasto e com muito conteúdo a ser desbravado;
  • Atmosfera sombria construída com esmero.

Contras

  • Ausência de ideias e mecânicas únicas;
  • A dificuldade vai diminuindo conforme coletamos melhorias a ponto de praticamente eliminar a sensação de perigo;
  • Trama e narrativa desnecessariamente obscuras.
Voidwrought — PC/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Kwalee

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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