Análise: MechWarrior 5: Clans tem uma história competente e gameplay viciante, mesmo com um escopo menor

Novo capítulo da franquia é um ótimo ponto de entrada para novatos com uma experiência narrativa única.

em 25/10/2024

Quando coloquei minhas mãos em MechWarrior 5: Clans, eu mal conhecia a profundidade e a tradição da franquia BattleTech, que há quase 40 anos constrói seu universo com jogos de tabuleiro, centenas de livros de lore e diversos games — algo muito parecido com o que Warhammer 40k faz.

Bastaram poucas horas de jogatina, algumas boas horas de pesquisa e muita leitura para eu me sentir completamente imerso nesse universo. Para quem gosta de ficção científica, robôs e conflitos geopolíticos, MechWarrior é a escolha perfeita, e o mais novo jogo retrata fielmente o espírito da franquia.

Que comece a invasão



Desde MechWarrior 5: Mercenaries, de 2019, os fãs pediam por uma experiência mais voltada para o lado narrativo, já que o jogo focava mais no sandbox e no aprimoramento do arsenal. Embora tivesse algumas campanhas, o game não conseguia entregar o mesmo impacto narrativo que os títulos antigos. Apesar do nome, o novo jogo não depende de seu antecessor para ser jogado e é uma experiência completa por si só.

Em Clans, os pedidos foram atendidos, e o projeto foca totalmente em uma campanha de mais de 25 horas, centrada na Invasão dos Clans — um evento canônico na linha do tempo de BattleTech, no qual uma grande invasão ocorre na Inner Sphere, o centro da humanidade na galáxia. Os Clans, com tecnologia mais avançada, atacam as Grandes Casas da Terra, que têm um número maior de tropas. Esse conflito abalou boa parte da galáxia e trouxe mudanças significativas para o paradigma geopolítico tanto dos Clans quanto das Grandes Casas.

Nesse combate, você assume o papel de Jayden, um jovem que recebe o comando de uma equipe de MechWarriors, guerreiros que pilotam robôs gigantes em nome do Clan Smoke Jaguar. Seguindo as ordens de seus superiores, a equipe participa da invasão e testemunha eventos que provocam conflitos internos e externos entre todos os combatentes.

Talvez… nós somos os vilões?



Uma piada recorrente na lore de BattleTech é que o Clan Smoke Jaguar é basicamente composto por "nazistas espaciais". Fiquei surpreso ao descobrir isso, especialmente considerando que é exatamente essa facção que o jogo escolheu para seguir como protagonista. Entretanto, após um tempo jogando, entendi a escolha. Assim como o esquadrão recém-formado de Jayden, boa parte da história é vivenciada por recrutas que estão entrando no campo de batalha pela primeira vez, e os companheiros de equipe oferecem ótimos contrapontos com suas diferentes visões.

Liam é o mais impulsivo e quebra as regras, sendo também o amigo mais próximo de Jayden. Ezra demonstra compaixão, enquanto outros escolhem a violência, e Mia tenta se agarrar aos seus princípios, mesmo que isso signifique confrontar o alto comando. Muitos desses personagens ficam tão chocados ou revoltados quanto nós, jogadores, quando crimes de guerra inexplicáveis começam a ocorrer (e não são poucos).

Essa dinâmica torna os eventos da invasão ainda mais interessantes, já que não são apresentados com um olhar neutro. Para além do aço frio dos robôs, ter um elenco que ativamente participa das reviravoltas da trama é uma das decisões que torna a narrativa de Clans tão envolvente.

Robô faz boom!



Focando no MechWarrior do título, a ação não decepciona. Clans faz um excelente trabalho ao apresentar os controles e as complexidades de pilotar e combater com um Mecha. Apesar de ter elementos de simulação, o jogo oferece um tutorial que integra a história e ensina os conceitos básicos sem sobrecarregar o jogador. Em menos de uma hora, você já estará andando, voando e atirando como um verdadeiro membro do Clan.

Entretanto, quando entramos na parte mais mecânica, a situação muda. O combate tem suas complexidades, como o novo Battle Grid, que permite comandar outras unidades em tempo real, mas a parte de se posicionar e atacar é bastante direta. Porém, ao sair do campo de batalha e entrar na parte teórica de montar e melhorar os robôs, o processo se torna, no mínimo, frustrante.




O jogo praticamente não se preocupa em ensinar sobre a montagem dos robôs, diferentes encaixes de peças e as trocas de build. Diferente de Armored Core 6, que deixa claro quando e por que você não pode montar uma certa combinação, Clans inicialmente faz parecer que nada pode ser mudado nos robôs, principalmente por eles já virem com um limite estabelecido de tonelagem.

Felizmente, após muita pesquisa e ajuda em fóruns, fui descobrindo os detalhes da montagem, que, ainda assim, é bem mais limitada que no título anterior. Aqui, você pode mudar para outros modelos já prontos para cada robô ou trocar áreas inteiras, porém não é possível pegar um robô do zero e montá-lo como quiser. Acredito que isso se deva ao charme de cada chassi, com design e nome únicos, mas diminui bastante a diversão de criar seu próprio monstro metálico.


Outras áreas também deixam a desejar, como as explicações sobre a importância e o funcionamento do marketplace, laboratório e área de treino, colocando boa parte da responsabilidade no jogador para buscar fontes externas e entender como navegar pelos menus e melhorias. Outro ponto que senti falta foi um lobby para encontrar outros pilotos para jogar no modo co-op. No momento, só é possível acessar o multiplayer por convites diretos.

Um projeto que entende sua fonte



A desenvolvedora Piranha Games já trabalha com a lore de BattleTech há alguns anos, porém nunca mergulhou tão profundamente nas especificidades do material como em Clans. É possível ver o cuidado da equipe em recriar não apenas os eventos do cânone, mas também a forma como os personagens agem e se comportam de acordo com suas respectivas culturas.

Os integrantes do Clan Smoke Jaguar demonstram uma certa soberba em suas falas, sempre enfatizando a eugenia e o preconceito contra aqueles que nasceram de forma natural, e não por manipulação genética. Várias vezes, durante a campanha, os conflitos são resolvidos através de rituais como o Trial of Equals, onde disputas são resolvidas em lutas pela honra.

Muito do linguajar, dos termos e das atitudes dos personagens podem parecer estranhos a princípio, mas, quanto mais você se aprofunda na história e entende como o universo de BattleTech funciona, mais impressionante se torna o trabalho da Piranha Games. Vale também destacar as cutscenes, que não são poucas e enriquecem a experiência entre as missões. O nível de qualidade é notável para uma empresa desse porte, embora seja um pouco estranho o movimento da boca dos personagens, algo que talvez tenha a ver com as limitações da Unreal Engine.

Aço, óleo e honra

MechWarrior 5: Clans pode desapontar os fãs mais ávidos de Mercenaries pela perda do vasto espaço sandbox e menor liberdade de gameplay, o que reduz um pouco a rejogabilidade. No entanto, o jogo compensa isso com uma das melhores forças narrativas já vistas dentro da lore de BattleTech. A campanha é imersiva, com uma excelente apresentação, escrita afiada e cutscenes que prendem o jogador.

Para quem conhece pouco o universo de BattleTech, Clans é uma ótima porta de entrada. Mesmo que o jogo não se esforce tanto em situar o jogador de imediato, o desenrolar da história é cativante o suficiente para que, ao final da campanha, você já esteja familiarizado com o dialeto e os dilemas dos Clans, sentindo-se parte daquele universo.

Prós

  • História imersiva com tudo que torna a lore da BattleTech tão interessante e original. Cada capítulo avança na Invasão dos Clans, um dos principais conflitos da linha do tempo;
  • A gameplay combina elementos de simulação com estratégia, o que torna cada conflito muito mais do que apenas troca de lasers. O posicionamento da sua tropa e como você gerencia seus equipamentos faz toda a diferença;
  • Cutscenes cinematográficas com um ótimo trabalho de captura facial. Destaque também para os personagens que deixam cada cena ainda mais interessante carregada de conflitos;
  • Diversidade de chassis de robôs, ainda que menor do que a de Mercenaries, garante uma boa variedade de estilos de jogo;
  • Sistema de upgrades tanto para os mechas quanto para os pilotos.

Contras

  • Um trabalho quase inexistente para explicar melhor os sistemas do jogo, como mudança de builds, partes de robôs e melhorias científicas;
  • Existe uma dificuldade inicial para se habituar a eventos e referências que podem passar despercebidos pelos novatos. De uma forma ou de outra, o jogo vai exigir um esforço de pesquisa externo dos jogadores que quiserem se habituar melhor;
  • Há pouca liberdade na forma de concluir suas missões. O estilo sandbox de Mercenaries é consideravelmente reduzido, tornando a experiência definitivamente menor em escopo.
MechWarrior 5: Clans  — PS5/XSX/PC — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Piranha Games

Redator publicitário em tempo integral e amante de games nas horas vagas. Provavelmente aprendi a segurar um controle mais rápido do que uma mamadeira. Cresci com os maiores clássicos da Big N como Zelda, Mario e Pokémon. Hoje aproveito os pequenos momentos de descanso da vida corrida para me perder em Hyrule, em uma Tóquio pós-apocalíptica ou em um mundo de encanadores e cogumelos.
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