Análise: God of War Ragnarök traz o apocalipse nórdico em toda a sua glória para o PC

A épica conclusão da saga nórdica de Kratos e Atreus finalmente chega aos computadores — e a longa espera valeu a pena.

em 04/10/2024
Há pouco mais de dois anos (como o tempo passa rápido, não é mesmo?), tive a honra de analisar a versão de PC de God of War. À época, classifiquei-a como a experiência definitiva do melhor jogo da geração passada, o que torna a esperada chegada de God of War Ragnarök aos computadores ainda mais especial.


Isto porque, ampliando praticamente todos os aspectos do título anterior, a conclusão da saga nórdica de Kratos e Atreus é a verdadeira definição de uma sequência ideal, e, francamente, um título obrigatório para todo PC gamer que aprecia o seu hobby. Confira a análise!

O inverno está chegando

Aviso: Os trechos a seguir possuem spoilers da história de God of War (2018). Caso você ainda não tenha finalizado a primeira parte da aventura de Kratos e deseje conservar as surpresas para si, recomendo seguir para as próximas seções desta análise. Boa leitura!
God of War Ragnarök se passa três anos após os eventos finais de God of War, que culminaram na morte do deus Baldur e deram início ao fenômeno conhecido como Fimbulwinter: três invernos consecutivos que seriam o segundo sinal antes do temido Ragnarök, o apocalipse nórdico, em que deuses e humanos encontrariam igualmente o seu fim.

Nesse intervalo de tempo entre um jogo e outro, muita coisa mudou: Kratos, envelhecido, continua o seu caminho de redenção, optando sempre que possível pela prudência em vez da violência. Atreus, agora um adolescente, anseia por saber mais sobre quem é Loki para os gigantes e qual seria o seu verdadeiro papel no mundo, especialmente no fim dos tempos. Já Freya, a mãe de Baldur, continua a sua caça aos dois após ter jurado vingança contra Kratos pela morte de seu filho.

Além deles, personagens favoritos como Mimir e os irmãos ferreiros Brok e Sindri retornam ainda mais desenvolvidos, o que reforça desde o início uma das melhores qualidades desta saga do Fantasma de Esparta: a sua narrativa e o quanto ela é uma releitura envolvente e repleta de detalhes da rica mitologia nórdica.

Desta vez, ao contrário de uma jornada pessoal como a do primeiro jogo, o objetivo é achar uma forma de impedir o Ragnarök, seguindo as profecias dos Jötnar que demonstraram isso ser possível. Por diferentes motivos, Odin — o poderosíssimo e ardiloso Pai de Todos — e o seu filho Thor também estão interessados no apocalipse e em suas consequências, o que não tarda a proporcionar o tenso encontro da dupla com Kratos e Atreus, aguardado desde a cena pós-créditos do primeiro jogo.

O que se segue é uma campanha cinematográfica repleta de reviravoltas e, impressionantemente, ainda maior em duração que a de seu antecessor. Para quem temia um desvio de rota ou o ocasional deslize ao qual sequências não tendem a ser imunes, posso seguramente afirmar que, como pouquíssimos games são capazes de fazer, Ragnarök consegue novamente a proeza de reter a atenção do jogador do início ao fim de sua aventura. 

O resultado é uma obra que, além de imperdível, reforça ainda mais o seleto e merecido status de Kratos como um dos símbolos dos games. Se é que ainda restava alguma dúvida, Ragnarök prova definitivamente o zelo que a Sony e a Santa Monica têm para com a franquia iniciada no saudoso PlayStation 2, o que, novamente, torna este capítulo no PC ainda mais especial, ao possibilitar que um jogo desta magnitude e qualidade alcance uma nova e imensa legião de jogadores.

Maior, melhor e mais intenso

Quando finalizei God of War pela primeira vez em 2018, lembro-me de pesquisar matérias a respeito e me deparar com um comentário dos desenvolvedores que a sua continuação seria ainda maior e melhor — uma afirmação e tanto, pois o primeiro capítulo de Kratos na saga nórdica já era um dos melhores jogos de todos os tempos, na minha opinião.

Pois bem, assim como The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom fez o que parecia impossível ao entregar uma sequência digna do legado de Breath of the Wild, God of War Ragnarök dá uma verdadeira aula de como fazer uma continuação, proporcionando uma aventura maior, melhor e ainda mais intensa que a de seu antecessor. 

Primeiramente, valendo-se do crescimento do garoto, agora é possível jogar com Atreus — uma novidade que não somente agrega à jogabilidade, já que controlar o jovem é muito diferente de controlar o deus da guerra, mas que também acaba desempenhando um papel fundamental na narrativa.

Em busca de respostas sobre qual seria o seu dever na profecia do fim dos tempos, e também acometido por sentimentos naturais para a sua idade, Atreus passa um tempo considerável da aventura longe de seu pai. Isto é algo necessário para o seu desenvolvimento como personagem e que acaba rendendo ótimos momentos, como em suas interações com o sempre ambivalente Odin e também com outros novos rostos da saga, como as meninas Angrboda e Thrúd, conhecidas ao visitar reinos como Jötunheim e a bela Asgard.

Sim, ao contrário do primeiro jogo, desta vez o jogador pode e irá visitar todos os nove reinos nórdicos, como Svartalfheim e Vanaheim, outrora inacessíveis devido à magia de Odin. A adição de novas e suntuosas localidades à campanha é acompanhada por ainda mais segredos e sidequests, que, como o meu colega de redação Alexandre Galvão citou em nossa análise original, nunca parecem fora de lugar, ajudando no storytelling e aproximando o público da obra por meio da exploração. 

A arte da guerra, aperfeiçoada

Claro, sendo este um genuíno God of War, as mecânicas de combate continuam centrais à experiência. Felizmente, esta é outra área que a Santa Monica decidiu expandir, apresentando uma nova e interessante ferramenta para o arsenal de Kratos na forma da Lança Draupnir, obtida aproximadamente na metade da campanha.

Assim como o Machado Leviatã e as Lâminas do Caos, que desta vez estão disponíveis desde o início do game, a Lança possui a sua própria árvore de upgrades, oferecendo vantagens significativas para o combate à distância e ainda mais oportunidades de combos e sequências para quem almeja não dar nenhuma chance aos inimigos. 

Por falar nisso, aqui está outro ponto em que Ragnarök supera seu antecessor com folga. Uma das críticas mais comuns a respeito do título de 2018 foi o baixo número de chefes quando comparado aos jogos anteriores da saga. A iminente chegada do apocalipse nórdico retifica completamente esse deslize (se é que podemos chamar assim), oferecendo alguns dos melhores confrontos de toda a franquia — destaque para as lutas contra Thor e Heimdall, por seus impactos narrativos.

Entre bosses obrigatórios e opcionais, são mais de três dezenas de desafios que certamente porão à prova a alcunha de deus da guerra de Kratos. Felizmente, com cinco níveis selecionáveis de dificuldade e diversas opções de acessibilidade, é possível personalizar a experiência o suficiente tanto para evitar frustrações quanto para se testar ao máximo, no já tradicional modo “Quero God of War”.

Se há uma única crítica a ser feita em relação a God of War Ragnarök é que, às vezes, é possível ter a impressão de que o jogo se estende mais que o necessário em algumas partes, como a sequência no Bosque de Ferro, onde Atreus conhece Angrboda e, por consequência, mais sobre a história dos gigantes, povo de sua mãe.

A relativamente frequente troca de protagonista, entre Kratos e Atreus, também pode causar um certo desconforto para quem prefere ação a todo instante, visto que Loki não possui nem um terço das habilidades do pai, tornando seus embates e cenas muito mais cadenciadas que as do Fantasma de Esparta. A boa notícia é que é fácil relevar esses pontos em um produto que está muito acima da média em absolutamente todos os seus aspectos fundamentais.

Da primorosa direção de arte de Rafael Grassetti à vibrante trilha sonora de Bear McCreary, passando por mais uma exímia localização para o nosso idioma, God of War Ragnarök é, assim como seu antecessor, uma das poucas obras que eu classificaria como essencial para qualquer gamer que se preze. Jogos como este são raros por marcar não apenas gerações inteiras de hardware, mas também seus jogadores, de modo que devem ser celebrados e vivenciados por todos os interessados em sua proposta.

A experiência definitiva nos computadores

Falando especificamente da versão de PC, estamos felizmente diante de mais uma boa adaptação para os computadores. Com a Nixxes ocupada com o desenvolvimento de Horizon Zero Dawn Remastered, o port ficou a cargo da empresa Jetpack Interactive, que já havia trabalhado na adaptação do título de 2018, a qual elogiei em minha análise na época.

Bem, do início de 2022 para cá, muita coisa mudou em termos das tecnologias disponíveis no PC e Ragnarök se beneficia desse avanço. Para início de conversa, há suporte a todas as opções atuais de upscaling, como XeSS, DLSS e FSR, sendo que as duas últimas possuem suporte à bem-vinda geração de quadros em placas de vídeo compatíveis.

A inclusão do FSR 3.1 — rendição mais moderna da solução da AMD — inclusive possibilita usar o seu gerador de quadros juntamente com o DLSS e outras tecnologias exclusivas da concorrente NVIDIA, como o Reflex. Junte a isso diversas configurações ajustáveis, como texturas, sombras, reflexos e detalhes da atmosfera, e o resultado é que altas taxas de quadros, muito acima dos 60, são possíveis mesmo no Ultra, logicamente dependendo do seu hardware. 

Em meu PC com um Ryzen 7 5700x e uma RTX 3060 de 12GB, não tive problema algum para rodar God of War Ragnarök em suas configurações máximas em 1080p e até em 1440p sem perder fluidez — uma performance elogiável, sem dúvidas facilitada pelo seu lançamento original cross-gen. O resultado foi um verdadeiro espetáculo visual que não deve em nada aos jogos mais recentes, provando que nada substitui uma direção de arte primorosa.

Dito isto, há alguns pontos que precisam ser citados. O primeiro foi uma restrição dos desenvolvedores a placas de vídeo com menos de 6GB de VRAM, que causou a ira de parte dos jogadores e uma série de análises negativas no Steam. Essa restrição foi removida no patch 2, mas ainda assim o recomendado é usar placas com mais de 6GB de memória dedicada para evitar crashes e bugs visuais, mesmo em resoluções mais baixas que 1080p.

O segundo ponto é que é imprescindível reservar um espaço considerável em seu dispositivo: God of War Ragnarök ocupa nada menos que 175GB quando instalado, fato que o tornou facilmente o maior jogo no meu PC, superando com relativa folga o recente (e também excelente) Final Fantasy XVI. Ainda sobre o tópico, o uso de um SSD é recomendado (assim como para qualquer outra aplicação em 2024), embora não obrigatório.

Felizmente, o resultado de todo esse espaço ocupado é uma jogatina sem stutterings e cujos shaders obrigatórios são compilados rapidamente, possibilitando que o jogador assuma o controle de Kratos e seu filho no Fimbulwinter o mais cedo possível. Assim, não tenho medo de afirmar que a versão de PC é novamente a versão definitiva do segundo (e por enquanto final) capítulo da saga nórdica de Kratos, que, agora na nova plataforma, será beneficiada dos constantes e futuros avanços em hardware.

Há até suporte a resoluções ultrawide e às funções únicas do DualSense, para quem prefere usar o controle da Sony ao mouse e teclado (que também conta com mapeamento de teclas para que o jogador escolha o melhor layout para sua experiência). A inclusão do DLC gratuito Valhalla desde o Dia 1 no PC também é outra bem-vinda adição que certamente agradará aos fãs de longa data da franquia, dada a sua qualidade e suas inúmeras referências à trajetória de Kratos até aqui. 

A epicidade do apocalipse nórdico, agora no PC

God of War Ragnarök faz jus à expectativa e entrega uma sequência ainda mais espetacular para um dos melhores jogos de todos os tempos. A sua esperada chegada ao PC em mais uma ótima adaptação do PlayStation Studios é sobretudo um lembrete de que boas obras são atemporais e merecem ser vivenciadas pelo máximo possível de jogadores. Independentemente da sua plataforma, então, visite os nove reinos e presencie o apocalipse nórdico ao lado de Kratos e seu filho: garanto que será difícil não considerar este um dos melhores títulos de ação e aventura já feitos.

Prós

  • Dá uma verdadeira aula de como deve ser uma sequência, expandindo os aclamados conceitos de seu antecessor e aparando as eventuais arestas;
  • O grande número de chefes e inimigos corrige um deslize do jogo anterior e espanta para longe qualquer sensação de repetição enquanto promove desafio suficiente para os entusiastas;
  • O extenso número de localidades e missões secundárias vai entreter os jogadores por bastante tempo;
  • Bem otimizado no PC, com destaque para o suporte às resoluções ultrawide e tecnologias de upscaling;
  • Traz o DLC Valhalla desde o Dia 1 nos computadores, adicionando ainda mais horas de conteúdo de qualidade àquele que já é o maior jogo da franquia.

Contras

  • Algumas seções parecem durar mais que o necessário, como a sequência no Bosque de Ferro;
  • A frequente troca de protagonista pode incomodar quem prefere jogar com o Kratos (ou com o Atreus);
  • Requer muito espaço (mais de 175GB) no PC.
God of War Ragnarök — PC/PS4/PS5 — Nota: 10
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sony

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