E não é que era mesmo?
Sendo bem honesto, o retorno do Gunbound não é bem esse absurdo todo, visto
que já houve algumas tentativas anteriores. Aliás, uma pesquisa posterior ao
evento me fez descobrir que essa participação na BGS 2024 já era anunciada,
só que ninguém realmente deu bola ou ligou. A informação não foi devidamente
espalhada pelos veículos de comunicação por aí.
Sinceramente, eu particularmente achei isso uma injustiça boa. Primeiro
porque é uma participação confirmada no evento e deveria ser noticiada como
qualquer outra. Segundo porque, se GrandChase fez aquela bagunça toda quando
retornou, eu sinceramente acredito que Gunbound mereça o mesmo tratamento.
Dito isso, para quem não conhece, Gunbound é um multiplayer online que fez
algum sucesso em meados dos anos 2000. O jogo consistia em batalhas entre
dois times de até quatro combatentes, cada um montado em um veículo (os
chamados mobile). Com gameplay em turnos, os jogadores tinham alguns
segundos para se movimentar dentro de uma distância permitida, mirar e
atirar em parábola contra algum oponente, próximo ou não, em uma mecânica
muito parecida com a de Worms.
Assim, é necessário se atentar a alguns fatores, como o ângulo de
lançamento, a força utilizada para o disparo (que pode ser regulada tanto
pelo tempo de pressão da barra de espaço quanto pelo próprio mouse), a
direção e intensidade do vento, e o tipo de projétil que cada veículo tem à
disposição, etc. Há três modos possíveis, cada um com suas peculiaridades e
“custo” de utilização, uma vez que é isso que ajudará a determinar a ordem
dos turnos dos jogadores em uma dinâmica que vai se alterando ao longo da
partida.
Apresentações feitas, fiz questão de marcar presença no estande, que estava
muito bem situado no meio de um dos pavilhões do Expo Center Norte. Lá, era
possível efetuar o pré-cadastro e jogar localmente contra os outros
visitantes do evento.
Assim que o jogo abriu, achei impressionante porque ele está exatamente como
era há praticamente vinte anos. Impressionado tanto positivamente, por conta
da sensação de voltar a algum lugar que sempre esteve muito bem quisto nas
minhas memórias, como um momento confortável da vida, quanto negativamente,
já que, bem, como coloquei, era exatamente o mesmo jogo. Na prática, isso
consiste em assets bastante antigos, em baixa definição, identidade visual
levemente arcaica para os padrões modernos e uma tela 4:3 forçadamente
convertida para widescreen.
Nota-se que, historicamente, há alguns modos distintos para as partidas, que
trazem regras diferentes no que diz espeito ao uso dos mobiles e da
pontuação. Nas duas partidas que tive a oportunidade de jogar, entretanto,
seguimos no clássico “solo”, que consiste em combates básicos entre os
jogadores.
Falando do meu gameplay, fiz uso de dois mobiles distintos, o primeiro foi o
Raon Launcher, cuja estratégia é utilizar o primeiro tiro para destruir o
solo embaixo do oponente, prendendo-o em uma espécie de buraco, para então
lançar o tiro 2, duas pequenas máquinas teleguiadas que entram em estado de
latência no turno em que são lançadas para então despertarem dois turnos
depois, caminhando diretamente ao mobile mais próximo para se autodestruírem
em dano maciço.
No meu segundo teste, decidi ser um pouco mais ousado e arrisquei no A.
Sate, um pequeno flutuador que, na hora do tiro, lança apenas uma espécie de
sinal para que o pequeno disparador acima de si (no primeiro tiro) ou o
satélite maior de uso geral, a máquina conhecida como Tor, lance seus lasers
no local em que o projétil cai. É um exercício de trigonometria, no fim das
contas.
Falar dos mobiles é importante aqui porque a versão disponibilizada no teste
da BGS é a original, a que pode ser considerada hoje como primeira temporada
do game. Ou seja, sem veículos como Blue
Whale, Phoenix ou qualquer outro que tenha aparecido nas encarnações
posteriores do game. No site, entretanto, consta a presença de J. Frog e Kalsiddon (não jogáveis na BGS), então talvez seja necessário esperar para conferir qual é a fase do game que será levada em consideração para este relançamento.
A partir daí, foi só uma questão de tempo para me habituar novamente aos
controles e ao feeling de saber medir a distância, ângulo e força corretas
para acertar meus disparos. O sentimento de jogar me foi o mesmo de alguns
anos atrás, incluindo os momentos de confusão, visto que, em um único turno,
consegui destruir o mobile não só do oponente, mas um parceiro do meu time
que estava muito perto, sendo que meu tiro acabou respingando no sujeito.
Também foi uma experiência curiosa acompanhar quem claramente nunca tinha
tocado no joguinho, já que houve algumas tentativas de se mexer com os
botões wasd (o movimento se dá com as teclas de seta), e outra situação, que
eu particularmente achei hilária, quando alguém comentou que tinha enfim
percebido que eram dois times brigando entre si, só que a partida já estava
praticamente no fim no momento em que isso aconteceu.
A graça do Gunbound, na real, é que são partidas curtas que não exigem
demais do tempo do jogador, uma vez que os MMOs de hoje estão cada vez mais
elaborados e consomem cada vez mais tempo de sua audiência. Ele permite
sessões rápidas de jogo sem demandar demais dos usuários, que pode seguir
jogando se atentando a outras coisas. É muito diferente, de, sei lá, um
Hunt: Showdown, que menciono como um exemplo específico porque meus amigos
jogam isso demais e eu simplesmente não tenho muita paciência para as
partidas longas e repetitivas.
Por fim, sendo bem honesto agora e deixando a empolgação — e desinformação —
de lado, é importante mencionar que Gunbound só tinha acabado nesse formato
mais simples que está para ser relançado agora. O Steam conta, até hoje, com
uma versão chamada GunboundM, que funciona como uma espécie de remake e que
infelizmente está lotada de microtransações (algo que o original sempre
teve, mas a gente sabe como funciona o mercado de jogos modernos).
Outra tentativa de trazer Gunbound de volta foi com New Gunbound. A versão nunca
realmente saiu do papel, mas sua intenção era a de resgatar o jogo tradicional, sendo a que mais se assemelha desta de agora, encabeçada pela Gravity Studios e com suporte da
Softnyx, do que GunboundM.
Esperamos que essa nova tentativa realmente dê certo e consiga se
consolidar, nem que seja em um mercado de nicho como o nacional. Se
GrandChase conseguiu, não vejo motivo para Gunbound não ter o mesmo êxito. É
só fazer o trabalho direito (e não deixar os bots e hacks, que culminaram no
declínio de popularidade do game, tomarem conta de novo).
Gunbound esteve disponível para teste na Brasil Game Show 2024 e não tem
data de lançamento definida, mas um pré-registro pode ser realizado no
site oficial.