Vamos ser muito diretos: a penetração pregressa de Duna no imaginário
brasileiro é escassa, especialmente se formos comparar com O Senhor dos Anéis,
obra de patamar similar a nível internacional. É por isso que a iniciativa de
trazer Dune: Awakening para a BGS chama a atenção — e o GameBlast teve
a oportunidade de experimentar o título no evento em um teste fechado.
Historicamente falando, o universo concebido por Frank Herbert também contou
com algumas produções nos videogames, mas a maioria esmagadora era algum
gênero de simulação e gerenciamento no estilo 4X que abordasse a escala macro do universo. Dune
Awakening chega para subverter essa tendência ao apresentar um jogo de
sobrevivência em mundo aberto com elementos de MMO.
O game, desenvolvido pela Funcom, a mesma responsável por Conan Exiles, traz
uma espécie de cenário hipotético em que Paul Atreides, o Messias responsável
por subverter a ordem de poder daquele mundo, nunca tivesse nascido. Isso faz
com que todas as disputas políticas que têm Arrakis como palco, um dos
principais planetas do Império por conter as reservas de Melange, uma
substância que serve de matéria-prima para a realização de viagens espaciais,
tenham se acentuado entre as facções envolvidas.
Assim, o jogador é um cidadão comum desse planeta inóspito e coberto de
deserto. Pelo menos foi dessa forma que nossa demo se iniciou. Começando sem
habilidades e absolutamente nada no inventário, o título começa a oferecer
missões que servem como uma espécie de tutorial para o jogador, que irá
aprender aquela mecânica que, por via de regra, é uma das principais no gênero
de sobrevivência: crafting.
Daí, logo aprendemos a coletar certos recursos espalhados por aquela região de
Arrakis. O mapa aberto parece ser realmente enorme, sendo que só deu para
vasculhar manualmente uma pequena porção dele. Por mais que uma parte
esmagadora seja deserto e supostamente seria apenas uma questão de preencher
com tudo com areia, é aí onde reside o perigo, é só olhar para o resultado
final que foi o jogo de Mad Max.
Aos poucos, fui fazendo questão de aprender um pouco mais sobre o
funcionamento daquele lugar na marra, quando fui assimilando como é que a
lógica de todas as adversidades naturais de um planeta como Arrakis se
aplicariam em termos mecânicos de jogo. Nesse meio tempo, aprendi como eu
tenho que evitar a desidratação (roubando o sangue do inimigo e torná-lo
potável com equipamentos talhados no sistema de crafting) e me atentar aos
inimigos humanos espalhados.
Também evoluí meu personagem — em uma tela consideravelmente robusta, com
várias árvores de habilidades distintas, separadas em competências específicas
— e fui fazendo meu caminho pelo deserto enquanto ia me habituando aos
sistemas, sempre tentando me virar por conta própria enquanto o responsável
por coordenar o teste me perguntava se eu queria ter acesso aos equipamentos
mais graúdos.
Após encarar alguns inimigos e me ver perdido naquela vastidão, com poucos
equipamentos e chance de sobrevivência relativamente mínima por carência de
recursos para me manter inteiro (embora eu pudesse ficar renascendo no último
checkpoint que eu tenha estabelecido), decidi ceder à sugestão e ganhei uma
moto e um novo conjunto de equipamentos, como armas de fogo e outras coisinhas
mais que tenho quase certeza que levaria algum tempo a mais para desbloquear.
Devidamente municiado, simplesmente decidi partir daquela porção do mapa onde
estava e segui em direção ao norte, quando entrei em algum território dos
vermes de areia, que eu soube na hora do que se tratava porque foi quando
surgiu um indicador de som. Não demorou muito para o bicho aparecer e até que
consegui fugir por um tempo considerável antes de me distrair, efetuar um
cavalo de pau com a motocicleta e simplesmente ser engolido pelo
shai-hulud.
Lembra quando eu disse que dava para ficar ressuscitando numa boa (ao menos na
demo), mantendo os itens e equipamentos coletados? Então, acontece que ser
engolido pelo verme gigante é uma das únicas instâncias de morte que fazem com
que jogador perca absolutamente tudo o que ele tinha consigo até então.
Se não me engano, a mitologia de Duna tem algo sobre os
shai-hulud serem justamente os responsáveis por levar de volta ao
deserto tudo aquilo que dele foi um dia retirado, então faz algum sentido.
Embora eu tenha ressurgido com uma mão na frente e outra atrás, sem minha moto
ou qualquer um dos presentinhos que tinha ganhado na base do cheat
pré-programado para a versão de teste, achei a situação muito
hilária.
Na sequência, fui perguntado se eu gostaria de viajar no Ornitóptero. Falei
que sim e logo ganhei acesso àquela nave que se assemelha a uma libélula — o
jogo se baseou na identidade geral dos filmes do Villneuve, o que é
compreensível —, quando consegui explorar um pouco mais a região e me deparei
com algumas construções de maior escala, como certas bases militares. Apesar
de ter me divertido nesse trecho final, achei o veículo um pouco lento.
De um modo geral, a experiência por si só foi muito positiva. Antes de testar
o título, eu estava de olho nele de uma forma passiva, acompanhando todas as
informações só se, por acaso, elas viessem até mim, como um trailer em algum
evento ou coisa do tipo. Depois de passar um pouco mais de uma hora por
Arrakis — quando agendaram o teste e pediram para reservar esse tempo todo,
brinquei que iam passar o filme numa sala ou sei lá —, dá para ver que Arrakis
estará realmente viva no título da Funcom.
É perceptível que houve um apreço pela IP durante o planejamento, como se a
posição de cada pedra tivesse sido pensada, como se cada construção fosse
feita para surpreender, ostentando uma jogabilidade bem amarrada a nível
mecânico, deixando bem claro o estímulo para testar as possibilidades
disponíveis e trazendo recompensas que fazem esse esforço valer a pena.
Mais do que isso, a estrutura do título me agradou, uma vez que ficou claro
que o jogo se vende como um MMO, mas ele não se mostra, na prática, como um
MMO puro, na essência. Ele se assemelha mais a um jogo de sobrevivência em um
mundo aberto estilo sandbox (literalmente sandbox, se entende o que eu quero
dizer), com o estímulo para que o próprio jogador siga seu caminho naquele
mundo, que oferece diversas funções “sociais” para serem assumidas, do que a
um MMORPG cujo objetivo é interagir com outros.
Talvez seja uma boa ideia dobrar as atenções para com Dune: Awakening agora
para não ser pego de surpresa com toda a expansividade prometida — e que
aparentemente está no caminho de ser cumprida — quando ele finalmente chegar
ao acesso do público.
Dune: Awakening esteve presente na Brasil Game Show 2024 com um estande
próprio e conta com lançamento confirmado para PC, PlayStation 5 e Xbox Series
previsto para 2025, mas sem uma data exata definida.