Desenvolvido pela Worldwalker Games e lançado originalmente para PC, Wildermyth: Console Edition é um RPG tático que se destaca por permitir que o jogador molde a narrativa por meio de suas escolhas. Embora o jogo apresente um sistema de combate um tanto limitado, ele compensa essa fragilidade com um desenvolvimento de personagens envolvente.
Histórias formadas por eventos aleatórios
Wildermyth apresenta algumas campanhas distintas, as quais são divididas em capítulos e nos colocam no papel de um grupo de heróis de aparência personalizável. Embora a equipe comece com apenas três indivíduos, novos integrantes podem se unir à nossa causa à medida que avançamos na aventura.
Um dos aspectos mais fascinantes do jogo é a sua tentativa de simular um RPG de mesa, apresentando eventos aleatórios à medida que exploramos o mapa. Cada situação oferece diferentes alternativas de resolução, o que permite que uma mesma campanha se desenrole de formas razoavelmente variadas e imprevisíveis.
Embora Wildermyth apresente um enredo central em cada jornada, são os pequenos acontecimentos arbitrários que realmente fazem o título brilhar. Esses episódios inesperados geralmente são bastante inusitados e geram consequências permanentes para os heróis.
Para exemplificar, em uma das histórias, um dos meus personagens, tomado pela curiosidade, interagiu com um artefato místico e acabou se transformando em uma espécie de lobisomem. Em uma outra ocasião, um dos heróis, após seguir um rastro estranho, encontrou e se apaixonou por uma criatura fantástica humanoide.
Vale destacar que a narrativa é apresentada em um estilo de histórias em quadrinhos, com visuais 2D que, embora simples, tem bastante charme. Contudo, em um jogo tão focado em textos, é realmente lamentável que as versões de console não ofereçam legendas em português, especialmente considerando que o nosso idioma está disponível na versão para PC.
Toda ação consome tempo
A jogabilidade de Wildermyth é dividida entre a navegação pelo mundo externo e o combate. Aqui, a exploração é bastante simples: temos um mapa segmentado em áreas, e podemos selecionar para qual região desejamos que nosso grupo se dirija.
À medida que eliminamos as forças hostis presentes nos cenários, podemos construir estabelecimentos que nos geram recursos ao final dos capítulos, como celeiros, moinhos, bibliotecas e forjas. Essas criações exigem pontos de legado, os quais podemos adquirir ao vencermos combates.
Um aspecto interessante é que as nossas ações consomem tempo, seja para construir ou até mesmo para se locomover, resultando no envelhecimento dos personagens. Graças ao sistema de relacionamentos, que também é influenciado pelas escolhas feitas durante os eventos, é possível que os heróis tenham filhos, os quais podem assumir a missão dos pais quando estes se aposentam.
Outro ponto a ser destacado é que os adversários também não ficam parados; eles começam a evoluir em diversidade e poder. Assim, nossa movimentação pelo mundo adquire uma camada estratégica, pois dedicar tempo a uma atividade pode resultar em eventos inesperados, como a invasão de uma área vizinha por inimigos.
É justamente nas interações entre os personagens e nos relacionamentos que eles desenvolvem ao longo do tempo que Wildermyth revela sua verdadeira força. Embora a morte seja permanente e as campanhas sejam independentes, o jogo oferece um sistema que nos permite salvar os heróis preferidos para utilizá-los em futuras aventuras.
Um sistema de combate que poderia ser mais profundo
Falando sobre o combate, Wildermyth traz os elementos básicos de um RPG estratégico, no qual navegamos por quadradinhos e podemos atacar os adversários quando eles estão ao nosso alcance, que varia dependendo do tipo de arma utilizada.
O jogo conta com apenas três classes: warrior (guerreiro), especializada em combate corpo a corpo; hunter (caçador), que ataca à distância com arcos; e mystic (místico), que pode transformar elementos do cenário em fontes de dano.
Embora as duas primeiras profissões não tenham nenhum segredo, um mystic traz um forte fator estratégico, pois nos permite utilizar quase tudo no campo de batalha para causar estragos nos oponentes. Para exemplificar, é possível atacar com espinhos gerados de árvores ou usar fogueiras para queimar os adversários.
Outro aspecto interessante é que também temos algumas alternativas para lidar com a morte iminente. Sendo assim, quando nos deparamos com uma situação de risco extremo, podemos tentar escapar ou sacrificar o personagem, utilizando sua morte para conceder um benefício aos aliados restantes ou causar dano aos inimigos.
A despeito de todos esses aspectos interessantes, infelizmente, a limitação de classes faz com que o combate se torne rapidamente cansativo. Embora possamos aprimorar os heróis com novas habilidades e até transformá-los em cristuras variadas, as variações disponíveis não alteram significativamente a forma básica de jogar entre as diferentes campanhas.
Além disso, há uma baixíssima variedade de oponentes, o que, aliado ao fato de que quase todos os eventos do mapa resultam em combate, torna os confrontos ainda mais monótonos. Sendo assim, embora Wildermyth ofereça várias aventuras personalizáveis em termos de narrativa, em pouco tempo, é possível conferir tudo o que o jogo tem a oferecer em termos de combate.
Para finalizar, é importante destacar que, embora não haja problemas relacionados à disposição das funções nos controles do console, os comandos se mostram muito mais intuitivos com o uso do mouse no PC. Esse aspecto, aliado à disponibilidade do nosso idioma na versão para Steam, torna as edições de console bem menos atrativas.
A despeito das ressalvas, vale a pena ser conferido
Wildermyth: Console Edition é um RPG intrigante que permite ao jogador construir a sua própria narrativa e acompanhar o desenvolvimento dos seus personagens ao longo de diferentes campanhas. No entanto, o jogo peca pela falta de variações no sistema de combate, o que acaba limitando parte de seu incrível potencial. Ainda assim, trata-se de uma obra que vale a pena ser conferida, especialmente por aqueles que apreciam RPGs de mesa.
Prós
- Os acontecimentos inesperados tornam cada campanha razoavelmente imprevisível, enriquecendo as narrativas com consequências interessantes;
- Os personagens evoluem de maneira ímpar, com as nossas escolhas trazendo consequências permanentes para suas vidas e relacionamentos;
- O fator temporal e a evolução dos grupos inimigos adicionam nuances estratégicas à exploração do mapa.
Contras
- Embora funcional, o sistema de combate carece de variedade de inimigos e opções estratégicas, fazendo com que as lutas se tornem rapidamente monótonas;
- Ausência de legendas em português nas versões de console.
Wildermyth: Console Edition — PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 7.0Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Imagens: Auroch Digital
Análise produzida com cópia digital cedida pela Auroch Digital