Análise: The Jackbox Survey Scramble diverte com ótima localização, mas não dura o suficiente

O que acontece quando os reis do minigame tentam explorar um único conceito?

em 24/10/2024


Descobri a franquia Jackbox anos atrás pelo canal do YouTube da Polygon, e, desde então, seus Party Packs viraram figurinha carimbada de qualquer call do Discord que eu fizesse com amigos que falassem inglês. Um dos meus grandes problemas com os jogos, contudo, sempre foi o foco exagerado em temas estadunidenses. Eu lá tenho cara de quem sabe quem foi Millard Fillmore?

Felizmente, com o passar dos anos, o estúdio Jackbox Games passou a focar mais em sua base de fãs fora dos EUA; em 2023, The Jackbox Party Pack 10 foi o primeiro jogo da franquia a receber uma localização completa para o português brasileiro, via atualização pós-lançamento. Desde então, todos os títulos seguintes receberam a honra de serem adaptados para audiências tupiniquins. 

The Jackbox Survey Scramble, testado pelo GameBlast durante a Brasil Game Show 2024, é o primeiro título 100% original (ou seja, que nunca apareceu em um Party Pack) do estúdio, descrito em entrevista exclusiva como “o mais brasileiro até agora” por funcionar a partir de respostas diretas de jogadores brasileiros (mais detalhes abaixo).


Certamente é verdade, e a localização entregue é marcante e divertida; contudo, como jogo, esbarramos em outros problemas. Talvez por serem tão competentes na criação de minigames, o grande título solo do Jackbox Games é rápido demais e não dura como deveria. Podem vestir o coletinho do IBGE, pois está na hora de pesquisar o que deu certo e errado!

Abençoado por Deus e bonito por natureza

O segredo da boa localização de The Jackbox Survey Scramble é simples: o jogo é alimentado a partir das respostas dos usuários. Entre partidas, somos convidados a responder uma série de perguntas, como “em uma palavra, nomeie um invento de ficção científica”: as respostas são analisadas internamente e podem ou não passar a aparecer dentro do jogo. 

De acordo com Warren Arnold e Belia Portilo para o Nintendo Blast, as respostas vão para bases de dados específicas do país onde foram coletadas. Isso faz com que, por exemplo, seja impossível encontrar respostas de espanhóis ou estadunidenses na versão brasileira do jogo. 

A parte que não depende dos jogadores também é bem adaptada, incluindo várias referências à realidade brasileira e até mesmo uma versão em português da música-tema do final de cada partida. Existe também a opção de filtrar perguntas de contexto muito brasileiro, que também está presente nas versões em outras línguas e faz parte da série desde o oitavo Party Pack. 

Contudo, a escolha de temas de pesquisa por rodada foi um pouco confusa: por vezes, meu grupo não soube identificar o que significavam. Por exemplo, quando escolhemos “alerta de encrenca” certa vez, por parecer a opção mais compreensível, demoramos a entender que o jogo queria dizer “red flag”, gíria gringa para algo potencialmente problemático em um parceiro romântico. 

Já que a versão que jogamos não é final, há a chance de que esses problemas sejam consertados no lançamento, que ocorre hoje, 24 de outubro.

Muito modo para pouco tempo de jogo

Em The Jackbox Survey Scramble, temos quatro jogos em um: Melhor e Pior, Correria, Quadrados e Rebote. Cada um deles envolve a escolha de um tema de pergunta e a adivinhação de respostas possíveis, sempre de uma palavra só; assim como nas perguntas pré-jogo, respostas que não estiverem na lista poderão ser adicionadas ao banco de dados mais tarde. 

Como ocorre em todos os títulos Jackbox, apenas uma pessoa precisa, de fato, ter o jogo, além de uma maneira de mostrar sua tela aos outros jogadores; seus convidados precisam apenas logar em um certo site para jogar junto, o que faz da experiência bastante acessível. 


Melhor e Pior é o modo clássico, apontado pelo menu como o mais indicado para iniciantes. A premissa é simples: escolha um tema e adivinhe quais foram as respostas mais e menos frequentes. No final, duas respostas que ninguém adivinhou aparecerão, e os jogadores devem dizer qual delas foi mais comum.

Correria, por sua vez, coloca os jogadores em um limite de tempo de 15 segundos para que adivinhem o máximo de respostas possíveis. O timer é resetado a cada vez que alguém acerta. Após um certo número ter sido atingido (que depende do número de respostas coletadas), há uma pausa curta, e a pontuação passa a ser multiplicada. O jogo termina quando o tempo acabar ou quando todas as respostas tiverem sido reveladas.


Quadrados coloca os jogadores em dois times adversários que competem por espaço em um tabuleiro 3x3. Cada quadrado corresponde à popularidade de respostas a uma pergunta; quem escolher uma resposta mais popular do que o time adversário pode tomar um quadrado para si. Assim como no jogo da velha, ganha quem ligar três quadrados na horizontal, vertical ou diagonal. 

Por fim, Rebote é o mais ousado: é uma espécie de Breakout no qual dois times controlam um rebatedor, que fica em uma escala de respostas mais a menos populares. O rebatedor deve estar na posição correta para defender a bola, que fica mais rápida a cada defesa; caso a mesma resposta seja reutilizada pelo time, a área do rebatedor diminui. Também é válido prestar atenção nas respostas dos adversários e roubá-las durante a vez do seu time. 


Esses modos de jogo podem ser selecionados a dedo, ou o computador pode gerar um aleatório com a opção Escolha Por Mim. Também há o modo Turnê, que toca todos na ordem apresentada acima; como é apenas aqui que os créditos rolam, parece ser a forma de jogar originalmente pensada pelo Jackbox Games. 

Outra coisa que explicita essa ideia é o fato de que, sozinhos, os modos simplesmente não duram. Meu grupo gostou mais dos modos Melhor e Pior e Correria; como cada um dura poucos minutos e nos dá apenas um tema de pesquisa, precisamos jogá-los várias vezes até nos sentirmos satisfeitos. Faltou algo que deixasse cada modo mais interessante como o próprio minigame; o time é especializado em coleções do tipo, afinal.

Em geral, apesar de bem explorado em suas possibilidades, o tema único é mais restritivo ao jogo do que qualquer outra coisa. A grande força dos Jackbox Party Packs é sua diversidade e capacidade de apelar a diversos grupos; aqui, quem não gostar do tema de pesquisas fica de fora, o que pode fazer com que este título seja um pouco mais situacional do que seus compatriotas.

O que as pesquisas apontam?

The Jackbox Survey Scramble traz mais uma excelente adaptação da marca Jackbox ao português, e é uma boa pedida para animar uma festa; contudo, falta ao título a versatilidade pela qual o estúdio é conhecido. Caso o leitor se encontre indeciso entre este jogo e um Party Pack, recomendo a segunda opção — mas quem quiser brincar de censo também não vai se arrepender.

Prós

  • Ótima localização para a língua portuguesa;
  • Mesmo a versão em inglês não é tão americanizada;
  • Acessível e simples de entender.

Contras

  • A redação dos temas é um pouco confusa;
  • Ter um tema geral restringe o alcance do jogo;
  • Modos de jogo não duram o suficiente quando sozinhos.
The Jackbox Survey Scramble — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota final: 7.5
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pelo Jackbox Games

Jornalista formada pela PUC-SP e eterna apaixonada por videogames, especialmente aqueles japoneses de mistério. Sempre tem alguma redação gigante para escrever depois que zera um Yakuza.
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