Há 13 anos, tivemos uma das maiores comemorações da história dos games: Sonic Generations. A aventura trouxe uma viagem nostálgica por fases emblemáticas da franquia, acompanhada não apenas do ouriço moderno de olhos verdes, mas também do carismático “barrigudinho” dos anos 1990.
Desde então, a franquia passou por uma fase bastante discutível. Títulos como Sonic Lost World, Sonic Boom: Rise of Lyric e Sonic Forces falharam em manter a linha de qualidade que a série havia começado a estabelecer com Sonic Unleashed. A situação só começou a se estabilizar com o lançamento de Sonic Frontiers — e, curiosamente, também com o sucesso do primeiro filme live-action.
Agora, em 2024, temos a oportunidade de reviver — ou conhecer — a jornada temporal do ouriço em Sonic X Shadow Generations. E não apenas isso: também podemos nos aventurar no controle de Shadow, o anti-herói mais amado da franquia, em sua própria jornada emocional. Mas será que esse pacote consegue se justificar o suficiente?
Um remaster básico de um jogo deslumbrante
Comecemos pelo prato principal — ainda que eu adiante que ele não é o destaque absoluto. Sonic Generations foi lançado como uma comemoração dos 20 anos da franquia, com sua história começando em meio a uma festa de aniversário para o azulão, preparada por seus amigos. No entanto, a celebração é interrompida por uma entidade misteriosa chamada Time Eater, que suga todos para dentro de portais temporais. No limbo conhecido como Espaço Branco, o herói encontra sua versão do passado e, juntos, eles precisam resgatar seus amigos congelados no tempo e derrotar a anomalia.
Em Sonic X Shadow Generations, a base dessa aventura foi mantida, com algumas pequenas alterações. Lançado originalmente para Xbox 360 e PS3, a maior mudança no relançamento está na resolução: agora rodando em 4K a 60 fps no Xbox Series X e PlayStation 5, permitindo aos jogadores de console a experiência gráfica que antes só era possível nos PCs.
Apesar de continuar bonito em 2024, graças ao excelente trabalho de direção de arte original, a remasterização é modesta. Algumas texturas ainda são de baixa resolução, com uma leve filtragem; os efeitos especiais, como explosões, permanecem simples, e a iluminação continua a mesma. O jogo roda na primeira versão da Hedgehog Engine, o que o faz parecer um produto da sétima geração de consoles, ainda que tenha sido um dos mais impressionantes visualmente da época.
Algumas mudanças e adições foram feitas neste relançamento. O roteiro foi reescrito por Ian Flynn, atual responsável pela narrativa da franquia. Embora o enredo original permaneça inalterado, os diálogos trazem mais referências à "lore" da série, como menções à West Side Island de Sonic 2 e às Time Stones de Sonic CD. Além disso, alguns detalhes dos personagens foram ajustados: Amy já não flerta mais com Sonic, Knuckles não faz mais comentários sobre o “ganho de peso” do Sonic clássico, e a roupa de Rouge foi ligeiramente alterada para diminuir a sexualização da personagem, algo que, previsivelmente, gerou polêmicas desnecessárias em uma parte da comunidade.
Na jogabilidade, as mudanças foram mínimas. Além do remapeamento dos botões, para se alinhar mais ao estilo de Sonic Frontiers, o Drop Dash foi adicionado para ambos os ouriços. No entanto, sua utilidade continua questionável, já que o Spin Dash e o Turbo ainda dominam como as principais ferramentas para ganhar velocidade e lidar rapidamente com os inimigos pelo caminho.
Mais um coletável foi adicionado às fases, além dos anéis vermelhos: os Chao, aquelas criaturinhas fadinhas adoráveis de Sonic Adventure. Sua adição serve mais como um objetivo adicional para a exploração do que alguma recompensa interessante, o que é um tanto decepcionante — não é desta vez que temos o Chao Garden de volta.
A skin que troca o modelo do Sonic para o do primeiro Adventure é uma graça! |
O SHADOW, CARA! O SHADOW, VÉI!
Numa estratégia semelhante à de Super Mario 3D World + Bowser’s Fury, Sonic X Shadow Generations traz uma campanha que é, essencialmente, um jogo novo. Em Shadow Generations, o ouriço sombrio também é sugado pelo Time Eater, mas seu principal adversário é Black Doom, vilão de seu título solo de 2005 e a principal fonte de seus poderes.
Lançado no mesmo limbo temporal de Sonic, Shadow precisa enfrentar os traumas de seu passado para evitar perder o controle de si mesmo para Black Doom, devido ao código genético compartilhado entre ambos. Ao longo da jornada, ele também interage com Maria e Prof. Gerald Robotnik, que foram trazidos para o Espaço Branco antes do evento que resultou na morte da garota e prisão do pesquisador na Colônia Espacial Ark.
Diferente da aventura do azulão, o Espaço Branco é um pequeno mundo aberto 3D, semelhante às Zonas Abertas de Sonic Frontiers (com um toque das Adventure Fields de Sonic Unleashed). Esse espaço serve tanto como hub para acessar as fases quanto para colecionar itens, como músicas, artes e documentos de história, disponíveis em baús ou como recompensas por missões concluídas.
Falando das fases em si, temos oito no total, cada uma dividida em dois atos. O primeiro ato é sempre em 3D, e alguns deles incluem uma espécie de “interseção” em uma dimensão distorcida situada na Radical Highway de Sonic Adventure 2. O segundo ato, por outro lado, é sempre em 2D, com momentos intensos de set pieces.
Eu estava um pouco receoso quanto à qualidade dessas fases em comparação com o excelente trabalho de Sonic Generations, mas estou muito feliz em dizer que Shadow Generations apresenta uma seleção soberba de níveis, tanto em design quanto em apresentação. Há caminhos alternativos que recompensam jogadores habilidosos, obstáculos criativos, momentos automáticos de tirar o fôlego e, acima de tudo, muita vida e inspiração. Aquelas fases sem alma de Sonic Forces ficaram definitivamente para trás.
Satisfatório ver uma fase de Forces com level design proveitoso. |
Para lidar com os desafios, Shadow conta com alguns poderes especiais. O que está disponível o tempo todo é o Chaos Control, a habilidade de parar o tempo, que ajuda tanto no combate contra inimigos quanto no congelamento de plataformas móveis, além de transformar mísseis em plataformas para acessar outras áreas. Também é uma ferramenta útil para parar o cronômetro das fases e ajudar a alcançar a nota S no final.
Já os poderes relacionados a Black Doom são mais situacionais. Eles são desbloqueados a cada duas zonas, dando ao anti-herói habilidades como surfar na água, disparar lanças de energia em múltiplos alvos, transformar-se em uma criatura gosmenta capaz de atravessar terrenos específicos, e voar. O uso dessas habilidades depende da fase e serve mais para explorar o Espaço Branco, com excessão das Doom Wings que nos permite voar livremente ao custo minimo de 50 anéis, e até conta com um ranque próprio de conclusão em cada ato.
A forma de controle (quase) perfeita
Contudo, o que mais me impressionou em Shadow Generations foi o controle do anti-herói. O jogo oferece os controles mais responsivos que a série 3D já apresentou. Raramente encontrei falhas de detecção no homing attack ou tive problemas ao tentar corrigir um pulo mal calculado. A fluidez é tão grande que, após jogar com Shadow, voltar para a campanha original do Sonic parece um retrocesso.
O maior ponto fraco de Shadow Generations é a sua duração. Terminei a campanha principal em menos de quatro horas, e embora o game reutilize o artifício de missões para coletar chaves e desbloquear chefes, como em Sonic Generations, a aventura passa muito rápido. Mesmo assim, a qualidade se mantém constante do início ao fim, sem alongamentos desnecessários para estender o tempo de jogo. Nesse caso, prefiro uma experiência curta e bem dosada a uma que tenta se prolongar com conteúdo maçante.
No aspecto técnico, a campanha de Shadow utiliza a Hedgehog Engine 2 e apresenta uma direção de arte mais “realista”. O trabalho de iluminação e reflexos é impecável, e a qualidade das animações, tanto na jogabilidade quanto nas cutscenes, se destaca comparando-as com entradas anteriores. Os trechos na Radical Highway distorcida são um espetáculo de efeitos e modelagem. No entanto, algumas texturas de baixa resolução — especialmente na Sunset Heights e na Chaos Island — podem ser notadas, provavelmente devido à necessidade de adaptar o jogo para a geração atual e anterior de consoles.
Por fim, a trilha sonora. Pessoalmente, não sou grande fã do estilo que costuma acompanhar Shadow — normalmente metalcore ou música eletrônica com dubstep —, e o mesmo ocorre aqui. A variedade é alta e os remixes são interessantes (como o tema da Space Colony Ark: Ato 1 e da Kingdom Valley: Ato 2), mas não encontrei nenhuma música que superasse as versões originais. No entanto, isso é claramente uma questão de gosto. Já a dublagem é excelente, com destaque para Kirk Thornton, que dá voz ao ouriço sombrio brilhantemente.
Um boost para o futuro que a série merece
Sonic X Shadow Generations vai além de ser apenas uma coleção de jogos. Ao revisitar o passado da franquia com ideias de uma época diferente, o título também oferece um vislumbre do futuro da Sonic Team, mostrando que o estúdio está mais capacitado do que nunca para entregar grandes jogos. Parece que a Sega está dando à equipe mais tempo e verba para polir seus projetos, e o resultado é evidente em Shadow Generations: um dos melhores títulos da franquia.
Que a próxima produção da Sonic Team, porém, traga algo completamente inédito em termos de temática. Embora a nostalgia tenha seu valor, passamos mais de uma década revisitando o passado, e já está na hora de dar um passo à frente nesse aspecto. Ao menos na jogabilidade, os passos estão bem longos.
Prós:
- Sonic Generations está disponível na máxima qualidade para as plataformas modernas;
- O jogo de 2011 continua divertido e visualmente impressionante até hoje;
- Shadow Generations apresenta uma seleção incrível de fases, com muitos caminhos alternativos e possibilidades para jogadores experientes;
- O Espaço Branco de Shadow Generations é pequeno, mas repleto de colecionáveis para destravar e missões para realizar;
- As habilidades de Shadow, embora situacionais, oferecem uma variedade interessante que o diferencia do Sonic;
- O jogo traz mais detalhes sobre a história de Shadow, incluindo sua relação com Maria e Prof. Gerald Robotnik;
- Os controles de Shadow são os melhores já implementados na vertente 3D da franquia;
- Animações excelentes e satisfatórias, tanto nas cutscenes quanto na jogabilidade.
Contras:
- Juntando ambas as aventuras, as campanhas principais podem ser concluídas em menos de 10 horas;
- Sonic Generations não recebeu grandes melhorias, tornando-o um relançamento pouco expressivo em comparação com a versão de PC de 2011;
- A adição dos Chao não é tão significativa quanto poderia ser;
- Algumas texturas de baixa resolução em Shadow Generations, especialmente na Chaos Island, prejudicam a qualidade gráfica geral.
Sonic X Shadow Generations — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 9.0Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sega