Análise: Sky Oceans: Wings for Hire, um game sobre aviões mas que simplesmente não decola

Aventura morna sobre piratas aéreos não chega a ofender, mas acaba não sendo atrativo pela sua completa falta de ambição.

em 10/10/2024
Existem e sempre vão existir jogos bons e ruins, e junto com eles existe uma terceira categoria que acaba sendo as dos “mais ou menos”, produções que passam despercebidas pela falta de destaque, mas que não chegam a ofender. Esse é o caso de Sky Oceans: Wings For Hire, um RPG super tradicional que acaba não alçando voo pela sua falta de ambição e uma margem de segurança que deixa o jogador numa rota de colisão com o tédio.

Um curso de pilotagem extremamente familiar

Sky Oceans é tudo que alguém pode esperar de uma aventura sobre mercenários e piratas que pilotam aviões, pelo menos lá pelos idos anos 1990 ou início dos 2000. O game conta a aventura de Glenn Windwalker — um sobrenome que apelou ao meu eu adolescente, confesso — e sua trupe de amigos pilotos de avião que, por meio de várias missões como mercenários piratas, combatem a temível Alliance, um grupo malvado que quer dominar todas as rotas do céu com seu arsenal de guerra.


E isso é quase a totalidade da premissa do jogo, que é tão profunda quanto você pode imaginar, contando com referências claras à sua inspiração mais clara, Skies of Arcadia, e uns toques de Star Wars, como os vilões claramente inspirados no Império Galáctico de Darth Vader e o sobrenome do protagonista, que não tem como não comparar com o lendário clã Skywalker. Mas é claro que se inspirar não é um pecado: na verdade Sky Oceans até faz isso de uma maneira inofensiva e que muitas outras produções também fazem com sucesso.

Outra fonte inspiradora de Sky Oceans são os animes: como a própria desenvolvedora Octeto Studios diz na descrição do jogo, a direção artística do jogo bebe muito na fonte dos longa-metragens dos estúdios Ghibli, com cenários super coloridos, personagens carismáticos e criativos, além de menus que trazem uma energia caótica do bem. O design das naves lembram inclusive os trabalhos de Akira Toriyama em Dragon Ball e Dr. Slump. Mas o que mais causa estranhamento é o porquê de todos os personagens humanos terem um nariz em formato de prisma — mas fica só o destaque, não é algo para diminuir a nota final.

Turbulência causada pela falta de ousadia


Infelizmente, essa sopa de influências não sustenta muito o loop que Sky Oceans propõe, com seu gameplay super mediano, beirando o medíocre. Sendo um JRPG no mais tradicional que o termo pode propor, suas batalhas “táticas”, como a produtora chama, não tem nada de muito estratégico: com uma mecânica que remete ao mais básico que qualquer Final Fantasy de Super Nintendo já propunha em sua época, as batalhas semi-aleatórias do jogo acabam se automatizando muito rápido, já que é só preciso escolher o golpe mais forte que houver no arsenal e contar com um sistema de chance de acerto bem duvidoso.

Equipamentos, itens, habilidades novas desbloqueadas com níveis… Nada disso se torna muito relevante em mais de 20 horas de gameplay. Há pouca variedade em missões, que se resumem a encontrar alguém, abrir caminho por labirintos em locais fechados, enfrentar algum oponente, matar um certo número de animais voadores que não têm nada a ver com o conflito político da história.

Controles que parecem ter saído de “O Piloto Sumiu”

Aliás, controlar tanto os personagens a pé quanto pilotando seus aviões não chega a ser um problema, mas precisa de um ajuste melhor para uma aventura mais agradável. Controlando Glenn Windwalker em terra firme, a câmera é extremamente sensível e parece não reconhecer a distância entre o personagem e paredes ou objetos com colisão. Já com seu avião, medir a velocidade e o movimento de curva dos veículos é bem instável, literalmente um “oito ou oitenta”, dificultando o movimento nos tais espaços fechados que o jogo coloca em alguns momentos.


E o próprio mundo de Sky Oceans, apesar de carismático e colorido, soa extremamente vazio e repetitivo, já que a maioria dos NPCs comuns não tem uma fala sequer, e quando tem, são apenas algumas linhas de diálogo que pouco interessantes. O tal do worldbuilding é inexistente durante a exploração do mundo, que às vezes passa a impressão de ser um cenário de teatro, estando ali apenas como literalmente um fundo.

Isso tudo poderia ser contornado se o jogo fosse mais destemido, como o protagonista Glenn Windwalker tenta ser durante toda a sua jornada de vingança e redescoberta. Ao invés disso, o game que tem boa direção artística e uma boa premissa, sendo uma aventura com aviões e dramas políticos, tropeça no apego à tradição e alguma falta de cuidado técnico aqui e ali.

Falhas técnicas que não podem acontecer com um piloto


Vale registrar que durante minha jogatina, perdi um save com um bug que travou meu progresso, tendo que voltar horas antes em um ponto antigo, e também tive vários problemas do jogo ao abrir baús e cancelar ações durante a batalha. O jogo literalmente travava, com controles que não respondiam mais, sobrando apenas voltar à tela inicial através do menu de pausa.

Eu sempre falo em minhas análises que não podemos julgar um game pelo que ele poderia ser, mas no caso de Sky Oceans: Wings for Hire chega a ser um sacrilégio perceber que o jogo tem um potencial enterrado pela mediocridade. Desde a história batida, mas que passaria como um bom anime de verão de 26 episódios, até o combate sonolento e repetitivo, a aventura dos piratas aéreos é indicada apenas para quem tem uma boa nostalgia por Skies of Arcadia ou goste muito de aviões, porque até o fator replay é fraco e só vale a pena para completar os fáceis troféus (ou conquistas).

Prós:

  • Direção de arte carismática que lembra produções de Hayao Miyazaki e Akira Toriyama.
  • Elenco de personagens principais variado e que possui backgrounds até que legais.

Contras:

  • Batalhas repetitivas e sem estratégias que se resumem em escolher o golpe mais forte e torcer para não errar o inimigo.
  • Mundo vazio e pouco interessante de se explorar com NPCs pouco interativos .
  • Alguns bugs que podem fazer o jogador perder tempo de jogo e repetir tarefas já repetitivas.
Sky Oceans: Wings for Hire — PC/PS5/XSX — Nota: 5.5
Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela PQube



Falo de tudo quanto é coisa, de Castlevania a Anatomy of a Fall, de Carolina Maria de Jesus a Hidetaka Miyazaki, de trilhas sonoras de Super Sentai a Mano Brown. Só não gosto de Deckbuilder Roguelike. Meu sonho é visitar o Japão. Se curtiu, continuo falando sobre meus textos em twitter.com/WesternYokai666
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