Análise: Romance of the Three Kingdoms 8 Remake revitaliza um dos jogos mais interessantes da série

Ao contrário de muitos jogos de estratégia, este título possui um foco mais acentuado no desenvolvimento do personagem selecionado.

em 23/10/2024
Romance of the Three Kingdoms 8 Remake é uma versão aprimorada do jogo estratégia desenvolvido por Kou Shibusawa e lançado originalmente em 2001 para PC e posteriormente para PS2. Embora o título mantenha seu elevado nível de desafio e traga inúmeros sistemas para explorarmos, ele se destaca como uma das melhores portas de entrada para quem deseja conhecer essa rica franquia.

A Era dos Três Reinos

A série Romance of the Three Kingdoms se passa na China durante a tumultuada Era dos Três Reinos, que ocorreu entre os séculos II e III. Esta franquia é fortemente inspirada em obras literárias que retratam esse período, como o Livro de Jin, o Registos dos Três Reinos e, principalmente, o célebre texto homônimo, Romance dos Três Reinos.

Os jogos da franquia oferecem duas abordagens principais: enquanto alguns apresentam uma visão macro, focando na unificação da China sob uma única bandeira, outros permitem que o jogador assuma a identidade de um personagem de patente mais baixa, desenvolvendo suas habilidades e conquistando novas responsabilidades ao longo do tempo. Este oitavo título se encaixa nessa segunda categoria.

Com mais de mil oficiais disponíveis, incluindo figuras importantes como Liu Bei, Guan Yu, Zhao Yun e Lu Bu, essa obra oferece uma rica variedade de eventos, cenários e batalhas históricas, que podem ou não ser ativadas e exploradas pelo jogador, conforme veremos mais adiante.

Diferentes períodos e indivíduos distintos

Ao iniciarmos uma nova campanha em Romance of the Three Kingdoms 8, podemos selecionar um dos diversos períodos disponíveis. Como o jogo traz uma simulação histórica, essa escolha acaba influenciando bastante as condições e forças dominantes que encontraremos em cada cenário.

Para exemplificar, enquanto no "The Decline of the Late Han" encontramos diversos pequenos reinos surgindo espalhados pelo mapa, no "Post Zhuge Liang's Death" visualizamos todo o cenário dominado e dividido entre as três principais forças da Era dos Três Reinos: Wei, Wu e Shu.

Optar por um reino poderoso oferecerá recursos abundantes já de início, mas também implicará em gerenciar diversas áreas simultaneamente. Por outro lado, um reino menor traz menos responsabilidades, mas o crescimento torna-se mais complexo, dependendo do tamanho dos outros grupos presentes no período escolhido.

O segundo passo é selecionar um personagem para jogar. Essa decisão também molda a complexidade da experiência, já que Romance of the Three Kingdoms 8 permite que os jogadores entrem na pele de diferentes categorias de indivíduos, desde grandes monarcas até o mais humilde militar.

O oficial de patente mais alta é chamado de Ruler, que nada mais é que um rei. Com um indivíduo desta classe, precisamos gerenciar todas as regiões sob seu domínio, administrando aspectos como desenvolvimento, segurança e guerra. À medida que o império cresce, a tarefa de ser Ruler se torna cada vez mais desafiadora, exigindo que o jogador crie divisões e delegue responsabilidades a oficiais competentes.

Abaixo do Ruler encontramos o Viceroy, que exerce poderes semelhantes, mas apenas sobre uma divisão específica composta por algumas cidades. Cada divisão pode ter objetivos distintos, como conquistar determinado território ou apoiar uma outra divisão, conforme determinado pelo grande governante.

Por sua vez, o Governor é responsável por uma única cidade, prestando contas diretamente ao Ruler ou ao Viceroy, dependendo de qual divisão o seu centro urbano faz parte. Assim como o Viceroy, sua liberdade de ação é igualmente influenciada pelos objetivos impostos por seu superior.

Um Tactician atua como conselheiro de guerra, sugerindo táticas de combate, como identificar alvos, utilizar espiões, espalhar rumores ou destruir muros de castelos. Esses indivíduos geralmente possuem alto nível de inteligência e são ouvidos com mais facilidade pelo rei.

Na base da pirâmide estão os Common Officers, que essencialmente cumprem as ordens de seus superiores. Essa classe é ideal para jogadores que ainda estão se familiarizando com o jogo, já que suas responsabilidades e ações disponíveis são bem mais limitadas. Por fim, temos os Free Officers, que não respondem a nenhuma autoridade e podem fundar seu próprio reino do zero, embora essa seja uma tarefa um tanto desafiadora.

É importante destacar que, embora existam essas divisões, um indivíduo não precisa se limitar a uma classe e pode ascender na hierarquia. Além do bom trabalho ser reconhecido com promoções, os diferentes tipos de governantes podem se voltar contra seus superiores e estabelecer seu próprio governo. Claro que todas as ações possuem consequências, e o jogador precisa estar preparado para lidar com elas.

Gerenciando e guerreando em um ciclo de estações

Romance of the Three Kingdoms 8 traz um ciclo em que alternamos entre o desenvolvimento das cidades e reuniões estratégicas chamadas de Parliaments. No centro urbano, gastamos pontos de ação em atividades para desenvolver o comércio, o policiamento, a agricultura e a metalurgia. 

Enquanto os oficiais de patente mais baixa (Common Officers) devem realizar essas tarefas pessoalmente, os indivíduos de maior hierarquia podem delegá-las, o que nos permite focar na construção de relações, seja com os subordinados ou com os superiores, e no treinamento para desenvolver e aprimorar habilidades.

Os relacionamentos desempenham um papel fundamental em Romance of the Three Kingdoms 8, influenciando elementos de combates e produção. Enquanto dois personagens com fortes laços podem trazer melhores resultados quando trabalham em conjunto, rivais normalmente demonstram grande agressividade quando se encontram. Vale destacar que o jogo oferece um sistema próprio que engloba as inúmeras possibilidades de interação, incluindo presentear, dialogar, promover banquetes, casar e ter filhos.

Ao fim de três períodos de ação, que representam a passagem de três meses e o início de uma nova estação, ocorre o Parliament. É nesse momento em que as estratégias militares são traçadas, divisões e funções são distribuídas e alianças são formadas ou dissolvidas, com as alternativas variando com base na patente do oficial controlado.

Falando sobre o sistema de combate, em Romance of the Three Kingdoms 8 Remake os confrontos ocorrem em turnos e se assemelham a um RPG estratégico. Aqui, movemos nossas tropas em pequenos hexágonos e atacamos os inimigos quando eles estão ao nosso alcance, o qual varia bastante com base no tipo de arma utilizado pelo exército

O jogo oferece uma profundidade considerável no campo de batalha, com diversas alternativas estratégicas para explorarmos. Sendo assim, cada tipo de tropa possui vantagens específicas dependendo do terreno em que se encontra, o que acaba exigindo um considerável planejamento prévio e uma boa habilidade de adaptação do jogador.

Outro fator crucial é a moral do exército, que pode despencar drasticamente ao cairmos em armadilhas inimigas. Enquanto uma moral baixa influencia negativamente na nossa capacidade de movimentação, em valores elevados, ela nos permite ativar maestrias especiais, com destaque para Link Forged, que ocorre quando duas ou mais tropas, lideradas por personagens com fortes laços, realizam um ataque conjunto.

Outro aspecto interessante diz respeito aos duelos e aos debates, mecânicas que marcaram presença em alguns dos títulos numerados mais recentes. Os duelos ocorrem entre dois líderes de tropas durante os combates, favorecendo personagens com alta força física. Já os debates surgem quando um oficial discorda das nossas sugestões, sendo mais vantajosos para aqueles com maior inteligência.

É importante destacar que cada indivíduo possui habilidades e atributos únicos, o que torna certas tarefas mais eficazes quando realizadas por aqueles com talento adequado. Portanto, é fundamental que o jogador saiba alocar seu personagem nas atividades corretas e delegar as demais funções de maneira estratégica.

Tudo o que foi mencionado sobre gerenciamento e combate é apenas a camada mais básica do que Romance of the Three Kingdoms 8 tem a oferecer. Embora muitos dos elementos já estivessem presentes no título original, esta nova versão não apenas aprimorou os gráficos, mas também trouxe uma profundidade significativa ao sistema de relacionamentos e ampliou consideravelmente o número de oficiais, maestrias e táticas militares disponíveis.

Um bom jogo para conhecer a franquia

Embora Romance of the Three Kingdoms 8 Remake continue sendo um jogo complexo, ele oferece uma experiência ligeiramente mais acessível para iniciantes em comparação a outras entradas da série e até mesmo aos games da franquia Nobunaga's Ambition, também desenvolvida por Kou Shibusawa.

Um dos aspectos que torna o título mais convidativo é a já mencionada possibilidade de assumir responsabilidades gradualmente, permitindo que o jogador se familiarize aos poucos com as inúmeras mecânicas envolvidas.

Além disso, o jogo conta com tutoriais mais diretos, que fornecem dicas valiosas à medida que exploramos funções pela primeira vez. É importante ressaltar que também existem guias maiores e mais detalhados que podem ser acessados a qualquer momento, embora eles possam ser um pouco maçantes de ler.

Contudo, o ponto que mais contribui para essa razoável acessibilidade é o sistema chamado Tales. Com ele, temos uma grande lista de eventos, históricos ou não, com indicações das condições necessárias para ativá-los e suas consequências.

Graças a essa mecânica, um jogador que não tem certeza de como prosseguir pode sempre encontrar um objetivo a seguir, uma vez que o Tales oferece uma variedade de finais. Infelizmente, o título não conta com legendas em português, o que certamente representa uma grande barreira, já que a leitura é indispensável durante toda a experiência.

Outro aspecto que vale ser mencionado é que essa entrada oferece inúmeras opções para modificarmos a jogabilidade. Sendo assim, podemos permitir ou não a ocorrência de eventos históricos, criar e personalizar as habilidades dos oficiais, além de ajustar os níveis de dificuldade e a frequência de desastres.

Para finalizar, é importante ressaltar que, embora Romance of the Three Kingdoms 8 Remake seja mais acessível para iniciantes, ele não apresenta tantos elementos políticos quanto outros jogos de estratégia, o que pode acabar frustrando um pouco os entusiastas mais fervorosos do gênero. Aqui, o foco está muito mais no desenvolvimento individual de um personagem do que propriamente na construção e gestão de um reino.

Adentrar o período dos Três Reinos é incrivelmente divertido, mas requer muita dedicação

Romance of the Three Kingdoms 8 Remake é uma excelente adição à série, trazendo inovações que certamente agradarão aos veteranos, ao mesmo tempo em que se destaca como um dos títulos mais acessíveis para novatos. No entanto, embora o foco esteja mais no desenvolvimento individual de personagens do que na gestão de um império, o jogo ainda conta com uma complexidade de sistemas que demandará um considerável investimento de tempo para que tudo comece a fazer sentido.

Prós

  • É ambientado em um momento fascinante da história chinesa e fornece informações relevantes sobre esse período, apresentando personagens e eventos reais;
  • O remake traz novidades suficientes para entregar uma nova experiência aos veteranos do título original, incluindo visuais aprimorados, maior profundidade nos sistemas de relacionamentos e um aumento significativo de oficiais e táticas disponíveis;
  • A liberdade para escolher entre os inúmeros indivíduos de diferentes patentes e os diversos períodos nos proporciona muitas formas distintas de jogar;
  • Graças aos tutoriais mais diretos e à curva de aprendizado mais suave para quem assume o papel de um indivíduo que possui menos responsabilidades, trata-se de uma das melhores portas de entrada para as franquias de estratégia de Kou Shibusawa.

Contras

  • Mesmo sendo mais acessível, ainda exige um investimento de tempo considerável para dominar todas as mecânicas;
  • O foco maior no desenvolvimento individual de personagens pode frustrar jogadores que preferem uma gestão política mais ampla e complexa;
  • Ausência de legendas em português.
Romance of the Three Kingdoms 8 Remake — PC/PS4/PS5/Switch —  Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Koei Tecmo

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