Análise: Reynatis nos leva a uma Shibuya repleta de magia

Embora o título FuRyu falhe em muitos aspectos relacionados à exploração, há bastante valor em seu sistema de combate.

em 17/10/2024
Desenvolvido pela FuRyu e publicado pela NIS America, Reynatis é um RPG de ação que apresenta conceitos interessantes, especialmente no que diz respeito ao seu combate ágil. No entanto, o jogo também revela algumas falhas que afetam o ritmo da narrativa e a jogabilidade, limitando a qualidade da experiência e exigindo uma dose extra de paciência do jogador.

Magos em posições distintas

A trama de Reynatis se desenrola em Shibuya, trazendo um universo em que indivíduos conhecidos como Wizards possuem a habilidade de manipular magia. Nesse cenário, testemunhamos um embate constante entre duas organizações: a Guild, que luta pela liberdade no uso desse poder, e a Magic Enforcement Agency (M.E.A), uma força policial que combate o uso "ilegal" desse dom.

O protagonismo é compartilhado entre dois magos de origens sociais distintas: Sari Nishijima, uma mulher movida por um forte senso de justiça, que decide empregar seu poder para manter a ordem; e Marin Kirizumi, um jovem que busca se tornar mais forte para conquistar uma suposta verdadeira liberdade.

A campanha é dividida em algumas dezenas de capítulos curtos, inicialmente alternando entre o comando dos dois protagonistas, sendo que cada um é acompanhado por outros dois aliados. À medida que a história avança, esses grupos se unem, mergulhando em um conflito maior que gira em torno da produção de uma droga capaz de despertar poderes em pessoas comuns.

No geral, a narrativa de Reynatis possui conceitos interessantes e aborda alguns temas relevantes, como vícios, minorias e opressão. Além disso, alguns personagens são bastante carismáticos, apresentando interações agradáveis que são intensificadas pela ótima dublagem em japonês (incluindo algumas performances propositalmente caricatas).

Entretanto, o jogo frequentemente apresenta um ritmo apressado, não conferindo o peso necessário a muitas situações dramáticas. Um exemplo disso ocorre logo no início, quando um dos aliados de Sari é forçado a matar um amigo de longa data que perdeu o controle, uma cena apresentada de forma rápida e sem impacto. Outro ponto negativo é a ausência de legendas em português, o que naturalmente limita o acesso à obra.

Explorando Shibuya 

Em Reynatis, Shibuya é composta por diversas áreas abertas interconectadas, e assumimos o controle dos personagens em uma perspectiva 3D em terceira pessoa. Infelizmente, os visuais vibrantes do centro urbano são subaproveitados, pois não há locais internos ou elementos interativos, exceto NPCs, máquinas de venda e comércios dos quais só se pode comprar pelo lado de fora.

Além do famoso centro comercial, nos aventuramos por algumas masmorras mais lineares, acessíveis através de portais espalhados em vários pontos de Shibuya. Embora essas dungeons não estejam entre os aspectos que mais me incomodaram, elas podem desapontar jogadores mais exigentes devido à falta de variações no design.

Uma das maiores identidades de Reynatis é o seu sistema de Supression (supressão) e de Liberation (liberação). Enquanto na supressão os magos escondem seus poderes para navegar pelas ruas e interagir normalmente com os humanos, na liberação eles revelam sua verdadeira forma, que é indispensável para combater os adversários.

Durante os primeiros capítulos, quando as equipes ainda estão separadas, Sari pode alternar livremente entre os dois modos sem consequências, já que faz parte do grupo legitimado a usar os poderes. Por outro lado, ao liberar seu poder, Marin atrai a atenção das pessoas, que começam a comentar e postar sobre ele nas redes sociais, resultando em perseguições por parte das autoridades.

Embora esse conceito seja interessante em teoria, na prática, ele não possui muita função. Isso porque ser capturado não resulta em penalidades além de um simples game over (ocasionado pelo fato de os policiais serem extremamente poderosos), e para zerar completamente o contador de procurado, basta utilizar a viagem rápida ou caminhar até a próxima área.

Outra maneira de reduzir esse medidor é se escondendo em locais específicos, que, em vez de se apresentarem como verdadeiros pontos cegos, são ambientes claramente visíveis. Assim, essa fuga acaba funcionando mesmo quando aqueles que nos denunciaram estão apenas a dois metros de distância e ainda nos vendo.

O principal problema relacionado a essa perseguição é que, em diversas quests secundárias, precisamos derrotar adversários antes de dialogar com algum indivíduo. Por essa condição sempre se ativar quando entramos em modo de combate, somos constantemente forçados a mudar de área antes de retornar ao objetivo para dar continuidade à tarefa, o que só serve para atrasar a nossa progressão.

Um aspecto interessante relacionado à exploração é a existência de Wizarts, que são grafites espalhados pelas ruas de Shibuya. Interagir com esses elementos desbloqueia novas opções de habilidades ofensivas e talentos passivos. No entanto, muitas das Wizarts exigem um nível específico de malícia para serem coletadas, um medidor que se inicia cheio e diminui conforme cumprimos as missões alternativas.

Além de gerarem certa variedade ao sistema de combate e permitirem um pouco de personalização dos heróis, essas artes nos incentivam a explorar o mundo e a cumprir as subquests. Infelizmente, embora algumas forneçam contexto sobre o universo, grande parte dessas tarefas são repetitivas e não justificam sua existência para além do simples preenchimento de conteúdo. Vale destacar que, geralmente, essas missões são curtas e envolvem apenas derrotar inimigos.

A esquiva é fundamental

Apesar de a mecânica de Supression e Liberation não ser tão efetiva nos momentos de exploração, ela concede muito valor aos confrontos. No modo liberação, somos capazes de realizar ataques normais que desencadeiam combos e utilizar duas habilidades especiais, sendo que todas as ações consomem MP. 

Por sua vez, a liberação é utilizada para esquiva, sendo que cada golpe evitado carrega um pouco de MP. Também temos um tipo de desvio especial, no qual precisamos pressionar o botão quando uma espécie de círculo se preenche, o que ocasiona um contra-ataque e restaura uma quantidade maior da barra de magia.

Ainda que o conceito geral de gameplay seja uniforme para todos os indivíduos, cada um deles conta com estilos que são diferentes o suficiente para nos incentivar a realizar alterações na equipe durante a campanha. O fato de os três aliados da reserva também receberem experiência com o fim dos confrontos reforça essa ideia.

Para exemplificar, enquanto Sari e Marin realizam golpes de curto alcance extremamente ágeis com suas lâminas, Kiichiro Ukai ataca de longe com suas pistolas. Por sua vez, Nika Meguro consegue invocar serpentes mágicas que acertam os inimigos a longa distância, ao passo que Moa Fukamachi desfere ataques mais lentos e pesados com uma espécie de marreta. 

Alternar entre os personagens e mesclar ataques com esquivas acaba sendo uma experiência bem dinâmica e divertida. Não chega a ser tão profundo ao ponto das ações de um indivíduo influenciarem completamente as de outro, mas é possível emendar alguns combos simples entre os diferentes heróis.

Outro aspecto interessante relacionado ao combate é o sistema de estresse, que aumenta ao conversarmos com NPCs. Embora seja uma mecânica que pode passar completamente despercebida, ela influencia as lutas, pois altos níveis de estresse aumentam o ataque e diminuem a defesa dos nossos heróis.

O grande problema relacionado aos combates é a câmera. Embora ela consiga acompanhar a agilidade dos bonecos na maioria dos casos, em regiões mais estreitas, como becos e estações, ela acaba travando em paredes. Isso não apenas ofusca a nossa visão geral do que está ocorrendo, como também atrapalha a mecânica de parry, impedindo a visualização completa do preenchimento do círculo.

Outro ponto incômodo é que as batalhas opcionais, que se iniciam ao nos aproximarmos de viciados em Shibuya ou de pontos específicos nas masmorras, se encerram abruptamente quando saímos dos limites da arena, que não é claramente demarcada. Essa situação ocorre com frequência e sem a nossa intenção, devido aos saltos e piruetas que os personagens realizam durante os ataques.

Um RPG interessante e problemático

Devido à soma de diversas pequenas falhas, especialmente nas áreas relacionadas à exploração, Reynatis acaba tendo boa parte do seu potencial prejudicado e entregando uma experiência cheia de altos e baixos. No entanto, aqueles que tiverem paciência para relevar esses percalços encontrarão um RPG de ação que, embora não se destaque entre os melhores do gênero, oferece personagens cativantes e um sistema de combate agradável.

Prós

  • A despeito da falta de impacto nos momentos dramáticos, a história possui conceitos interessantes e aborda temas pertinentes;
  • Alguns dos personagens são bastante carismáticos e possuem boas interações entre si, o que é ainda mais intensificado pela boa dublagem em japonês;
  • O sistema de combate é divertido e dinâmico, incentivando a mescla entre golpes e esquivas, além de permitir trocas estratégicas entre os diferentes personagens;
  • As Wizarts não apenas agregam variedade ao sistema de combate e permitem uma leve personalização dos personagens, mas também estimulam a exploração de Shibuya e o cumprimento de missões alternativas.

Contras

  • Muitas situações dramáticas não recebem o desenvolvimento e peso necessário, o que dificulta a imersão e o envolvimento emocional com a narrativa;
  • A escassez de locais internos e a falta de elementos interativos em Shibuya, combinadas com o design pouco variado das masmorras, resultam em uma experiência de exploração rasa e repetitiva;
  • Embora o conceito seja interessante, a mecânica de supressão e liberação não contribui positivamente para a exploração e apenas atrasa o progresso nas quests alternativas;
  • Apesar de algumas missões secundárias ajudarem com a construção de mundo, muitas delas são repetitivas e não justificam sua existência para além de um mero preenchimento de conteúdo;
  • A câmera problemática em locais estreitos e as fugas não intencionais ocasionadas pelos movimentos dos personagens e pela delimitação confusa da arena prejudicam a experiência de combate;
  • Ausência de legendas em português.
Reynatis — PC/PS4/PS5/Switch —  Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America

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