Análise: Unknown 9: Awakening entrega uma boa aventura dentro de um jogo medíocre

Apesar de trazer uma história interessante, como jogo ele não consegue ser cativante ou minimamente memorável.

em 19/10/2024
Revelado pela primeira vez em meados de 2020, Unknown 9: Awakening é uma aventura desenvolvida pelo estúdio canadense Reflector. No mesmo ano, o estúdio foi adquirido pela divisão europeia da Bandai Namco Entertainment, e desde então o projeto passou por um período de ostracismo, caindo no esquecimento até ressurgir com um trailer de gameplay em março deste ano.

Após anos de desenvolvimento, o título finalmente saiu do papel e tivemos a oportunidade de jogá-lo para descobrir se esse tempo de espera valeu a pena. Hora de conferir o resultado na nossa análise de hoje.

Uma peça de um universo multimidiático

Antes de falar sobre o jogo, é importante mencionar que Awakening faz parte de um universo maior chamado Unknown 9. Na mitologia desse mundo, acredita-se que suas origens estão ligadas a entidades conhecidas como Os Nove Desconhecidos.

Nesse universo, as pessoas que conhecem essas origens ocultas lidam com forças e conhecimentos além da compreensão humana. A história foca frequentemente na busca pela verdade e no impacto que isso pode ter sobre a sociedade, com personagens que costumam se deparar com segredos que podem mudar o mundo ou condená-lo, dependendo de quem detém esse poder.
O universo de Unknown 9 se expande em diversos meios, como quadrinhos, livros e podcasts.
Atualmente, o universo de Unknown 9 se desdobra em histórias independentes, mas interligadas por essa mitologia por meio de livros, quadrinhos, podcasts e o jogo desta análise. Atualmente, novos conteúdos estão sendo desenvolvidos para expandir ainda mais a narrativa geral de Unknown 9.

Em Awakening, acompanhamos Haroona, uma jovem de origem indiana que descobre ser capaz de interagir com uma dimensão etérea chamada Umbral, elemento central para o conhecimento dos Desconhecidos e alvo de sociedades secretas com interesses variados. Essas sociedades buscam esse conhecimento para mudar o curso da história da humanidade ou protegê-lo de quem deseja controlá-lo.

Entre os que defendem os segredos do Umbral está a Leap Year Society, uma antiga sociedade secreta cuja missão é explorar e controlar esse conhecimento oculto. Seus membros são alguns dos poucos que conhecem os mistérios do Umbral e tentam proteger ou dominar esse poder.

Em oposição, estão os Ascendentes, uma facção misteriosa composta por indivíduos que dominam o conhecimento do Umbral. Diferente dos Quaestors e dos membros da Leap Year Society, que estão apenas começando a descobrir suas habilidades e usando-as para o bem, os Ascendentes já dominam os segredos desse reino oculto, utilizando-os para alcançar seus próprios objetivos, muitas vezes egoístas ou sombrios.

No jogo, assumimos o papel de Haroona, uma Quaestor, alguém que tem uma ligação mais íntima com o Umbral e é capaz de usar habilidades oriundas desta dimensão para interagir com nosso mundo. No jogo, ela é interpretada pela atriz britânica Anya Chalotra, conhecida por interpretar a feiticeira Yennefer de Vengerberg na série The Witcher, da Netflix.


Após um trágico encontro com o líder dos Ascendentes em uma missão, ela testemunha a morte de sua mentora, Reika. Quatro anos depois, Haroona aperfeiçoou suas habilidades e está em busca de vingança contra Vincent, o líder dos Ascendentes e assassino de Reika. Em sua jornada, ela se vê no centro de uma conspiração que envolve a Leap Year Society e os Ascendentes, com potencial para mudar o destino da humanidade.

Dominando o Umbral

Unknown 9: Awakening é um jogo de ação e aventura em terceira pessoa, em que controlamos Haroona em sua missão para impedir que os Ascendentes obtenham o conhecimento do Umbral, o que lhes permitiria moldar o mundo a seu bel-prazer.


Haroona utiliza suas habilidades etéreas tanto em combate quanto em ações furtivas, interferindo diretamente nas operações dos Ascendentes. Com técnicas sobrenaturais, ela pode acionar mecanismos que funcionam como armadilhas e surpreender os inimigos, permitindo abatê-los instantaneamente, além de usar essa vantagem em combates corpo a corpo.

Sua conexão com o Umbral concede a ela habilidades especiais, como invisibilidade, percepção de objetos e inimigos fora da nossa realidade, e até a capacidade de possuir corpos por curtos períodos, usando-os a seu favor. Quando possível, Haroona pode possuir temporariamente o corpo de um inimigo, utilizando-o para acessar áreas protegidas ou para atacar outros adversários, criando caos e favorecendo sua estratégia.


Ao longo da jornada, Haroona pode encontrar fragmentos que aumentam seus medidores de vida e Am, a energia espiritual usada para acessar as habilidades do Umbral. Além disso, pontos de Gnose espalhados pelos cenários servem como pontos de habilidade, permitindo desbloquear novas técnicas e aprimorá-las, aumentando sua capacidade de combate contra os Ascendentes.

Quando a aventura é boa, mas a experiência nem tanto

O longo tempo de desenvolvimento de Unknown 9: Awakening parece ter impactado a forma como a Reflector estruturou a experiência do jogo. Embora a aventura em si tenha um resultado positivo, na minha opinião, com uma clássica jornada do herói — uma jovem guiada pela mentora que descobre ser capaz de realizar grandes feitos para o bem maior —, essa narrativa, mesmo que previsível para os padrões atuais, funciona bem no roteiro de Awakening.

Os personagens são bem desenvolvidos, com destaque para Luther Goodwin, membro da Leap Year Society e principal parceiro de Haroona, que consegue cativar o jogador com seu jeito canastrão. A ambientação, com uma estética dos anos 1930 ou 1940, também ajuda a criar um clima mais clássico e imersivo.


No entanto, como jogo, Awakening parece ter se inspirado em títulos de gerações passadas, como os da era do PS3 e do Xbox 360, tanto nas mecânicas quanto nos visuais e desempenho, abrindo mão de inovar de alguma forma. Isso é algo que eu não esperava encontrar em 2024, com a atual geração de consoles prestes a completar quatro anos.

Não consigo afirmar com certeza o que levou ao desempenho questionável no PlayStation 5, onde joguei. Minha hipótese é que a equipe da Reflector encontrou dificuldades no desenvolvimento usando a Unreal Engine. No entanto, acredito que o jogo tenha sido, em grande parte, desenvolvido pensando na geração anterior (PS4/Xbox One) e, posteriormente, portado para os consoles atuais.


Além do desempenho fraco, o jogo não oferece opções de modos gráficos ou desempenho no PS5. Os modelos de personagens são outro ponto fraco, com expressões faciais mal feitas e dessincronizadas, especialmente durante os diálogos. A atriz Anya Chalotra, que interpreta Haroona, apesar de competente, não se parece com a personagem, evidenciando ainda mais a falta de qualidade no design visual. Há outros no elenco que conseguem ser mais convincentes que a própria protagonista, que é uma atriz real e conhecida.

Essa qualidade inconsistente também se estende aos combates. A câmera e os efeitos visuais das habilidades de Haroona deixam a desejar, reforçando ainda mais a sensação de estar jogando um título da geração do PS3. O gameplay, por sua vez, é desajeitado, com golpes que erram sozinhos e animações mal executadas.

Se você gosta de uma boa aventura com um toque mais clássico, Unknown 9: Awakening pode ser uma boa escolha para um fim de semana de jogatina. Porém, para aproveitar a história, será preciso tolerar um jogo com aparência antiquada, gameplay pouco refinado e, em geral, uma apresentação visual decepcionante.

Um filme ou série de TV seria melhor (ou não)

Unknown 9: Awakening é um jogo que traz uma narrativa interessante em um universo multimidiático rico, misterioso e promissor, mas que sofre com problemas técnicos que impactam a experiência geral. A história é envolvente e os personagens, especialmente a química entre Haroona e Luther Goodwin, conseguem até cativar um pouco, proporcionando momentos interessantes e até divertidos ao longo da aventura.

No entanto, o jogo é prejudicado por seu desempenho inconsistente, gráficos ultrapassados e gameplay desajeitado, características que destoam da expectativa para um título lançado na atual geração de consoles. Não que eu estivesse pedindo por algo impecável, mas ficou claro que a qualidade geral do título ficou bastante prejudicada no fim das contas, visto o que foi apresentado ao longo de 2024 após anos de desenvolvimento sem nenhuma atualização pública do projeto.

Para quem aprecia uma narrativa com uma pegada clássica, Awakening pode oferecer algumas horas de diversão. Contudo, será necessário lidar com uma série de limitações que fazem o jogo parecer datado, tanto visualmente quanto em termos de jogabilidade. No fim, Unknown 9: Awakening entrega um enredo promissor e que enriquece a mitologia multimidiática a que pertence. Mas como jogo, ele fica bem aquém do esperado.

Prós

  • O universo de Unknown 9 é fascinante, com uma mitologia intrigante e a história de Awakening conseguindo ser convincente;
  • A estética inspirada nas décadas de 1930 e 1940 adiciona charme e um ar de clássico à narrativa de aventura.

Contras

  • Performance questionável no PlayStation 5, com a ausência de modos gráficos ou de desempenho para selecionar e quedas na taxa de quadros, tornam a experiência desagradável para os padrões atuais;
  • Modelos e animações de baixa qualidade prejudicam a experiência, especialmente durante as cutscenes;
  • O combate é impreciso, com uma câmera problemática e habilidades especiais que não impressionam visualmente;
  • O jogo parece datado em termos gráficos, com uma apresentação que remete a títulos de gerações passadas.
Unknown 9: Awakening — PC/PS5/PS4/XSX/XBO — Nota: 5.5
Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco Entertainment

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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