Análise: Mortal Kombat 1: Reina o Kaos entrega uma história fraca num pacote desnecessariamente caro

A segunda parte do “reboot” da violenta saga não resolve os problemas criados pela primeira, trazendo eventos descartáveis.

em 05/10/2024

Seguindo o conceito de lançar uma segunda parte da história, como visto em Mortal Kombat 11: Aftermath, Mortal Kombat 1: Reina o Caos busca expandir o jogo com uma nova narrativa e personagens adicionais, tentando revigorar um título controverso. No entanto, a expansão acaba repetindo os mesmos problemas que afetam a experiência principal em eventos que pouco valem para a nova linha do tempo.

Uma trama deveras kaótica

A trama de Reina o Kaos começa exatamente onde a anterior terminou, com uma invasão liderada por Bi-Han no casamento de seu irmão, Kuai Liang, que o abandonou após o grão-mestre dos Lin Kuei revelar sua verdadeira natureza duvidosa. Acompanhado por Cyrax e Sektor, Bi-Han é subjugado pelos guerreiros de Liu Kang. Durante o confronto, Cyrax descobre as reais intenções de seu líder e decide se voltar contra sua própria linhagem.

Sektor e Sub-Zero são levados a julgamento, mas o evento é interrompido por uma versão titã de Havik, que planeja espalhar o caos por todas as linhas do tempo. Ele sequestra Geras para esse propósito, enquanto Bi-Han, perdendo o controle, vai atrás do vilão, obrigando Scorpion, Cyrax e Sektor a viajarem para a linha do tempo do kaos, na tentativa de resgatar o guardião do tempo e o teimoso líder dos Lin Kuei.

Toda a narrativa de Reina o Kaos se passa nessa dimensão distorcida, governada tiranicamente por Havik, que cria um torneio mortal para entreter diversas versões de si mesmo, espalhadas por várias linhas temporais. Imagine algo similar ao Conselho dos Kang do universo Marvel, só que no mundo de Mortal Kombat.

Embora a história inicialmente pareça focar no drama dos Lin Kuei, especialmente ao envolver Cyrax e Sektor, ela rapidamente se desvia para uma trama isolada. O foco se desloca para Rain e Tanya, que tentam restaurar a ordem após perderem seu império para o Havik titã. Nem a transformação de Bi-Han em Noob Saibot impacta em algo maior, pouco explorando a relação dele com Scorpion.

Havik acaba sendo o catalisador de uma narrativa fraca. Em uma franquia com vilões icônicos como Shao Kahn, Shinnok, Onaga, Shang Tsung e Quan Chi, escolher Havik, um personagem pouco marcante da era 3D, como o principal antagonista simplesmente não funciona. Ele é unidimensional, desejando apenas destruição sem qualquer carisma ou design interessante.

A estrutura da nova campanha também deixa a desejar. A maioria dos kombates envolve enfrentar variações visualmente horrorosas do elenco, que entram e saem da trama sem peso algum, prolongando uma história que dura pouco mais de duas horas. Apenas Rain, Tanya (que se destaca como a personagem mais interessante da linha do tempo do Kaos) e uma versão militar e desinteressante de Johnny Cage recebem algum desenvolvimento significativo.

Finalizei a história principal de MK1 para concluir esta análise, e devo dizer que apreciei bastante a ideia de um recomeço para o universo da franquia. Ver Liu Kang como o deus do Plano Terreno, assumindo a responsabilidade de reescrever o universo, foi uma escolha interessante. Além disso, as ousadias narrativas, como colocar Kuai Liang no papel de Scorpion e transformar Raiden em um campeão, em vez de seu tradicional posto como deus do trovão, trouxeram um frescor intrigante.

No entanto, a armadilha do multiverso destrói o potencial narrativo. Mortal Kombat parece ter medo de seguir em frente, reciclando clichês e fazendo os eventos girarem em círculos para referenciar o passado, em vez de avançar para novos rumos. Sabemos que a era 3D não foi bem-recebida na época, especialmente na história, porém isso provocou uma ferida que parece que nunca será cicatrizada.

O resto da expansão

Além da nova história, Reina o Kaos também introduz três personagens de uma só vez no pacote. Cyrax e Sektor retornam, mas, desta vez, como mulheres e apenas humanas vestindo trajes tecnológicos, em vez de ciborgues. Independentemente da troca de gênero, que pouco impacta esses personagens, achei que o design e os movimentos delas ficaram bem legais, com destaque para Cyrax, cujas mecânicas de setup são bem divertidas de executar.

O terceiro personagem, Noob Saibot, mantém sua fidelidade ao que se espera de um kombatente tão icônico. Com seu clone das sombras, ele se apresenta como um verdadeiro canivete suíço, repleto de movimentos únicos e grande potencial para dominar nas mãos de jogadores experientes. No entanto, em termos de design, ainda prefiro sua versão do título anterior, especialmente em relação à máscara.

A expansão também oferece acesso futuro a mais três personagens convidados: o T-1000, de Exterminador do Futuro; Ghostface, da franquia Pânico; e Conan, o Bárbaro. Apesar de ser uma adição chamativa, o custo da expansão é bastante elevado, saindo por R$229,99 no PC e R$249,90 nos consoles, o que equivale a quase dois terços do valor do jogo-base.

A atualização que acompanha o lançamento de Reina o Kaos traz algumas novidades gratuitas, como novas arenas, o retorno dos Animalities (ausentes desde Mortal Kombat Trilogy), que adicionam um toque de criatividade ao conjunto de Fatalities relativamente fraco do jogo, além de rebalanceamentos e correções de bugs. Nenhuma skin nova ou bônus monetário é ganho com o pacote.

Sem anarquia

Um ano após seu lançamento, MK1 definitivamente não se destaca como um dos títulos mais prestigiados da franquia. A história principal, fraca e sem grandes consequências, o pouco conteúdo, um sistema de cosméticos dependente de obtenção aleatória e atualizações que chegam de forma lenta — como a adição recente das Torres — não agradaram o público, mesmo com uma jogabilidade mais divertida que seu antecessor, graças ao sistema de Parcerias, e com um visual incrivelmente bonito.

É nesse contexto que reside o maior pecado de Mortal Kombat 1: Reina o Kaos. Apesar de trazer mais três personagens e uma nova história, o alto custo da expansão, aliado às correções e novidades que chegam a conta-gotas desde o lançamento incompleto do jogo-base, coloca a atual entrada da série em uma posição delicada. O sistema de recompensas continua inalterado, o modo Invasões permanece lento e enfadonho, e a ausência da Krypta ainda pesa para o conteúdo single player. O Kaos definitivamente não encontrou sua anarquia.

Prós:

  • Três novos personagens de imediato, todos bem interessantes de jogar;
  • A nova campanha, tecnicamente, mantém a tradição de belas CGs, além da excelente dublagem em português;
  • Os Animalities adicionam um toque criativo às finalizações, que estavam pouco inspiradas no jogo.

Contras:

  • Reina o Kaos é, possivelmente, a pior história desde o reboot de 2011;
  • O potencial da trama dos Lin Kuei é desperdiçado em uma narrativa que, se não existisse, faria pouca diferença;
  • Havik é um vilão desinteressante comparado ao panteão de grandes antagonistas da franquia;
  • Poucos dos problemas do jogo original foram resolvidos com a nova atualização;
  • O preço elevado não justifica o conteúdo apresentado.
Mortal Kombat 1: Reina o Kaos — PC/PS5/XSX/Switch — Nota: 5.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela WB Games

Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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