Análise: Master Detective Archives: RAIN CODE Plus: casos insanos em uma cidade de chuva sem fim

A aventura da equipe de Danganronpa deixa a exclusividade da Nintendo em sua edição Plus.

em 09/10/2024
Originalmente desenvolvido para Switch, o mais recente jogo da equipe de Danganronpa chega ao PC, PlayStation 5 e Xbox Series X|S como Master Detective Archives: RAIN CODE Plus. A nova edição permite que mais jogadores conheçam a aventura estilosa criada em uma parceria entre a Too Kyo Games e a Spike Chunsoft, mas também traz algumas pequenas melhorias.

Um mundo de mistérios sem solução

Rain Code conta a história de Yuma Kokohead, um jovem rapaz que acorda sem memórias em uma estação de trem. Ele logo descobre que deve ir ao Kanai Ward a mando de uma organização de detetives, mas tudo está muito nebuloso em sua cabeça.

Como uma aventura de detetives, não demora muito para que casos bizarros envolvendo mortes surjam. Agora será necessário revirar tudo em nome da justiça.

Em termos da ambientação geral, temos alguns detalhes instigantes: a organização mundial de detetives e os poderes especiais de cada um (Fortes). Porém, de forma mais específica, Kanai Ward também conta com peculiaridades notáveis, especialmente a chuva que nunca deu trégua em três anos.
Apesar disso, vale a pena destacar que infelizmente os personagens são bem desinteressantes no geral e boa parte desses elementos (assim como as mecânicas) acabam soando como um reuso de Danganronpa. Não acho que esse segundo ponto chega a ferir a obra de forma geral, mas o primeiro acaba impactando consideravelmente a experiência.

Como uma obra com grande foco em narrativa, o jogo tenta dar um tempo maior de tela para algumas discussões mundanas. Porém, em vez de ajudar a desenvolver um lado mais humano deles, essas falas são apenas desinteressantes e muitas vezes redundantes com trechos já explicados.

Já em termos gráficos, não tenho nada a reclamar do visual dos personagens, que é bastante estiloso e ainda consegue se diferenciar satisfatoriamente de Danganronpa. Esse aspecto é muito bem-executado também na ótima ambientação noir, que abusa do contexto de chuva eterna, um trope do gênero.

Mistérios e labirintos

Apesar da crítica aos personagens, o principal elemento do jogo são os mistérios e eles são exatamente como deveriam: recheados de reviravoltas rocambolescas. Entender como os casos funcionam é bastante divertido e aos poucos a obra vai questionando o papel do detetive dentro da trama.

De forma geral, Rain Code pode ser dividido em dois momentos: a exploração do mundo real e os “labirintos do mistério”. Interagimos com pessoas, buscamos pistas, e até resolvemos casos secundários de pouco desafio visitando as várias áreas de Kanai Ward. Nesses momentos, também podemos encontrar cenas adicionais de Yuma com outros detetives da organização da qual faz parte.
 
Já os labirintos do mistério só são evocados para a resolução do grande caso do capítulo. Neles, Yuma tem a ajuda de sua parceira Shinigami-chan em forma humana para deixar claras quais são as dúvidas que precisam ser resolvidas para desvendar toda a verdade por trás de um caso.

Assim como nos julgamentos de Danganronpa, a descoberta de mais informações é tratada como um processo ativo, recheado de minigames e desafios. Em momentos mais simples, pode bastar apenas escolher uma porta com a resposta de uma pergunta estampada nela. Em outras, pode ser necessário fazer algo similar, mas com timing, adicionando uma camada extra de dificuldade.
 
Na maior parte das vezes, a ideia é enfrentar os argumentos de um vilão criado pelo labirinto para manifestar detratores da descoberta da verdade. Essas versões fantasmas de antagonistas atiram palavras no jogador, que deve desviar delas ou repelir/quebrar um argumento com sua “lâmina da verdade”.
 
Ainda temos uma espécie de pula-pirata que funciona como se fosse uma nova variação do Hangman’s Gambit de Danganronpa. A ideia é atirar facas nas letras corretas para montar as palavras que completam as frases de dúvida.
 
Infelizmente, no meio do caminho entre esses desafios, temos longas e monótonas caminhadas por corredores extensos. A repetição desses trechos chega a se tornar enfadonha rapidamente e continua atrapalhando o jogo até o último capítulo.
 
O que piora a situação é que vários desses trechos de movimentação não têm skip. Na prática, essa opção também não funciona adequadamente em algumas cenas de diálogo que não usam caixa de texto, pois elas apenas eliminam as vozes e ainda demoram a passar de uma fala para a próxima.
 
O último ponto que tenho a reclamar é que os subcapítulos adicionais, que eram DLC no Switch, agregam muito pouco à experiência. Um deles até tem spoilers para um evento próximo do final, mas fica a sensação de que dava para fazer casos que realmente explorassem as habilidades únicas de cada detetive em vez de parecer um conteúdo descartável.

Além da chuva

Apesar das frustrantes falhas em desenvolvimento de personagens e no tédio dos longos corredores vazios pouco aproveitados, Master Detective Archives: RAIN CODE Plus é um jogo de aventura de alto nível. Os seus mistérios empolgantes cheios de reviravoltas são curiosos o suficiente para valer o investimento, assim como a recompensadora sensação de agência durante a exploração dos labirintos.

Prós

  • Os crimes de cada capítulo são empolgantes em suas várias reviravoltas;
  • O design de personagens e ambientes é bastante vistoso;
  • As mecânicas de “combate” com diálogos e minigames lógicos são divertidas formas de dar mais agência ao jogador na resolução dos casos.

Contras

  • Muitas áreas com corredores desnecessariamente longos nos labirintos;
  • Uma grande parte dos diálogos é desinteressante, redundante e nem sequer ajuda a dar camadas extras de humanidade aos personagens;
  • Alguns trechos de exploração, animações e cenas de diálogo sem caixas de texto não têm skip adequado ou apenas fingem acelerar, mas continuam progredindo lentamente;
  • Os extras, que eram DLCs no Switch, são uma oportunidade desperdiçada.
Master Detective Archives: RAIN CODE Plus — PC/PS5/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Spike Chunsoft

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.