Análise: Harry Potter: Campeões do Quadribol é uma poção polissuco: belo, mas por pouco tempo

Ainda que essencialmente sólido e agradável, por diversas razões a experiência tende a ficar cada vez menos interessante com o tempo.

em 03/10/2024

São muitas as marcas e séries que contam com uma legião de fãs ávidos por novos lançamentos. Algumas delas, inclusive, estendem-se por vários tipos de mídias, visto que seu público quer consumir o máximo possível de produtos. Harry Potter: Campeões do Quadribol é o mais novo game da famosa franquia de magia e bruxaria, trazendo toda a emoção do esporte mais popular do seu universo.

Como será que o novo título adaptou essa modalidade que conta com vassouras, bastões, balaços e pomos? Não importa qual casa o chapéu seletor te colocou: pegue sua coruja, equipe alguma relíquia da morte e não esqueça do pacote com feijões de todos os sabores, pois a nossa análise vai começar voando!

É uma Nimbus 2000!

Lançado em 3 de setembro de 2024, o game chegou para todos os consoles das gerações atual e anterior, além do PC e do Switch (cuja versão chega em 8 de novembro). A proposta do título, como o próprio nome dele sugere, é simples: entrar para o mundo das partidas de quadribol, esporte favorito dos bruxos e criaturas mágicas do mundo de Harry Potter.
Para quem não conhece a modalidade, uma rápida explicação: duas equipes de feiticeiros se enfrentam em uma arena com o objetivo de marcar o máximo possível de pontos antes do final da partida. Portando suas vassouras voadoras, os jogadores precisam desviar de ataques, marcar gols e capturar o desejado pomo dourado.
Campeões de Quadribol adapta essa curiosa modalidade para os videogames, fazendo algumas modificações para melhorar a fluidez da partida. Por exemplo, o número de jogadores passou de sete para seis, enquanto a importância do pomo de ouro foi reduzida. Originalmente, ele garantia 150 pontos e o final da partida; agora, vale 30 pontos e a partida continua até o final de 10 minutos ou de um time marcar 100 pontos.
Quem está familiarizado com o universo de Harry Potter vai pegar rapidamente a ideia, tornando a jogatina interessante. Afinal, não é sempre que podemos praticar um esporte que trouxe tantas emoções para os fãs da franquia. Visualmente, o game é agradável, com uma pegada mais cartunesca de rostos claramente inspirados nos atores dos filmes. Inclusive, é possível customizar todos os jogadores do time.

Treinando para o balé, Potter?

Aliás, menus, músicas, itens, arenas e cenários... tudo é claramente inspirado na série de oito filmes, por sua vez adaptada da série de livros. Quem curte essa marca de fama mundial vai encontrar muitas referências e detalhes, pois cada cantinho remete com carinho à obra de JK Rowling. Obviamente, nada disso valeria se as partidas em si não fossem divertidas.
Nesse quesito, Harry Potter: Campeões do Quadribol faz um trabalho positivo, ainda que com uma ressalva. O time de seis jogadores é dividido da seguinte forma: três artilheiros, que buscam marcar pontos acertando um de três altos aros; um batedor, cuja tarefa é atrapalhar os adversários; um apanhador, focado em pegar o pomo de ouro; um goleiro, que precisa defender os três aros do seu time.
Qualquer que seja o tipo de jogador, controlar a vassoura e realizar os diversos papéis durante a partida é divertido, com um nível adequado de desafio. Digo isso porque tudo pode parecer fácil num primeiro momento, porém logo fica claro que dirigir em alta velocidade, desviando de ataques sem perder os colegas de vista, pode ser complicado. Apesar da abrangência da franquia para todos os públicos, este game não é muito acessível se jogado num nível ainda que minimamente competitivo
Um robusto tutorial ajuda a entender as mecânicas básicas, tanto do esporte em si quanto da jogabilidade do game. Ainda assim, algumas ações durante as partidas carecem de habilidade e bons reflexos, sobretudo contra outros jogadores humanos. Reforço que mecânicas como derrapadas, arremessos, habilidades e turbos funcionam bem, só são exigentes.
Jogar como batedor para nocautear adversários é tão divertido quanto receber um belo passe para marcar um gol como artilheiro. Caçar o pomo antes do time oponente também é um ótimo desafio e, mesmo sendo a tarefa mais chatinha, até mesmo atuar como goleiro pode ser legal. Nesse sentido, jogar com os amigos – somente no modo online – é uma ótima pedida para incrementar as partidas; sempre consegui montar uma sala de jogo sem maiores demoras ou travamentos.

Menos cinco pontos para Grifinória

Falando agora em termos de atividades para jogar em Harry Potter: Campeões do Quadribol, infelizmente as coisas ficam menos interessantes. Não existe um modo história, somente uma espécie de campanha para um jogador. Ela é um pouco curta, contando com torneios que trazem várias referências à franquia, como a Copa Tribruxo; o foco real do game são as partidas online entre jogadores.
Mesmo nesse quesito, faltou um pouco mais de fanfarra para as disputas, justificando a dedicação. Ou seja, recompensas mais vistosas, maior variedade nos desafios, minigames, etc. Também me parece que a ausência de um enredo, mesmo que simples – sei lá, um comensal da morte desgarrado poderia ter criado um torneio das trevas para decidir o futuro do mundo bruxo –, diminui o interesse por continuar jogando, sobretudo sozinho.
Claro, existem itens para liberar, colecionar e equipar. Todos os liberáveis do jogo podem ser obtidos apenas jogando – seja por meio de compras no mercado, por cumprir desafios ou pelo passe de temporada –, pois o game pago não tem microtransações. Isso é um ponto bem positivo, visto que tantos outros títulos cobram preços altos e, ainda assim, trazem mais e mais compras extras.
 
O problema é que nenhuma dessas recompensas é muito excitante; inclusive, muitas delas exigem várias horas de jogo para serem obtidas. Salvo fãs incondicionais, a maioria dos jogadores não vai se interessar por um personagem menos famoso ou uma skin mais obscura. Restam as partidas online, que funcionam razoavelmente bem, embora ainda precisem de balanceamento (algo próprio de jogos novos). Elas colocam até 3v3, com a possibilidade de trocar de papéis no time durante as disputas.
Por fim, deixo uma reflexão que me ocorreu durante minhas horas de jogo: o quadribol, ainda que com papel relativamente relevante nos filmes e livros, é uma parte secundária do mundo bruxo. Mesmo Hogwarts Legacy, um game com grande imersão no universo de Harry Potter, não trouxe essa modalidade. Existe pouca exposição do esporte na obra, que traz um número reduzido de personagens e elementos marcantes às partidas.
 
Não digo que o game desta análise não devesse ter existido, pois a premissa de jogar bola com vassouras voadoras sempre será legal. O ponto é que o jogo ousou pouco, talvez por precisar/querer ser fiel à obra original (ou por medo de deixar os fãs descontentes). Em tempos de muitos lançamentos de qualidade, alguns deles gratuitos, é preciso mais para conquistar espaço no coração (na carteira e no disco rígido) dos jogadores, ainda mais quem não for um fã ardoroso da franquia.

Malfeito, feito!

No papel, Harry Potter: Campeões do Quadribol parecia uma ótima ideia. Na prática, é apenas boa: por um lado, temos uma produção caprichada, muitas referências à franquia e uma jogabilidade robusta; por outro, a quantidade de coisas diferentes a fazer é pequena, bem como as recompensas por continuar jogando. Salvo que o game receba futuras atualizações interessantes, fica a recomendação apenas para fãs ardorosos da série ou quem realmente curtiu a ideia de jogar bola com vassouras.

Prós

  • Esporte principal da série Harry Potter é adaptado de maneira competente e divertida;
  • Ótimo uso da marca na produção geral do jogo, incluindo personagens, cenários e itens;
  • Jogabilidade robusta e com vários recursos para tornar as partidas emocionantes;
  • Muitas referências legais para os fãs de Harry Potter;
  • Ausência de microtransações torna mais justa a obtenção de recursos para comprar e customizar itens.

Contras

  • Proposta básica não prende por mais que algumas horas devido a diversos fatores, como falta de um modo história interessante, ausência de variações na jogabilidade ou minigames, além do quadribol ser intrinsecamente secundário na série Harry Potter;
  • Jogabilidade fica num meio termo estranho entre acessível e complicada, o que pode reduzir o público que poderia aproveitar o game.
Harry Potter: Campeões do Quadribol — PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 7.0
Console utilizado para avaliação: PS5
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital obtida pelo redator

é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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