Análise: Card-en-Ciel tem produção modesta, mas acerta com seu jogo de cartas viciante

Mesmo não sendo devidamente apresentado, as mecânicas do deckbuilder são legais, bem como as temáticas usadas nas cartas.

em 21/10/2024

Jogos de cartas, videogames e animes são ótimos tipos de passatempo. Mas e se os três forem misturados em uma só produção? Card-en-Ciel é um novo título que traz um divertido e original deckbuilder, com direito a uma apresentação no melhor estilo dos desenhos japoneses. Prepare o seu baralho e ponha seu óculos de realidade virtual, pois a análise vai começar!

Mundos virtuais

Situado em algum momento do futuro, Card-en-Ciel tem um mundo onde jogos de realidade virtual são completamente imersivos. Um desses games, Rust Tactics, sofre um mal funcionamento, de forma que Ancie, uma das desenvolvedoras do jogo, precise recorrer ao famoso hacker e detetive Neon para investigar o caso. Para lidar com bugs e mods perigosos, a dupla faz uso de um baralho com cartas especiais.
O competitivo e inteligente protagonista
Essas cartas, inclusive, são baseadas em outros games, sejam eles fictícios – criados somente para Card-en-Ciel – ou reais. Por exemplo, nomes conhecidos como Azure Striker Gunvolt e Gal*Gun dão as caras em vários momentos. Apesar de inventados, esses “jogos” são claramente inspirados em marcas famosas do anime e dos videogames, como Sword Art Online e Digimon.
É possível notar as várias referências em Card-en-Ciel
Depois de algum tempo explorando, lutando e coletando fragmentos de erros (numa espécie de supertutorial), surge o vilão Selevan Nanakt. Ele rouba esses fragmentos e cria uma dungeon no mundo real. Neon e Ancie precisam deslogar da realidade virtual e encarar um novo e perigoso desafio. Uma história interessante e que justifica adequadamente a proposta do título.
Pena que a história se desenvolva de forma estática, sem animações caprichadas
Minha única crítica quanto ao enredo é que ele é apresentado de forma corrida, sem a devida contextualização. Os personagens conversam bastante durante as fases, proporcionando uma imersão interessante, mas faltou uma introdução adequada ao universo do game. Isso tornaria a ambientação mais memorável e ainda mais simpática.

Hora do duelo!

Vamos passar agora para a jogabilidade em si, que gira em torno de construir baralhos e enfrentar inimigos usando cartas com poderes especiais. Card-en-Ciel coloca Neon em uma pequena arena composta por pequenas casas, como um tabuleiro, e dividida ao meio. Os inimigos ficam frente a frente com o protagonista, contando com suas próprias habilidades para vencer.
São muitos efeitos diferentes para fazer uso nas missões
O jogador não pode se mover livremente pelo tabuleiro, assim como atacar de qualquer maneira. Quaisquer ações dependem das cartas, cujos efeitos podem incluir atacar, fortalecer, enfraquecer, comprar mais cartas e, finalmente, mover o herói pelo cenário. É preciso escolher sabiamente entre se deslocar ou usar a ação da carta, de modo a causar dano e evitar ataques dos inimigos.
Escolher as lutas certas também é uma estratégia necessária
As ações que afetam várias casas, tanto das cartas quanto dos vilões, são evidenciadas no tabuleiro. Os inimigos contam com um temporizador para alertar quando seus ataques serão disparados, enquanto o jogador tem um limite de energia para usar os cards, que têm requisitos próprios. Assim, é possível planejar cada rodada adequadamente.
Ativar efeitos especiais é fundamental para a vitória
Essas regras básicas de Card-en-Ciel funcionam muito bem, oferecendo partidas divertidas e desafiadoras na medida certa. O game oferece várias outras mecânicas conforme avançamos na história (vou falar de algumas na sequência), nunca deixando a jogabilidade se tornar repetitiva. Ajuda bastante também termos 300 cartas diferentes para colecionar e utilizar durante as partidas.

Regras para que te quero

Uma característica interessante do game é que, a cada nova rodada de fases, temos nosso baralho reformulado – tal como um roguelike. Isso exige uma grande capacidade de adaptação, pois mesmo que alguma carta recorrente reapareça, a tendência é precisar aprender rápido a usar as novidades. Confesso que achei essa mecânica irritante no início, mas ela torna cada novo conjunto de desafios refrescante.
Vitórias rendem novas cartas para o baralho e a coleção
Outro elemento que renova a jogabilidade é a constante adição de novos recursos para usar durante as partidas. Cartas podem ter efeitos poderosos, mas que só funcionam sob determinadas condições; é possível escolher um pequeno grupo de cards para chamar a qualquer momento de uma partida; pode-se sacrificar cartas para liberar suas versões mais poderosas e de uso único; entre tantas outras opções.
 
Card-en-Ciel introduz cada nova mecânica com explicações claras e oportunidades de teste prático. Aliás, se não fosse assim, as partidas seriam bem complicadas, pois após algumas horas temos uma grande quantidade de ferramentas para buscar a vitória nas partidas. Por exemplo, inimigos têm uma determinada quantidade de balanço, que pode ser quebrado usando cartas do tipo Break, que também reduzem o poder de ataque deles.
O recurso Action permite evitar o ataque inimigo e causar dano
Quando os vilões estão fora de balanço, eles não podem atacar e recebem o dobro de dano. Mais um exemplo de recurso útil: o sistema Muse, em que uma determinada carta especial, que fica fora do baralho, é ativada automaticamente ao cumprirmos determinadas condições. Essa ativação também muda os efeitos visuais da tela e até mesmo a música que toca durante as lutas.

Desperdício de potencial

Como espero ter deixado claro até agora, Card-en-Ciel faz um bom trabalho em criar um jogo de cartas dinâmico e com muitas opções para conseguir conquistar as vitórias. Ao usar vários jogos como inspiração para as ilustrações – todas no estilo anime –, temos visuais bastante charmosos e coloridos, que combinam bem com os efeitos e a trilha sonora.
Isoladamente agradáveis, as ilustrações têm várias limitações
A dublagem é igualmente positiva, estando presente para praticamente todos os personagens. Infelizmente, o título peca na forma como apresenta seus gráficos: basta um pequeno zoom (quando as cartas são destacadas) ou animação (quando um efeito poderoso é ativado) para identificar que as ilustrações são basicamente estáticas e criadas em resolução relativamente baixa.
Faltou capricho para uma experiência realmente memorável
Parece que o jogo, com suas dungeons pouco inspiradas, foi pensado para telas pequenas, como smartphones, pois os visuais pioram visivelmente em tela grande. É uma pena, pois Card-en-Ciel é significativamente prejudicado por isso e quase compromete os seus belos desenhos no estilo anime. Os menus em geral são bastante simplistas, não combinando com a atmosfera cativante dos personagens e cartas.
Pesquisar e organizar as cartas é bastante complicado
Isso também afeta a nossa coleção, que não conta com uma apresentação legal para pesquisar e admirar os cards, incluindo os seus belos efeitos. Talvez essa escolha seja justamente pelas artes não terem uma alta resolução; é uma pena, pois o elemento colecionável perde demais nesse sentido. Para terminar, ressalto que o game conta com um modo online – chamado Network –, que traz desafios sazonais, assim como partidas contra outros jogadores (aleatoriamente ou por código).

Uma mão quase perfeita

Minha impressão inicial de Card-en-Ciel foi um pouco negativa: a campanha começou sem muito contexto e as partidas mostravam alguns visuais com falta de capricho. Conforme eu explorei mais do deckbuilder, pude entender conhecer um pouco melhor o seu universo, assim como experimentar mais a fundo as suas variadas mecânicas de jogo.
Um divertido, ainda que com falhas, card game de animes
Nesse sentido, o game faz bonito, contando com uma boa quantidade de cartas, repletas de efeitos e artes diferentes, além de muitos recursos para vencer os desafios com o seu baralho. O problema do jogo é a sua apresentação, que durante os combates poderia ser mais caprichada, e fora deles é muito simplista. Em resumo, temos uma ótima recomendação para fãs de jogos de cartas ou jogos de anime; para os demais, vale testar a versão de demonstração antes de pensar na aquisição.

Prós

  • Jogo de cartas original, repleto de boas e divertidas ideias;
  • Temática de universo virtual, que mistura vários jogos diferentes no estilo anime, traz ótimas ilustrações;
  • Mecânicas de jogo contam com muitos recursos e variações para enfrentar as missões;
  • Trabalho de som é caprichado, incluindo dublagem e sons em geral;
  • Modos online com desafios e partidas multijogador ampliam as opções de jogo.

Contras

  • Embora o estilo geral seja agradável, as dungeons são chatas e os visuais das cartas têm baixa resolução e as animações são limitadas;
  • História poderia ter sido introduzida de forma mais organizada e cadenciada;
  • Elemento coleção de cartas é mal utilizado e prejudica o que poderia ser um ponto forte do game.
Card-en-Ciel — PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 7.5
Console utilizado para avaliação: PS5
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Inti Creates


é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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