Análise: All You Need is Help é um puzzle cooperativo limitado por exigir quatro participantes

As boas ideias são comprometidas por decisões coerentes com a proposta, mas infelizmente limitantes.

em 12/10/2024

A desenvolvedora japonesa Q-Games tem um longo histórico com a série PixelJunk, na qual mostrou sua versatilidade em criar games em diversos gêneros sem perder sua identidade (eu gosto especialmente dos dois Monsters). Agora, mais uma vez, ela mudou de direção e lançou um game de puzzles cooperativos chamado All You Need is Help, um nome que ressoa a filosofia do design pretendido.

Nele, os quatro participantes controlam criaturas fofas tricotadas na forma de cubos. Na verdade, tudo é feito dessa maneira, com tecidos, linhas e costuras, apresentando cenários simpáticos e coloridos. É tudo bem bonito, mas a baixa variedade deixa a estética cair na mesmice sem grande demora — as mesmas qualidades valem para as músicas. Pelo menos ele faz uso do speaker do DualSense para as vozes, um recurso que acho subutilizado nos jogos do PS5.



Voltemos às criaturas. Elas têm carinhas de animais e, como suas casas são vizinhas, elas podem se reunir no pátio para iniciar seus jogos e entrar na diversão. Juntas, elas participarão de diversos minigames nos quais cada uma assumirá formas parecidas com as peças de Tetris e deverá se movimentar de forma a conseguir ficar em determinadas posições e ajudar os colegas com o mesmo propósito.

Isto é, podemos controlar a criatura para lá e para cá, mas não girá-la diretamente, o que deve ser feito por simulação de física ao usar outras coisas como apoio, como paredes, cercas e amigos. Cada um tem que fazer sua parte para tudo dar certo, sabendo ceder, ajudar, pedir ajuda e trabalhar junto para uma organização espacial eficiente que resolva o objetivo da partida.

Na teoria, a ideia é boa e a execução tem uma base firme, mas peca em não se desenvolver o bastante. O que considero o grande problema, porém, está justamente na intenção principal do jogo, uma decisão questionável de como o modo cooperativo acontece.



Tudo o que você precisa é de quatro pessoas, mas esse pode ser o problema

A descrição acima ainda pode deixar as coisas pouco claras sobre como All You Need is Help funciona e, por isso, é melhor deixar claro desde o começo: este jogo é para quatro pessoas; nem mais, nem menos. A combinação pode ser local ou online, mas o total tem que ser quatro para qualquer partida ser iniciada.

A página na PlayStation Store pode induzir ao erro, pois, mesmo que o texto avise “por favor, entenda que este jogo é para quatro jogadores (online e/ou cooperação local) e não suporta o modo de um jogador”, a ficha geral no início indica “1 a 4 jogadores”, o que está errado.

Na seara dos jogos cooperativos, é comum que as mecânicas sejam adaptadas para um número variável de pessoas. Assim, a informação da loja é ambígua, pois não afirma que o jogo tem número fixo e restritivo. Por ser uma exceção, deveria haver ênfase nessa característica.



Bem, por coincidência, eu quis All You Need is Help justamente para jogar com meus filhos e esposa, o exato total necessário. Mesmo assim, achei a condução da jogatina insatisfatória justamente pelo que ela tenta ser.

Ainda que a essência coletiva exclua a possibilidade de jogar sozinho, nada no jogo me faz pensar que ele não poderia ser adaptado sem dificuldade para duas ou três pessoas. Os quatro personagens poderiam ser mantidos, bastando que pudéssemos alternar entre eles durante as partidas.

Isso daria margem para mais pessoas aproveitarem o título, como as que só possuem dois controles e não têm assinatura para jogar online, como é exigido nos casos do PS5 e do Switch. Em minha experiência com o jogo, acredito que seria viável até mesmo um modo de diversão caótica em que duas pessoas controlariam dois personagens cada, um em cada analógico.



Além disso, a tendência ao online deixa o jogo preso à necessidade de ter jogadores aleatórios disponíveis, o que pode ser decisivo para a sobrevivência desse tipo de game. Felizmente, há crossplay entre as plataformas. Digo que o online é uma tendência porque algumas mecânicas são claramente derivadas desse tipo de abordagem.

Por exemplo: não há seleção de fases. Uma partida é iniciada ao reunir os quatro personagens e deixar a escolha rolar aleatoriamente. Isso prejudica na sensação de uma progressão de dificuldade e desafio, e por impossibilitar que joguemos determinado tipo de minigame quando quisermos, embora os tipos não sejam muitos. Os mais simples são os de apenas usar as formas para construir o molde indicado no chão, uma ideia central que é reutilizada para finalizar a maioria dos outros minigames. Há ainda os de futebol, de apertar botões para abrir passagem, de conduzir uma bola gigante de barbante ao local correto, etc.



Outro exemplo da tendência online: jogando localmente, apenas o usuário principal ganha moedas de recompensa para comprar acessórios cosméticos e mobília. Nesse modo, o resto do pessoal nunca levará prêmios, mas, ao menos, eles poderão pegar acessórios emprestados na casa do principal. O mesmo não pode ser dito da mobília, então as casas dos demais permanecerão vazias e sem graça.

Procura-se ajuda

Ao confinar a jogatina a grupos estritamente compostos por quatro pessoas, seja de modo local ou online, All You Need is Help restringe as formas de aproveitarmos suas ideias simples, mas fofas e divertidas por algum tempo. Essa limitação prática não combina com a intenção casual do jogo, que também não tenta aprofundar a gameplay ao ponto de ser um puzzle cooperativo memorável.



Prós

  • Estética audiovisual agradável e fofinha, com vozes no speaker do DualSense no PS5;
  • A mecânica central de posicionamento coletivo para os puzzles é boa e funciona;
  • Quando funciona, a cooperação é divertida e atinge seu objetivo;
  • Localizado em português brasileiro.

Contras

  • O design de só funcionar com grupos compostos de quatro participantes limita muito as condições para o simples ato de começar a jogar, deixando a sensação de um jogo com mais potencial do que foi aproveitado;
  • A seleção aleatória de fases nos tira o poder de escolha e a sensação de progresso contínuo;
  • Ainda que o visual e a música sejam fofos e atraentes, eles caem na repetição.
All You Need is Help — PC/PS5/XSX/Switch — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: PS5

Revisão: Ives Boitano
Análise realizada com cópia digital cedida pela Q-Games

Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies.
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