Apesar de seus quinze títulos principais, The King of Fighters recebeu uma série de obras paralelas ao longo de seus 30 anos, dentro e fora dos fighting games. A maioria ficou restrita ao Japão, mas grandes notáveis conseguiram seu lugar no Ocidente — especialmente certos remakes.
KOF nos portáteis
A franquia King of Fighters nunca foi tão forte nos consoles principais da Nintendo, mas a Takara, responsável por diversos ports de jogos da SNK para o SNES e Game Boy, trouxe The King of Fighters '95 e '96 para o portátil monocromático. Diversas adaptações precisaram ser feitas, como o esquema de controles para dois botões e a redução no tamanho dos personagens.
A adaptação de KOF '96 é especialmente divertida, considerando as limitações da plataforma, com combos agradáveis de executar, trilha sonora bem convertida e alguns extras, como as versões Orochi de Iori e Leona. No '95, Nakoruru é destravável, marcando a primeira interação de Samurai Shodown com KOF.
Com o lançamento do Neo Geo Pocket, as versões de KOF '97 e '98 para portátil migraram do Game Boy. Desenvolvidos pela própria SNK, The King of Fighters R-1 e R-2 adaptam os personagens para um estilo chibi, com deformações no corpo durante os ataques, conferindo um charme cartunesco.
Ainda com dois botões, a jogabilidade foi melhor adaptada aos controles limitados, sendo extremamente fiel aos jogos originais, dentro das limitações. R-2 trouxe até um modo história em que é possível customizar o lutador em uma série de batalhas para vencer Rugal no final.
O retorno à Nintendo não demorou, já que a morte do portátil da SNK interrompeu a linha R. No GBA, KOF EX: Neo Blood e EX 2: Howling Blood foram lançados, trazendo bastante fidelidade visual aos jogos de Neo Geo, com os cortes de animação necessários para se encaixar num cartucho pequeno.
Mantendo a jogabilidade com strikers e apresentando uma história em uma linha do tempo alternativa, onde a saga NESTS não existiu, a primeira versão trouxe controles bem travados e péssima qualidade sonora, mas EX 2 se destacou como um dos melhores jogos de luta da plataforma.
A terceira dimensão
Numa tentativa de atrair novos públicos nos consoles, a SNK Playmore lançou uma sub-franquia totalmente em 3D. Ambientado em South Town, The King of Fighters: Maximum Impact abordou a narrativa de forma inicialmente mais contida, contando a história de Alba e Soiree Meira, dois irmãos órfãos vítimas da máfia da cidade.
Focado no 1v1, a jogabilidade tentou mesclar os poderes típicos dos jogos 2D com os ambientes mais abertos do 3D, além de oferecer maior liberdade para a criação de combos.
O primeiro jogo foi bastante criticado pelos controles travados e pela dublagem em inglês de baixa qualidade, mas o segundo título corrigiu boa parte desses problemas. Além disso, ele trouxe bastante conteúdo para desbloquear, como novas roupas e personagens.
A série terminou com o terceiro título, Regulation A, que levou Maximum Impact para os fliperamas em um dream match com muitos personagens. Havia planos para uma continuação dessa versão no Xbox 360, mas o projeto acabou sendo cancelado.
Os remakes
Para comemorar o aniversário de 10 anos da franquia, a SNK Playmore lançou The King of Fighters '94: Re-bout. Disponível apenas no Japão para PS2, o remake trouxe sprites refeitos em maior resolução, cenários em 3D, modo de edição de time, Rugal como personagem selecionável e Saisyu como extra.
Apesar de atrativo, as novas fases e sprites não agradaram tanto o público, fazendo de Re-bout uma entrada que envelheceu pior do que o jogo original, devido às suas tentativas de renovação.
Cinco anos depois, durante as comemorações de 15 anos da franquia, The King of Fighters '98: Ultimate Match foi lançado como um remake da edição de 1998, focando em incorporar tudo relacionado à saga Orochi, como personagens e alguns cenários, dentro do sistema de dream match. Os cenários foram refeitos em 3D no PS2, e novas versões alternativas foram criadas para diversos lutadores.
Rebalanceamentos foram feitos para melhorar a jogabilidade, como a possibilidade de estocar a barra Extra já cheia para ativá-la a qualquer momento, e o novo modo Ultimate, que permite ao jogador customizar seu sistema de combate à vontade — quer colocar a esquiva de KOF '94 e '95 com as barras Advanced? Esse modo permite.
No ano seguinte, em 2009, foi a vez do dream match de 2002 ganhar seu remake. The King of Fighters 2002: Unlimited Match vai muito além de '98 UM, alterando todos os cenários e músicas, adicionando novos golpes para vários lutadores e, claro, trazendo todos os personagens da saga NESTS, incluindo aqueles que estavam apenas em versões de console, como Geese e Goenitz no 2002 de PS2.
Como o sistema de KOF 2002 já era sólido, poucas mudanças foram feitas no remake. Houve um rebalanceamento completo, permitindo ativar um SDM e os secretos sem precisar estourar a barra.
Os esquisitos
A franquia The King of Fighters também explorou gêneros além dos jogos de luta. Um dos mais populares da era clássica foi The King of Fighters Kyo, uma visual novel que narra os eventos antes e durante o torneio de '97 em uma história semicanônica. Com algumas cenas animadas e atuação de voz, o título mostrou mais da relação entre os personagens, apesar do sistema de combate peculiar que mistura RPG com pedra, papel e tesoura. Este título ficou restrito oficialmente apenas ao Japão.
Nos últimos anos de vida do Neo Geo Pocket, surgiu um “KOF Party” através de The King of Fighters: Battle de Paradise, um jogo de tabuleiro com minigames inspirados em produções da SNK. Infelizmente, este também ficou restrito ao Japão, trazendo uma limitação para os ocidentais: os diálogos que brincam com um sistema de karma, permitindo que o jogador escolha entre o caminho da justiça ou do mal.
Nem o céu escapou dos lutadores da SNK. Lançado em 2010 para Xbox 360 e PSP, KOF Sky Stage é um bullet hell em que literalmente controlamos os personagens da franquia como se fossem naves. Embora tenha alguns detalhes que remetem à série principal, é essencialmente um título tradicional do gênero shmup.
Voltando aos jogos de luta, houve um título de KOF lançado entre o 2003 e o XI como uma espécie de teste para a Atomiswave. Para isso, a SNK Playmore produziu uma versão peculiar de KOF 2002 chamada The King of Fighters: NeoWave. Com três sistemas de luta diferentes e um elenco menor comparado ao jogo original, NeoWave acabou sendo um game bastante esquecível.
Por fim, é necessário mencionar SNK Heroines: Tag Team Frenzy. Situando-se de forma canônica entre KOF XIV e XV, o jogo oferece uma proposta mais casual, com jogabilidade simplificada e o uso de itens durante as lutas. O elenco é formado principalmente por lutadoras da casa e algumas convidadas inesperadas, todas presas em um mundo de sonhos criado por Kukri, com objetivos no mínimo questionáveis. Certamente, um título desnecessário para a série.
Os jogos mencionados acima são apenas os lançamentos para consoles e fliperamas, pois The King of Fighters também apareceu em dezenas de jogos para celulares — com destaque para o beat'em up KOF All Stars, que em breve será descontinuado —, além de pachinkos, jogos de quiz e até dating sims. Sem dúvida, é a galinha dos ovos de ouro da SNK e, ao que tudo indica, continuará sendo.
Dos jogos para telinha… e infelizmente, para a telona
Apesar do potencial da série, The King of Fighters nunca recebeu OVAs ou séries animadas durante a era clássica, ao contrário de Fatal Fury, Samurai Shodown e Art of Fighting. A maior parte do conteúdo expandido dos jogos era lançada em CDs de audiodrama, mangás e manhwas.
A primeira vez que vimos o potencial de um anime de The King of Fighters foi com a série Another Day, uma coleção de curtas baseados em Maximum Impact. Esses episódios serviam mais como demonstrações de lutas entre os personagens do que como um material com propósito narrativo definido. Para os fãs, vale a pena procurar os episódios.
A franquia também teve a infelicidade de ser adaptada para um live-action norte-americano em 2009, com The King of Fighters: A Batalha Final. Repleto de "liberdades criativas", o filme transformou Mai em uma das protagonistas e a fez namorar Iori, transformou Terry em um agente da CIA interpretado por David Leitch e situou o torneio em uma dimensão alternativa acessível por um fone Bluetooth. A produção pouco preserva do material original, além dos nomes e personagens.
Kyo com descendência ocidental, Mai namorando Iori... certamente é um filme. |
Em 2017, The King of Fighters finalmente ganhou um seriado animado, mas não da forma esperada pelos fãs. Lançada como uma websérie em CGI, The King of Fighters: Destiny reconta os eventos de KOF ‘94 e ‘95 com uma qualidade de animação de baixo orçamento e episódios fillers feitos com imagens estáticas, além de ser carregada de propaganda para o cancelado MMO chinês KOF World.
A série deveria continuar com um filme, The King of Fighters: Awaken, que narraria os eventos de ‘96; no entanto, desde o trailer de anúncio em 2020, nenhuma atualização sobre o lançamento foi divulgada.
Um legado gigantesco
E assim se encerram as comemorações dos 30 anos de The King of Fighters. Infelizmente, nada de muito relevante para a data foi anunciado pela SNK até o momento desta postagem, mas o legado sempre estará disponível para ser revisitado de uma forma ou de outra. Que o rei continue sendo abençoado nos próximos anos e que receba cada vez mais conteúdo.
Revisão: Davi Sousa