Magos com armas
Tactical Breach Wizards se passa em um universo paralelo, em que alguns indivíduos possuem poderes mágicos capazes de alterar ou manipular a realidade como a conhecemos. Logicamente, tais características não passam despercebidas pelas autoridades, então é muito comum que essas pessoas ocupem cargos militares ou sejam utilizadas como armas políticas ou criminosas.
É em uma situação própria a esse contexto que o título, inclusive, se apresenta: Zen e Liv, magos oficiais a serviço da Marinha, estão em missão e precisam salvar um refém de um navio da máfia envolvido em contrabando. Há poucos detalhes sobre a missão em si, mas as habilidades especiais de ambos — Zen consegue prever o futuro, ainda que somente alguns momentos à frente; Liv é capaz de se mover extremamente rápido, tornando-a uma força extremamente letal a curta e média distância — parecem ser o suficiente para garantir uma extração bem-sucedida.
Infelizmente, quando tudo parecia se encaminhar para o desfecho positivo da operação, um terceiro mago aparece pronto para abduzir Liv. Frente à difícil escolha entre salvar sua parceira ou salvar o refém, Zen opta por seguir o protocolo, perdendo contato com a poderosa Chronomancer (manipuladora do tempo) de forma definitiva.
Agora, anos depois do incidente, pistas que apontam para o reaparecimento de Liv surgem em uma escalada de crimes que possivelmente darão origem a uma nova guerra mundial caso não sejam contidos. Está nas mãos do hoje aposentado Zen, sua amiga Jen e quaisquer magos que consigam convencer pelo caminho reverter esse quadro, sob comando do jogador — Pronto para a missão, caro leitor?
Um pouco de estratégia em turnos, um pouco de puzzle e muita diversão
Na prática, Tactical Breach Wizards é um jogo de estratégia em turnos. Ao longo dos quatro grandes atos da campanha, o seu objetivo será completar diferentes missões divididas em segmentos de curta duração, cujos desígnios fixos podem variar entre eliminar todos os inimigos ou alcançar a saída a tempo desabilitando travas de segurança pelo caminho, por exemplo.
Se o template descrito acima não é exatamente algo inédito no mundo dos games, a forma como ele é utilizado aqui certamente é uma brisa de ar fresco, muito por conta da temática escolhida pelos criadores. A capacidade sobrenatural de Zen de ver o futuro, por exemplo, proporciona ao jogador, antes de encerrar o seu turno, a possibilidade de ver as ações futuras dos inimigos. Sabendo como tudo acontecerá, é então possível voltar no tempo para, caso necessário, ajustar os seus movimentos, sempre em busca de cumprir os objetivos com poucas (ou zero) baixas e na menor quantidade de turnos possível.
Não que a vidência seja o único recurso à disposição dos magos — muito pelo contrário, inclusive: se há muitos inimigos em uma sala, a capacidade de Jen de criar esferas de eletricidade e defenestrar seus oponentes com elas pode se provar muito útil. Algum companheiro faleceu em combate? Sem problemas: deixe que a médica Jessa o traga de volta à vida instantaneamente com sua habilidade especial.
De uma porta mortal capaz de abduzir quem quer que esteja próximo a uma granada imbuída com o poder do vento ou uma ilusão que atira quando percebida, a verdade é que não faltam recursos mágicos criativos à disposição para cada missão aqui. Analisando um pouco mais a fundo, é possível notar que essa característica inclusive faz de Tactical Breach Wizards tanto um jogo de puzzle quanto de estratégia.
Isso porque, com a variedade de soluções possíveis, triunfar em um cenário certamente é tão divertido quanto buscar o melhor roteiro possível para esse feito com as ferramentas à disposição. Cientes disso, os desenvolvedores implementaram a opção de personalizar a dificuldade e também objetivos opcionais em cada missão, que, caso concluídos, concedem pontos trocáveis por itens cosméticos para os personagens.
Seguindo um ritmo muito agradável em sua campanha, Tactical Breach Wizards sucede então na difícil tarefa de constantemente surpreender e entreter o jogador durante seus mais de 30 estágios. Para ficar ainda melhor, avançar na história revela um sistema de upgrades, com o qual é possível tornar as habilidades de cada combatente que se junta ao time de Zen mais poderosas, incentivando o retorno às fases anteriores e ampliando o fator replay.
Excelente otimização, dois pequenos deslizes
Durante as minhas sessões de jogo para esta análise, testei Tactical Breach Wizards em dois computadores: o meu PC principal, com um Ryzen 7 5700x e uma RTX 3060 12GB; e, devido a uma viagem de família, o notebook da minha esposa, com uma placa integrada da Intel. Destaco que, em ambos os dispositivos, a experiência foi muito agradável, exemplificando a polidez e boa otimização do título para diferentes tipos de hardware.
Dito isto, há dois problemas que precisam ser mencionados. O primeiro é que achei a implementação dos comandos por controle confusa e pouco intuitiva; o uso de mouse e teclado me pareceu muito mais natural e acabou sendo a minha escolha já com poucos minutos de jogo. O outro é que não há suporte atualmente para português brasileiro, ou outra língua que não o inglês, e essa ausência é, tristemente, capaz de comprometer um dos melhores aspectos da obra.
Se o fato de equipar uma série de magos com armas não foi o suficiente para perceber, a verdade é que, mesmo abordando temas pesados como guerras e crimes, Tactical Breach Wizards não se leva muito a sério em termos de narrativa, trazendo em meio às missões momentos de diálogo entre os membros da party que frequentemente recorrem a piadas, ironias e até movimentos de quebra da quarta parede.
Após completar uma missão, por exemplo, não é incomum ver os heróis em um metrô a caminho de casa ou se reunindo em um bar para comemorar e traçar os próximos planos. No decorrer desses momentos, a verdade é que é difícil não se afeiçoar aos personagens, que esbanjam charme e carisma em sua despretensão.
Infelizmente, a ausência de tradução para o nosso idioma significa que é preciso ter um certo domínio de inglês para entender todas as referências e até mesmo escolher as ramificações de diálogo com sabedoria. Do contrário, um dos melhores aspectos de Tactical Breach Wizards, na minha opinião, acaba não tendo o mesmo impacto. Tendo em vista a qualidade geral do título, fica registrada aqui então a esperança de que um patch futuro o localize para mais idiomas, inclusive o nosso.
Por fim, e para encerrar em uma nota positiva, cabe mencionar o sempre bem-vindo suporte oficial a mapas e desafios criados pela comunidade, baixados através da Oficina Steam e acessíveis em uma seção especial do menu. Esse gesto dos desenvolvedores garante que Tactical Breach Wizards receberá conteúdo por tempo indefinido, talvez até por anos — algo muito bom para qualquer obra.
Um título obrigatório para quem aprecia originalidade
Tactical Breach Wizards me surpreendeu muito positivamente e me sinto muito seguro em recomendá-lo a quem aprecia jogos de estratégia por turnos que se posicionam fora da caixinha. Se você também sente a curiosidade de saber como seria controlar super soldados capazes de usar poderes mágicos (ou bruxos perigosamente armados, o que dá no mesmo), faça um favor a si mesmo e adquira esta obra da Suspicious Development. Embora eu não tenha o mesmo poder de vidência que um certo protagonista, sou capaz de apostar que você não se arrependerá.
Prós
- A narrativa leve e bem-humorada, além do elenco carismático, diverte ao longo da aventura, mesmo ao abordar temas pesados como guerras e crimes;
- A opção inusitada de usar magos como soldados abre espaço para mecânicas e movimentos criativos dentro do gênero e contexto, como granadas mágicas e a opção de prever acontecimentos futuros;
- Mescla com maestria puzzle e estratégia em turnos, com diferentes níveis de dificuldade e objetivos secundários, garantindo o fator replay para quem gosta de “quebrar a cabeça” e deseja se desafiar;
- O suporte a mapas gerados pela comunidade, através da Oficina Steam, tem potencial para aumentar significativamente a vida útil do jogo;
- O trabalho de otimização garante bom desempenho mesmo em hardwares mais modestos.
Contras
- A ausência de suporte ao português brasileiro acaba tornando obrigatório o conhecimento de inglês para não perder as (boas) referências e piadas do roteiro;
- O suporte a controles além do mouse e teclado é pouco intuitivo.
Tactical Breach Wizards — PC — Nota: 9.0
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Suspicious Development Inc