Análise: Ravenswatch coloca fábulas para lutar em um sombrio universo de fantasia

Personagens com mecânicas distintas e multiplayer são os destaques deste roguelike.

em 28/09/2024

O mundo de Ravenswatch foi tomado por pesadelos e somente heróis de contos e lendas são capazes de enfrentá-los. O novo título dos criadores de Curse of the Dead Gods aposta na diversidade de personagens para criar um roguelike de ação interessante que pode ser aproveitado sozinho ou com amigos. Uma interpretação sombria de histórias conhecidas e algumas ideias criativas criam um universo instigante e envolvente, porém o jogo peca em oferecer variedade limitada no geral.

Fábulas lutando contra a escuridão

O onírico mundo de Reverie foi invadido por criaturas nefastas conhecidas como Pesadelos. Para tentar acabar com o caos, a guarda Ravenswatch invocou figuras lendárias para lutar, como Chapeuzinho Vermelho, Flautista de Hamelin, Aladim e Sun Wukong. O problema é que o processo foi afetado pela corrupção, resultando em indivíduos um pouco diferentes do esperado. Mesmo assim, eles decidem se unir para tentar acabar com essa invasão sombria.

A jornada é estruturada em três capítulos. Neles, o objetivo é fortalecer os heróis para conseguir derrotar um chefe, que aparece após três dias e três noites — cada período dura aproximadamente cinco minutos. Para isso, derrotamos inimigos em batalhas em tempo real, coletamos relíquias com efeitos diversos e melhoramos atributos e técnicas.


Cada herói tem uma seleção diversa de habilidades: além do golpe básico e da esquiva, eles contam com ataques especiais e um movimento defensivo. Agir de qualquer maneira não é uma boa estratégia, pois as técnicas ficam indisponíveis por algum tempo após o uso. No decorrer da partida, é possível modificar e expandir as habilidades, alterando significativamente o estilo de jogo.

Como é de praxe de roguelikes, Ravenswatch conta com mapas que sempre mudam, com eventos e tesouros distintos a cada partida. Os heróis sempre começam a jornada com seus atributos e ataques básicos, porém, aos poucos, liberamos novas técnicas e possibilidades para as tentativas futuras. O grande diferencial aqui é o multiplayer: é possível aproveitar o jogo sozinho ou em grupos com até quatro participantes no online.



Destruindo o mal na companhia de heróis diversos

Em sua essência, Ravenswatch é uma aventura de ação com câmera aérea bem competente. É fácil e divertido enfrentar grupos de monstros utilizando habilidades em sequência para maximizar seus efeitos enquanto tentamos escapar dos inúmeros perigos. O ritmo é mais cadenciado, o que não impede o aparecimento de momentos caóticos e intensos — é recompensador conseguir dar conta dos oponentes e sobreviver a esses momentos.

O grande destaque está nos heróis e suas mecânicas distintas. A Chapeuzinho Vermelho Scarlet se transforma em um lobo durante a noite, modificando completamente seus ataques; o Flautista de Hamelin é capaz de usar grupos de ratos para sobrepujar inimigos; Gepeto cria autômatos que lutam em seu lugar; já o rei-macaco Sun Wukong alterna entre duas posturas com efeitos passivos diferentes. Além disso, há sinergias e modificadores que alteram significativamente o estilo deles. Cada um dos nove personagens é bem único e me diverti bastante entendendo e dominando as suas nuances.


As particularidades dos heróis ficam ainda mais aparentes no multiplayer. Certas habilidades afetam também os companheiros, o que incentiva a coordenação das ações para obter vantagens no combate. Participei de algumas sessões online e apreciei a dinâmica cooperativa, por mais que senti falta de opções de comunicação fora o uso de microfone — é possível marcar pontos de interesse no mapa e só.

Fora isso, o mundo de Reverie chama a atenção com sua interpretação sombria de contos de fada. O tom é soturno com visual em cel shading inspirado em quadrinhos, versões diferentes de personagens clássicos e uso de cores sóbrias. Não há muita trama ou desenvolvimento, porém cada herói tem uma história de origem que é desbloqueada aos poucos.



Em uma jornada muitas vezes arrastada

Apesar de ter combate envolvente e personagens variados, Ravenswatch apresenta uma falha grave quando se fala de roguelikes: a diversidade de conteúdo é extremamente reduzida. Os mapas são povoados aleatoriamente com eventos e pontos de interesse, mas a quantidade é muito pequena e se repete constantemente entre as partidas. Além disso, os três capítulos são estruturalmente muito parecidos. Com isso, fica a sensação de sempre estar atravessando os mesmos estágios.


Outro ponto negativo é o ritmo da jornada. A velocidade de movimentação é baixa e os pontos de interesse são distantes entre si, fazendo com que boa parte das partidas seja gasta se locomovendo lentamente de um lugar a outro. Para piorar, a maioria dos inimigos tem muita vida, tornando muitos dos combates desnecessariamente longos — isso é ainda pior jogando sozinho, claramente o balanceamento foi pensado para o multiplayer.

O resultado da soma desses problemas é uma experiência que muitas vezes fica um pouco arrastada e repetitiva. Há algumas tentativas de trazer variedade, como outras dificuldades, alguns poucos desbloqueáveis e modificadores de características das partidas, mas é um esforço tímido que não é suficiente para resolver as questões negativas. Os desenvolvedores afirmam que vão continuar introduzindo novidades ao jogo no futuro, então é possível que a jornada melhore com o tempo.



Contos distorcidos para aproveitar com amigos

Ravenswatch se destaca por sua abordagem única ao misturar fábulas conhecidas com uma estética sombria e personagens com mecânicas variadas. O combate envolvente e o sistema de habilidades diversificado tornam a jogabilidade estratégica e divertida, especialmente no multiplayer, onde a sinergia entre os heróis brilha. No entanto, a falta de opções de comunicação e o desenvolvimento limitado da trama podem deixar a experiência um pouco rasa em termos narrativos.

Apesar do seu potencial, o jogo enfrenta problemas de repetição e ritmo que comprometem a diversão a longo prazo. A pouca variedade nos eventos e a estrutura repetitiva dos mapas deixam as partidas previsíveis, enquanto a lentidão do deslocamento e a resistência exagerada dos inimigos tornam a jornada monótona em alguns momentos. No mais, apesar de suas falhas, Ravenswatch é uma boa experiência que pode evoluir e oferecer uma experiência mais equilibrada com atualizações futuras.

Prós

  • Conceito de jogo interessante que combina ação, exploração e elementos de roguelike;
  • Personagens bem únicos oferecem experiências de jogo distintas;
  • Atmosfera soturna bem-produzida.

Contras

  • Diversidade de conteúdo limitada deixa as partidas muito parecidas;
  • Movimentação lenta e inimigos demasiadamente resistentes tornam a experiência arrastada;
  • Poucos desbloqueáveis e modificadores.
Ravenswatch — PC — Nota: 7.0
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nacon

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.