Max Payne 3: o fim da jornada de um anti-herói

Em uma São Paulo dominada pelo crime, um americano tenta a qualquer custo cumprir sua missão, mas será que vale a pena pagar um preço tão alto?

em 21/09/2024

Lançado em 2012 para Xbox 360, PS3 e PC, Max Payne 3 foi o título que encerrou uma das trilogias mais icônicas dos videogames. A série, que teve sua estreia em 2001, ficou conhecida principalmente por sua narrativa sombria, por seu protagonista torturado e por sua mecânica de bullet time. Para alguns, o jogo foi uma experiência marcante; já para outros, um final indigno para o protagonista. Revisitá-lo mais de uma década depois traz à tona muitas sensações diferentes, tanto boas quanto algumas que ficaram datadas com o passar dos anos.

A História Continua

Uma das maiores diferenças deste episódio com relação aos anteriores é a sua ambientação. Enquanto os dois primeiros títulos eram ambientados em uma Nova York fria, escura e envolta em uma estética noir clássica, o terceiro jogo nos traz para nossa terra maravilhosa, mais precisamente para as favelas de São Paulo.

A história coloca Max em um novo papel. Após os eventos traumáticos dos primeiros jogos, ele agora trabalha como segurança particular para a rica família Branco. Embora o cenário e o emprego sejam diferentes, o peso do passado ainda o assombra. Max continua lidando com sua dor, sua culpa e com o vício em álcool e analgésicos, elementos que sempre foram parte central de sua personalidade.

A narrativa em Max Payne 3 é um pouco mais direta e menos metafórica do que nos jogos anteriores. Enquanto os primeiros títulos usavam muito a introspecção e os monólogos internos de Max, o terceiro jogo foca mais na ação e no desenvolvimento dos eventos que o cercam. Isso faz com que a trama pareça menos pessoal e, de certa forma, mais convencional. Apesar disso, a história ainda carrega o peso emocional característico da série, e é difícil não se envolver com a jornada de Max.


Envelheceu como um bom vinho

Em sua base, Max Payne 3 pode ser descrito como um jogo de tiro em terceira pessoa de se esconder atrás do murinho, trazendo conceitos mais modernos ao mesmo tempo que mantém a tradicional jogabilidade da série.

E falando em jogabilidade, esse sempre foi um dos seus maiores atrativos, com muita violência desenfreada e tiroteios de tirar o fôlego. Jogando hoje em dia, é impressionante como ela ainda se mantém atual e extremamente divertida, boa parte disso graças à mecânica do bullet time que permite momentos de ação cinematográfica que poucos jogos conseguem reproduzir. 

A atenção a detalhes é um ponto central aqui. Por ter sido desenvolvido no mesmo motor gráfico dos jogos da franquia GTA, o RAGE, muita coisa aqui ainda consegue ser melhor do que nos jogos atuais, mesmo mais de uma década antes.

A física dos corpos e as animações fluidas dos tiroteios ainda são algo que impressiona. Ver Max cambaleando, recuperando o equilíbrio ou deslizando pelo chão enquanto atira em múltiplos inimigos é uma coreografia brutal que se mantém satisfatória. É como revisitar um filme de ação dos anos 80, com o charme de um John McClane (de Duro de Matar) em um ambiente mais atual.



No entanto, é impossível ignorar que, jogando hoje, a dificuldade em alguns momentos pode parecer frustrante. Enquanto a IA inimiga é agressiva e pode te encurralar com facilidade, a falta de regeneração automática de saúde (um recurso comum em muitos jogos de tiro atuais) faz com que você dependa muito dos analgésicos para se manter vivo. Se, na época, isso era visto como um desafio justo, hoje pode parecer um pouco punitivo, especialmente para quem está mais acostumado com os jogos modernos que têm sistemas de saúde mais permissivos.

O design das fases também reflete essa mistura de velho com novo. Os ambientes são variados, desde os luxuosos escritórios de São Paulo até as favelas e os portos industriais, cada um com um design que te força a pensar estrategicamente. Revisitar esses cenários foi uma viagem interessante, pois, enquanto a variedade dos locais é bem-vinda, alguns corredores e arenas fechadas se tornam repetitivos após um tempo, especialmente em uma segunda jogada.

Um personagem chamado São Paulo

São Paulo é praticamente um personagem em Max Payne 3. Na época do lançamento, lembro de muitas discussões sobre a representação da cidade no jogo. Como brasileiro, foi curioso ver uma versão de São Paulo filtrada pela perspectiva de um estúdio americano. Alguns detalhes são impressionantes — os cenários são cheios de vida, com uma representação fiel das favelas, da arquitetura urbana e até da atmosfera opressiva que às vezes define grandes metrópoles.

Por outro lado, é claro que algumas representações parecem estereotipadas ou simplificadas. A forma como os criminosos são retratados, por exemplo, caiu em alguns clichês que, na época, talvez tenham passado despercebidos, mas hoje soam um pouco desconfortáveis. No entanto, a ambientação ainda tem seus méritos.



Se há um aspecto de Max Payne 3 que envelheceu de maneira impecável, é sua trilha sonora. Na época, a música composta pela banda HEALTH foi uma escolha inesperada, mas que combinou perfeitamente com o tom do jogo, mantendo a trilha um dos seus pontos mais fortes, com faixas que elevam a tensão durante os tiroteios e momentos de quietude que reforçam o lado melancólico de Max. O uso da música “Tears” na missão final é um dos momentos mais icônicos do jogo e, mesmo depois de tantos anos, continua impactante.

Um primor tecnológico

Em termos de gráficos, Max Payne 3 foi um jogo visualmente impressionante em 2012. As animações faciais, o nível de detalhe nos cenários e os efeitos de iluminação eram alguns dos melhores da época. Hoje, esses aspectos ainda têm certo apelo, mas é claro que algumas coisas envelheceram. O sistema de física ainda se destaca, especialmente quando se trata da interação dos corpos com o ambiente, mas algumas texturas e modelos de personagens mostram a idade do jogo.

Revisitar Max Payne 3 em uma máquina moderna também é uma experiência diferente. Enquanto na época o jogo podia ter problemas de desempenho em certos PCs, hoje ele roda de forma suave e sem engasgos, o que facilita a imersão. Isso, aliado ao suporte para resoluções mais altas e melhorias técnicas, torna a experiência mais agradável. Porém, se você jogou na época e se acostumou com os padrões de 2012, algumas das limitações gráficas podem saltar aos olhos.


Ainda vale a pena uma década depois?

Revisitar Max Payne 3 foi uma experiência agridoce. O jogo ainda tem muitos dos elementos que me fizeram amá-lo quando foi lançado — a jogabilidade estilosa, a narrativa sombria e a trilha sonora imersiva. No entanto, algumas coisas não envelheceram tão bem, especialmente quando comparadas aos padrões dos jogos atuais. A dificuldade punitiva em alguns momentos, a narrativa menos introspectiva e a mudança de ambientação continuam a dividir opiniões.

Mesmo assim, Max Payne 3 ainda é um jogo que merece ser jogado, especialmente por quem viveu a era dos jogos de ação lineares e cinematográficos dos anos 2000. Voltar ao mundo de Max é como reencontrar um velho amigo — ele pode estar diferente, mais envelhecido, mas ainda carrega o mesmo peso e carisma de sempre.

Revisão: Ives Boitano


Um “arqueólogo de games” que adora falar das gemas ocultas do mundo dos jogos, tem o PS3 como console favorito e ama um bom hack and slash. Mesmo apreciando os jogos modernos, não dispensa uma boa velharia obscura do tempo que videogame era movido à lenha. Segue o pai.
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