Análise: Gundam Breaker 4 traz a magia do Gunpla a um universo de ação

RPG de ação foca na customização e apresenta uma experiência competente.

em 04/09/2024
Gundam Breaker 4
é a mais nova entrada de uma subsérie da popular franquia de robôs gigantes. Os jogos da linha Breaker são mais ligados ao conceito de Gunpla, os modelos de robôs que os fãs podem montar e exibir como parte de suas coleções. Nesse sentido, Breaker 4 vem com a tentativa de se desvincular da visão negativa que o último jogo da franquia, New Gundam Breaker, recebeu e tentar reconquistar o público.

Uma experiência meta

Em Gundam Breaker 4, o universo dos jogos da franquia foi adaptado como um MMORPG. O tal novo jogo, GB4 (sigla para Gunpla Battle BLAZE: Beyond Borders), ainda está em produção e as pessoas estão ainda aprendendo a lidar com a nova experiência. Assumimos o papel de um novo jogador, montando um clã e se aventurando por esse universo.
 
Conforme realizamos missões de história, novos personagens vão se juntando à equipe. Aos poucos, conhecemos jogadores de elite, ganhamos notoriedade e descobrimos até mesmo uma grande conspiração que pode levar à ruína do GB4.
O conceito de ser uma obra meta, ou seja, um jogo sobre um jogo online, é uma proposta que tinha um potencial interessante e os personagens até são carismáticos. Porém, a trama como um todo não apenas é fraca, como também cheia de buracos, desconsiderando as mecânicas de verdade do jogo em prol de falsos dramas que acabam sendo pouco convincentes.
 
Um ponto favorável à experiência é que Gundam Breaker 4 está disponível em português do Brasil, sendo o primeiro título da subsérie no nosso idioma. A tradução geralmente é boa, mas a qualidade pode oscilar bastante, tendo tanto erros notáveis de tradução literal quanto momentos em que algumas escolhas de palavras são bem orgânicas, como se o diálogo tivesse sido escrito em português desde o início.

Missões e progresso

Gundam Breaker 4 é estruturado em um esquema de missões, que podem ser selecionadas no balcão do saguão principal. Conforme concluímos as etapas de história, desbloqueamos os modos “Tarefa” (com outros desafios), “Caçador de recompensas” (uma disputa contra robôs feitos por outros jogadores para conquistar as suas partes) e “Sobrevivente” (com até 50 hordas consecutivas para testar a habilidade do jogador).
 
Avançar na história também libera dificuldades mais elevadas, trazendo versões das fases que são mais desafiadoras e contam com recompensas melhores. Além da dificuldade padrão e a casual (mais fácil), temos a hardcore, a “extremo” e a “novo tipo” (que era para ser Newtype, termo tradicional de Gundam). A diferença entre elas gira em torno do nível de força das peças que é recomendado ao jogador, tendo saltos bem consideráveis entre as opções iniciais e as maiores.
Outro ponto ligado ao progresso do jogo é o aumento do nível máximo das nossas peças. Inicialmente só podemos chegar até um determinado valor e esse limite é alargado quando concluímos certas missões de história pela primeira vez. Em geral, o valor é equivalente ao nível de força recomendado para a última missão de um conjunto na dificuldade padrão, então a ideia é evitar que o jogador fique forte demais, mas na prática o jogo é bem fácil.
 
Além de jogar sozinho, é possível visitar o saguão de outros jogadores no online e combinar de encarar esses mesmos desafios juntos. O sistema online inclui opção de adicionar amigos e criar clãs, avaliar os robôs dos colegas e criar um perfil no qual escolhemos nossas séries favoritas e mensagens para outros jogadores.

A repetição dos combates

Uma vez dentro de uma missão, a estrutura é geralmente a mesma. Com poucas exceções, os desafios de história envolvem lidar com três rodadas de combate em áreas diferentes. Na maior parte das vezes, nossa tarefa é eliminar todos os inimigos das ondas, tendo um chefe de grande porte ou um grupo mais poderoso ao final.
 
Em combate, controlamos o robô que nós mesmos montamos e temos o apoio de aliados artificiais quando jogamos no singleplayer. Podemos equipar até duas armas de longo alcance e até duas de curto alcance, dependendo do tipo selecionado. Cada mão do robô será associada a um botão de ataque diferente, permitindo a execução de combos variados.
O foco das batalhas envolve a execução de combos, que são divididos em dois tipos: acertos e quebras. Os acertos envolvem apenas atingir o oponente de qualquer forma e a sua barra tende a cair mais rapidamente. Já as quebras demandam eliminar mais inimigos ou quebrar uma parte da sua barra de HP se ela for dividida antes que a sua barra esvazie.
 
Mantê-las altas trará vários benefícios ao jogador, melhorando sua performance e até mesmo aumentando a chance de conseguir itens. Por conta disso, o jogador deve aprender a se movimentar de forma estratégica pelo campo de batalha e eliminar os inimigos de forma ágil e eficiente.
Ao final de cada trecho da missão, somos avaliados na nossa agilidade e na habilidade de alcançar um valor alto de quebra. O nosso desempenho será avaliado como um todo ao final da fase e alcançar o ranque S é necessário para obter o máximo de dinheiro, peças adicionais e um Breaker Booster (que, se for gasto, melhora nossas recompensas em uma próxima missão).
 
De forma geral, o combate é bem divertido e podemos abusar de vários elementos. Os vários tipos de arma possuem alcances diferentes, então podemos, por exemplo, usar um chicote para agrupar vários inimigos em uma mesma área e depois atingi-los com uma arma forte.
Também temos sistemas de esquiva e defesa, habilidades OP (que possuem cooldown) e EX (que só podem ser usadas se tivermos carregado energia suficiente com ataques básicos) que variam dependendo do nosso equipamento, e uma habilidade de Despertar. Essa última melhora temporariamente nossos atributos e permite usar um ataque mais poderoso ou reviver aliados.
 
Nossos ataques podem arrancar partes dos inimigos, deixando-os incapacitados de várias formas e até mesmo indefesos no chão para um ataque que os elimina instantaneamente. Porém, os inimigos também podem arrancar as nossas partes, então precisamos tomar cuidado e saber se defender e desviar dos golpes.
Infelizmente, assim como acontece em Megaton Musashi Wired, as áreas das missões são arenas muito limitadas e um tanto repetitivas. Para tentar contornar um pouco a situação, o jogo quebra as missões em ondas e teleporta o jogador para a próxima parte em outra localidade, mas isso também adiciona o custo de loading adicional durante as missões e não há variações tão significativas entre elas além do visual e um pouco do relevo.
 
Na luta contra alguns chefes, também é possível notar problemas com a mira. Alguns inimigos são tão grandes que o espaço entre áreas que podem ser atingidas acaba criando bolsões de ar e deixando o jogador atacando o nada em golpes de curto alcance. Além disso, mudar a peça que será o foco pode ser desnecessariamente complicado quando já quebramos várias partes, já que essas áreas destruídas continuam na lista de opções de mira, mas não tomam quase nada de dano.

Customização e evolução

Apesar de ser um RPG de ação, a verdade é que o foco real de Gundam Breaker 4 está na nossa capacidade de brincar com a estrutura do nosso robô. Temos uma grande quantidade de peças advindas das mais variadas obras da franquia, de modelos super deformados com cabeção àqueles de design mais sério, passando por vários clássicos que os fãs de Gundam definitivamente apreciariam usar.
 
Cada missão que fazemos é uma oportunidade de conseguir novas peças, que podemos usar para modificar atributos e habilidades passivas e ativas do nosso robô atual. Porém, a partir de certo ponto do jogo, também liberamos sistemas que nos permitem combinar peças.

Nesse sentido, é possível derivar uma peça que já temos em outra, geralmente de uma mesma linha, gerando uma parte de Gundam Barbatos Lupus Rex a partir de uma do Gundam Barbatos 6th Form, por exemplo. Podemos também consumir outras peças para aumentar o nível de uma delas que preferimos usar e de quebra melhorar suas habilidades passivas ou trocá-las por outras. Graças a esses sistemas, temos uma boa liberdade para construir nossas builds com foco estético e fazer um upgrade de performance posterior.
 
Embora o jogador possa simplesmente criar um monstro horrendo com peças que não combinam umas com as outras, também podemos modificar todas as nossas partes. Em vez de deixá-las como estavam desde o início, temos um sistema de pintura, que permite ajustar as cores de várias partes das peças individualmente, colocar decalques (adesivos) e até adicionar desgastes em suas aparências.

As opções de coloração são muito detalhadas, permitindo deixar as peças com aparência mais plástica ou mais metalizada, ajustando padrões como estampas e até afetando brilhos. O resultado é algo muito maleável que permite criar uma variedade absurda de robôs únicos de acordo com os gostos do jogador.
 
Mesmo para quem tem uma criatividade menor e gostaria de explorar esse sistema de forma mais casual, o jogo também possui várias opções pré-definidas. Além disso, uma vez que o jogador montou um padrão de coloração, é possível simplesmente mantê-lo para a próxima peça. Por exemplo, gosto de fazer meus robôs vermelhos em referência ao Char Aznable do Gundam original e foi muito fácil manter um estilo consistente mesmo com as trocas graças a essa predisposição do jogo.
Porém, gostaria de destacar que uma coisa que acabou faltando cuidado foi a nomenclatura e descrição das habilidades passivas. Elas são confusas, ambíguas e não há nem uma explicação básica sobre elas durante a escolha das peças. Fez muita falta que o jogo pelo menos tivesse uma breve descrição para cada uma delas, facilitando as escolhas de build.
 
Por fim, para quem quer brincar ainda mais com a sensação de montar Gunplas, há sistemas de fotografia e montagem de dioramas (ou seja, maquetes). Com eles, é possível colocar o robô em poses extravagantes e montar cenários, além de compartilhar fotos com amigos que também jogam no modo online.

Hora de botar para quebrar

Gundam Breaker 4
é um RPG de ação que foca na customização dos robôs acima de tudo. Montar seu próprio robô diante da infinidade de opções de peças e partir para a pancadaria é uma diversão e tanto. Porém, as fases são demasiadamente simples, as missões, muito repetitivas e há claros pontos em que a obra pode melhorar em uma futura iteração.

Prós

  • Ótima variedade de peças e sistemas de customização que permitem montar uma variedade absurda de robôs distintos;
  • Combate de ação bem executado com foco em combos;
  • Combinação das habilidades das peças oferece mais liberdade de build para o jogador;
  • Sistemas adicionais focados em fotografia e montagem de diorama;
  • Tradução em português é geralmente boa.

Contras

  • História genérica, fraca e que não faz sentido em seus elementos metalinguísticos;
  • As missões são bastante repetitivas;
  • O design das fases é demasiadamente simples;
  • O sistema de mira não funciona bem em inimigos grandes demais;
  • A descrição das habilidades é confusa e não há explicações adicionais.
Gundam Breaker 4 — PC/PS4/PS5/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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