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Análise: Concord é um hero shooter inofensivo que foi lançado em um momento péssimo

A estreia da Firewalk Studios tem o potencial de se tornar um dos maiores exemplos de fracasso no arriscado mercado de Jogos como Serviço.

em 03/09/2024
Estamos vivendo um momento conturbado para a indústria dos videogames. Os elevados custos das superproduções e a busca constante por crescimento a todo custo estão trazendo consequências significativas para os jogos, levando algumas desenvolvedoras a enxergar o Jogo como Serviço (Game as a Service, ou GaaS) como a solução para esses problemas.


Foi nesse cenário complicado que Concord foi lançado. Desenvolvido pela Firewalk e distribuído pela PlayStation Studios, o jogo de tiro em primeira pessoa ficou em desenvolvimento por oito anos, sendo a grande aposta como o principal GaaS para a plataforma da Sony e PCs. Contudo, a estratégia de lançamento e o momento da indústria não favoreceram um título que, em outra época, poderia ter passado despercebido.

Somos freegunners

Concord adota a vertente dos hero shooters, como Overwatch e Paladins, em sua jogabilidade. Cada personagem possui um tipo de arma único e duas habilidades especiais, sem uma técnica suprema. Nesse aspecto, o jogo se destaca pela variedade, já que cada freegunner é realmente distinto em suas formas de jogar.

Como não há uma divisão clara de funções, como DPS, suporte e tanque, a composição dos times é aberta a experimentações baseadas nas classes de cada personagem, similar ao que ocorre em Valorant. A troca de atiradores é, inclusive, incentivada pelo sistema de tripulação, que oferece bônus para o próximo freegunner selecionado com base na classe anterior.

No lançamento de Concord, estão disponíveis três modos principais: Pancadaria, um mata-mata em equipe; Superação, que representa o modo Rei da Colina; e Rivalidade, um modo competitivo ranqueado que não permite ressurgimento após a morte e impede a repetição do mesmo atirador em caso de vitória na rodada.

Cada modo apresenta variações de objetivos, dependendo do mapa. Por exemplo: o Pancadaria pode ser uma busca por pontos baseada no número de mortes, ou uma caça por cartas-prêmio (similar ao Baixa Confirmada de Call of Duty), deixadas por cada freegunner derrotado. Se um aliado cair, é possível negar o ponto do time inimigo coletando a carta a tempo.

As partidas são frenéticas e difíceis de dominar rapidamente, exigindo adaptação e a escolha do personagem que melhor se encaixa para cada jogador. Isso pode gerar uma dissonância com o sistema de troca de heróis, obrigando os jogadores a aprender a jogar com mais de um freegunner para obter benefícios. A sensação de atirar é satisfatória e remete a Destiny, exigindo maior habilidade de pontaria para se sair bem nas trocas de tiro.

Não tive problemas de latência ou dessincronização. O crossplay com o PlayStation 5 funciona perfeitamente, e não senti disparidade entre jogadores de teclado e mouse e os de controle. No PC, o jogo é relativamente pesado e apresentou quedas de desempenho em momentos intensos, sem grande diferença perceptível entre os presets gráficos. Como na maioria das produções atuais, upscalers como FSR, DLSS e XeSS são oferecidos para ajudar na fluidez dos fps.

Oito anos questionáveis 

Desde seu anúncio, Concord enfrentou uma recepção negativa não só pelo seu gênero, mas também pelos personagens. Parte do hate é justificável, pois os freegunners sofrem com um excesso de detalhes em designs genéricos. Os conceitos são previsíveis e realmente não se destacam em comparação a Overwatch e Paladins, embora eu tenha gostado da Haymar e da Bazz.

A tentativa de contextualizar os personagens e o universo do jogo é feita através do Guia Galáctico, onde podemos ler sobre planetas, eventos importantes no universo, história dos freegunners, entre outros conteúdos. Mais textos são desbloqueados conforme jogamos e, apesar de alguns contos serem interessantes, é cansativo ler uma tonelada de eventos sem nenhuma ilustração.

Esse longo tempo de desenvolvimento também tem seus contratempos. O visual do jogo é bastante chamativo e colorido, com cenários que conseguem trazer um pouco dos aspectos únicos de cada planeta visitado. Em termos de modelagem dos atiradores e animações em CG, dá para perceber onde a Firewalk Studios realmente investiu.

Digo isso porque a falta de conteúdo desmotiva tudo o que Concord tenta justificar como um jogo pago. O ponto positivo é que as skins e acessórios são obtidos jogando — não há microtransações —, mas os poucos modos e mapas, além das vestimentas que só diferem nas cores e detalhes, nos fazem questionar o preço de R$ 199.

Por outro lado, o trabalho de som é excelente. Os tiros são satisfatórios, os efeitos sonoros combinam bem com a proposta espacial e a dublagem em português até ajuda a dar um pouco de carisma a certos freegunners.

Bastam poucas horas jogando para nos fazer questionar o principal ponto de seu desenvolvimento: para onde foram os oito anos de produção? Podemos concluir que a criação de Concord começou durante o auge de Overwatch; porém, nada aqui realmente justifica um tempo de desenvolvimento tão longo. É um modelo de negócios insustentável.

Mesmo que habilitemos os cosméticos sem dinheiro real, a personalização fraquíssima no lançamento não é motivador.

Mais um GaaS que não sobreviveu

Fico realmente triste com o estado de Concord e seu potencial como hero shooter. Não vejo o gênero como algo saturado, especialmente porque atualmente temos apenas Overwatch e Valorant como representantes relevantes, além do promissor Marvel Rivals. No entanto, o jogo não precisava de mais tempo de desenvolvimento, mas sim de uma melhor distribuição de esforços e um planejamento mais sólido.

Concord é um jogo caro que oferece pouco para justificar seu preço, carecendo de carisma e, pior ainda, sem o apoio do público. Como um GaaS, exemplifica como esse modelo de negócios pode ser destrutivo quando mal planejado. Infelizmente, o jogo encontrou seu destino, com os servidores programados para serem temporariamente suspensos no dia 6 de setembro de 2024, menos de um mês após o lançamento. A primeira empreitada da Firewalk Studios mostra competência, mas está destinada a ser lembrada como o maior fracasso de 2024 e, possivelmente, da própria marca PlayStation.

Prós:

  • Cenários belíssimos com designs bem pensados;
  • Personagens mecanicamente diversos;
  • Sem microtransações;
  • A parte sonora é bastante satisfatória e imersiva, com destaque para a dublagem.

Contras:

  • O preço cobrado não é justificado pelo pouco conteúdo oferecido, incluindo poucas skins e modos de jogo;
  • Desbalanceamento em seu lançamento;
  • Apesar de ter potencial, o Guia Galático acaba ficando enfadonho com a enorme quantidade de texto;
  • Personagens sem carisma, muito devido aos designs um tanto sem sentido;
  • O título ficará temporariamente indisponível a partir de 6 de setembro de 2024, devido à baixa recepção do público.
Concord — PC/PS5 — Nota: 5.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sony Interactive

Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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