Blast from the Past

Tekken: 30 anos de uma das franquias mais simbólicas da porradaria virtual

Há três décadas, conhecemos a história da família Mishima, que está ligada diretamente à evolução dos jogos de luta como um todo.

em 13/09/2024
Tekken é uma das franquias mais prolíferas da atualidade. Com um total de 58 milhões de cópias vendidas, a série foi uma das primeiras dentro dos jogos de luta a trazer uma série de inovações para a época. Este ano, seu primeiro jogo completa 30 anos e chegou a hora de olharmos para o passado e ver como foi o lançamento da mais famosa e acalorada briga de família já vista nos games.

Superando seu mestre

O começo dos anos 1990 foi bastante agitado para os guerreiros virtuais. Em 1993 tivemos nomes pesadíssimos como Samurai Shodown, Mortal Kombat 2, Super Street Fighter II, Fatal Fury Special e World Heroes 2. Entretanto, um título entre todos esses chamou a atenção por trazer animações tridimensionais: Virtua Fighter, da Sega. A ideia de trazer lutadores poligonais era algo que até então não havia sido visto entre os jogos de luta.

Por uma grande coincidência do destino, a Namco procurava uma nova empreitada para investir, ao mesmo tempo em que Seiichi Ishii, uma das mentes criativas de Virtua Fighter e Virtua Racer, acabara de deixar a Sega. Sendo assim, ele foi contratado, junto com muitos outros desenvolvedores, e colocado como um dos designers e diretores do primeiro Tekken (e do segundo também). 

Faltava ainda uma peça para que o projeto deslanchasse, e ela era Katsuhiro Harada. O hoje icônico líder de toda área de fighting games da Bandai Namco começou na empresa como um mero promotor. Ele foi um dos destaques dos Arcades, batendo os recordes de vendas por dois meses seguidos. Isso lhe garantiu uma indicação do próprio presidente para que Harada tivesse voz dentro da empresa. 

Inicialmente, o projeto que deu origem a Tekken não era planejado para ser um jogo de fato, mas sim um teste de animação de modelos e texturas em 3D. Ele tomou esse rumo graças à equipe contratada da Sega, encabeçada por Ishii. A ideia era desenvolvê-lo para a placa Namco-22, mas ao descobrir que sua concorrente já trabalhava em Virtua Fighter 2, a escolhida foi a Namco-11, baseada no console que a Sony estava desenvolvendo, o PlayStation.


Mesmo com a sugestão de lançar o jogo com o nome de Rave War, já que não havia um significado para a palavra Tekken, o termo original foi mantido (ainda bem). O primeiro protótipo foi apresentado em setembro de 1994 para ser lançado posteriormente, em dezembro do mesmo ano. Graças à placa Namco-11, no ano seguinte já foi possível ter um port do título para o PlayStation.

O início da guerra Mishima

Naquela época, era comum que os jogos de luta tivessem uma história clichê, como um torneio no qual todos querem o prêmio para algo ou uma disputa de vida e morte entre o bem e o mal. Tekken não fugiu disso, embora hoje, três décadas depois, tenha sido o que melhor conseguiu manter sua linha narrativa, ao ponto de ser reconhecido pelo Guinness Book como a franquia com o maior número de entradas consecutivas a manter uma linha narrativa sem remakes ou reboots. Mas voltemos ao início.

Heihachi Mishima era o líder da grande Mishima Zaibatsu, pai de Kazuya. Em uma espécie de teste para saber se seu filho (que na época tinha apenas cinco anos) poderia herdar o comando da corporação, ele o atirou de um penhasco. Kazuya conseguiu sobreviver apesar dos ferimentos, mas um deles inclusive deixou uma cicatriz enorme em seu peito.

Para saber se alguém seria capaz de derrotá-lo, Heihachi organiza o Torneio Rei do Punho de Ferro. O vencedor ganharia uma larga quantia de dinheiro, mas também uma notoriedade sem igual. Desta primeira edição participaram: 
  • Jack
  • Kazuya Mishima
  • King (o primeiro)
  • Marshall Law
  • Michelle Chang
  • Nina Williams
  • Paul Phoenix
  • Yoshimitsu
Um dos diferenciais que Tekken trazia era que cada personagem tinha um subchefe específico, que antecedia o embate final contra Heihachi. Kazuya, por exemplo, enfrentaria seu meio-irmão Lee Chaolan. Esses personagens secretos, assim como Heihachi, não podiam ser selecionados no arcade. Isso só se tornou possível na versão para PlayStation.

Outro diferencial do port caseiro estava nas cenas animadas, tanto as de abertura quanto as de encerramento de cada lutador. O fato de elas serem feitas em computação gráfica combinava com o visual poligonal do jogo, o que trazia uma criatividade que os outros jogos bidimensionais não conseguiam alcançar.

Os cenários também traziam ambientes históricos pelo mundo. São os seguintes:
  • Acropolis (Grécia)
  • Angkor Wat (Tailândia)
  • Chicago (Estados Unidos)
  • Fiji
  • King George Island (Antártida)
  • Kyoto (Japão)
  • Marine Stadium (Japão)
  • Monument Valley (Estados Unidos)
  • Sichuan (China)
  • Venice (Itália)
  • Windermere (Inglaterra)

Se diferenciando da concorrência e fazendo história

As primeiras opiniões sobre Tekken foram divididas, visto que, por parecer com Virtua Fighter, muita gente esperava que eles também tivessem jogabilidades similares. Entretanto, não foi isso que aconteceu.

A maior diferença foi o uso de quatro botões, um para cada membro independente  (braços e pernas). O ritmo mais lento e ausência de magias também chamaram a atenção, em meio ao festival de magias e golpes velozes da época. Isso já deu o tom de que Tekken seria um jogo bem mais estratégico.

O passo lateral também foi algo diferenciado, pois dava a liberdade de esquivar dos oponentes de maneira simples e aproveitar brechas para contra-ataques.

A câmera, que se afastava ou aproximava de acordo com a movimentação dos lutadores. Em conjunto com o primeiro plano “sem fim” e a imagem estática ao fundo, havia a sensação de um combate mais dinâmico, como se estivéssemos vendo um filme de artes marciais.

Entre o primeiro protótipo de setembro e o lançamento oficial nos arcades, houve tempo o suficiente para que os críticos aguardassem a versão final do jogo que se mostrava “melhor que Virtua Fighter 2”.

O lançamento de Tekken foi marcado por números altos e popularidade instantânea. Mesmo com a sua jogabilidade diferenciada, que até causou estranheza no começo, e seus personagens com visuais mais controversos (para a época), todos se renderam à primeira entrada da saga da família Mishima.


Quando a versão de PlayStation chegou, a crítica especializada se rendeu a tudo que Tekken trazia. O elenco, que contava com o dobro de personagens da versão arcade, e as arenas sem ring outs estavam entre os elementos elogiados.

Tekken figurou entre os cinco títulos mais populares no Japão e no top quatro dos Estados Unidos. Além disso, este jogo especificamente também está no Guinness Book por ser o primeiro lançado para PlayStation a alcançar a marca de 1 milhão de cópias vendidas.


Atualmente, caso você não tenha o primeiro PlayStation e um disco em algum canto, a única maneira lícita de jogar Tekken é em um PS3, pois ele ainda se encontra à venda na PSN. Lembrando que para conseguir fazer compras neste console você deve colocar fundos na carteira pelo PS4, PS5 ou site, e então acessar a loja virtual pelo PS3. Pode parecer um malabarismo exagerado, mas vale a pena para conhecer um dos pioneiros dos jogos de luta.

Revisão: Juliana Piombo dos Santos

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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