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Análise: Athena Crisis é uma carta aberta de amor aos jogos clássicos de estratégia

O título independente da Nakazawa Tech inova ao oferecer tanto um jogo quanto uma poderosa ferramenta para os fãs do gênero.

em 25/09/2024
Não é preciso muito tempo com Athena Crisis em mãos para perceber que este título indie produzido pela Nakazawa Tech é tanto um divertido jogo de estratégia em turnos quanto uma verdadeira carta de amor ao gênero como um todo, especialmente aos clássicos nintendistas do início dos anos 2000, como Advance Wars e Fire Emblem. No entanto, superando as expectativas, o maior mérito desta obra está em entregar uma verdadeira “caixa de brinquedos” para os entusiastas. Confira o porquê e os detalhes nesta análise!

Crise no multiverso

Talvez nunca antes na história da cultura popular tenha se ouvido falar tanto em multiverso: dos filmes aos games, passando por livros e séries, o conceito pseudocientífico que sugere a coexistência de diferentes universos e realidades tem sido bastante usado em diversas obras, até pela liberdade criativa que ele proporciona.

Pois bem, durante a campanha oficial de Athena Crisis, composta por 40 níveis, somos novamente apresentados a essa ideia, aqui adaptada para conduzir a narrativa. No papel de comandante do pequeno exército cor-de-rosa e pixelizado do mundo Ceres-984, a sua missão começa ao impedir que informações e projetos militares confidenciais sejam roubados por misteriosos inimigos alaranjados.

Pouco a pouco, descobrimos que, na verdade, os exércitos oponentes enfrentados pertencem a outra realidade, cuja incursão pelo multiverso em busca de conhecimento bélico não tarda a proporcionar confrontos contra unidades peculiares como zumbis, orcs, ursos, dinossauros e até mesmo robôs gigantes. 

Então, como mestre combatente, você é convocado a liderar os seus comandados rumo à vitória em diferentes cenários e ao subsequente equilíbrio do multiverso, pondo fim à crise instaurada que, inclusive, inspirou o nome do jogo. Pronto para a tarefa, caro leitor?

A arte da guerra

Na prática, a campanha de Athena Crisis é estruturada em fases com diferentes objetivos, que vão de derrotar todas as unidades inimigas a ocupar localidades-chave, como prédios e construções. Como pode ser visto pelas capturas de tela que acompanham esta análise, há uma clara influência da série Wars, desde os visuais até a jogabilidade, ao ponto que, se a franquia da Nintendo lhe é familiar, você certamente não terá problemas para se sentir “em casa” com o que é apresentado aqui.

Porém, caso você não seja um veterano do gênero, basta saber que as batalhas entre os carismáticos exércitos em pixel ocorrem por turnos e em mapas divididos em grids, como em um jogo de tabuleiro. Cada unidade, dos tanques à artilharia, possui qualidades e fraquezas, bem como um certo número de espaços que se pode percorrer por turno; e é necessário levar todos esses fatores em consideração ao planejar os movimentos para poder sair com a vitória.

Junte a isso a quase onipresente neblina da guerra (que muitas vezes oculta inimigos em pontos cruciais do mapa) e a capacidade que fábricas e construções têm de repor unidades mesmo em meio a um conflito — escancarando a necessidade de conquistar logo os lugares estratégicos —, e temos a receita para manter os jogadores entretidos por vários níveis. É uma fórmula simples de aprender, mas difícil de dominar completamente, o que explica sua legião de fãs até os dias atuais.

Felizmente, a obra da Nakazawa Tech conta com três níveis de dificuldade, um extenso sistema de tutorial e também legendas em português brasileiro, além de uma campanha à parte com dez níveis, cuja história antecede a narrativa principal e cujos eventos servem como introdução às mecânicas e recursos do título. Porém, mesmo com todos os elogios, esses não são os verdadeiros diferenciais de Athena Crisis, que realmente se destaca ao entregar todas as suas ferramentas nas mãos dos jogadores.

Quase uma plataforma para os entusiastas do gênero

Athena Crisis possui um robusto editor de níveis capaz de criar não apenas mapas, mas verdadeiras campanhas single player, completas com opções de diálogos e rotas alternativas. Mesmo poucos dias após o lançamento oficial, consegui encontrar e jogar parte da campanha do primeiro Advance Wars, por exemplo, refeita in-game e adaptada para incluir as mecânicas exclusivas do título da Nakazawa. O resultado foi impressionante.

Uma campanha inteira parece muito para você? Sem problemas, também é possível encontrar diversos mapas únicos criados pela comunidade e batalhar neles contra a inteligência artificial do título ou contra jogadores reais. Até sete jogadores podem jogar simultaneamente online e o multiplayer assíncrono (em que as partidas ficam pendentes até que os participantes completem seus turnos) é uma alternativa para aqueles que, assim como eu, já não conseguem reunir os amigos em um mesmo horário há muito tempo. 

Além disso, é preciso mencionar que Athena Crisis oferece um generoso sistema de compra cruzada (cross-buy). Uma vez que você tenha adquirido o jogo e criado uma conta nas configurações, é possível suspender a partida e continuá-la de outro dispositivo, como um smartphone ou o navegador de um outro PC, sem custo adicional (é só uma pena que não haja uma versão de consoles como o Switch ainda, pois adoraria ter testado esse recurso no videogame da Nintendo). 

Com tudo isso, talvez o grande deslize de Athena Crisis seja a sua apresentação simplória até mesmo para os padrões do gênero. Infelizmente, há um certo ar genérico nas artes de ilustração e menus, que remetem aos antigos jogos em Flash e parecem ter priorizado a função e a responsividade em vez da forma e aparência.

Analisando mais a fundo, talvez essa abordagem tenha sido proposital, considerando a necessidade que o título possui de funcionar bem em smartphones e navegadores para justificar a progressão cruzada. Mas, quando inevitavelmente comparamos Athena Crisis a títulos de proposta e orçamento similares — como o belo Wargroove 2, que também tive a honra de criticar —, é difícil não mencionar sua apresentação ordinária. Infelizmente, o mesmo pode ser dito da trilha sonora inócua, mas, no caso desta última, pelo menos há um botão para desligá-la com facilidade.

Uma carta aberta de amor

Athena Crisis é claramente um título feito por fãs, para fãs. Embora sua apresentação genérica não impressione sob nenhum ângulo, sua divertida campanha, somada ao extenso criador de níveis e às várias opções multiplayer, tem potencial para entreter por meses, talvez até anos, a fio. No fim, esta pode até não ser a mais bela carta de amor ao gênero de estratégia por turnos, mas é difícil negar sua intenção — e principalmente sua honestidade — ao lê-la, o que sempre será algo positivo.

Prós

  • Apresenta uma campanha divertida e desafiadora que remete aos títulos clássicos de estratégia, como os da série Wars, da Nintendo;
  • O tutorial extenso e as três opções de dificuldade auxiliam quem não possui familiaridade com o gênero ou suas mecânicas, fazendo deste título uma boa introdução ao estilo como um todo;
  • O recurso de criador de níveis, além da facilidade de encontrar mapas e campanhas criadas pela comunidade in-game, deve estender por meses, quiçá anos, a vida útil do jogo;
  • Cross-buy e cross-save garantem uma experiência contínua e compartilhável entre smartphone, PC e até mesmo navegadores conectados à internet;
  • Suporte ao português brasileiro.

Contras

  • A apresentação genérica lembra os antigos jogos em Flash e acaba causando uma má impressão quando comparada à de outros jogos do gênero;
  • A trilha sonora poderia ter sido melhor trabalhada;
  • Provavelmente não vai impressionar tanto assim quem não aprecia o conteúdo criado pela comunidade em seus jogos.
Athena Crisis — PC — Nota: 7.5
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Null Games

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