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Análise: Yars Rising é um metroidvania que reimagina um clássico da Atari de forma inesperada

No controle da hacker Emi, devemos invadir uma mega tech que guarda experimentos suspeitos numa aventura simples.

em 10/09/2024
Adotando uma abordagem um tanto inesperada, Yars Rising é um jogo no estilo metroidvania baseado em Yars’ Revenge, um clássico do Atari 2600. Desenvolvido pela WayForward, a aventura se inspira em animes e na estética de sci-fi dos anos 1980, adaptando a jogabilidade de shooter do original de 1981 para uma missão que envolve derrubar uma megacorporação com experimentos suspeitos.

Hackeando uma big tech

Em Yars Rising, controlamos Emi “Yar” Kimura, uma jovem habilidosa em hacking, contratada para invadir o sistema da QoTech, uma grande empresa de tecnologia com atividades suspeitas. Sua missão inicial é simples: acessar um terminal e realizar o serviço. No entanto, Emi é pega em flagrante e jogada no meio do prédio da empresa.

Sem muitas opções, ela encontra um terminal misterioso que, ao ser hackeado, lhe concede a habilidade de atirar energia. A partir daí, o objetivo é escapar do prédio, mas, é claro, surgem coisas estranhas pelo caminho, como uma invasão a outro planeta e experimentos alienígenas.

Nas sessões de ação, os recursos são adquiridos gradualmente. Emi começa indefesa, porém ganha o Zorlon Shoot para enfrentar quase todos os inimigos. Conforme invadimos os terminais, obtemos recursos que servem tanto para destruir oponentes quanto para abrir caminho durante a exploração, como mísseis que quebram certas paredes e um projétil controlável que cria plataformas em locais específicos.

O ritmo de Yars Rising é fácil de pegar. As armadilhas, como plataformas, lasers e prensas, repetem-se em níveis de dificuldade crescentes, e a variedade de inimigos não é tão grande. Em certas áreas, é preciso se esconder de guardas que derrubam Emi com um único golpe, sendo, sem dúvida, a parte mais irritante da aventura, pois quebra o ritmo e nos força a esperar que o inimigo libere o caminho.

Essa simplicidade também se reflete no mapa. O jogo pode ser considerado um metroidvania na beirada do termo, pois é quase impossível se perder, e fica claro quando não é possível progredir, nos forçando a procurar um terminal que, quase sempre, está bem próximo. Funciona bem dentro da proposta, mas sem oferecer algo complexo ou grandioso na exploração.

O incentivo para procurar os terminais está no sistema de Biohack, uma espécie de grid no formato de Yar, onde precisamos encaixar quadrados de diversos formatos. Cada quadrado, ou conjunto obtido opcionalmente nas estações, oferece benefícios tanto para Emi quanto para as sessões de hacking. Esses bônus incluem melhorias nos atributos, como aumento de vida, dano e maior velocidade de wall jump, além de vantagens específicas durante o hacking, como tiros triplos e invencibilidade ao permanecer parado, entre outros.

Controlar Emi é satisfatório, e as habilidades de mobilidade, como saltos em paredes e dashes, complementam bem a jogabilidade. É um game ideal para sessões curtas e deve funcionar muito bem em portáteis como Steam Deck e Switch.

A “revingança” de Yar

Como era de se esperar, com Yars’ Revenge na mistura, Yars Rising traz a jogabilidade clássica nos terminais. Cada momento de hacking é feito por meio de minigames inspirados no jogo de 1981, nos quais devemos destruir a raça alienígena rival conhecida como Qotile, controlando uma pequena criatura semelhante a um inseto. No original, o objetivo é atravessar a barreira que protege o Qotile e destruí-lo com o Zorlon Cannon.

Na aventura de Emi, essa jogabilidade é modificada de várias formas. Inicialmente, funciona como em Revenge, mas, em outras ocasiões, precisamos destruir inimigos em formações variadas, acessar barreiras utilizando uma “chave” antes, ou até enfrentar missões que remetem a clássicos como Missile Command e Centipede, todos inseridos dentro do estilo de Yars’ Revenge. Embora algumas variações sejam mais simples, há uma boa quantidade de minigames para experimentar.

Um problema notável está na forma como o jogo salva o progresso. Se morrermos após realizar um hacking e antes de salvar novamente, somos levados de volta à última estação de salvamento com a tarefa já concluída. No entanto, o mapa não registra que passamos pelo local e completamos o desafio, o que não prejudica a progressão, porém é um inconveniente significativo para complecionistas, pois não há como refazer a invasão.

Se o desafio dos terminais se tornar muito elevado — o que realmente acontece próximo ao final da campanha —, é possível ativar a invencibilidade total ou tentar algumas vezes antes que a opção seja oferecida. Não é a melhor abordagem para acessibilidade, mas é positivo que a opção esteja disponível.

O som que abala o coração

Yars Rising não impressiona tanto no aspecto visual. Como a maior parte do jogo se passa dentro do prédio da QoTech, percorremos corredores técnicos, salas adjacentes e dutos de ventilação, passando ocasionalmente por áreas externas com vista para uma cidade cyberpunk. Somente no final visitamos um ambiente completamente diferente — que poderia ter sido mais explorado, inclusive —, mas a curta duração da campanha acaba compensando a falta de variedade.

A arte adota um estilo que mistura anime com elementos de desenhos ocidentais, não se destacando muito nas áreas internas. No entanto, as poucas sessões com vistas externas são bem bonitas. Esteticamente, o título lembra títulos 2.5D de PSP ou bons jogos do início da Xbox Live Arcade, sendo tecnicamente modesto, porém, ainda assim, charmoso. Uma camada mais pronunciada de cel shading teria combinado muito bem a estética cartunesca.

Vale destacar o trabalho espetacular da trilha sonora em Yars Rising. Desde os primeiros trailers, a música já chamava a atenção, mas o que realmente conquistou durante a exploração dos corredores foi a companhia constante de boas faixas de drum ‘n’ bass, pop chiclete ou future funk repleto de sintetizadores. Recomendo muito jogar com fones de ouvido, pois as músicas complementam de forma significativa a experiência.

A dublagem que acompanha os diálogos é bem competente, e tudo soa como um desenho animado. Os comentários irônicos de Emi podem irritar quem não é fã de personagens tagarelas ao estilo Marvel, mas me peguei sorrindo com algumas de suas piadas sobre as situações, tudo em um tom pastelão. Uma pena é que não há tradução de textos para português.

Outro pesar é a parte de animação, tanto na jogabilidade quanto nos momentos de história. Não há tanto polimento nos ciclos de animação da Emi, então a movimentação, ainda que boa com controle na mão, mostra-se desengonçada visualmente. Já na narrativa, os modelos vão de aceitável para completamente inexpressivos, deixando a parte interessante de ver para as belíssimas cenas que parecem HQs.

Diversão sem grandes pretensões

Yars Rising não pretende revolucionar nem se destacar no gênero, mas a abordagem de adaptar um clássico do Atari para um metroidvania, mesmo com as liberdades criativas adotadas, resultou em algo, no mínimo, interessante, embora precisasse de mais inspiração. Me diverti em sessões esporádicas, resolvendo minigames e destruindo robôs repetidos enquanto ouvia uma playlist incrível, mas, no final, não é algo tão marcante.

Prós:

  • Sistema de obtenção de habilidades feito num bom ritmo;
  • Visualmente estiloso em alguns momentos;
  • Os vários minigames inspirados em títulos da Atari dentro da abordagem de Yars é bem interessante;
  • Trilha sonora absurdamente boa, casando muito bem com a proposta estética da aventura;
  • Humor pastelão e tiradas de sarro da Emi são bem divertidas.

Contras:

  • Ausência de localização em português;
  • Falta de polimento nas animações;
  • A simplicidade da jogabilidade pode ser repetitiva em longas sessões, já que não há tanta variedade;
  • O bug de realizar a tarefa, morrer e o mapa não salvar o progresso atrapalha para quem quer pegar os 100%;
  • A Emi tagarelando toda hora pode incomodar quem não gosta do tipo de humor irônico.
Yars Rising — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Atari

Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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