Conforme conferimos na nossa matéria prévia, Warhammer 40,000: Space Marine II tinha tudo para ser um ótimo título de aventura e, sobretudo, ação. Hoje, posso afirmar que a maior parte das minhas expectativas foi atendida. Com muitos combates radicais e uma ambientação caprichada, mergulhar no universo do jogo é uma ótima experiência. Vista sua armadura e equipe os melhores equipamentos, pois a análise vai começar em nome do Imperador!
Without the War, there can be no Victory!
Com origem em um jogo de tabuleiro com miniaturas que surgiu nos anos 80, a franquia Warhammer se expandiu para várias outras mídias. Os videogames não ficaram de fora, contando com vários lançamentos diferentes; em particular, a série Space Marine começou no ano de 2011, passando-se num universo bélico 40.000 anos no futuro.
A segunda parte dessa subsérie – em toda a sua glória de jogo de ação em terceira pessoa – finalmente chegou em 9 de setembro. Space Marine II conta com três modos principais de jogo: campanha, PvE e PvP. Ou seja, uma aventura “fechada” (mas que deixa pontos abertos para futuras atualizações) e partidas online, tanto em times contra a máquina ou contra outros times.Vamos falar primeiro da campanha, que mantém o foco no personagem Titus do título anterior. Ele começa o jogo ainda tentando se redimir pelos acontecimentos do primeiro game, atuando em missões perigosas contra alienígenas. Após concluir um desafio particularmente difícil, ele é reintegrado ao grupo dos Ultramarines, a elite dos soldados do Imperium da Humanidade, em meio a uma virada na guerra.
Sempre em conflito contra toda sorte de extraterrestres, mutantes e criaturas sobrenaturais, o império originado na Terra tem uma longa e interessante história. O jogo constantemente faz referência a personagens, locais e acontecimentos passados, seja do jogo anterior, seja da extensa biblioteca de mídias da franquia. A atmosfera geral é “aconchegante”, dando uma sensação de pertencimento àquela aventura.
Infelizmente, aqui está um dos problemas de Space Marine II: seu enredo é funcional, podendo ser compreendido superficialmente para dar razão às ações do jogador. No entanto, caso a história queira ser realmente entendida, aí a situação complica, pois existe pouco contexto para o longo compêndio de jogos de tabuleiro, livros, games etc.
Um exemplo simples: num determinado ponto da campanha, encontramos um dreadnought, uma armadura de combate do Imperium. A intensidade das falas e ações daquele personagem secundário instigaram a minha curiosidade, que, por sua vez, me levou a procurar sobre ele na internet. Descobri que o equipamento é pilotado por soldados em estado terminal, mas que ainda continuam lutando graças à sua fé no Imperador e nos seus colegas.
Ou seja, um verdadeiro robô-caixão com suporte de vida de tempo limitado. O acontecimento no jogo funcionou sem essa informação, porém ele teria tido outro impacto se eu soubesse dela antes. Isso vale para muitas partes do game, que funciona de verdade somente para fãs da franquia, ou quem estiver disposto a desbravar a sua história (os subtítulos dessa análise vieram das páginas do universo de Warhammer).
Without the Dark, there can be no Light
Falemos agora da produção técnica do título, a qual podemos dividir em duas partes bem distintas. A primeira é digna de elogios: os visuais do game estão ótimos, sobretudo nas tomadas abertas, em ambientes repletos de explosões e personagens. Considerando a grande quantidade de elementos na tela, o nível de detalhes é considerável e roda de forma suave mesmo durante os combates intensos.O estilo geral parece uma mistura de Doom e Fallout, com um toque de Immortals of Aveum. Ou seja, um futuro pós-apocalíptico com magias brilhantes e vistosas, inimigos monstruosos em cenários lotados e tecnologia ao mesmo tempo moderna e ultrapassada. A combinação funciona bem e resulta num visual original e interessante.
O trabalho de som no geral – incluindo dublagem, músicas e efeitos – também é ótimo. A sensação de imersão durante os combates é muito boa, complementada pela experiência proporcionada pelo DualSense. Afinal, correr com uma armadura pesada, que vibra a cada passada, em meio a tiroteios e monstros gritando por todos os lados é sempre algo divertido.
Infelizmente, a segunda parte da produção técnica é digna de críticas: o desempenho online e nos carregamentos das fases são ruins. Warhammer 40,000: Space Marine II demora demais nas telas de loading, deixando o jogador esperando por mais de um minuto. Os visuais são bonitos, mas não chegam a ser fantásticos para justificar a demora.
A outra crítica é em relação ao desempenho online do game, que funciona de maneira precária em várias situações. As partidas em PvE são mais estáveis, ainda que com a já comentada demora no carregamento. O problema maior fica com as disputas PvP, que podem ser praticamente injogáveis devido ao atraso enorme entre comandos e o que acontece na tela. Quando funcionam minimamente, ambas são bem divertidas.
The steel that binds our lives to the Emperor
Agora eu gostaria de falar mais da jogabilidade em si, uma das boas qualidades de Warhammmer 40,000 Space Marine II. No controle de um soldado habilidoso em sua poderosa armadura, o jogador conta com vários golpes físicos e armas de fogo para derrotar os inimigos. Temos facas longas, martelos enormes e até uma espadasserra elétrica, assim como pistolas laser, rifles e carabinas.Ao sairmos da campanha, as opções de combate são ainda maiores nos modos PvP e PvE. Temos seis classes diferentes de Ultramarines, cada uma com características próprias para encarar os combates. Por exemplo, temos a Baluarte, com seu escudo e estandarte que restaura armadura dos colegas, a Franco-atirador, que conta com camuflagem, e o Tático, que pode revelar inimigos e aumentar suas vulnerabilidades.
Embora eu tenha preferência pela classe de Assalto, todas são legais à sua própria maneira e oferecem uma jogabilidade sólida. Cada classe também conta com vantagens (habilidades passivas), que são liberadas conforme subimos de nível ao obter pontos de experiência nas missões. O mesmo vale para armas e equipamentos, que podem se tornar cada vez mais poderosos.
Minha única ressalva quanto à jogabilidade é que determinadas habilidades não parecem funcionar bem entre si. Explico: é possível contra-atacar inimigos ao sinal de um marcador azul, assim como realizar disparos críticos nos vilões que têm pequenos alvos vermelhos. A questão é que o timing delas, por vezes, se sobrepõem, sobretudo em meio a multidões de inimigos.
É como se a soma dos fatores fosse inferior a cada um individualmente. Mesmo os combos de ataques físicos por vezes saem meio desengonçados e acabam errando o(s) alvo(s). Esses problemas se tornam cada vez menores ao longo das horas de jogo, nas quais o jogador adquire experiência suficiente para aproveitar o máximo dos combates.
Without the Hope there can be no Future
Preciso confessar que Warhammer 40,000: Space Marine II me fez relembrar como é agradável um bom e velho hack and slash, em tempos que a maioria dos jogos de ação e aventura é do tipo em soulslike. Nada de pensar em barra de fôlego ou precisar decorar padrões de ataque: o negócio é atacar ferozmente as intermináveis hordas de Tyranids, de forma semelhante ao visto com zumbis em Word War Z, e cumprir as missões ao lado dos irmãos de batalha.Não que o título não exija alguma estratégia e bons reflexos. Inclusive, boa parte da diversão do game vem do equilíbrio entre atacar (para também recuperar vida e escudo) e defender (usando armas de longo alcance e granadas). Mesmo com aqueles problemas que comentei sobre a jogabilidade, ela entrega diversão com uma boa variedade de opções.
Jogar em time é ainda melhor, pois é possível criar um bom trabalho em equipe entre classes diferentes. Mesmo as partidas com bots funcionam bem, já que eles conseguem oferecer um suporte adequado. Outro destaque dos combates, mais uma vez como em Doom (Eternal, neste caso), são as finalizações violentas e muito satisfatórias.Mais um ponto agradável de Space Marine II é a customização de cosméticos, como capacetes, manoplas, acessórios, armas e até armaduras completas. Liberar essas personalizações, assim como as já comentadas habilidades, pode ser um pouquinho demorado, mas vale a pena. Não tive dificuldades em encontrar outros jogadores online (ainda que o PvP não seja estável) para criar equipes e partir para a luta.
Antes de terminar esta longa análise, um comentário sobre o futuro do game. Já estão previstas várias atualizações que incluem novas missões PvE, armas, arenas PvP, inimigos, entre muitas outras opções. Uma boa parte delas será gratuita, mas o ideal é adquirir o passe de temporada para curtir ainda mais esse universo tão rico e cativante.
Long Live the Emperor!
Trazendo uma boa dose de ação num universo original, Warhammer 40,000: Space Marine II consegue entregar uma ótima experiência. Os belos visuais combinam bem com a ambientação, de forma que os combates sejam emocionantes e completos, sobretudo ao lado dos amigos. Pena que faltou mais cuidado em alguns pontos específicos, mas nada que comprometa essa ótima opção para a sua biblioteca, especialmente para os fãs da marca ou amantes do gênero.
Prós
- Jogo em terceira pessoa traz um universo rico em conteúdo, ação e aventura;
- Ambientação mistura futurismo e magia de forma original e imersiva;
- Produção de boa qualidade, mantendo um alto nível em praticamente todas as situações;
- Jogabilidade sólida e divertida, com bom equilíbrio entre os recursos disponíveis;
- Campanha apresenta bem as bases do game, preparando o terreno para os modos online contra a máquina ou contra outros jogadores;
- Promessa de muito conteúdo para o futuro, incluindo novidades gratuitas e pagas.
Contras
- Desempenho local e online é capenga, sobretudo devido às demoradas telas de carregamento;
- Enredo só pode ser entendido de forma superficial, exigindo que o jogador pesquise por fora para compreender o universo do game e da franquia como um todo;
- Alguns elementos do combate não apresentam uma boa sinergia.
Warhammer 40,000: Space Marine II — PC/PS5/XSX — Nota: 8.0
Console utilizado para avaliação: PS5
Análise produzida com cópia digital cedida pela Focus Entertainment