Análise: Rugrats: Adventures in Gameland dá um bom motivo para fazer crianças chorarem

Os bebês mais espertos da Nickelodeon retornam em um título que capta o melhor da sua essência, mas vem acompanhado de diversas falhas estruturais.

em 16/09/2024
Para quem foi criança no início dos anos 90, que nem este que vos escreve, a Nickelodeon era uma caixinha de desenhos que viraram clássicos, sendo Os Anjinhos  — Rugrats no original  — o primeiro deles. Esta produção foi uma das muitas que surgiram da união do canal com a produtora Klasky Csupo, também responsável por outras maravilhas como Thornberrys, Ahhh! Monstros, Ginger e Rocket Power.

Para quem estava com saudades de Tommy e cia, Rugrats: Adventures in Gameland traz de volta o grupo de bebês curiosos em aventuras norteadas pela sua rica imaginação.

Colocando as crianças em um castigo severo

Assim como no desenho, podemos controlar o grupo de quatro amigos formado por Tommy Pickles, Chuckie Finster e os irmãos Phil e Lil DeVille. Eles têm diferentes atributos de força e salto. Phil, por exemplo, pode levantar blocos do chão mais rápido que os demais, enquanto Chuckie salta mais alto e Lil plana alguns segundos no ar, e Tommy faz o papel de personagem mais regular.

Por ter uma temática infantil, confesso que esperava uma dificuldade mais branda, mas o que achei foram vários momentos de level design mal estruturados e até ocasiões em que podem ocorrer soft lock do nosso personagem. E isso torna a experiência bastante frustrante.

Os inimigos reaparecem a todo momento, mesmo que você não tenha se movido um centímetro. Quando isso acontece em locais com plataformas, ocorre de nosso bebê ser empurrado instantaneamente e perder uma porção da barra de vida com o dano e uma segunda com a queda. Para piorar, se isso acontece em um trecho estreito com uma plataforma fixa que fica na trajetória do bicho que está perambulando, cria-se o looping de levar dano, cair da plataforma, reaparecer e repetir até perder toda a nossa vida.

No mais, há diversas outras situações bastante caóticas, como ter uma única passagem bloqueada por uma criatura que dispara projéteis, sendo que não há como desviar ou acertá-lo de longe. Sessões de saltos contínuos também são tortuosas, uma vez que os comandos nem sempre respondem prontamente ao pressionarmos o botão.

Isso cria picos totalmente desbalanceados de dificuldade, que parecem não combinar com a dificuldade que selecionamos de início. Podemos ir de uma área vazia para outra com duas plataformas móveis e coisas voadoras em instantes.

Cada local tem uma batalha de chefe que, indo na contramão do restante da fase, é bastante fácil. Pode ser complicado de entender o que fazer em um ou outro caso, já que o jogo não explica que podemos pisar na cabeça dos inimigos com um pulo simples e depois arremessá-los, mas, fora isso, é tudo estranhamente tranquilo.

Nós podemos alternar livremente de bebês enquanto jogamos, o que dá uma certa ajuda já que cada um deles contém sua própria barra de vida e fazer um revezamento entre eles é a chave para triunfar. Entretanto, cada troca só pode ser feita ao pausarmos o jogo. Seria muito mais dinâmico se essa troca fosse feita apenas com um comando, assim não perderíamos o ritmo do que está acontecendo na tela.

Uma imaginação sem limites

Se na jogabilidade e level design Rugrats deixa a desejar, sou obrigado a dar os devidos méritos para a parte visual e sonora, que entregam uma qualidade bastante satisfatória, sem contar as variadas referências contidas em cada local. Começamos na sala da casa de Chucky, assim como a maioria dos episódios do desenho, e isso serve de tutorial. Logo de cara, já dá para sacar que a saída de cada local só será possível ao pegar a famosa chave de fenda de brinquedo de Tommy.

Cada fase tem um balão de abertura como se fosse um episódio e tudo começa em um dos cômodos da casa, pelos quais passamos por outros personagens, como o vovô dormindo no sofá, ou alguns dos pais das crianças fazendo suas atividades rotineiras e esquecendo que seus bebês estão vagando pela casa. Depois as coisas se tornam mais criativas, pois a imaginação toma conta e vários elementos comuns começam a compor os obstáculos pelo caminho.

Nesse quesito, o estilo artístico característico da série é muito bem aplicado, tanto na ação em primeiro plano quanto nos ambientes de fundo. Sem contar que podemos notar que os inimigos e elementos dos cenários são baseados nos brinquedos deles, como a cabeça flutuante da Cynthia, boneca da Angélica, ou figuras do dinossauro Reptar.

A cozinha, por exemplo, torna-se uma espécie de laboratório; o quintal se transforma em uma floresta; o quarto vira a terra dos sonhos, com uso de tapetes, mamadeiras e travesseiros como plataformas e trampolins, só para citar alguns. A trilha sonora também segue à risca o padrão da série, com melodias divertidas e que combinam bastante com cada fase.

Além disso, para quem quer algo mais retrô, é possível alternar para uma composição 8-bit, tanto visual quanto sonora. Isso muda o jogo para algo que veríamos na época do Nintendinho, com músicas em chiptune e visual mais quadrado. Mesmo com essa mudança, a aventura não perde suas características, o que dá um charme bem interessante para a jogatina.

Uma infância complexa

Rugrats: Adventures in Gameland tem dois extremos muito grandes. Enquanto a jogabilidade é bastante injusta e o level design tem diversas falhas que prejudicam a experiência do jogador, o trabalho artístico traz um carinho imenso com o material original, o que cativa muito quem acompanhou o desenho na época. Ainda assim, infelizmente não vale passar momentos de raiva só pelo apelo nostálgico.

Prós

  • O jogo faz um excelente trabalho ao captar o visual e trilha sonora da animação original;
  • Quatro personagens para poder alternar a qualquer momento;
  • Ótima dose de referências;
  • Alternar entre visuais HD e 8-bit traz um charme divertido.

Contras

  • Diversas falhas de level design que criam situações de soft lock ou passagens impossíveis para os jogadores;
  • Curva de dificuldade desregulada e inconstante;
  • Respawn contínuo de inimigos;
  • Controles não respondem de maneira exata;
  • Batalhas contra chefes muito fáceis.
Rugrats: Adventures in Gameland — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise feita com cópia digital cedida pela The MIX Games

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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