Marko: Beyond Brave surgiu como um projeto financiado no Kickstarter. Em julho de 2021, o jogo tinha como meta um orçamento de 18.500 dólares, valor que foi ligeiramente superado durante os 30 dias em que a campanha esteve aberta para apoiadores.
Com previsão inicial de lançamento para 2022, diversos adiamentos e atrasos na produção forçaram sua prorrogação, culminando no lançamento do game na data de publicação desta análise. A convite do estúdio búlgaro Mechka, tivemos a oportunidade de jogar seu título de estreia no mercado e, como o título do artigo já sugere, ele não agradou tanto quanto esperávamos.
Zagora e a Entropia
Zagora é um reino pacífico e próspero. No entanto, até mesmo os lugares mais tranquilos enfrentam momentos de adversidade. A Entropia, uma antiga ameaça selada nas profundezas da terra, escapou de sua prisão e ameaça mergulhar o mundo no caos.
Marko, um guerreiro que é capaz de dar sua vida na luta contra essa força avassaladora, é mortalmente ferido durante uma tentativa desesperada de atacar a besta mitológica. Nesse momento, ele descobre um poder secreto dentro de si, manifestado por meio de uma espada lendária chamada Valor. A espada se fortalece com a coragem de quem a empunha, liberando o poder necessário para banir o mal.
A jornada de Marko em busca de vingança contra a Entropia o leva a explorar o mundo de Zagora, enfrentando criaturas míticas e forjando alianças para restaurar o equilíbrio e trazer a paz de volta ao reino.
Marko: Beyond Brave é um metroidvania de ação inspirado no folclore balcânico e eslavo. No controle do personagem que dá nome ao jogo, o jogador deve explorar diversas regiões de Zagora em busca de meios para enfrentar a Entropia.
Durante sua jornada, Marko aprende novas técnicas, fortalece suas armas e descobre segredos que proporcionam uma aventura com grandes méritos artísticos, embora a experiência técnica geral deixe a desejar.
O básico é básico, o resto é que o problema
Para os que já estão acostumados com metroidvanias, pode-se dizer que Marko: Beyond Brave entrega o mínimo esperado para uma experiência dentro desse gênero. O protagonista começa com habilidades básicas, evoluindo conforme aprende novas técnicas e utiliza novas armas, principalmente para acessar áreas inexploradas e progredir na trama.
No início, Marko pode saltar, realizar pequenos desvios e atacar com sua espada. Ao longo da aventura, ele aprende novos combos com a espada Valor, ataques especiais e habilidades que aumentam sua mobilidade, como saltos duplos e investidas que lhe concedem pequenas janelas de invencibilidade.
Uma das influências mais claras na jogabilidade é o clássico moderno indie Hollow Knight. Marko utiliza a Coragem, uma barra de energia que é preenchida ao atacarmos inimigos e pode ser usada tanto para recuperar a vida quanto para realizar ataques especiais. Além disso, a física do jogo adota o leve recuo do protagonista ao golpear, algo que pessoalmente não me agradou em Hollow Knight e muito menos aqui.
À primeira vista, tudo parece em ordem. No entanto, ao avançar no jogo, é possível perceber problemas que vão além da bela direção de arte e trilha sonora. A jogabilidade, promovida pela Mechka como "precisa", não é tão refinada. A mobilidade de Marko, embora aceitável, falha em momentos cruciais que exigem precisão, especialmente em seções que envolvem saltos.
O combate, porém, foi onde encontrei a experiência mais frustrante. Os golpes de Marko, seja com a espada ou com outras armas, como sua variante de lança, são inconsistentes. Em várias situações, meus golpes atingiam a área dos inimigos, mas não causavam dano, enquanto o oposto parecia sempre favorecer os adversários, que me atingiam com mais facilidade.
Esses problemas se agravam nas batalhas contra chefes, onde os inimigos podem cancelar animações de ataque, tornando o combate, que já não é dos mais desafiadores, frustrante e confuso. Para vencer, além de aprender os padrões dos chefes, é necessário lidar com esses bugs e se antecipar às situações improváveis.
Outras falhas técnicas acompanharam minha jornada, como músicas que paravam sem explicação, inimigos invisíveis e, o mais grave, um softlock permanente que me fez perder o progresso. Após derrotar um chefe ao mesmo tempo que fui derrotado, o jogo recarregou com o chefe morto, mas sem me conceder a técnica necessária para avançar, o que me obrigaria a reiniciar a partida, torcendo para que o "double KO" não ocorresse novamente.
Além desses problemas, elementos fundamentais de Marko: Beyond Brave mostram que o jogo parece inacabado. O minimapa, embora útil, é pequeno e difícil de usar, ocupando espaço no meio da tela. Os menus também carecem de uma interface mais funcional e agradável de navegar.
Curiosamente, os modelos conceituais apresentados no Kickstarter aparentavam ser melhor projetados do que os encontrados na versão final. Fica a dúvida: o que aconteceu durante o desenvolvimento para que tantas boas ideias, algumas até básicas, não fossem implementadas adequadamente?
Conceito do menu de inventário apresentado na página da campanha no Kickstarter |
Menu de inventário da versão final do jogo. |
Por enquanto, é só mais um jogo na praça
Marko: Beyond Brave é um jogo com potencial latente que infelizmente frustrou minhas expectativas. Embora ofereça uma estética agradável e uma trilha sonora imersiva e bem característica, a experiência é comprometida por problemas técnicos e uma jogabilidade inconsistente.
O jogo apresenta um bom ponto de partida no gênero metroidvania, mas falha em oferecer a precisão e o polimento necessários para se destacar entre os títulos de maior qualidade, principalmente neste gênero tão explorado cultuado no cenário independente.
Prós
- Os visuais do jogo são um de seus maiores trunfos, com um estilo artístico atraente e bem-trabalhado;
- A música complementa bem a atmosfera do jogo, ajudando a criar uma ambientação envolvente;
- Para os fãs do gênero, oferece o básico esperado de um metroidvania, como evolução do personagem e exploração de novas áreas.
Contras
- A movimentação de Marko e o sistema de combate sofrem com falta de precisão, tornando a experiência frustrante em várias situações;
- Anomalias como músicas que desaparecem, inimigos invisíveis e risco de softlocks prejudicam a continuidade da aventura;
- O minimapa e os menus são mal projetados, tornando a navegação e o uso durante o jogo desagradáveis;
- O desbalanceamento nas batalhas contra chefes devido à possibilidade de cancelarem animações e os problemas de hitbox tornam as lutas desordenadas e frustrantes.
Marko: Beyond Brave — PC — Nota: 5.0
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pelo Studio Mechka