Análise: Marko: Beyond Brave promete bravura, mas entrega apenas o básico

Desbrave um mundo belo que se mostra um projeto bem encaminhado, porém inacabado.

em 17/09/2024

Marko: Beyond Brave
surgiu como um projeto financiado no Kickstarter. Em julho de 2021, o jogo tinha como meta um orçamento de 18.500 dólares, valor que foi ligeiramente superado durante os 30 dias em que a campanha esteve aberta para apoiadores.

Com previsão inicial de lançamento para 2022, diversos adiamentos e atrasos na produção forçaram sua prorrogação, culminando no lançamento do game na data de publicação desta análise. A convite do estúdio búlgaro Mechka, tivemos a oportunidade de jogar seu título de estreia no mercado e, como o título do artigo já sugere, ele não agradou tanto quanto esperávamos.

Zagora e a Entropia

Zagora é um reino pacífico e próspero. No entanto, até mesmo os lugares mais tranquilos enfrentam momentos de adversidade. A Entropia, uma antiga ameaça selada nas profundezas da terra, escapou de sua prisão e ameaça mergulhar o mundo no caos.


Marko, um guerreiro que é capaz de dar sua vida na luta contra essa força avassaladora, é mortalmente ferido durante uma tentativa desesperada de atacar a besta mitológica. Nesse momento, ele descobre um poder secreto dentro de si, manifestado por meio de uma espada lendária chamada Valor. A espada se fortalece com a coragem de quem a empunha, liberando o poder necessário para banir o mal.

A jornada de Marko em busca de vingança contra a Entropia o leva a explorar o mundo de Zagora, enfrentando criaturas míticas e forjando alianças para restaurar o equilíbrio e trazer a paz de volta ao reino.


Marko: Beyond Brave é um metroidvania de ação inspirado no folclore balcânico e eslavo. No controle do personagem que dá nome ao jogo, o jogador deve explorar diversas regiões de Zagora em busca de meios para enfrentar a Entropia.

Durante sua jornada, Marko aprende novas técnicas, fortalece suas armas e descobre segredos que proporcionam uma aventura com grandes méritos artísticos, embora a experiência técnica geral deixe a desejar.

O básico é básico, o resto é que o problema

Para os que já estão acostumados com metroidvanias, pode-se dizer que Marko: Beyond Brave entrega o mínimo esperado para uma experiência dentro desse gênero. O protagonista começa com habilidades básicas, evoluindo conforme aprende novas técnicas e utiliza novas armas, principalmente para acessar áreas inexploradas e progredir na trama.


No início, Marko pode saltar, realizar pequenos desvios e atacar com sua espada. Ao longo da aventura, ele aprende novos combos com a espada Valor, ataques especiais e habilidades que aumentam sua mobilidade, como saltos duplos e investidas que lhe concedem pequenas janelas de invencibilidade.

Uma das influências mais claras na jogabilidade é o clássico moderno indie Hollow Knight. Marko utiliza a Coragem, uma barra de energia que é preenchida ao atacarmos inimigos e pode ser usada tanto para recuperar a vida quanto para realizar ataques especiais. Além disso, a física do jogo adota o leve recuo do protagonista ao golpear, algo que pessoalmente não me agradou em Hollow Knight e muito menos aqui.


À primeira vista, tudo parece em ordem. No entanto, ao avançar no jogo, é possível perceber problemas que vão além da bela direção de arte e trilha sonora. A jogabilidade, promovida pela Mechka como "precisa", não é tão refinada. A mobilidade de Marko, embora aceitável, falha em momentos cruciais que exigem precisão, especialmente em seções que envolvem saltos.

O combate, porém, foi onde encontrei a experiência mais frustrante. Os golpes de Marko, seja com a espada ou com outras armas, como sua variante de lança, são inconsistentes. Em várias situações, meus golpes atingiam a área dos inimigos, mas não causavam dano, enquanto o oposto parecia sempre favorecer os adversários, que me atingiam com mais facilidade.

Esses problemas se agravam nas batalhas contra chefes, onde os inimigos podem cancelar animações de ataque, tornando o combate, que já não é dos mais desafiadores, frustrante e confuso. Para vencer, além de aprender os padrões dos chefes, é necessário lidar com esses bugs e se antecipar às situações improváveis.

Outras falhas técnicas acompanharam minha jornada, como músicas que paravam sem explicação, inimigos invisíveis e, o mais grave, um softlock permanente que me fez perder o progresso. Após derrotar um chefe ao mesmo tempo que fui derrotado, o jogo recarregou com o chefe morto, mas sem me conceder a técnica necessária para avançar, o que me obrigaria a reiniciar a partida, torcendo para que o "double KO" não ocorresse novamente.


Além desses problemas, elementos fundamentais de Marko: Beyond Brave mostram que o jogo parece inacabado. O minimapa, embora útil, é pequeno e difícil de usar, ocupando espaço no meio da tela. Os menus também carecem de uma interface mais funcional e agradável de navegar.

Curiosamente, os modelos conceituais apresentados no Kickstarter aparentavam ser melhor projetados do que os encontrados na versão final. Fica a dúvida: o que aconteceu durante o desenvolvimento para que tantas boas ideias, algumas até básicas, não fossem implementadas adequadamente?
Conceito do menu de inventário apresentado na página da campanha no Kickstarter

Menu de inventário da versão final do jogo.

Por enquanto, é só mais um jogo na praça

Marko: Beyond Brave é um jogo com potencial latente que infelizmente frustrou minhas expectativas. Embora ofereça uma estética agradável e uma trilha sonora imersiva e bem característica, a experiência é comprometida por problemas técnicos e uma jogabilidade inconsistente.

O jogo apresenta um bom ponto de partida no gênero metroidvania, mas falha em oferecer a precisão e o polimento necessários para se destacar entre os títulos de maior qualidade, principalmente neste gênero tão explorado cultuado no cenário independente.

Prós

  • Os visuais do jogo são um de seus maiores trunfos, com um estilo artístico atraente e bem-trabalhado;
  • A música complementa bem a atmosfera do jogo, ajudando a criar uma ambientação envolvente;
  • Para os fãs do gênero, oferece o básico esperado de um metroidvania, como evolução do personagem e exploração de novas áreas.

Contras

  • A movimentação de Marko e o sistema de combate sofrem com falta de precisão, tornando a experiência frustrante em várias situações;
  • Anomalias como músicas que desaparecem, inimigos invisíveis e risco de softlocks prejudicam a continuidade da aventura;
  • O minimapa e os menus são mal projetados, tornando a navegação e o uso durante o jogo desagradáveis;
  • O desbalanceamento nas batalhas contra chefes devido à possibilidade de cancelarem animações e os problemas de hitbox tornam as lutas desordenadas e frustrantes.
Marko: Beyond Brave — PC — Nota: 5.0
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pelo Studio Mechka

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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