Análise: Bloomtown: A Different Story combina nostalgia e boas mecânicas em um RPG que sofre de problemas de ritmo

Apesar de alguns deslizes, este RPG combina um mundo belíssimo com mecânicas de combate interessantes.

em 23/09/2024

Produzido pela Lazy Bear Games e Different Sense Games e publicado pela Twin Sails Interactive, Bloomtown: A Different Story é um RPG com características bem tradicionais que nos coloca em um mundo de mistérios que envolvem demônios e o desaparecimento de jovens. Estando no controle de Emily e seus amigos, precisamos descobrir a origem do problema que assombra a pacata cidade de Bloomtown e evitar que novos desaparecimentos aconteçam.

Demônios, crianças e uma (suposta) cidade pacata

Ambientado nos Estados Unidos dos anos 1960, Bloomtown: A Different Story é um RPG por turnos que tem como principal foco narrativo um grupo de crianças que precisam combater demônios. Na história, estamos no controle de Emily, que junto de seu irmão Chester, vão passar as férias de verão na casa de seu avô, localizada na cidade que dá nome ao jogo.

O que parece ser apenas uma simpática cidade de interior logo se torna um pesadelo na vida das crianças. Os casos de adolescentes raptados estão se tornando mais frequentes, e o último relato envolvendo uma jovem chamada Sarah chama a atenção da nossa protagonista. Após alguns eventos estranhos, Emily se depara com um submundo repleto de demônios e descobre que eles são os responsáveis pelos eventos do mundo real.




Dotada de coragem, Emily convence seu irmão Chester, sua mais nova amiga Ramona e um cachorro falante chamado Hugo a combater os demônios, salvar Sarah e trazer a paz de volta à Boomtown. Mesmo que a premissa da história não seja das mais criativa, ela é bem desenvolvida na campanha, tendo personagens cativantes e uma boa variedade de eventos paralelos como prêmios pela nossa exploração do mapa e conclusão de missões secundárias.

A estrutura do gameplay é bem tradicional, alternando momentos de exploração do seu pequeno mapa aberto com combates no submundo. Cada cantinho do mapa apresenta alguma surpresa, seja um baú com itens de cura ou equipáveis ou uma missão secundária que vai nos premiar com dinheiro. 

Aliado a isso, temos o estilo gráfico em pixel art que remete a muitos RPGs dos anos 1990. A qualidade da ambientação é notável, principalmente no que diz respeito aos cenários repletos de elementos coloridos e cheios de vida — até mesmo ambientes internos receberam um cuidado em sua construção. Isso dá a sensação de que cada local é único e reflete bem a personalidade dos habitantes de Boomtown.



Combate por turnos, captura de monstros e um péssimo ritmo

Um dos pontos mais interessantes de Boomtown é seu combate. O jogo possui uma base tradicional dos RPGs, com ataques por turnos, magias, e um sistema de vantagens e fraquezas. Cada personagem possui uma barra de vida e uma de mana (que é usada para os ataques especiais), além de espaços para equipar novas armas e armaduras, o que influencia diretamente nas estatísticas de ataque, defesa e precisão dos golpes.

Mas aqui o jogo apresenta alguns diferenciais. Primeiramente, cada personagem da party possui um demônio guardião, sendo ele o responsável pelos golpes especiais que consomem a barra de mana. As magias são baseadas em elementos como cura, fogo, gelo e eletricidade e podem atribuir status negativos aos inimigos. Ao subirmos de nível, novas habilidades vão sendo desbloqueadas.




Além disso, há uma mecânica de captura de monstros muito interessante. Quando conseguimos atordoar um demônio em batalha, podemos tentar capturá-lo a partir de um  lançamento de dados. Tendo sucesso, podemos atribuí-lo para algum personagem e combinar suas habilidades com as do guardião. Dessa forma, podemos elaborar inúmeras estratégias de combate, pois cada demônio possui características únicas que podem ser exploradas de diferentes formas.

Durante a minha jogatina, cheguei a testar algumas combinações, mas o que mais gostei de fazer foi montar um time super ofensivo para acabar rapidamente com as batalhas. Além de fazer mais o meu estilo, Boomtown tem um problema de ritmo que me fez querer avançar da maneira mais rápida possível de alguns trechos.




Uma das coisas que mais gostei de Terra Memoria, um RPG por turnos que analisei há alguns meses, era a possibilidade de acelerar as animações de combate e não perder muito tempo com o grinding. Aqui, a situação muda completamente, pois as lutas se tornam arrastadas e cansativas, o que me fez ter uma certa preguiça de enfrentar os inimigos.

Em determinado ponto, a única coisa que me animava era ver os designs dos demônios e apreciar a trilha sonora, que por sinal é excelente. Assim como a ambientação é bem-feita, os inimigos também possuem características marcantes que os tornam únicos, além de animações super elaboradas.



Uma pitada de RPG de mesa

Boomtown apresenta em sua jogabilidade mais uma camada de complexidade que é explorada ao longo de toda a campanha. Logo no início do jogo, podemos distribuir alguns pontos de atributos em Emily, sendo eles Conhecimento, Charme, Gentileza, Coragem e Proficiência. Essas características interferem diretamente em certas missões, facilitando nossa vida para conseguir enfrentar algum problema ou então persuadir alguém.

Há muitas tarefas que, quando realizadas, aumentam esses atributos. Por exemplo, ler aumenta o conhecimento, enquanto se exercitar na academia melhora nossa coragem. No entanto, o jogo conta com um sistema de dias que limita a quantidade de ações que podemos fazer. Dessa forma, temos que decidir qual a nossa prioridade de melhoria durante a campanha.




Eu gostei de ver como as minhas diferentes decisões influenciaram no meu progresso. Eu foquei no desenvolvimento de conhecimento e charme e isso me levou a momentos nos quais eu resolvi meus problemas na base da conversa, sabendo argumentar com adultos e os manipulando para fazer o que eu queria. Por outro lado, a minha coragem ficou baixa e em momentos de confronto eu não consegui resolver da maneira mais fácil e sempre dependia de uma solução alternativa.

Cada ação que dependia desses parâmetros era feita a partir de uma rolagem de dois dados, sendo um duplo uma falha crítica e um duplo seis um acerto crítico. Quanto maior o valor do atributo, menor a nossa dependência de números altos nos dados. Usando como exemplo minha experiência, eu quase sempre dependia de um duplo seis quando a coragem era necessária.

Mesmo que interessante, essa mecânica poderia ter sido melhor explorada ao longo do jogo. Mesmo que o impacto em alguns momentos seja grande, eu não vejo, por exemplo, isso sendo algo decisivo para jogar novamente o game. Ainda mais que sempre tem alguma outra forma de resolver os problemas, então ele não se torna tão decisivo assim na campanha.



Um RPG bem-feito, mesmo que com alguns problemas

Apesar de se apoiar em conceitos tradicionais do gênero, Bloomtown: A Different Story chama a atenção pela forma com a qual complementa essas características, apresentando uma mecânica de captura de demônios e um sistema simples de RPG de mesa. Visualmente, ele também chama a atenção e traz um ar nostálgico para os amantes dos jogos da era 16 bits. Apesar do problema de ritmo, ele é uma recomendação certa para qualquer jogador que queira um jogo desafiador e agradável para passar o tempo.

Prós

  • A narrativa é envolvente e bem desenvolvida, apresentando uma história interessante e personagens cativantes;
  • A ambientação é bem elaborada, com cenários coloridos e cheios de vida;
  • O sistema de captura e atribuição de monstros dá uma camada complexa ao combate; 
  • Os elementos de RPG de mesa são criativos e trazem diferentes alternativas para a jogatina.

Contras

  • As mecânicas de RPG de mesa poderiam ser melhor exploradas;
  • O ritmo do combate e da exploração do submundo é lento.
Bloomtown: A Different Story — PC/PS5/PS4/XSX/XBO/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise feita com cópia digital cedida pela Twin Sails Interactive


É engenheiro geólogo, graduando em Engenharia Ambiental, entusiasta de novas tecnologias e apenas mais um mineiro que não vive sem café e pão de queijo. Gosta de aproveitar o tempo apreciando RPGs, relaxando em simuladores de fazenda e curtindo uma boa música em jogos de ritmo.
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