Após conquistar elogios na realidade virtual com Astro Bot: Rescue Mission e de cativar com Astro’s Playroom, uma demo técnica que vale por um jogo completo, embora curto, o pequeno robô da Team Asobi estrela sua primeira grande aventura na linha principal da PlayStation. É um marco tão importante para um personagem conceitual que já tem mais de dez anos de existência que a simplificação do título até soa como um reboot: Astro Bot.
O conceito em questão é o de garoto propaganda de tudo que é relacionado à PlayStation, especialmente a tecnologia e os personagens. Esse papel, tipicamente secundário, tomou a dianteira e o herói Astro incorpora em sua aventura toda a história da marca. É uma verdadeira mascote em ascensão e esse cargo terá um futuro promissor, caso sua dona trate-a tão bem quanto neste maravilhoso lançamento que analiso agora.
Uma festa do começo ao fim
Tudo em Astro Bot é repleto de detalhes, interações, reações e muita alegria. São coisas que podem não influenciar diretamente na gameplay, mas conferem um dinamismo contagiante que compensa prestar atenção aos arredores.
Os cenários também não ficam parados e se expandem com toboáguas, paredes derrubadas, gigantes que se erguem, mares que se abrem. Objetos têm olhos e se movem, granulado de doces espalhados pelo chão, cenários destrutíveis de “pixels”, robôs animais de diversas espécies, bots que precisam ser resgatados de várias situações engraçadas. Aproximei a câmera de Astro e ele deu xauzinho. Subi em uma tartaruga na água e Astro surfou nela. Balancei o controle na animação de final de fase e os personagens que estão na nave DualSpeeder foram jogados para o alto.
A enxurrada de surpresas da história dos videogames é adornada com minúcias caprichadas que vão aquecer os corações não apenas de quem conhece suas referências, mas também de quem gosta da atmosfera vibrante e positiva de diversão de plataforma. Para evitar spoilers, mencionarei apenas exemplos do primeiro mundo ou já mostrados em trailers, mas as imagens também exibirão fases mais adiantadas.
Super Astro Galaxy
Enquanto Astro e outras centenas de bots cruzavam a galáxia na maior folia na PlayStar Destroyer Nave-mãe, toparam com um alien no meio do caminho, aquele mesmo chefão final de Astro Bot: Rescue Mission, de PS VR. Só para ver o mal, o delinquente abriu as tampas do console-nave e raptou o indefeso Garoto CPU, deixando outras peças e bots à deriva no espaço enquanto Astro e o corpo da nave caíram em um planeta desértico.
Salvo pela DualSpeeder, a nave que tem forma de DualSense, o herói parte para os planetas das redondezas para reconstruir sua nave, parte por parte, e, mais uma vez, resgatar seus companheiros digitais.
O Local da Queda funciona como uma grande fase que mistura caça a colecionáveis e base de operações. É ali que se reúnem todos os amigos encontrados, para ajudar no conserto do PS5 gigante. As lojas de cosméticos também ficam pelo lugar e ainda há quatro ruínas na região onde mais bots estão perdidos, gradualmente acessíveis.
Para além desse hub, a campanha de Astro Bot é dividida em cinco mundos, mas eles não são centrados em temas específicos. Na verdade, cada fase principal do jogo é um ambiente único, com grande riqueza visual em cenários deslumbrantes em que tudo é muito refinado: as texturas de materiais, os reflexos, as luzes que rebatem nas superfícies e a física dos diversos objetos espalhados pelo chão.
Além de belas, as fases têm mecânicas específicas para variar a gameplay por meio dos animais que ajudam Astro na missão. Enquanto o robozinho só tem os comandos básicos de saltar, flutuar, bater e puxar, os acessórios conferem habilidades apropriadas para cada local, como o relógio que desacelera o tempo, a galinha que decola como um foguete e o polvo que infla para voar alto.
Um dos que mais gostei foi o uso do ratinho que deixa Astro minúsculo, fazendo com que a fase possa ser explorada alternando entre duas proporções de tamanho em tempo real. Cada mecânica de amigos-acessórios é reaproveitada em duas ou três fases de forma divertida, evitando tanto a negligência como o cansaço da repetição.
Cada mundo tem suas várias fases, que são essencialmente lineares e têm diversos segredos para descobrir, o que me levou a rejogá-las em busca da completude máxima. Até há alguns minichefes aqui e ali, mas são bem tímidos se compararmos com as lutas espetaculares contra o chefão ao final dos mundos, verdadeiros shows de set pieces de ação que nem sempre são desafiadoras, mas rendem espetáculos grandiosos.
A dificuldade do jogo como um todo é dosada para ser acessível e, ao mesmo tempo, manter o interesse, usando o ideal de “fácil de finalizar, desafiadora de completar”. Os checkpoints constantes asseguram o sucesso, mas foram raros os estágios que arrematei de primeira, precisando rejogar a maioria mais vezes para encontrar certos segredos bem escondidos — esse tipo de exploração atenta é parte do prazer em plataforma 3D de colecionáveis.
Algumas fases têm saídas secretas bem escondidas que liberam mais de dez novos estágios em um sexto mundo especial, incentivando a vasculhar cada cantinho para obter acesso a mais material. Também há fases curtas de desafio, do tipo que não tem checkpoint e exige boa performance para chegar de uma vez até o fim.
Por fim, há ainda níveis bem pequenos para derrotar inimigos, que parecem um tanto deslocados do conjunto como um todo. Enquanto todo o resto de Astro Bot é admirável, esse tipo é o único que cai no simplismo, parecendo servir apenas de desculpa para coletar mais personagens. No entanto, como são bem curtos mesmo, não chegam a contar como enrolação nem nos fazem perder tempo com gameplay inferior.
Com tudo isso, a aventura soma um grande hub com coisas para ver e encontrar, mais de 40 fases principais, mais de 20 de desafios e mais umas dez pequenininhas e despretensiosas que estão ali por estar. Não tenho o tempo exato (porque meus filhos também estão jogando, o que aumenta o total registrado pelo PS5), mas acredito que levei perto de 15 horas para completar tudo. Dependendo das expectativas de cada um, a concisão pode ser uma bênção ou um incômodo; em minha experiência, senti que como uma duração razoável para um platformer com gameplay direta, de qualidade e sem enrolação.
Bot of War
Um dos grandes atrativos do antecessor, Astro’s Playroom, são os numerosos easter eggs que mostram os bots personificando clássicos dos games. Astro Bot mantém a ideia e a leva adiante, aumentando a quantidade de referências icônicas e colocando-as como colecionáveis escondidos que Astro deve encontrar em cada fase.
Todos os companheiros famosos que ele resgata ficam espalhados pelo hub ao redor da nave-mãe, como um enorme crossover de estrelas reunidas. Podemos usar as moedas coletadas para comprar na máquina de gatcha acessórios específicos de cada um, o que libera uma interação com eles ao batermos nos amigos. É, os tapas fazem parte da amizade dos bots.
A máquina de gatcha, por sua vez, só é construída depois de completarmos um quebra-cabeças com as peças que encontramos nas fases. Também as usamos para formar locais de customização, com camadas de tinta para a DualSpeeder e trajes para o robozinho, Dessa forma, os colecionáveis acumulados contribuem para acessar ainda mais colecionáveis e cosméticos, uma cascata de coisinhas interessantes, adoráveis e nostálgicas.
Nomes de todos os cinco consoles principais e dos dois portáteis estão bem representados nessas fileiras de fan service de qualidade, com até alguns mais obscuros dos primeiros PS (admito que não reconheci alguns). A lista não tem apenas propriedades da casa, mas também diversos convidados importantes para a marca, como Crash Bandicoot e muitos personagens de outras origens, especialmente de duas certas companhias japonesas. Eles não são chamados por seus nomes, mas por alcunhas e comentários de precisão levemente sarcástica que me fiz rir.
Algumas das estrelas da casa têm suas próprias fases desbloqueáveis, nas quais Astro incorpora o visual e a gameplay desses protagonistas, como um de God of War Ragnarök em que usamos o machado Leviatã, procuramos corvos fantasmas e resgatamos várias pessoas do elenco.
O DualSense também é protagonista
Outra área em que o detalhismo beira a obsessão é o uso de recursos do DualSense, especialmente o combo de feedback háptico + caixinha de som embutida. Os tremores do controle variam de diversas formas, dependendo se Astro está na água, na grama ou nas folhas soltas. Correr por uma superfície de pedra que tem um parafuso no final faz sentir o rápido passo distinto ao passar por aquela peça de metal. Podemos sentir até o robozinho tremendo de frio em estágio de gelo.
O que aprofunda a sensação é o som. O DualSense não se cala durante a campanha, roncando os sons dos motores, dos passos, saltos, patinação, golpes, farfalhar, explosões, tudo muito específico e em harmonia com a vibração do controle.
A Team Asobi também fez uso do sensor de movimento para algumas partes simples de voar com a nave DualSpeeder e em trechos scriptados de montar as peças da nave-mãe. São interações guiadas que não chegam a ser gameplay propriamente dita, mas que refletem como cada mínimo pedacinho de Astro Bot foi feito com esmero que une criatividade e tecnologia para provocar sensações prazerosas e altamente imersivas.
Em relação a Astro’s Playroom, Astro Bot recua um pouco em um dos aspectos do DualSense: o touch pad, ferramenta que foi melhor empregada no jogo gratuito da estreia do PS5. Esse pequeno passo para trás, no entanto, não diminui o fantástico uso do controle e ainda mantém a dupla de games em um nível de aproveitamento funcional muito acima de qualquer outro que experimentei no console.
O entretenimento e a ludicidade são ininterruptos e preenchem cada espaço, sem lacunas ou prolongamentos artificiais. Mesmo sendo uma grande comemoração dos 30 anos de PlayStation, o conjunto vai muito além da mera propaganda e exalta uma longa história de criações e parcerias do passado e do presente com uma dedicação apaixonante. Nada é tratado como supérfluo ou fora de lugar. Astro Bot é um primor de diversão efusiva do começo ao fim.
Vale dizer que a versão utilizada para análise foi a Digital Deluxe, que acompanha artbook e trilha sonora digitais, além de três skins para Astro e para a DualSpeeder, incluindo as que você pode ver na imagem que encerra o texto.
O astro da vez
Astro Bot continua o bom trabalho de representar a história da PlayStation e abrir sorrisos com inúmeras referências adoráveis, mas tem muito mais que isso a oferecer, sendo um jogo divertido, criativo, dinâmico e lindo em cada detalhe, merecendo um lugar no panteão dos melhores plataforma 3D de todos os tempos.
Prós
- Visuais impecavelmente bonitos e polidos;
- Ambientes vibrantes, abundantes em detalhes e em interações charmosas;
- A numerosas referências a jogos de várias empresas que estiveram nos consoles PlayStation são atraentes e bem colocadas;
- Tanto o visual quanto as mecânicas dos planetas são criativos e bem distintos entre si, com estática e gameplay ricas em variedade;
- O DualSense é aproveitado com excelência, aprofundando bastante a imersão sensorial;
- Textos em português brasileiro.
Contras
- A dificuldade acessível, no estilo “fácil de prosseguir, desafiador de completar” pode ser um ponto negativo para quem busca maiores desafios de plataforma e de combate;
- A duração de 12 a 15h é adequada, mas pode não ser satisfatória para quem tem expectativa por jogos longos.
Astro Bot — PS5 — Nota: 10
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sony