Ao pensar em jogos de corrida, talvez a série Asphalt não seja a primeira que venha à cabeça de qualquer jogador, mas ela tem se mantido presente nas plataformas desde 2004, com mais de 20 títulos. Com sua origem mobile, que inclui o duvidoso e insólito N-Gage da Nokia, a proposta sempre foi trazer corridas curtas com carros chamativos.
Asphalt 9: Legends foi o último título numerado da franquia, lançado em 2018 para Android, e nos anos seguintes chegou ao Switch, Xbox e PC. Agora, devido às diversas atualizações, o jogo chegou ao PlayStation 4 e 5, rebatizado como Asphalt Legends Unite.
Muitos eventos para pouco tempo
O principal chamativo de Asphalt Legends Unite é o fato dele ser de graça. É só baixar e jogar, mas é claro que tem alguns poréns para quem quer aproveitar. Seguindo um molde muito praticado em jogos mobile, e até alguns de console como Disney Speedstorm, também produzido pela Gameloft, sempre temos que juntar fragmentos para conseguir carros novos.
Os veículos são divididos por categorias que vão de D a S e cada um deles pode ser evoluído para alcançar o máximo do seu potencial, rankeado por estrelas, podendo o máximo variar entre três e seis, dependendo da categoria. Claro que quanto mais potente o carro, mais fragmentos serão necessários para preencher cada estrela dele.
De início, recebemos o bastante para liberar pelo menos três carros, além de mais alguns fragmentos que deixam mais alguns a um alcance aceitável. Jogar o modo carreira de início é a única alternativa para aumentar o tamanho da nossa garagem, mas logo esbarramos na problemática de aparecer uma ou outra missão que necessita de uma máquina específica, que obviamente ainda não está no nosso acervo.
Nesse meio-tempo, a progressão na carreira, com a consequente progressão do nosso nível de jogador, libera outras opções, como os Eventos Especiais e os Eventos Diários, para introduzir a parte de grinding mais pesada do jogo. Essas duas seções apresentam provas que nem sempre precisam ser ganhas para nos dar algumas recompensas.
Agora vem outra pegadinha: nesses modos, possuímos 10 tíquetes, os quais são gastos ao entrarmos nesses eventos, seja um ou dois. Assim que eles forem zerados, temos que esperar algumas horas para que eles sejam recarregados. E por falar em recarga, os carros também contam com um número limitado de usos, e quanto mais potente ele for, mais longo é o tempo de recuperação.
Para quem já tem uma garagem mais volumosa, é fácil driblar essa espera revezando entre os modos de jogo e diferentes classes. Se você fizer parte de quem acabou de baixar o jogo esperando uma diversão sem gastar um tostão, infelizmente vai ter que amargar um começo de jornada bem amarrado.
Entre pacotinhos, moedas, diamantes, fichas e tudo mais que puder ser usado para fazer compras
Claro que a natureza mobile de Asphalt Legends Unite deixaria subentendido que as microtransações estariam presentes, mas a maneira como elas atuam é bastante agressiva. São tantos tipos de itens usados para realizar compras que a cabeça até chega a dar um nó, mas tentarei ser breve na explicação:
Diamantes: são conseguidos apenas usando nosso dinheiro de verdade. Com eles, podemos avançar muito no jogo ao adquirir pacotes inteiros de carros mais avançados, já com peças de melhorias incluídas e fragmentos o bastante para deixá-los com duas estrelas. Também é possível usar diamantes para comprar qualquer outro tipo de moeda do jogo, de maneira direta ou indireta;
Fichas azuis: são ganhas ao completarmos missões durante as corridas, como nocautear oponentes e dar piruetas no ar, e ao realizar tarefas de login diário. Servem para comprar pacotes de fragmentos aleatórios, pular missões e acelerar a recarga dos tíquetes de evento e carros;
Moedas: é o prêmio mais básico de Asphalt Legends Unite, ganho sempre após as corridas e gasto para aprimorar o nível dos carros;
Fichas vermelhas: recebidas apenas quando tiramos fragmentos de um carro que já possui todas as estrelas. Podem ser trocadas na loja por outros fragmentos de carro ou peças de melhoria, mas a quantidade recebida sempre é infinitamente inferior à necessária para adquirir algo;
Fichas rochas: essas só aparecem durante os eventos periódicos Syndicate e só podem ser usadas nas lojas do mesmo, pois são focadas nos carros usados nele. São conseguidas cumprindo missões principais e secundárias de Syndicate ou com as fichas azuis.
No fim das contas, tudo isso pode ser conseguido às custas de muita paciência ou dinheiro real, pois caso o jogador adquira o Passe de Temporada, há uma bela ajuda. Além de receber prêmios mais generosos dos níveis do passe, os carros também poderão ser usados mais vezes e terão um tempo menor de recarga.
Para este texto, eu adquiri o primeiro passe lançado junto com a estreia do jogo, pois ele possuía um valor mais baixo que os que estão em vigor agora, e a diferença na experiência oferecida é melhorada significativamente, a ponto de até ficar sem graça seguir com a parte gratuita após o passe expirar. Todos eles duram em média 30 dias.
Mencionando mais uma vez Disney Speedstorm, relatei o mesmo problema na análise que fiz dele, com a quantidade abusiva de moedas e fichas, nas quais cada uma fazia uma coisa e uma principal regia todas as outras. Atualmente, o jogo simplificou um pouco as coisas, mas continua mais baseado nas microtransações. Logo, mesmo dando um ou outro “brinde” para quem joga de graça, a parte de coletar carros e aprimorá-los é gravemente afetada, e isso inevitavelmente reflete nos demais modos de jogo.
Tudo isso que citei acima se torna ainda mais pesado, pois é um pecado que o jogador seja impedido de poder aproveitar o acervo de mais de 250 veículos, entre carros famosos, protótipos e modelos esportivos. Temos Corvettes, Ferraris, Lamborghinis, Camaros, Porsches, entre outros milhares de nomes automotivos ilustres.
Uma pirueta, duas piruetas…
No que diz respeito à pilotagem, Asphalt Legends Unite tenta ser inclusivo e divertido ao mesmo tempo, algo que ele consegue na maioria das vezes, dando uma ou outra derrapada. O Touch Drive é um recurso interessante que ajuda bastante jogadores mais novos, que ainda não têm o tato para jogos de corrida. Ele traz auxílios como aceleração automática e escolha de rotas apenas selecionando setas, tudo ao toque de um botão.
Esse tipo de funcionalidade é muito bem-vindo, pois as pistas possuem mais de uma rota e vale dar o crédito também por serem bastante criativas, com caminhos que se intercalam em diversos ambientes. Corremos por córregos em Paris, no meio de um tornado nos cânions norte-americanos, em uma fábrica de carros em Tóquio e uma geleira na Noruega, só para citar algumas localidades, e todas elas com um trabalho gráfico bastante competente.
O acelerador e o freio não servem só para ganhar a corrida, mas também como armas de ataque. Podemos nocautear nossos rivais de duas maneiras: causando uma onda de choque ao usar o nitro; ou pressionando o freio duas vezes rapidamente, para o carro dar um giro 360 e acertar quem está em volta. Ainda assim, há momentos em que esse recurso traz muitas dores de cabeça.
O giro não acerta só quem está à nossa frente ou emparelhado lado a lado: se um rival acelerar, mesmo estando atrás de nós, ele será pego no rebote, e para cada vez que acertamos alguém, a câmera muda a perspectiva — por questões de dramaticidade — e entra em slow motion. Em diversos momentos, meu carro acabou parado na contramão ou se chocando contra um obstáculo quando acertava mais de quatro oponentes.
Outra questão são as piruetas. Algumas das rampas que estão pelo caminho são curvas; ao passarmos em alta velocidade por elas, daremos uma pirueta, mas isso pode variar e não sabemos o motivo. Por vezes, carros mais lentos conseguem performances acrobáticas de três ou quatro giros no ar, enquanto os bólidos de nível S mal conseguem dar uma, isso quando não aterrissam de ponta-cabeça no chão. Além disso, perdemos um pouco do controle no ar, e o objeto voador de quatro rodas pode acabar indo para uma direção totalmente diferente da que estávamos, o que é um efeito bem bizarro.
Ainda assim, o jogo faz de tudo para que o jogador ganhe. Só teremos dificuldades na corrida se nosso carro estiver abaixo do nível recomendado para a etapa. Se estivermos acima, algum milagre acontece ao alcançarmos mais ou menos 65% e todos os competidores desaprendem a dirigir, nos deixando ter uma larga vantagem para a linha de chegada.
Quem não segue essa métrica é a polícia. À medida que começamos a disputar provas nas classes mais altas, os homens da lei começam a nos perseguir pela pista de maneira bastante efusiva, e eles também podem aparecer no meio do caminho, colidindo e nos empurrando para fora da pista. O que tinha tudo para tornar o desafio mais interessante acaba ficando irritante, principalmente após surgirem os furgões, que conseguem atrapalhar a visão do jogador sempre que batem na nossa traseira.
Volante de ouro, pneu furado
A chegada de Asphalt Legends Unite ao PlayStation também ajuda a chamar atenção para as atualizações feitas nos outros consoles, mas também mostra um grande potencial lacrado pela ganância das microtransações. Entendo que seja um jogo gratuito e que alguma monetização deva existir, mas a maneira de limitar os jogadores e forçá-los a comprar passes e pacotes caros tira o brilho do que poderia ser um excelente jogo de corrida arcade.
Prós
- Acervo de mais de 250 carros reais;
- Pistas bem-feitas, com ambientes graficamente bonitos e trajetos dinâmicos;
- O Touch Drive é um recurso interessante para quem está começando nos jogos de corrida;
- A onda de choque e o 360 quebram a monotonia de só acelerar e frear;
- Gratuito (pero no mucho)
Contras
- As diversas microtransações trazem um abismo de diferença para quem não quer gastar dinheiro;
- Muitos tipos de moedas e fichas que podiam ser uma coisa só, ou duas;
- As limitações de tickets e o uso do carros fazem o jogador passar mais tempo esperando do que correndo de fato;
- Ficar girando e dando piruetas pode nos fazer colidir ou ficar na contramão;
- A agressividade dos carros de polícia irrita e até afeta a câmera.
Asphalt Legends Unite — Android/iOS/PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota 7.0Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital adquirida pelo redator