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Análise: Ace Attorney Investigations Collection: uma boa dose de xadrez mental, lógica e casos criminais

Com os dois jogos desta coletânea, a série conclui o ciclo de relançamentos nas plataformas modernas.

em 03/09/2024
Ace Attorney Investigations Collection
é um pacote com dois títulos spin-off da consagrada série de disputas de advogado. Desta vez, na pele do promotor Miles Edgeworth, temos a oportunidade de conhecer um outro lado das investigações ao qual não temos acesso como advogados de defesa.

Pacote duplo

Durante a época de vida ativa do Nintendo DS, tivemos o lançamento dos vários títulos da franquia Ace Attorney no Ocidente. Embora os três títulos com Phoenix Wright como protagonista já tivessem sido feitos no GBA e apenas lançados no Japão, o portátil deu à Capcom a oportunidade de desenvolver três títulos novos: Apollo Justice e os dois jogos com Miles Edgeworth.

A nova coletânea reúne os dois últimos, Ace Attorney Investigations: Miles Edgeworth e Ace Attorney Investigations 2: Prosecutor’s Gambit, em um único pacote. Além de concluir o lançamento da franquia inteira (exceto pelo crossover de 3DS com Professor Layton), o lançamento é uma enorme oportunidade para os fãs, pois o segundo jogo havia sido exclusivamente lançado no Japão.

Trata-se, portanto, de um projeto que não apenas permite que as obras estejam acessíveis nos sistemas atuais, como também traz conteúdo inédito para os ocidentais. O segundo jogo sempre foi uma mancha na história da franquia por não ter tido um lançamento em inglês antes.

Além disso, é notável que a nova versão atualiza os gráficos para a alta definição e permite tanto usar os sprites originais em pixel art quanto novas ilustrações 2D que seguem mais à risca o design dos personagens com algumas pequenas deformações anatômicas. Como falei no Blast Test sobre o jogo, essa nova versão é muito charmosa e, embora tenha testado ambas, considero a adição um grande fator positivo para a coletânea.

Assim como as outras coletâneas de Ace Attorney, a Capcom também caprichou no conteúdo adicional, com o jogo tendo todos os seus elementos. Temos autosave após certo tempo, múltiplos saves, sistema de capítulos detalhado, histórico de diálogos, skip, modo automático, Story Mode para quem estiver com dificuldade nas resoluções dos enigmas e a opção de usar a trilha original ou uma rearranjada.

No PC, o uso de mouse e teclado é uma forma excelente de jogar e é possível ajustar o tamanho da tela e o uso de V-sync. Também é possível remapear os botões e escolher entre as opções de voz (usada para os gritos de “objeção”) e texto separadamente. É uma pena, porém, que o skip só funciona para o texto, fazendo com que o jogo tenha momentos de animação lenta e até alguns diálogos pensados como “cena em movimento” que não podem ser pulados.

Ainda há uma galeria com as várias ilustrações dos jogos, todos os sprites dos vários personagens presentes no jogo, tanto na forma pixel quanto HD, e uma vasta documentação dos designs de personagens. É o tipo de coisa que realmente valoriza esse tipo de relançamento e faz com que seja uma obra imprescindível no acervo de um fã.

A primeira jornada com Miles jogável

No primeiro jogo de Ace Attorney Investigations, vemos Miles tendo que lidar com uma série de crimes um atrás do outro. Aos poucos, vamos compreendendo melhor como os indivíduos envolvidos nessas situações têm relações mais profundas entre si, com um caso antigo e com a lenda de um grande ladrão chamado Yatagarasu.

Em termos de gameplay, temos alguns elementos diferentes do usual da franquia. Em vez de focar nos tradicionais tribunais, a maior parte do jogo é dedicada às investigações criminais. Com isso, também temos uma alteração de como esses trechos de point-and-click funcionam.

Em vez de vasculhar os cenários em primeira pessoa, podemos controlar Miles em terceira pessoa. Alguns trechos mais importantes, como as áreas onde os corpos são encontrados, ainda são investigados em primeira pessoa, mas a liberdade para andar de um lado para o outro e ver a movimentação de Miles e seus parceiros é um diferencial curioso.

Graças a isso, vemos um outro ângulo das investigações e temos a oportunidade de explorar áreas muito bonitas. Tanto os ambientes quanto as artes dos personagens possuem bastante detalhe e o jogo acaba assim trazendo uma sensação maior de variedade visual, mesmo com áreas pequenas.

Ao longo do jogo, podemos contar com a ajuda de personagens como Gumshoe, Franziska e a novata Kay Faraday, que é uma das peças centrais da trama. Esses personagens nos acompanham enquanto andamos de um lado para o outro em busca de detalhes sobre o crime e podemos interagir com eles a qualquer momento para perguntar aspectos da investigação.

É o mesmo que acontece com Maya, Pearls, Trucy e outros personagens na série principal, trazendo alguns comentários bem-humorados no meio da investigação. Como usual da série, temos aqui personagens carismáticos, situações estapafúrdias cheias de reviravoltas e reações exageradas que ajudam a manter o clima mais leve, mesmo com crimes bárbaros.

Apesar do foco na descoberta de um criminoso para indiciar e a remoção dos tribunais, o aspecto de interações humanas continua forte. Como parte da coleta de provas, temos que interagir com vários personagens, interrogá-los sobre determinados eventos e apontar erros para chegar à verdade.

Em alguns pontos, não temos de fato evidências ainda, mas apenas pistas ainda incompletas. Com o sistema de lógica, devemos conectar dois fatos como se estivéssemos resolvendo um quebra-cabeça e assim chegar em uma evidência sólida do que aconteceu. A ideia é inspirada no conceito lógico de inferência e uma mecânica que não faz parte dos jogos principais, explorando um pouco da mentalidade analítica do promotor.

Um passo além na lógica

Com o segundo jogo, Prosecutor’s Gambit, a obra dá um passo além, trazendo não apenas mais casos, mas evoluindo o sistema de interrogatório. Assim como Phoenix usa a Magatama, Apollo o bracelete e Athena a leitura de emoções, Miles passa a ter um “poder especial”: o xadrez mental.

A ideia é aproveitar esses momentos de discussão entre Miles e uma testemunha mais arredia. Devemos escolher entre forçar a fala do “oponente” ou jogar na defensiva, esperando que ele abaixe a guarda e se abra mais do que deveria. Na prática, é um conceito simples de avaliar a postura do personagem e se ele já falou algo incriminatório ou não.

Porém, assim como o sistema de lógica, que continua presente aqui, ele é uma forma interessante de diferenciar o estilo de Miles Edgeworth dos outros advogados. Enquanto a lógica diz da capacidade dele de pensar criticamente nas possibilidades dos crimes e alcançar a verdade, o xadrez mental tem relação com a sua lábia e capacidade de induzir as pessoas a entregar mais informações.

Graças a isso, temos um sistema de gameplay ainda mais robusto com diferenças curiosas em relação aos jogos da linha principal. Além dessa evolução, também temos, de forma geral, casos mais complexos do que o primeiro jogo, com reviravoltas não tão óbvias. Por conta disso, é muito bom ver a sequência finalmente chegar ao Ocidente.

Hora de vestir a toga

Ace Attorney Investigations Collection é um pacote com dois ótimos spin-offs da série de advogados. No controle de Miles Edgeworth, vemos um outro lado do crime e temos a chance de mergulhar ainda mais no universo de Ace Attorney.

Temos aqui a reparação histórica do lançamento ocidental de Investigations 2, as comodidades que já vimos nas coletâneas anteriores e todo o valor histórico de uma galeria recheada. O resultado é diversão garantida.

Prós

  • Dois jogos de aventura bem curiosos com tramas rocambolescas e personagens carismáticos;
  • As mecânicas de inferência lógica e xadrez mental são perfeitas para caracterizar Miles e diferenciá-lo dos advogados de defesa da série;
  • A maior ênfase na exploração das áreas em terceira pessoa nos traz ambientes muito bonitos e uma rica variedade de sprites de personagens;
  • O relançamento permite usar artes HD totalmente inéditas e muito bem-feitas além das pixel arts originais;
  • Sistemas de qualidade de vida que permitem uma experiência confortável;
  • Galeria rica em conteúdo para fãs da franquia.

Contras

  • Os casos do primeiro jogo podem ser um pouco óbvios e simplistas demais em alguns momentos;
  • Animações e cenas de texto que o jogador não controla não podem ser pulados/acelerados com skip.

Ace Attorney Investigations Collection — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Capcom


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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