30 anos de The King of Fighters: hora de comemorar com os dez melhores jogos da franquia

Considerando a série principal e os spin-offs, elencamos os dez melhores torneios já promovidos pela icônica série da SNK.

em 16/08/2024


Concebida pela SNK em 1994, a série The King of Fighters foi resultado de um projeto com um objetivo muito simples: trazer alguma competição que pudesse bater de frente com a força avassaladora de Street Fighter II, que naquele momento dominava o cenário dos fliperamas sem quaisquer concorrentes à altura. 30 anos depois, a franquia se estabeleceu como um dos principais nomes no gênero, passou por altos e baixos e rendeu 15 títulos na marca principal, além de alguns spin-offs. 


Desse modo, como uma forma de celebrar esse legado, montamos um ranking com os dez melhores jogos da série, entre lançamentos principais e seus spin-offs. Nota-se que, para melhor entendimento a respeito da maior parte dos jogos elencados, é sugerida a leitura de nossos especiais comemorativos de 25 (completo) e de 30 anos (ainda em publicação), a fim de adquirir um contexto expandido por trás de cada um desses lançamentos.

10 - The King of Fighters ‘94

The King of Fighters '94 é aquele idoso que todos respeitam pela experiência de vida. Completando 30 anos desde seu lançamento, o jogo acaba sendo prejudicado mais pelas evoluções promovidas nos subsequentes do que por sua própria qualidade. Ainda assim, foi o principal responsável por definir as principais características da franquia, que nasceu como uma forma de unir os principais personagens da SNK em um único produto.

O alicerce, no caso, foi a introdução do sistema de trios, substituindo o tradicional formato de melhor de três rounds com um único boneco. Isso incentivou os jogadores a dominarem três estilos distintos em vez de se especializarem em apenas um. Embora a personalização dos times só seria possível na sequência, este título marcou a primeira aparição de Rugal, o Chefão (com C maiúsculo), criado desde o início com a intenção de devorar as fichas dos jogadores desavisados, oferecendo um dos desafios mais difíceis e safados que se poderia imaginar.




9 - The King of Fighters ‘97

The King of Fighters '97 é um dos jogos mais emblemáticos da marca, trazendo uma jogabilidade refinada com os sistemas Advanced (mais agressivo) e Extra (mais defensivo), que oferecem diferentes estilos de controle. O enredo envolvente e a introdução de personagens icônicos, como o trio Orochi (Chris, Yashiro e Shermie) e Shingo Yabuki, consolidaram sua importância.

Notavelmente, é um dos títulos mais ricos em mitologia (ou "lore", se preferir o termo em inglês) da série. Além de encerrar o arco Orochi, ele aprofunda a relação e o histórico de alguns personagens, como Leona e Iori. Isso se torna ainda mais evidente quando o jogador opta por montar certos times personalizados, como o trio Sacred Treasures, composto por Iori Yagami, Chizuru Kagura e Kyo Kusanagi.



8 - The King of Fighters Maximum Impact 2 

The King of Fighters Maximum Impact 2 (também conhecido nos EUA como The King of Fighters 2006 por razões de marketing) é a sequência da primeira incursão da série no 3D e, até agora, a única com movimentação em um plano tridimensional, oferecendo uma nova perspectiva à jogabilidade e inspirando-se um pouco em Mortal Kombat e Tekken nesse novo experimento. Embora exista uma sequência revisada e com mais personagens conhecida como Regulation A (exclusiva do Japão), esta versão "vanilla" pelo menos conta com o exclusivo "Armored Ralf", além de uma variedade de trajes e cenários alternativos próprios que tornam a experiência mais consistente.

Com sistemas diferenciados de contra-ataque e evasão que adicionam um quê de estratégia aos combates dinâmicos, a grande atração de Maximum Impact é justamente sua condição de spin-off, permitindo à marca explorar narrativas e contextos nos quais personagens clássicos convivem com novos e exclusivos desta subsérie. A liberdade para experimentar novos designs e roupas alternativas também contribui para grande parte do seu charme.



7 - The King of Fighters ‘96

A edição de '94 é lembrada por ser a primeira, e a de '95 apenas existe (apesar de ser responsável pela introdução de Iori e pela composição de trios personalizados), mas foi em The King of Fighters '96 que a série começou a consolidar sua trajetória ao introduzir um motor de jogo completamente novo em relação aos antecessores. Apesar de alguns problemas de balanceamento, KOF ’96 se destacou por introduzir a mecânica de rolamento e um sistema de especiais reformulado. A decisão de deixar Rugal de lado momentaneamente também merece destaque, assim como a criação de uma história mais elaborada, protagonizada por um novo vilão, Goenitz, o sacerdote e arauto da entidade Orochi.

O torneio de 1996 foi um marco por ser o primeiro título a ultrapassar os limites técnicos conhecidos do Neo-Geo MVS — o padrão do sistema era de cartuchos de até 330 megabits, enquanto KOF '96 tinha 362. Esse avanço foi crucial para a história da franquia, pois pavimentou o caminho que seria seguido pelos principais lançamentos até, pelo menos, 2003, com o lançamento de The King of Fighters 2003. Aliás, o motivo de '96 estar acima de '97 no ranking tem muito a ver com o fato de que ele oferece uma experiência individual superior em termos de jogabilidade, com Goenitz, como chefão, sendo mais desafiador do que o próprio Orochi (no game posterior) e, surpreendentemente, com um balanceamento melhor.




6 - The King of Fighters R-2

Lançado para o Neo Geo Pocket Color como um port de The King of Fighters ‘98, The King of Fighters R-2 não é a primeira incursão da marca nos portáteis, visto que é a sequência do KOF R-1, uma versão da edição principal de 1997 para o modelo monocromático do mesmo console, enquanto o Game Boy recebeu versões próprias das edições de 1995 e 1996 dos jogos da série. 

Apesar das óbvias limitações técnicas, o KOF R-2 esbanja carisma com seus charmosos gráficos estilo chibi e jogabilidade bastante ágil e relativamente elaborada para uma versão de menor proporção. Por conta de sua simpatia e proposta singular, é uma pedida muito interessante para quem tiver interesse real de se enveredar pelos meandros da franquia. Inclusive, um port do título está disponível na coletânea Neo Geo Pocket Color Selection Vol. 1, lançada em 2001. Reforça-se, inclusive, que nem sempre a experiência mais robusta será superior a outras ofertas mais contidas e simpáticas. 



5 - The King of Fighters XIV

The King of Fighters XIV é provavelmente o mais subestimado da série principal, uma vez que a SNK só conseguiu se manter e dar continuidade às suas IPs clássicas graças à recepção positiva nas vendas deste aqui. A empresa estava, mais uma vez, em crise após o custo elevado e sem retorno financeiro de seu antecessor direto, fazendo com que a produção deste precisasse ser menor no intuito de otimizar os lucros. Embora os gráficos, considerados rudimentares até para a época, sejam o principal ponto de crítica, o jogo se destaca pela solidez da jogabilidade — inclusive no cenário competitivo — e pela robustez como produto.

Lançado em 2016, o décimo quarto game marcou a transição definitiva da IP para gráficos 3D e trouxe um elenco base considerável, com uma boa quantidade e qualidade de novatos (alguns que já se tornaram favoritos, como Sylvie Paula-Paula), além dos pacotes de DLC. Adicionalmente, o título introduziu novas mecânicas, como o Max Mode e os Climax Super Special Moves, oferecendo uma complexidade estratégica maior para os veteranos, ao mesmo tempo que se apresenta como uma experiência bastante acessível para os novatos.



4 - The King of Fighters XV

Depois de uma crise de identidade nos lançamentos anteriores que envolvia dificuldades notáveis na transição da série para as novas gerações, The King of Fighters XV é a entrada mais sólida, consistente e concisa desde o KOF XI. Com visuais agradáveis, uma história mais envolvente do que a do KOF XIV e um sistema de jukebox que permite a personalização das trilhas sonoras com músicas de toda a franquia (uma tendência que influenciou outros títulos do gênero), o jogo mais recente da marca também se destaca como uma excelente experiência competitiva.

O maior tropeço da décima quinta iteração da IP envolve mais as decisões tomadas no período pós-lançamento do que a qualidade em si, pois a SNK pareceu ter ficado com preguiça de sustentar o produto após um fraco primeiro passe de temporada. Isso se deve ao fato de que os pacotes de DLC consistem em personagens que deveriam estar na edição base ou que não mereciam espaço em detrimento de lutadores mais novos daquele universo. Apesar disso, as atualizações gratuitas, que trouxeram um “modo Chefe” especial contra Rugal e Goenitz, foram muito bem recebidas.




3 - The King of Fighters XI

O primeiro numerado e o último da fase mais clássica da série, The King of Fighters XI marcou a despedida da SNK (Playmore) da série em seu formato tradicional, especialmente como uma forma de compensar o fracasso técnico que foi o antecessor, de 2003. Aproveitando os avanços de Garou: Mark of the Wolves, o jogo introduz novos sistemas interessantes — como o sistema de tag (implementado de forma funcional pela primeira vez na IP) e o dream cancel — e foi totalmente arquitetado em cima da Atomiswave, a placa de arcade da Sammy/Sega, uma vez que o suporte para o Neo-Geo chegou a um ponto simplesmente insustentável.

Essa mudança é evidente logo de cara, com um visual repaginado que apresenta sprites e cenários mais complexos, além de uma nova fluidez na jogabilidade que tornam o décimo primeiro KOF um produto verdadeiramente singular na franquia, diferenciado de qualquer outro que tenha vindo antes e depois. Atualmente, o principal empecilho em relação ao KOF XI é sua disponibilidade limitada para o público moderno. Isso é uma pena porque, na prática, trata-se de um título extremamente respeitado na comunidade de jogadores — não que ele não esteja disponível no fightcade, mas isso já é discussão para outra ocasião.  



2 - The King of Fighters ’98

The King of Fighters ’98 é a primeira celebração de fim de saga da série, reunindo quase todos os personagens jogáveis até então por não precisar justificar suas presenças dentro de alguma linha de história específica. Além disso, ele consegue oferecer um sistema balanceado para praticamente todos os personagens (com um elenco considerável para a época) enquanto resgata mecânicas dos games anteriores, como os sistemas Advanced e Extra.

Falar sobre KOF ’98 é curioso. Enquanto outros jogos da marca receberam reedições claramente superiores a ponto de serem consideradas definitivas, qualquer versão deste título oferece uma experiência sólida e divertida. Mesmo com algumas revisões (como Dream Match Never Ends e Ultimate Match), essa reunião comemorativa sempre proporcionou uma experiência sólida, concisa e confortável de se jogar (isto é, até onde encarar um Rugal como chefão final vai ser uma atividade confortável).



Menção honrosa: The King of Fighters ALL STAR

Lembra-se das roupinhas bacanas que são um dos charmes de Maximum Impact? Pois é, The King of Fighters ALL STAR é basicamente voltado para isso. Brincando com a ideia de personagens originais invadindo os eventos dos jogos principais da série e reinventando a marca como um beat’em up com fases curtas que podem ser superadas no modo automático, a graça está em colecionar as várias versões dos lutadores clássicos com roupas e encarnações completamente aleatórias (é um gacha, afinal), mas ainda divertidas, como personagens em versões Alice no País das Maravilhas ou com gênero trocado, além de crossovers com Street Fighter, Tekken e WWE.

Após alguns anos na ativa, é uma pena que KOFAS esteja previsto para encerrar as atividades no dia 30 de outubro deste ano. Ainda assim, trata-se de uma reinvenção bastante curiosa que bem poderia sobreviver com um relançamento fechado e offline, no mesmo formato adotado para Megaman X DiVE. Afinal, seria uma pena que todas essas versões alternativas tão carismáticas se percam nos anais do tempo.



1 - The King of Fighters 2002: Unlimited Match

Assim como o jogo subsequente ao encerramento do arco Orochi serviu como uma celebração da marca ao reunir todos os lutadores presentes no game, The King of Fighters 2002 fez o mesmo ao fechar a porta da saga NESTS. A questão é que ele foi vítima de um período em que KOF era um produto confuso, sem dono ou direção clara, sendo desenvolvido pela Eolith com uma direção artística um tanto inconsistente ao combinar vários estilos diferentes em um só produto (pense em algo como o famigerado sprite da Morrigan destoando do resto do elenco em Marvel Vs. Capcom ou Capcom Vs. SNK). De maneira geral, é uma revisão preguiçosa de KOF 2001, que já era uma pequena aberração por si só.

É por isso que The King of Fighters 2002: Unlimited Match chegou quase oito anos depois. Com visuais e músicas completamente retrabalhados e polidos, um elenco enorme e meticulosamente balanceado de sessenta e seis lutadores e uma jogabilidade cadenciada tão convidativa quanto competitiva, a reedição de KOF ’02 é praticamente outro jogo e, até hoje, um dos mais utilizados na cena de eSports retrô da série.




Revisão: Juliana Paiva Zapparoli

É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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