Impressões: O Escudeiro Valente (The Plucky Squire) é uma criativa aventura dentro e fora de um livro ilustrado

Com um mundo encantador e muitas ideias divertidas, este título indie tem tudo para ser uma experiência especial.

em 16/08/2024

O Escudeiro Valente (ou The Plucky Squire no original) chama a atenção com seu conceito inventivo: um herói de um livro ilustrado é capaz de alternar entre mundos 2D e 3D para superar inúmeros desafios. Além da ideia principal inusitada, o jogo esbanja charme com seu visual desenhado e instiga com muitas situações que parecem quebrar a quarta parede.

A convite da Devolver Digital, tive a oportunidade de testar uma versão prévia com os primeiros capítulos do jogo. Fiquei impressionado com a variedade de situações e com o carisma de seu universo — arrisco dizer que este será mais um daqueles indies de destaque que sempre será lembrado.

Saltando para fora e para dentro de ilustrações

O herói Pontinho, com a ajuda de seus amigos, defende o reino de Mana das artimanhas do nefasto Enfezaldo. No entanto, mal sabem eles que todos são personagens em um livro de histórias, não passando de ilustrações no papel. O vilão descobre a real natureza do mundo e cria um plano: acabar de vez com a interferência de Pontinho ao mandá-lo para fora das páginas. Agora, o escudeiro valente vai precisar alternar entre os mundos para salvar o reino e seus amigos, em uma aventura repleta de surpresas.


Em um primeiro momento, o jogo parece uma aventura de ação 2D tradicional que se passa em páginas ilustradas: derrotamos monstros com golpes de espada, saltamos por plataformas e resolvemos puzzles simples. Porém, o ritmo muda sensivelmente quando Pontinho é mandado para fora do livro e precisa explorar um ambiente 3D com desafios distintos, como se fosse um mundo completamente novo.


O detalhe mais legal é que os dois estilos se complementam, sendo possível manipular elementos para influenciar os universos de inúmeras maneiras. Em muitos momentos, por exemplo, podemos trocar palavras de lugar nas páginas do livro para mudar a realidade — uma “uma porta fechada” se abre ao alterar a frase para “uma porta destrancada”. Outra possibilidade é levar objetos de uma dimensão para a outra, como pegar uma cenoura no mundo real e entregá-la para um coelho desenhado.



Usando a imaginação para avançar em um mundo variado

De longe, a criatividade foi o meu aspecto favorito durante meu tempo em O Escudeiro Valente. Os personagens são conscientes que fazem parte de um livro ilustrado e jogo brinca o tempo todo com esse conceito de formas interessantes, quebrando a quarta parede sempre que possível.


Em um dos primeiros capítulos, Pontinho adquire a habilidade de virar as páginas do livro. Isso se revela muito útil, com puzzles que nos instigam a pensar “fora do livro”: para avançar em certos momentos, é necessário ir para o mundo exterior e procurar palavras em folhas diferentes. O legal é que há várias interações curiosas quando experimentamos montar frases que não necessariamente resolvem os enigmas.

Os momentos mais divertidos são os que combinam os dois tipos de exploração. Para alcançar um ponto alto na mesa do mundo 3D, fora saltar por blocos, réguas e prateleiras, precisamos adentrar desenhos espalhados pelo local. Além de visualmente agradável, é inventivo, com muitos puzzles de navegação que exigem manipular os objetos presentes nas diferentes dimensões.


Ainda, a variedade de situações é uma constante. Muitos dos mapas dentro do livro seguem o padrão de câmera aérea, mas há também trechos de plataforma 2D, com direito a páginas viradas em 90 graus para criar ambientes mais verticais. Já as batalhas com os chefes contam com mini-games divertidos, como uma batalha de boxe contra um grande texugo ou um embate em que atiramos flechas contra insetos gigantes.

A aventura parece ser completamente linear, apesar de ser possível acessar capítulos e áreas anteriormente completadas em busca de colecionáveis. O único ponto que me incomodou foi o baixo desafio, com combates fáceis e enigmas cujas soluções são um pouco óbvias demais. É fácil perceber que a intenção é ser uma aventura agradável focada na ambientação e na experiência, mas fica a torcida para que as coisas fiquem mais elaboradas nos capítulos mais avançados.



Em um vívido mundo literário animado

Fora os conceitos e mecânicas únicas, O Escudeiro Valente me conquistou desde o início com seu universo colorido e mágico que alterna entre um livro ilustrado e o mundo real.

Acompanhar a história é muito envolvente devido a uma narrativa que usa desenhos, texto e dublagem para conduzir a aventura de Pontinho e seus amigos. O jogo explora de forma inteligente o conceito de “livro animado” com cenas não interativas muito belas que vão se revelando aos poucos no papel. Destaco o trabalho de localização impecável, que conta até mesmo com dublagem no nosso idioma — me senti acompanhando um desenho animado muito bem produzido.


Fora isso, o universo em si é cativante, sempre se aproveitando da ideia de ilustrações que ganharam vida e saíram do papel. No mundo real, por exemplo, um dos maiores perigos são besouros, que atacam nosso herói implacavelmente — nesses momentos, a solução é se mover sem fazer muito barulho. Em outro ponto, para conseguir um arco e flecha, o escudeiro enfrenta uma elfa dentro de uma cartinha colecionável em um combate por turnos.

E, convenhamos: sair do próprio livro e manipulá-lo manualmente é uma sacada muito legal. Na versão prévia só consegui ver a ação de mudar de página, mas vídeos mostram outras possibilidades, como inclinar as folhas para mover elementos. Torço para que mais opções apareçam no decorrer da aventura.

Uma jornada que parece ser imperdível

O Escudeiro Valente se revela uma experiência encantadora, combinando mundos 2D e 3D em uma aventura repleta de charme e criatividade. As desventuras de Pontinho encantam tanto pela sua narrativa envolvente quanto pelas mecânicas inventivas, que brincam com a metalinguagem e a quebra da quarta parede.


Embora o desafio dê sinais de ser baixo, o universo colorido e a originalidade das situações nos mantêm imersos, e fica a expectativa de que o jogo completo explore com mais profundidade as suas ideias e mecânicas. No mais, o título tem todas as qualidades necessárias para se tornar um dos destaques indies do ano com sua abordagem única e já estou ansioso para acompanhar Pontinho e seus amigos até o fim da história.

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Texto de impressões produzido com versão preview cedida pela Devolver Digital

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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