Análise: Shadow of the Ninja - Reborn moderniza o clássico em um plataformer de alto desafio

O retorno do título de ação do NES traz ambientação renovada e algumas novidades, mas ainda se prende demais ao passado.

em 29/08/2024

Em Shadow of the Ninja - Reborn, dois ninjas infiltram uma cidade futurista para dar fim ao reinado de terror de um ditador. Usando katanas e outras armas, a dupla enfrenta um exército de oponentes em uma aventura de ação e plataforma cujo desafio é alto. O jogo reimagina o clássico de NES com visuais atualizados, novas mecânicas e conteúdo inédito, porém insiste em trazer de volta conceitos datados que atrapalham a experiência.

Shinobis lutando em um mundo futurista

No futuro próximo, o mundo foi tomado pelo medo com a ascensão do imperador Garuda, que usa um exército de criaturas das sombras para espalhar o caos. A esperança aparece na forma do impulsivo Hayate e da experiente Kaede, uma dupla de ninjas que recebe a missão de infiltrar a imensa metrópole Laurasia para dar fim nos planos do soberano maligno.


Na prática, o jogo é uma aventura de ação 2D fortemente inspirada no clássico de NES. No decorrer de seis estágios, precisamos derrotar inimigos e superar desafios de plataforma diversos. Além de golpear com katanas, os heróis contam com uma kusarigama, uma pequena foice presa a uma corrente, para desferir ataques de média distância em diferentes ângulos. Há também uma técnica especial que atinge todos os inimigos da tela ao custo de parte da vida.

Pelo caminho, coletamos inúmeras armas secundárias, como shurikens, espadas longas, metralhadoras, rifles de laser e até mesmo um pequeno canhão. Eles podem ser guardados para uso posterior e sua durabilidade é limitada, então é importante pensar com cuidado quando utilizá-los. Fora isso, há alimentos que recuperam vida e melhorias que fazem a katana lançar uma onda de energia.


Katanas e agilidade em uma jornada complicada

Aventuras estreladas por ninjas normalmente investem em ritmo ágil, e Shadow of the Ninja - Reborn não é diferente. No entanto, me surpreendi com a abordagem diferenciada: apesar de exigir reflexos rápidos, o jogo demanda ser extremamente cuidadoso para não morrer. O motivo disso é que os estágios são repletos de inimigos e armadilhas cuidadosamente colocados para nos induzir ao erro, então é muito fácil levar dano ou cair em buracos. Por causa disso, no começo tive dificuldade para avançar, porém, com o tempo fui capaz de entender as nuances para seguir em frente.


Um detalhe bacana é a versatilidade de movimentos dos shinobis, que se penduram em barras, correm curtas distâncias pelas paredes e até flutuam no ar. Os estágios exploram essas possibilidades com muitos trechos verticais e cenários levemente labirínticos em que precisamos usar essas técnicas com cuidado para avançar. Há também inúmeros segredos espalhados pelas fases, muitos deles escondidos em locais aparentemente inalcançáveis — é divertido conseguir utilizar conjuntos de técnicas para encontrá-los.

O combate, apesar de ágil, é brutal, com inimigos que atacam de maneiras estranhas ou muito rápido. Por isso, é importante reagir com rapidez: chego perto e uso a espada ou é melhor manter a distância com a kusarigama com risco de ser atingido se errar? É também necessário observar os oponentes para golpear e escapar no momento correto. Os chefes elevam a tensão com embates complicados e velozes que desafiam a nossa perícia. Sofri muito para dar conta de certos inimigos e mestres, mas a sensação de vencê-los foi bem recompensadora.


A aventura pode ser aproveitada por dois jogadores no multiplayer, que infelizmente só está disponível localmente. Essa modalidade usa automaticamente a dificuldade difícil e o fato de ter dois personagens simultâneos deixa alguns trechos mais complicados por ser necessário coordenar os movimentos, como as partes de plataforma e a divisão de itens. Apesar de simples, é uma opção interessante para curtir com os amigos.

Preso demais ao passado

Assim como muitos títulos de NES, Shadow of the Ninja - Reborn é uma experiência de alta dificuldade que é melhor aproveitada por aqueles em busca de um bom desafio. A nova versão, que é um misto de remaster e remake, traz muitas melhorias, como a possibilidade de guardar itens para utilizar depois, continues infinitos e receber itens de recuperação ao morrer muitas vezes em um mesmo trecho. Com isso, o desafio fica um pouco mais palatável.

Porém, mesmo assim, o jogo manteve algumas escolhas datadas e duvidosas que geram uma sensação de frustração. Para começar, o desenho dos níveis é extremamente punitivo com inimigos em posições irritantes (como em pontas de plataformas e logo acima a escadas), projéteis que aparecem de surpresa de fora da tela e armadilhas difíceis de escapar. Por causa disso, é muito fácil levar dano e, em seguida, ser jogado em um buraco. Itens de recuperação são raros, então morrer e recomeçar desde o início da área é frequente.


Outra questão negativa são os movimentos, que são longe de ágeis. O salto é um pouco flutuante e não mantém a inércia da corrida, atrapalhando a precisão em certos trechos de plataforma. Alguns movimentos, como pular pelas paredes ou se segurar em barras, são lentos e desajeitados. Com isso, é comum tentar subir em algum lugar, se confundir e acabar caindo em uma armadilha ou inimigo.

Por fim, há inconsistência nos controles: ao estar agarrado a algo, em certas situações o botão de pulo faz o personagem subir; em outras, o mesmo comando faz ele se soltar. Escolher um equipamento secundário também não é nada elegante, sendo necessário segurar um botão e apertar para os lados; um menu em anel ou utilizar os gatilhos para a troca tornaria as coisas mais ágeis.


A soma de todos esses problemas cria um jogo com pouco espaço para erros em que precisamos memorizar e repetir passos para conseguir prosseguir. Várias vezes eu precisei ter muita paciência para decorar cada trecho, sempre tenso me preparando para surpresas que poderiam me matar, me forçando a refazer longos caminhos. Apesar disso, eu aprendi a lidar e aproveitei a experiência, só é necessário estar disposto a insistir e a ter paciência.

Beleza e simplicidade

Como renascimento, Shadow of the Ninja se destaca na ambientação com seus belos e coloridos visuais 2D com pixel art inspirada na era 32-bits e na eletrizante trilha sonora repleta de guitarras. A temática futurista é explorada em cenários repletos de aparatos tecnológicos, como um cargueiro e uma fábrica, mas senti falta de maior variedade de localidades. Algumas partes carecem de clareza visual, sendo difícil distinguir o fundo das áreas jogáveis.

Na parte de conteúdo, Reborn é bem tímido, contando com seis estágios que podem ser terminados em poucas horas. Há dois níveis de dificuldade (normal e difícil) e um modo cujo objetivo é terminar as fases o mais rápido possível. Os extras ficam por conta de algumas conquistas e de uma loja para comprar itens para o início de uma nova partida. Aqueles que gostam de enfrentar as dificuldades mais altas poderão aproveitar melhor o pacote, mas, fora isso, não há motivo para revisitar as fases.



Um renascimento agridoce

Shadow of the Ninja - Reborn oferece uma experiência de ação e plataforma intensa, que revisita um clássico com gráficos renovados e novas mecânicas. No entanto, a insistência em manter elementos datados compromete a jogabilidade, resultando em desafios frustrantes que exigem paciência e memorização. A dificuldade exigente pode agradar aos fãs de desafios nostálgicos, mas as inconsistências nos controles e o design punitivo dos níveis podem afastar quem busca uma experiência mais equilibrada.

Mesmo com suas falhas, o jogo se destaca com sua ação ágil e ambientação com visuais em pixel art coloridos, apesar de o conteúdo limitado deixar a desejar. No fim, Shadow of the Ninja - Reborn é uma homenagem competente ao passado que poderia ter se beneficiado de uma modernização mais cuidadosa.

Prós

  • Interpretação ágil do gênero plataforma de ação 2D;
  • Boa variedade de desafios de dificuldade intensa;
  • Ambientação competente com visual pixel art vibrante e trilha sonora enérgica.

Contras

  • Muitos trechos de dificuldade punitiva que exigem memorização para serem superados;
  • Alguns movimentos e controles são desajeitados, atrapalhando a precisão;
  • Conteúdo bem limitado.
Shadow of the Ninja - Reborn — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela NatsumeAtari

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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