Resenha

Elden Ring: O Caminho para Térvore vol. 4: Aseo finalmente deixa de ser noob

Duelo na academia de magia! Catacumbas! Dedos Sangrentos!

em 26/08/2024

No começo de Elden Ring: O Caminho para Térvore, o protagonista Aseo chegou às Terras Intermédias como um jogador que entra em seu primeiro souls: desavisado, desorientado, desamparado, desmantelado, despojado, despreparado e até despido (pois o coitado começa com a classe Miserável). Um completo noob.

Nada ali faz muito sentido para ele, mas, com o passar da história e a orientação da Graça, de Melina, Ranni, Bernahl e até de Patches e Thops (!!!), o Maculado começou a valer alguma coisa e até passou a andar vestido, vejam que melhoria de vida! Se ele antes parecia um ignorante e incompetente, o tempo mostrou que é um bom aprendiz (alguns níveis a mais também ajudaram).
Resenhas de Elden Ring: O Caminho para Térvore

Punirei você em nome da Lua!

O Maculado já dava sinais de que tinha potencial de deixar de ser só um mané num mangá de comédia, mas é no quarto volume que isso fica mais claro. Ainda que temeroso, ele encara inimigos fortes e usa tudo o que aprendeu até ali para poder vencer em confronto direto, sem depender da sorte nem precisar vencer concursos sem sentido.

Ou melhor, na verdade, a coisa não é exatamente assim. Ele ainda precisa passar por um concurso de jurados, mas desta vez é um duelo real contra Moongrom, o Cavaleiro Cariano. Lembra dele? Em Elden Ring, ele guarda o elevador que leva até a biblioteca de Rennala, na Academia de Raya Lucaria, e o mangá faz questão de empregar o leque de feitiços carianos que esse guerreiro realmente tem no jogo.



Aseo não chega a lutar contra a própria Rennala, Rainha da Lua Cheia, mas ainda escapa de um Bólido Escuro apelão. A coisa toda é resolvida na conversa, mas o protagonista acaba indo embora de bem com todos e sem levar a Grande Runa.

A solução é menos ridícula do que a que o levou a “derrotar” Goddrick no segundo volume. Na verdade, é bem bolada e coerente com a lore das personagens. Uma das maneiras de parodiar é exagerar traços até formar uma caricatura, e é exatamente isso que temos de Rennala aqui.

De coração partido ao ser abandonada pelo marido Radagon, isolada na biblioteca, ressentida dos semideuses e seus Maculados, ela é alguém que Aseo descreve: “em vez de uma rainha, vejo apenas uma mãe exausta cuidando das crianças…”. Tudo isso faz dela uma pessoa instável e neurótica, que vai dos gritos à ternura em um piscar de olhos. Mais uma boa adaptação de chefão no mangá.



Pausa para conversar, farmar e upar

Para dar uma mudança no ritmo da história e buscar informações, nosso Maculado retorna à Mesa Redonda, onde ele e o leitor podem reencontrar personagens passados e conhecer alguns novos, já que a primeira visita sabiamente evitou o excesso de personagens e deixou alguns para serem apresentados mais tarde: são D, Caçador de Mortos, e Irmão Corhyn.

Por enquanto, eles só servem para piadas bestas, mas ao menos Corhyn provavelmente retornará em volumes adiante, uma vez que ele será capaz de ensinar encantos quando o herói tiver Fé suficiente, o que ainda não é possível.

Entre os novatos da Mesa Redonda, está a doce Roderika, que já apareceu nos volumes um e dois. Ela também é Maculada na busca de um propósito de vida e, portanto, começou a estudar a canalização de espíritos.



Para praticar, precisa de um lírio-do-vale de túmulo e pede ajuda a Aseo. Assim, a dupla vai até as Catacumbas Intempéries procurar por uma dessas flores, sofre emboscadas, persegue os gárgulas felinos e até enfrentam o chefão local, brincando com o fato de ele ter cara de gato e nome Cão de Guarda Fúnebre da Térvore.

Aqui cabe um adendo: cada tomo de O Caminho da Térvore segue o padrão de capa de mostrar Aseo em um conjunto de armadura do jogo (mas que ele não usa na história) e, em destaque, o rosto de uma personagem feminina que será importante naquele trecho da história. Já tivemos a donzela séria Melina, a guerreira Nepheli Loux, a excêntrica Rya e, agora, Rennala. A pergunta é: cadê Roderika?! Espero que ela ainda tenha oportunidade de estrelar a capa mais à frente.

Invadido por um espírito sombrio

São coisas assim que comprovam como O Caminho para Térvore consegue fazer um grande jogo de mundo aberto ser costurado em uma história linear bem-construída, sem se perder, se desviar demais do que está em Elden Ring ou parecer apenas um monte de eventos isolados conectados a esmo.

Uma exceção é o capítulo dedicado a Bock e aos semi-humanos (lembra-se do personagem “invisível” que fica nos chamando no meio de Limgrave?). Esse tem cara de filler da zoeira, mas serve para dar ao futuro Lorde Prístino o conjunto da Armadura de Ferro, uma vestimenta que, mesmo sendo do início do jogo, cai muito bem nele e dá um ar mais respeitável.



A referência que mais gostei acontece após mais uma conversa com Varré da Máscara Branca, quando Aseo é invadido por um fantasma vermelho de Dedo Sangrento. Ele é Nerijus, que usa a adaga Reduvia e, com certeza, deu trabalho a muita gente no rio entre penhascos que fica no centro de Limgrave. Aseo fica assustado quando um pequeno ferimento faz muito sangue espirrar para todo lado, brincando com a mecânica de sangramento que é muito forte nessa adaga.

Nessa luta, Yura, outro NPC, vem ajudar, e o mangá não perde a chance de zoar com a distância enorme com que ele surge, demorando para entrar na porrada enquanto o jogador está se virando contra a perseguição do implacável Nerijus. E, aproveitando que esse rio leva até certo laguinho raso, a peleja vai parar lá, abrindo uma brecha muito oportuna para incluir um dos momentos mais marcantes da primeira parte de Elden Ring: o ataque repentino do dragão voador.



É sério, o autor Nikiichi Tobita está de parabéns tanto na representação visual quanto no aproveitamento sagaz de dúzias de referências para ir além de mero fanservice e, de fato, conseguir transformar um épico colossal em um mangá de comédia. Isso certamente faz a história em quadrinhos menos compreensível e atraente para quem não jogou, então o público-alvo é muito claro e bem-servido.

Sidequests para enrolar

Uma boa escolha de roteiro foi ter apresentado brevemente Caelid ainda no segundo volume, pois isso dá a desculpa para que Aseo fique enrolando para ir até lá, argumentando para Melina que antes tem que se preparar melhor, além de criar no leitor a expectativa de que aquele lugar será bem mais desafiador do que tudo o que ele passou até agora. Qual jogador comum não passou pela mesma situação, hein?

No jogo, Caelid é uma área opcional, pois apenas duas Grandes Runas são obrigatórias para adentrar a Capital Leyndell e pode ser mais fácil obter aquelas em posse de Goddrick e Rennala. No mangá, a coisa é diferente, pois, mesmo enfrentando a rainha feiticeira, Aseo não leva a Grande Runa, pois é o que dá a ela o poder de fazer suas crianças renascerem. Por isso, em algum momento ele terá que chegar até o território de Radahn, como não poderia deixar de ser.



Antes, porém, Aseo recebe a recomendação de explorar catacumbas na Península das Lágrimas, onde, na última página deste volume, encontra Irina e indica que, no quinto tomo, veremos o desenrolar da missão secundária dela. Partindo para a comédia, talvez o final dessa sidequest seja feliz.

Continua no próximo volume…

Ao vencer o Cavaleiro Cariano e o Cão de Guarda Fúnebre na raça, Aseo provou neste quarto volume que já sabe cuidar de si mesmo. Se eu, que não consigo acertar parry em nenhum souls da FromSoftware, consegui platinar vários deles jogando solo, então Aseo, que já está bem encaminhado nessa habilidade, deverá ser capaz de sentar no Trono Prístino, afinal. Essa história ainda renderá muitos volumes.

O andamento de Elden Ring: O Caminho para Térvore continua sendo detalhista e profundamente conhecedor do jogo que adapta, trazendo para as páginas as missões de vários NPCs e, gradualmente, fazendo a comédia ceder um espacinho à ação à medida que Aseo vai deixando de ser um noob e se aprimora no “git gud” ao estilo soulslike.




Revisão: Juliana Paiva Zapparoli

Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies.
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